Nos encontros seguintes, descobri quem era realmente Felícia. Apesar de perceber que meu coração batia mais forte por ela, aquela descoberta havia me causado certo torpor inesperado. Minha família jamais aceitaria que tivesse qualquer relacionamento com ela, tinha certeza disso. Infelizmente, nossas famílias não eram mais amigas como outrora e mesmo sem que a família dela soubesse, a minha guardava um ódio quase mortal pelo resultado da guerra ocorrida entre nossos reinos. Apesar de minha avó, Rainha Eugênia, na época ter proclamado a paz, após a batalha, derrota e morte de meu tio, Rei Estevam, reinava o rancor em nossa família. Desde que nasci e cresci, ouço falar sobre a guerra, sobre esse rancor e um desejo de vingança foi fincado em meu coração, assim como nos deles também. No entanto agora, tudo parecia estar mudando para mim e um sentimento muito intenso estava nascendo, não conseguia lutar contra ele, era maior que tudo e dissipava qualquer coisa negativa que já
Após minha última conversa com Felícia, havia feito a promessa de que iria a Minsk conversar com seu primo, o Rei Serafim, e com sua família. Pediria a autorização para fazer-lhe a corte. Não conseguia conter minha ansiedade, queria ser sincero e contar toda a verdade sobre quem sou a eles, mesmo sem o apoio de meu pai e minha família. Saí do castelo com dois guardas como escolta. Porém, quando chegamos ao outro reino, pedi para que me esperassem do lado de fora, não queria causar alarde sobre quem sou, antes de me apresentar formalmente. Ao ser anunciado, senti a ansiedade apertar, lá estava ela, linda e tão ansiosa quanto eu, ao lado do Rei, aguardando pela minha chegada. Consegui conversar a sós com o Rei Serafim, que ficou em silêncio ouvindo minha história. Contei toda a verdade sobre minha vida, omiti apenas a parte da vingança, pois não cabia ali naquele momento e minha esperança era que minha família desistisse daquilo tudo que antes também me importava, mas
— Não entendo... Por que não me contou tudo antes, Anthony? Felícia não se conformava ao ouvir tudo sobre mim e com o fato de ter omitido o mais importante a ela, sobre quem eu realmente sou. — Minha querida, agora posso chamar-lhe assim, já que estamos prometidos. Desculpe-me por omitir coisas de tamanha importância sobre mim. Sinto muito por isso, mas a princípio, como lhe disse, foi por cautela e depois por querer colocar tudo às claras com vossa família para não parecer que minhas intenções não eram boas. Desejo de coração que entenda meus motivos e me perdoe por isso, pois foi com a melhor das intenções. — Entendo, porém isso não me tira o direito de estar chateada com vossa pessoa! — Com certeza não, minha amada, mas espero que essa chateação passe logo, farei de tudo para dissipar o que lhe causar qualquer mal. Só quero o seu bem, o nosso bem, só quero estar junto de ti para todo o sempre! — Creio que posso ficar chateada só mais um pouquinho, i
Na manhã seguinte, acordamos juntos, abraçados, enlaçados um ao outro, após uma noite de aconchegos, carinhos e muito amor. O aposento reservado a ele era somente para descanso porque não teve uma noite sequer, enquanto Henry esteve no castelo, que dormimos separados. Aquele amor era verdadeiro, puro e correspondido. Pensava em como havia sofrido até encontrá-lo, por amar a pessoa errada. Um amor platônico que deixou muitas sequelas e causou muita dor. Claro que meus sentimentos por Aron não tinham acabado, não tinham sido sepultados junto com ele, apenas não podia continuar amando um homem que era de outra, mesmo jurando amor por mim. Aquele luto não era meu. Foi muito difícil entender isso, porém aos poucos aconteceu e consegui guardar somente o lado bom de uma amizade verdadeira e única, de bons momentos que passamos juntos e de certa forma nos amamos intensamente. Aron seria sempre um grande amor, meu melhor amigo, parceiro, e mesmo que ele ainda estivesse vivo, teria q
