Minha mãe sempre me disse para não brincar com fogo. Eu nunca entendi muito bem o significado dessa frase, até o dia em que perdi minha liberdade.
-Você tá me irritando além da conta, você quer que eu te mate? - meu rosto virou para o lado, devido ao golpe que recebi do homem na minha frente.Eu o conheci aos doze anos.Seis anos atrás, ainda me lembro do olhar culpado que minha mãe tinha vendo os capangas desse homem me colocando em um carro, enquanto ela recebia uma quantia de dinheiro.Eu era pequena, mas não ingênua.Minha mãe me vendeu para o Ferdinando, também conhecido como Nando, o homem que tornou minha vida miserável.- Vá para o inferno, Nando! - respondi entre dentes.- Você...! – ele levantou o punho para me bater de novo, mas ele parou e se afastou, dando alguns passos para trás enquanto praguejava com raiva.A sala ficou em um silêncio profundo por um bom tempo, até que Nando vira o olhar para mim e se aproxima.- Essa será sua última chance – ele diz em um tom ameaçador, se abaixando até minha altura e segurando minhas bochechas com uma mão – Se eu receber outra reclamação ou devolução de você... - Ele puxa uma pistola e acaricia meu rosto com ela, o metal frio da arma me arrepia de medo – Não vou ter piedade de você... Entendeu, minha ovelhinha?A maioria que visse como eu não tenho medo de responder a esse canalha, provavelmente pensaria que minha vida não importa muito para mim.Mas, na verdade... eu quero ter esperança de que algum dia me libertarei de tudo isso e serei livre.Eu quero viver.-Sim, senhor... - respondi, e ele sorriu satisfeito.- Isso é bom, fico feliz que você tenha concordado. - Ele balança levemente meu rosto antes de soltá-lo e se levantar do chão.- Tara! - fechei os olhos com força diante do grito poderoso de Nando, a porta não demora para se abrir.-Diga, senhor?- Prepare ela, garanta que cubra o golpe no rosto e leve ela de volta para as outras, daremos a ela uma última chance.- Como quiser, senhor.Nando acaricia minha cabeça e me obriga a levantar o olhar para ele.- É melhor você rezar para ser escolhida... porque você sabe o que vai acontecer se você voltar, não é? – ele ameaça com sua pistola, enquanto sorri de forma nojenta.Engoli com dificuldade, mas concordei com a cabeça. Ele então, se afasta de mim e sai do quarto, batendo a porta com força.- Vamos lá - Tara agarra meu braço com força e me leva até a penteadeira, onde todas as maquiagens estavam.Ela e nenhum dos que trabalham para o Nando são diferentes dele. Todos me detestam porque faço o chefe se irritar, e se ele está irritado, tudo fica pior.-Aqui, vista isso - Ela j**a no meu peito a lingerie que eu usaria para aquela noite.Fui ao provador e troquei minha lingerie pela nova.-Se apressa! Tá quase na hora!Assim que Tara gritou, eu já estava vestida, então saí do provador e me aproximei dela, que me pegou pelo braço e me arrastou para fora do quarto.Chegamos bem a tempo, quando Nando já estava se apresentando no palco.- Esta noite, cavalheiros, tenho o prazer de anunciar que temos as mais belas, jovens, atraentes e... virgens do país. Melhor, peguem suas carteiras, porque estou certo de que só de olhar para elas vocês ficarão satisfeitos!Olhei atrás das cortinas, vendo uma grande quantidade de homens sentados nas mesas, prontos para gastar seu dinheiro conosco. E eram sempre os homens mais ricos do país.- Além disso, esperamos que nosso convidado de honra decida participar pela primeira vez, isso sim, seria uma surpresa. Agora, sem mais delongas, que comece o leilão!A plateia começou a aplaudir e murmurar empolgada. Tara apareceu ao meu lado e me forçou a voltar para o meu lugar e esperar minha vez.A primeira garota subiu ao palco e rapidamente atraiu a atenção de muitos na plateia, mas acabou indo embora com um homem idoso que já tinha feito ela sentar em seu colo uma vez.Fiz uma careta de nojo, mas respirei fundo tentando me acalmar.Aqui, se tiver sorte, vai sair com alguém que seja pelo menos agradável de se olhar, mas senão, terá que aguentar quem te escolher.Pouco a pouco, as outras foram sendo leiloadas até que finalmente...-E agora, cavalheiros... a última da noite...- Vai logo - Tara me empurra e eu subo no palco.Eu tinha subido aqui tantas vezes que só de ver as reações da plateia, sabia que me reconheciam. Todos faziam caretas de desaprovação e ninguém mais ficava surpreso comigo.