A escuridão envolveu meus sentidos, formando um véu que me isolava do mundo ao meu redor. Era como se estivesse flutuando em um vazio silencioso, sem perceber o tempo que passava. De repente, uma sensação estranha tomou conta de mim, como se estivesse sendo puxada para fora desse torpor. Minha mente começou a emergir, e lentamente pude perceber contornos difusos ao meu redor.Abri os olhos com dificuldade, sentindo-me desorientada e fraca. O ambiente era branco e brilhante, o que contrastava fortemente com a penumbra que eu estava acostumada. Máquinas emitiam sons suaves, e o aroma de desinfetante impregnava o ar. Olhei em volta, tentando entender onde estava, mas tudo parecia turvo e desconexo.Aos poucos, detalhes começaram a se formar. Camas alinhadas, cortinas brancas e pessoas vestidas em uniformes que eu não reconhecia. A ficha demorou a cair, mas quando percebi, meu coração acelerou com uma mistura de confusão e apreensão. Eu estava em um hospital, um lugar que há muito tempo n
Encaro meu reflexo no celular, observando as mudanças que transformaram completamente minha aparência. A sensação de não reconhecer a pessoa refletida na tela intensifica a estranheza de toda essa situação. O toque suave da enfermeira interrompe meus pensamentos.— Você foi encontrada com ferimentos graves no braço, uma hemorragia intensa. Parece que foi atacada por um animal grande. Se tivéssemos demorado mais alguns segundos para te encontrar, as coisas poderiam ter sido muito diferentes. Você teve muita sorte. — A enfermeira compartilha, sua expressão revelando uma genuína preocupação.Agradeço, devolvendo-lhe o celular, enquanto a perplexidade sobre a atitude de Dylan me assombra. Como ele pôde me deixar sozinha no estacionamento? Eu poderia ter morrido e ele simplesmente me deixou lá, sozinha na neve sangrando até morrer. Como ele pode? Um nó se formou em minha garganta e a vontade de chorar toma conta de mim. Estava sozinha novamente... ele havia me abandonado como se eu não fos
Caminhei por horas, meus passos ecoando pelas ruas desconhecidas da cidade. Meus pés doíam, mas eu não podia parar. A parte baixa da cidade parecia um labirinto, cheia de luzes e movimento, mas eu me sentia uma estranha entre todos aqueles rostos desconhecidos. A cada esquina, eu esperava encontrar respostas ou talvez um sinal de algo familiar, mas tudo o que encontrei foram prédios altos e pessoas apressadas.Finalmente, encontrei uma lanchonete modesta, um lugar que parecia acolhedor o suficiente para uma parada rápida. Entrei, sentindo o calor do ambiente contrastar com o frio cortante lá fora. Meu estômago roncou, lembrando-me de que, apesar de todas as incertezas, eu ainda era humana e precisava comer.Escolhi uma mesa discreta, observando os outros clientes enquanto me sentava. O aroma tentador de comida preenchia o ar, aumentando minha fome. Um cardápio plastificado estava sobre a mesa, e meus olhos cansados percorreram as opções. Decidi por algo simples, algo que não me fizess
Algumas horas se passaram, a lanchonete estava vazia, as últimas mesas sendo limpas enquanto Leo me chamava para conversar. Nos sentamos em uma mesa, a atmosfera mais relaxada após o movimento do almoço.Leo olhou para mim com curiosidade, seu sorriso amigável presente.— Então, Jane, de onde você veio? E o que aconteceu com o seu braço? — Ele perguntou, sua expressão preocupada.Eu não poderia contar a ele a verdade, ninguém poderia saber minha verdadeira história ou passado. Quem iria acreditar que sobrevivi ao ataque de um vampiro e vivi meses entre lobisomens? Eu seria presa e culpada pelo assassinato de minha família. Seria tachada como louca e ninguém intercederia por mim. Acho melhor assumir a identidade e história que a enfermeira me deu. No fim das contas, eles terem me dado um nome falso foi a melhor coisa que puderam fazer por mim. Agora não seria mais Violet Hathaway e sim Jane Doe, uma mulher humana sem passado e com um futuro como ajudante de cozinha e faxineira nas hora
