Os antigos moradores do vilarejo, os quais eram compostos pelas pessoas de mais idade, adoravam contar as histórias que presenciavam ou ouviam de seus pais quando eram crianças. Então conforme os anos foram se passando, a cidade chegou ao século XXI, mas conservando muitas de suas tradições, pois até os dias de hoje os moradores gostam de aproveitar o frio do local e fazer pequenas fogueiras em seus quintais para fazer a tradicional noite dos pesadelos, onde toda a família se reúne na casa da pessoa mais velha, geralmente a matriarca ou o patriarca da família, e se organizam, se sentando ao redor de uma fogueira para ouvir as mais diversas e interessantes histórias de terror, as quais são contadas desde a Idade Média.
Então, momentos antes da reunião familiar acontecer, as tarefas eram divididas da seguinte forma: enquanto os homens mais jovens da família saíam para buscar as lenhas ao longo dia; as outras pessoas, geralmente as mais velhas, preparavam os quitutes, os quais prometiam trazer mais alegria e aconchego para aquela noite fria. Então quando tudo estava preparado e a fogueira já se encontrava acesa, com a chama bem viva a ponto de saltar as labaredas, os integrantes da família, como avós, tios, primos, irmãos, enfim, todos, se sentavam em círculo ao redor da fogueira como os seus ancestrais faziam nos tempos antigos, na época em que, segundo a tradição, cada integrante do grupo protegia a pessoa que estivesse sentada a sua frente de modo a avisá-la sobre o perigo iminente, por conseguir observar o inimigo que poderia se aproximar por trás. Então depois de a fogueira já estar com bastante lenha e do jeito que a tradição ordena, a família toda pôde observar e admirar o fogo consumindo a madeira.
Em seguida, a pessoa mais velha do grupo começava a compartilhar com os mais novos as suas experiências e as histórias que lhes contavam quando criança, as quais mesmo com o passar dos anos, não foram apagadas de sua memória, fazendo acreditar que os contos não eram somente uma lenda, como muitos diziam, mas que eram algo em que se pudesse fielmente acreditar e passar adiante, de modo que todos tomassem conhecimento, pois no vilarejo de Merlim todo cuidado era pouco. Cada passo dos moradores poderia ser vigiado e perseguido durante as noites nas ruas estreitas do vilarejo de Merlim ainda que tivessem passado milênios.
As pessoas depois que ouviam tais histórias de seus familiares, contavam-nas, com orgulho, para os poucos e raros visitantes curiosos, com quem eles fizessem amizade, os quais eram recebidos pela cidade a cada ano que passasse.
Como Merlim era uma cidade, ou um vilarejo como alguns preferiam chamar, que se localizava próximo a uma floresta densa e afastada dos grandes centros urbanos, o vilarejo não era muito conhecido e, consequentemente, não era tão procurado como alguns moradores gostariam, pois a cidade era normalmente muito pacata e silenciosa, fazendo com que os jovens se sentissem entediados por querer companhias diferentes e quase nunca ter.
As pessoas que tinham contato com os seus familiares mais velhos, como os seus bisavós, e em alguns raros casos com as suas tataravós, ouviam e passavam adiante, contando finalmente, que nos tempos antigos, os seus antepassados escutavam muitos barulhos e vozes que assustavam a todos. Diziam que antes de muitas casas terem sido construídas, a maior parte do vilarejo era composta por matos e frondosas árvores. E as poucas casas que existiam eram relativamente distantes umas das outras, permitindo naturalmente um grande silêncio durante as noites.
Os moradores contavam, que desde a Idade Média, quando o vilarejo foi fundado, que existia um homem que sempre usava uma capa preta, um chapéu preto e que possuía os olhos amarelos, os quais eram sempre muito brilhantes, assemelhando-se a dois sóis. Esse homem, todas as noites, saía de algum lugar, que até hoje não se sabe onde, e ia cavalgando ao longo da madrugada. As pessoas que já se encontravam amedrontadas por causa desse homem, o qual era comparado a uma possível ameaça que rondava suas casas, já ficavam assustadas quando ouviam o som das patas de seu cavalo batendo no calçamento das ruas silenciosas e desertas do vilarejo de Merlim. Mas o medo era ainda maior, e algumas vezes paralisante, quando se percebia que o som havia cessado, pois era sinal de que o homem misterioso poderia ter escolhido a sua atual vítima.