- Ahem... Cavalheiros! – Nando pigarreou - Eu sei que todos já conhecem a fama dela, mas... Ei! Pensem nisso, se conseguirem domar essa garota selvagem, vocês não só terão o corpo dela, mas também serão reconhecidos por isso. Ela não é para os fracos! O que acham, cavalheiros? Alguém interessado?Senti minha respiração prender, quando todos continuaram sem falar nada. Os sussurros pela sala eram desconcertantes. Embora eu odeie a ideia de acabar sendo comprada com qualquer um desses degenerados, prefiro isso a ser morta por não dar mais lucro.Nando me olha com raiva, e eu apenas abaixo meu olhar.- Hum... acho que eles precisam de um incentivo. Por que você não se movimenta um pouco mais, ovelhinha?O olhar intimidador de Nando me obrigou a fazer o que ele disse.Eu reprimi uma careta, mas então, suspirei, fechei os olhos e desci até o chão, sentando minha bunda sobre meus calcanhares e abrindo as pernas para a plateia.Isso é mais humilhante do que apenas estar aqui...- Todos concordamos que ela é realmente uma beleza, certo?Eu podia ver a tentação e o desejo no rosto daqueles homens só em olhar para mim. Alguns nem tentavam esconder suas ereções, mas também pareciam indecisos por causa da minha má fama.- Então, se ninguém a quiser, o leilão fechará em...Eu não pude mais esconder meu medo, olhei suplicante para Nando, mas ele nem se virou na minha direção.- Três... dois... um...- Três mil dólares.Todos se voltaram surpresos para o homem que havia feito a primeira oferta por mim. E era o mesmo homem que havia comprado outras três garotas. -Três mil dólares... Alguém mais quer competir? – Nando falou. - Cinco mil.- Dez mil dólares.O homem que começou os lances estava agora disputando contra outro, ambos pareciam dispostos a gastar muito em mim. - Sessenta mil dólares – O primeiro homem sorriu enquanto o outro ficou em silêncio.- Sessenta mil... Alguém dá mais? Dole uma... Dole duas...Eu abaixei a cabeça, fechando os olhos. Estava aliviada por salvar minha vida, mas de que adianta se tenho que agradar a um homem que vai me tratar como se eu fosse sua escrava sexual?Eu queria chorar ali mesmo.- Dez milhões.Todos os que estavam presentes quase desmaiaram com aquela oferta, inclusive eu.Alguém realmente acha que eu valo dez milhões de dólares? Isso é loucura!- Vendida – Nando bate imediatamente o martelo na mesa com um sorriso de orelha a orelha – Que surpresa! Isso é u
- Entre aqui.O guarda abriu a porta de um dos muitos quartos do corredor. Eu entrei tímida e surpresa. Estava tão bem decorado e pelo cheiro de perfume masculino que emanava do ar, pude identificar que esse era o quarto do dono. Levei um susto quando a porta se fechou, olhei para trás e não havia mais ninguém dentro do quarto.- Será que vão me deixar aqui sozinha...?, pensei. Suspirei profundamente enquanto me cobria melhor com o casaco do guarda. Olhei ao redor, me aproximei de um canto onde havia uma mesa com vários enfeites que embora fossem pequenos, poderiam valer mais do que eu.Apesar de esse homem ter me comprado por dez milhões de dólares, não acredito que valo tanto. E não digo isso porque minha autoestima seja baixa, mas sim, porque... Que pessoa no mundo vale isso?- Isso é incrível – Murmurei novamente enquanto continuava a explorar o quarto luxuoso. Encontrei uma estatueta de cristal com a forma de um lobo correndo. Passei delicadamente meus dedos por ela, fascina
- Isso é... estranho – murmurei enquanto pegava uma toalha que encontrei dentro de uma cômoda. O banheiro tinha um chuveiro e uma banheira de hidromassagem, mas preferi usar o chuveiro. Nunca entrei em uma banheira de hidromassagem antes e não queria mexer em algo que não sabia como funcionava. Tirei a lingerie, deixando de lado, e abri a porta semitransparente do box, entrando e ligando o chuveiro, permitindo que a água morna relaxasse meus músculos.“Se eu demorar, será que ele vai entrar para me procurar?” pensei em voz alta. Espero que não, e não quero descobrir.Terminei meu banho o mais rápido possível e me sequei com a toalha. Mas então parei abruptamente e olhei ao redor.Droga...Eu não tenho nenhuma roupa...Eu sei que estou aqui exatamente para mostrar e dar meu corpo a esse estranho, mas, eu ainda não estou pronta para fazer isso. E agora, com apenas uma toalha cobrindo meu corpo, é muito fácil tirá-la. Voltei aos gabinetes sob a pia, onde encontrei a toalha, e comec