Com o vento frio cortante lá fora, seguimos em sua caminhonete, enfrentando a tempestade de neve que se intensificava a cada minuto.A casa de Leo revelou-se uma surpresa. Uma construção imponente, um casarão de dois andares, cercado por uma cerca baixa. As luzes amareladas brilhavam pelas janelas, transmitindo uma sensação acolhedora em contraste com o frio exterior. A neve acumulada nos degraus da entrada principal dava à casa uma aura mágica.Ao cruzar o limiar, a sensação de calor imediatamente envolveu-me, um alívio bem-vindo depois da exposição ao vento gélido. A decoração interior era uma mistura de clássico e aconchegante, com móveis que pareciam carregados de histórias. O aroma de algo cozinhando permeava o ambiente, criando uma atmosfera acolhedora.— Surpresa? — Leo sorri, notando minha expressão de surpresa.— Uau, Leo, eu não esperava que você morasse em um lugar assim. — Admiro a casa enquanto deslizo meu olhar por retratos dispostos com carinho pelas paredes.Fotos most
Já haviam se passado alguns dias desde que Leo e eu começamos a construir essa nova amizade. A rotina na casa tranquila e as risadas compartilhadas na lanchonete proporcionavam uma pausa revigorante na tempestade de incertezas que marcara minha vida.A manhã chegou com um propósito claro. Leo e eu nos dirigíamos à delegacia para obter informações sobre as investigações relacionadas ao caso. Eu esperava que ninguém tivesse nada que revelasse minha identidade verdadeira, isso seria um desastre.Ao entrarmos na delegacia, o policial responsável nos conduziu a uma sala para discutir os resultados de suas investigações.O policial examinou os documentos em sua mesa e, depois de um breve silêncio, começou a compartilhar os resultados de suas investigações.— Senhorita Doe, lamento informar que as câmeras da região, estranhamente, não estavam operacionais na noite em que você foi encontrada. Um problema técnico, possivelmente devido à tempestade de neve. Isso tornou impossível rastrear o que
O crepitar da lareira proporcionava uma atmosfera acolhedora, enquanto Leo e eu nos acomodávamos perto do fogo numa noite fria. O silêncio era interrompido apenas pelo estalar ocasional da madeira queimando.— Jane, tenho pensado sobre tudo isso. Sinto muito pela desconfiança anterior. Podemos seguir em frente sem esses olhares acusadores. — Leo quebrou o silêncio, seus olhos buscando compreensão nos meus.— Agradeço, Leo. A amnésia é confusa, e eu mesma estou tentando entender tudo. — Respondi, tentando manter a vulnerabilidade em minha expressão.Leo assentiu, parecendo aliviado pela possibilidade de deixar as tensões para trás.— Não quero que pense que duvido de você. É só que tudo isso é estranho, né? Uma criança tentando te salvar, as câmeras que falharam... é um quebra-cabeça complicado. — Leo expressou seus pensamentos, seus olhos ainda examinando os meus em busca de respostas.— Compreendo, Leo. É um mistério que até eu estou ten
Dias se passaram tão rápidos que mal os lembrava. Já havia feito a cirurgia de reconstrução da pele. A ferida emocional continuava a arder, mas a rotina diária e a companhia de Leo ajudavam a acalmar as tormentas interiores.Leo, com sua paciência e compreensão, se tornou um refúgio inesperado. Sua presença suavizava as arestas afiadas da solidão que eu enfrentava. Conversas casuais, risadas compartilhadas e pequenos gestos de bondade começavam a desenhar uma nova tela em meu mundo, contrastando com as sombras do passado.A cada dia, eu me permitia abrir um pouco mais para a possibilidade de uma vida além das traições e decepções. Os passeios pela cidade coberta de neve, as tardes na lanchonete e até mesmo as sessões de fisioterapia tornavam-se pequenos raios de luz rompendo as nuvens escuras que pairavam sobre mim.O gesso em meu braço era um lembrete constante da batalha física que travava, mas também simbolizava a força recém-descoberta para superar adv