Os moradores diziam que a forma com que ele escolhia a sua vítima era bastante inusitada, pois toda noite ele optava por uma casa diferente, em frente a qual ele parava o seu cavalo, voltava o seu olhar tenebroso para a casa da possível vítima escolhida e ficava esperando paciente e silenciosamente a fim de ver quem seria o curioso ou a curiosa que ousaria olhá-lo pela janela. Devido a esse motivo, a maioria das pessoas que residiam antigamente nesse vilarejo deixava até as janelas e as cortinas fechadas para que não vissem nem pudessem ser observadas pelo tal homem que rondava, frequentemente, a região com o seu cavalo todas as noites, sempre no mesmo horário.
Mesmo no século XXI, tinham algumas pessoas que diziam que quem o visse, ou quem era visto por ele, não sobrevivia. Essa parte da história era sustentada pelas notícias que corriam pelo vilarejo sobre a quantidade cada vez mais alta de desaparecimento constante de pessoas a cada amanhecer, pois os moradores não tinham conhecimento de alguém que pudesse ter sobrevivido aos ataques desse homem. Todos os dias era uma morte nova, o que já estava levando os moradores a desconfiarem de que esse tal homem tivesse culpa total ou parcial em tais desaparecimentos. Por isso, eles sempre afirmavam que ninguém jamais sobreviveu. Mas não se sabe ao certo o que esse homem é capaz de fazer para matar as pessoas que ousassem vigiá-lo ou que atravessassem de alguma forma o seu caminho.
Na maioria das cidades pequenas, existem inúmeras especulações para os crimes cujas causas ainda estejam desconhecidas ou sejam parcialmente encobertas de alguma maneira. E para essa cidade, as coisas não são diferentes, pois existem alguns moradores que criaram diversas teorias que, se forem analisadas, até fazem algum sentido.
Por exemplo, existe um senhor de cabelo branco, que possui por volta de oitenta anos de idade chamado João, que nasceu e foi criado na cidade de Merlim, e que até os dias de hoje ainda reside em uma das primeiras casinhas simples situadas logo no início da cidade. Seu João sempre diz que o tal homem misterioso mata de uma forma um tanto estranha, pois segundo a sua teoria, o homem pode sugar a alma da pessoa apenas com o seu olhar amarelo brilhante. Além do seu João, existem outros moradores também, como o seu Mário, o qual é um dos moradores antigos da cidade, e que por ter conhecimento a respeito desse assunto, também formulou uma teoria, dizendo que os olhos do homem possuíam tanto poder que bastava a vítima olhar para ele e pronto, no mesmo instante já teria a sua alma sugada e em poucos segundos estaria caindo morta em qualquer lugar em que estivesse, ainda que relativamente distante do homem. Através desses relatos, é possível perceber o quanto esse homem misterioso é conhecido e o tanto de medo que ele causa nos moradores daquela cidade.
Já outros moradores, como o seu Zé, que mora no último sítio localizado na estrada de chão do vilarejo, já diz, com o rosto mostrando uma expressão de medo, que esse homem é, na verdade, um espírito que se sente convidado a entrar na casa de suas vítimas só pela conexão do olhar.
Tanto essas pessoas como outras, que passaram a vida criando teorias, dizem que essa história não é uma lenda, defendendo a ideia de que esse homem de fato existe e que os casos começaram a acontecer de verdade há muitos e muitos anos atrás e continuam do mesmo jeito até os dias de hoje. Outros já dizem não acreditar, alegando que é apenas um conto popular e que não deve ser levado a sério.