Bocejei enquanto me esticava na cama e apertei os olhos antes de abri-los e observar ao redor. Levantei rapidamente olhando melhor o quarto e lembrando como terminei neste lugar.É verdade... o leilão...Olhei ao meu lado, a cama estava vazia assim como o quarto. Percebi que meu roupão estava mal colocado, deixando a mostra um pouco dos meus seios. Fiquei corada e me cobri rapidamente ao pensar que aquele homem... Alessandro... poderia ter me visto demais ou pior, talvez me tocado enquanto eu dormia. Mas ele disse que não me tocaria... E ele pareceu ser um homem de palavra, pensei. Respirei fundo antes de me levantar da cama, fiquei vagando, um pouco indecisa para onde ir, mas quando estava prestes a ir ao banheiro, a porta se abriu e eu fiquei parada no lugar.- O Sr. Mascheratti solicita que desça para o café da manhã – Disse uma mulher com uniforme de serviço, mantendo a cabeça abaixada o tempo todo.- Eu... mas estou de roupão... não tenho nada para vestir.Ela ficou em silê
- Esse é o jardim, o Sr. Mascheratti quase nunca está por aqui, mas sempre gosta de ver que tudo esteja bem cuidado.- E parece que está... - murmurei olhando tudo.Acho que levamos várias horas apenas olhando o interior da mansão. Havia tantos quartos e coisas que chamaram minha atenção, que achava que nunca ia acabar.Me aproximei de um arbusto com várias flores lindas.Mas algo à frente chamou minha atenção. Me levantei e notei melhor aquela pequena construção cercada por um lago, e na entrada havia uma pequena escada.Caminhei até lá sorrindo e quando cheguei na entrada, vi que tinha um assento de madeira preso ao teto, como se fosse um balanço e em frente a ele uma mesinha de café com um pequeno relógio em cima.- O Sr. Alessandro não vai se importar de eu estar aqui, certo? – perguntei para garantir.- Como eu disse, ele não passa muito tempo aqui, então não se importará – disse Fran.- Que bom – murmurei aliviada, me sentando no assento e balançando levemente. - Como
- Eu acho que você já conquistou eles. Alessandro se agacha na minha frente, sorrindo. - Só não pensei que seria tão rápido! – disse enquanto afastava a cabeça de Rex da minha cara, ele não me deixava ver nada – Eles não parecem mais assustadores agora. Sorri e reclamei rindo quando Rex e Ney começaram a lamber meu rosto e pescoço.- Certo, estou com cócegas agora, ai! – disse entre risadas, tentando me soltar.- Alessandro, me ajuda, por favor.Ouvi um assobio e imediatamente os cães pararam e olharam para ele, ficando em posição de guarda. Ele fez um gesto indicando que eles fossem até ele, e eles obedeceram, abanando o rabo.Suspirei enquanto me ajeitava, sorrindo. Alessandro se aproximou de mim e estendeu a mão, me ajudando a levantar do chão. - Por que você não vem aqui mais vezes? É um lugar tão bonito...Eu disse olhando ao redor.- Acontece que o trabalho não me dá tanto tempo livre, e quando tenho, prefiro fazer outras atividades mais...excitantes. A man
Abri a porta do quarto de Alessandro que era o único lugar daquela mansão onde eu sabia que podia dormir. Fechei a porta atrás de mim.Ainda estava pensando no que fazer e como fazer.Levantei o olhar para a cama e então vi uma caixa em cima dela com um bilhete.“Minha bela,Você vai precisar disso. Não importa qual decisão tomar, agora isso é seu.Alessandro.”Deixei o bilhete de lado e peguei a caixa. Ela estava embrulhada com um papel de presente elegante de um tom de branco muito bonito e um laço prateado que brilhava como um diamante. Desenrolei o laço e quando abri, arregalei os olhos ao ver o que tinha dentro.Era um celular muito moderno e não só isso, era um dos melhores que existiam. Pode parecer que vivi debaixo de uma pedra a vida toda, mas eu realmente nunca tive um celular para chamar de meu. Nando nunca autorizou. O único contato que tive com celular foi com o de Tara, que um dia ela me deixou mexer. Abri a caixa e o peguei, era tão fino que eu tinha medo de deixar
Meu estômago ronca pela milésima vez, abraço a mim mesma fazendo uma careta enquanto ainda caminho pelas ruas escuras. Achei que poderia me virar sozinha, mas a verdade é que não faço a menor ideia do que fazer.- Droga... – murmurei.Estava cansada, com fome, com frio e assustada. Tinha medo de encontrar Tara de novo e pior ainda...Nando. Não achei que os encontraria tão rápido, realmente pensei que nunca mais veria eles. Parei e respirei o delicioso aroma de frango assado. Meu estômago roncou mais e eu fiz outra careta, enquanto continuava andando. O vento frio soprou contra o meu corpo e eu comecei a tremer. As ruas estavam vazias, mas muito iluminadas, tudo era bonito, mas eu não conseguia admirar nada por causa da minha situação.E sem poder evitar, soltei um soluço que foi acompanhado pelas lágrimas que começaram a embaçar minha visão, a frustração e impotência tomando conta de mim. - Droga! Droga! Droga! – murmurei, irritada e chorando. Só queria encontrar um lugar para