ANTHONY Todos estavam ocupados no reino de Minsk com os preparativos para as Bodas da Rainha Malena e Henry. Havia acompanhado tudo de perto, pois estava sempre ao lado de minha doce Felícia. Ela ajudava em tudo que sua madrinha desejava para a cerimônia. Estava muito feliz com o casamento, sempre me contava da vida solitária e cheia de atribulações de Malena. Ficava impressionado com todas as histórias, principalmente com a que envolvia meu tio Estevam e minha família. Estava começando a pensar o quanto minha família havia guardado um rancor exacerbado. Um sentimento que foi plantado e cultivado de uma maneira errada. Agora, ouvindo o outro lado da história e acreditando que este fosse o mais verdadeiro, começava, cada dia mais, a ter a certeza de que os maiores culpados por tudo o que houve foram meu tio e minha família. Quem deveria ter cultivado a vingança seriam eles, o povo e o reino de Minsk, que tinham muitos motivos para serem inimigos de Neveri para sempr
— Isso é um absurdo, meu querido! Com o tempo, você perceberá o grande erro que está prestes a cometer. O seu pai? Está ciente dessa sua loucura? — Não se trata de nenhuma loucura e, sim, do mais puro e verdadeiro amor. Meu pai ainda não sabe de todos os detalhes, sabe apenas que conheci uma dama e que me apaixonei por ela. Contava com seu auxílio para lhe comunicar. — Queres que ajude você a contar ao seu pai quem é essa moça? — Sim, minha avó! Peço, por favor, que me ajude, mesmo que não concorde com isso, preciso de ajuda para contar a ele e só a senhora pode me socorrer. — E sua mãe? Contou a ela? — Ela sabe o mesmo que meu pai, ainda não tive a coragem de contar-lhe todos os detalhes. Minha avó ficou pensativa por alguns segundos, olhando-me com reprovação, e quando imaginei que ela recusaria o meu pedido, deu ordens para o guarda mais próximo comunicar meus pais sobre aquela reunião de família. O guarda retirou-se e ela me fez sentar à mesa. Um silêncio
— Como assim? Usar isso a favor? Do que está falando, meu pai? Então pretende passar por cima dos sentimentos de seu único filho por causa de vingança? Não consigo acreditar nisso! A senhora não está me ajudando e nem me apoiando, está apenas querendo usar de meu amor e da confiança que a família de Felícia depositou em mim para continuar os planos de vingança! Não consigo acreditar nisso! Que decepção, minha avó, que terrível decepção! Pois saibam que não me importa o que decidirem aqui nessa sala, posso garantir a vocês que não mudarei de ideia, não farei nada contra aquela família e não renunciarei ao meu amor e à minha felicidade. Com licença, preciso retirar-me, não suporto mais estar no mesmo ambiente que vocês. Saí da sala em disparada, sem me importar com os gritos de meu pai, os apelos de minha mãe e as reprovações de minha avó. Estava totalmente indignado com tudo aquilo e no que a minha família havia se tornado. Não acreditava em como também pude participar de tod
Quando os noivos se juntaram a nós, foi maravilhoso. Minha madrinha sorria e brilhava tanto, senti uma paz em meu coração tão grande, que só tinha vontade de abraçá-la e dizer o quanto estava feliz por tudo o que ela vivia. Por eles terem a chance, assim como eu, de descobrir o verdadeiro amor. A oportunidade de viver para sempre com o coração transbordando por falta de espaço, por ser um sentimento tão grande que não cabe ali dentro.Desejava que todas as pessoas descobrissem o que era aquele sentimento, sabia que meus pais haviam vivido tudo aquilo e Malena merecia muito viver também.Sentamos juntas por um instante, após dançarmos muito, e ela com toda sua delicadeza e generosidade, segurou minhas mãos, dizendo:— Minha querida afilhada, que alegria estar vivendo esse momento com você ao meu lado e ainda mais com a expectativa de em breve vê-la casando-se também com seu amado Anthony. Feliz também por ver a família dele aqui, celebrando conosco, em harmonia e com a esperança de um