Bom, pode até ser um parcial exagero do povo, pois conforme os contos passam de geração em geração, as histórias ganham novos detalhes e perdem a sua originalidade. Independente de alguns moradores e turistas não acreditarem, existem alguns trechos dessa história que fazem parte da vida do vilarejo de Merlim há muito tempo, desde a Idade Média.
De fato existe esse homem, um cavaleiro por assim dizer. E, realmente, ele já matou inúmeras pessoas, mas esses acontecimentos ocorreram de uma forma tão misteriosa que ainda não foi descoberta pelos policiais, investigadores e delegado que compõem a única e pequena delegacia local.
Mas o que muitos não sabem é que apenas uma pessoa sobreviveu ao misterioso cavaleiro. É um homem, e ele se chama Bóris, o qual sempre acha absurdas as teorias que os moradores criam, pois ele sabe de toda a verdade. Sabe que ele mata as suas vítimas de uma forma completamente diferente das que esses moradores acreditam.
Hoje em dia, Bóris é um senhor de cabelos grisalhos. E a pele de seu rosto mostra que ele tem por volta de uns cinquenta anos ou mais, de idade. Mas antigamente, há quarenta anos atrás, Bóris tinha apenas dez anos. Ele sempre viveu em Merlim, a qual tinha apenas uma escola que ficava localizada próximo à floresta, na região dos Montes Cárpatos. Ou seja, a escola era muito próxima ao castelo. E geralmente as crianças se sentiam um pouco amedrontadas devido à fama de empalador que insistia em acompanhar uma pessoa que morava naquele castelo, desde os tempos antigos. Mas a pessoa que morava naquele castelo podia esconder muito mais segredos do que os moradores imaginavam.Um dia, quando Bóris era uma criança de apenas dez anos, acordou de manhã, por volta das sete horas. Em seguida, tomou um banho e se sentou à mesa com os seus pais, pois estava na hora de ir ao col&ea
O tempo passou e Bóris cresceu. E quando fez quinze anos conheceu outras pessoas. Quando fez novos amigos, compartilhou com eles o seu maior medo na infância, que era o castelo localizado nos montes Cárpatos. Um dos amigos de Bóris chamado Victor, que sempre se sentia o mais valente do grupo, teve uma ideia e compartilhou com os outros meninos.– O que vocês acham da gente ir até o castelo? Eu sempre quis saber quem é que mora lá.– Você teria coragem de ir até lá? Eu não teria! Jamais iria naquele castelo mal assombrado! – Respondeu Sam.– O castelo é mal assombrado? Tem fantasmas lá dentro? Ai, eu não vou, não. E nem adianta insistir. – Complementou Peter antes mesmo de Victor abrir a boca para falar algo que o fizesse mudar de ideia.– Eu iria. Ah, Sam, acredito que estando todos juntos não teriam muita
Bóris não só caminhou até a porta do castelo, mas queria se certificar de que realmente não teria ninguém morando naquele lugar. Que tudo era apenas invenção do povo. E que as patas do cavalo poderia ser apenas um morador de outro vilarejo que tivesse um sítio e que alguma vez passou por Merlim.Bóris não quis conectar a ideia das pegadas de um cavalo com o tal homem misterioso do qual a cidade inteira falava. E para a sua saúde mental era até melhor, pois desacreditando de tudo, pelo menos naquele momento, ele poderia seguir em frente com a sua ideia de desvendar o mistério que fazia com que o castelo fosse um lugar aterrorizante para todo o vilarejo.Quando Bóris chegou à frente do portão do castelo e no momento em que ele tocou a maçaneta, os portões se abriram sozinhos, sem nem ao menos Bóris chamar ninguém, nem empurrar
Bóris foi para a sua casa pensando em toda a conversa que teve com o conde, o que parecia ser um sonho, pois jamais imaginou que realmente tivesse alguém morando no castelo, muito menos que fosse tão atencioso e conversasse e contasse vários segredos para ele. Bóris também se surpreendeu, pois nunca imaginou que o conde soubesse quem era o tal cavaleiro de quem a cidade toda falava e que assustava a todos.Quando Bóris chegou em casa, já eram quase dez da noite e seus pais estavam preocupados, pois pensaram que pudesse ter acontecido algo com ele.– Onde você estava? Eu estava morrendo de preocupação.– Eu estava com os meus amigos Victor, Sam e Peter! – Disse Bóris mentindo para a sua mãe.– Mentira, Bóris! Não minta para a sua mãe! Eu liguei para todos os seus amigos e eles disseram que não estavam com você.
Os dias foram se passando e, devido aos compromissos da escola, Bóris não teve mais tempo de ir até o castelo do conde, o que o deixou bastante desapontado.Em casa, esteve pensando que gostaria muito de ser como o conde. Conseguir viver por séculos e séculos devia ser algo muito bom, pois teria inúmeros conhecimentos sobre diversos assuntos e teria muito assunto para conversar com quem quer que fosse. Então pensou em ir, no dia seguinte, novamente até o castelo visitar o conde e pedir para que ele lhe contasse mais sobre a sua existência aqui na Terra, e principalmente como é ser um vampiro, pois Bóris estava morrendo de curiosidade a respeito desse tema, ou melhor, dessa espécie, conforme o conde diz.Mas no dia seguinte, já pela manhã Bóris descobriu que teria um trabalho que tinha sido passado pela professora e que deveria ser entregue no dia seguinte. Entã
Os anos se passaram e hoje em dia, com cinquenta anos de idade, Bóris mora sozinho em sua mansão, pois seus pais foram embora para outra cidade. Bóris geralmente é muito caseiro, sempre escolhe ficar em seu lar, em uma casa bem grande, talvez a maior, localizada no vilarejo de Merlim. Mas em uma noite fria, o céu estava tão claro que permitia ver perfeitamente a lua cheia. Então ele saiu e se dirigiu ao mercado local, que na verdade é apenas uma venda que dispõe apenas dos principais produtos de limpeza e de alimentos, os quais são os mais necessários para suprir uma casa.Naquela noite enquanto ele estava no mercadinho, escolhendo os produtos que compraria, ele observou uma mulher alta de bela aparência, com cabelos pretos e ondulados, que tinha em torno de quarenta anos, entrar no mercado. Ela se aproximou dele enquanto olhava os produtos das prateleiras e disse:– Ser&aacu
Bóris sendo muito receptivo com Bela, disse, ao abrir a porta da sala:– Seja bem-vinda a minha casa, Bela. Entre e sente-se. Pode ficar à vontade. – Disse Bóris abrindo a porta da casa para a nova conhecida.A casa de Bóris parecia um lugar antigo, mas ao mesmo com muito luxo, pois havia muitas peças de extremo bom gosto e riqueza. Logo quando Bela entrou, ela não esperava de ver aqueles móveis, como um sofá espaçoso na cor preta, assim como cortinas de camurça na cor vermelha no estilo romântico. Um piano no canto, próximo à janela dava um destaque e uma aparência de sofisticação. No teto da sala tinha um lustre que tinha diversas lâmpadas finas e da cor amarela, além das pedras que Bela não soube dizer se eram preciosas, só sabia dizer que eram lindas e muito brilhantes, o que dava mais sofisticação ao amb
Depois que Bóris e Bela se casaram, eles passaram a morar juntos na casa de Bóris. Em uma manhã menos fria devido ao sol que brilhava forte naquela região, ela disse, enquanto preparava seu café da manhã:– Bóris, eu quero muito ter um filho com você. Meu sonho é ser mãe.– Bela, eu já tenho um filho e não gostaria de ter outro, até por que não quero tanta mudança em minha vida.– Eu sei que você já tem um filho, mas você nunca me falou tanto desse menino. Gostaria de saber mais sobre ele. – Comentou Bela.– Bela, você tem razão. Tem algumas coisas sobre a minha vida das quais você ainda não sabe e que deveria saber.– Então pode me contar, meu amor.– Bem, preciso que você me prometa que vai guardar segredo.– Sim, pode contar