Dimitri
"Você por acaso está prestando atenção, Dimitri?" O homem mais velho exigiu minha atenção com uma voz ríspida, levei calmamente o meu olhar até ele mantendo um rosto sem nenhuma expressão.
"Sim, meu rei?" Questionei, o homem resmungou impaciente deixando de lado o seu garfo e faca, ambos estávamos na mesa do jantar acompanhados pela esposa do rei, uma velha chata que era tão detestável quanto o marido dela.
"Você deve prestar atenção quando eu estiver falando contigo. Eu sou o rei de todas essas malditas terras e não é só porque você tem meu sangue que poderá me desrespeitar!" Ele exigiu gritando para mim como sempre, eu apenas engoli tudo o que queria falar, eu estava engolindo coisas por muito tempo, mas sabia que esse não era o momento certo para se rebelar contra meu tio.
"Oh, meu rei. Não fique tão bravo com ele. A doença dele deve estar afetando também as capacidades cognitivas dele." Magdalena, a esposa do rei, disse fingindo que estava intercedendo por mim, mas eu sabia o quanto essa mulher podia ser ruim. A velha estava me olhando com certo nojo no rosto como se tivesse medo de pegar minha doença só por estar próxima de mim.
"Bah! Você é mesmo um inútil, imprestável. É perda de tempo tentar falar com você." Meu tio se irritou pegando da sua taça de vinho banhada em ouro e a bebendo.
"Eu… Sinto muito, meu rei… Da próxima terei mais cuidado." Baixei minha cabeça em gesto de respeito e subordinação, o peito do homem até se estufou de tanto que ele se sentia poderoso em ter tamanho controle sobre mim.
"Você só está me dando trabalho. Uma vergonha para a família Real." Ele continuava. "Sabe o que aconteceria com você se você não tivesse o sangue Real correndo em suas veias? Estaria largado nos esgotos dessa cidade definhando em sua própria doença, urinando e defecando em si próprio sem ninguém para te ajudar. Então você sabe que tem muito o que me agradecer." Assenti de cabeça ainda abaixada enquanto o homem esbravejava os mesmos insultos de sempre.
"Eu sou eternamente grato ao senhor, meu tio…" disse eu com a voz trémula demonstrando o quão fraco eu era para ele. O homem se ajeitou em sua própria cadeira orgulhoso e voltou a falar.
"Muito bem, os reinos vizinhos que temos relação de negócio com eles, ainda continuam insistindo que a minha assinatura apenas não basta para fechar o acordo, aquele bando de porcos desprezíveis. Por isso que você tem que assinar também as cartas para eles."
Meu tio sempre dizia que eu não era importante ali, dizia sempre que eu era um inútil que só estava vivo graças a ele, dizia também que se ainda não tinha me expulsado para fora de casa era porque ele se compadecia da minha situação, mas então se eu era mesmo tão inútil, por que os reinos vizinhos ainda não o consideravam como o legítimo rei? Por que a assinatura dele apenas não bastava? Levantei meu rosto e o encarei, este homem sabia o lugar onde está sentado agora não é dele de verdade, ele sabe que matou meus pais para conseguir aquele lugar, o próprio irmão dele e cunhada, ele os matou para usurpar o lugar do meu pai. E este homem sabe que eu sei de toda verdade, e ele está se agarrando a minha doença para passar minha fama de inútil perante todo o reino, mas ele não perde por esperar…
"Assinarei sim as cartas, meu tio." Respondi finalmente, ele assentiu contente.
"Tem que ser o mais breve possível para que Richard possa ir fazer as entregas pessoalmente. Estamos sem tempo, esse negócio deve ser fechado o mais rápido possível." O rei ordenou.
"Assim será, meu rei."
"Vocês homens são cansativos demais. Só sabem falar de negócios até na hora do jantar." A mulher asquerosa do meu tio nos repreendeu, logo depois olhou para mim. "Chegou uma correspondência especial para você." Me entregou um envelope que estava selado antes dela ter aberto e lido o conteúdo da carta, eu não tinha nenhuma privacidade nessa casa, olhei pro envelope. "É sobre o sul, sua noiva diz que está a caminho para finalmente vir se unir a você." Senti um gosto amargo em minha boca ouvindo aquelas palavras, a mulher suspirou dramática. "Coitada dessa moça que deverá se casar contigo, terá que cuidar de você o resto da vida dela e ainda por cima, você nem poderá engravidar ela já que nesse estado em que você está, seu corpo é inútil da cintura para baixo." Ela e o marido dela ficaram rindo de mim, peguei o envelope e abaixei a cabeça.
"Se vocês me permitem, gostaria de terminar a refeição no meu quarto."
"Vai lá, é perturbador ter a sua presença aqui." O rei me afastou com um gesto de mão. "E vê se assine o que lhe ordenei!" Fiz sinal para o meu mordomo e ele se aproximou segurando na minha cadeira de rodas a empurrando em direção a saída da sala. Até o ar parecia mais leve de respirar quando estava longe deles, enquanto eu era empurrado no corredor em direção ao meu quarto, tive o infortúnio de avistar Richard pelo caminho. Assim que me viu, estava sorrindo de deboche se aproximando com olhar altivo, apenas rolei os olhos e tratei de o ignorar, mas parece que ele não desistiria fácil.
"Como vai, irmãozinho?" Ele disse. Richard não era meu irmão, mas sim primo. Ele era filho do meu tio, o rei ladrão. Ele tinha mais ou menos minha Idade e era tão vil e mesquinho quanto os pais dele.
"Eu tive um dia cheio, apenas me deixe ir pro meu quarto em paz," eu disse não querendo entrar num diálogo com ele, dei sinal pro meu mordomo continuar guiando a cadeira de rodas, porém Richard cruzou o meu caminho, ele tinha um olhar presunçoso e um sorriso cínico no rosto.
"Um dia cheio!? Me explique como um homem inútil como você teria um dia cheio? Deve estar cansado de sentar nessa cadeira, né. Que pena," ele tentou zombar de mim.
"Se você não sair da minha frente vou passar por cima." O ameacei.
"Uh, que medinho da sua cadeira de rodas." Ele zombou de mim rindo alto com deboche. "Põe uma coisa na sua cabeça." Estava pressionando minha cabeça com seu dedo indicador. "Você deve ter medo de mim, seu aleijado de merda. Porque para matar você é bem fácil, não acha?" Não o respondi, mais uma vez decidi engolir minhas palavras. "Muito bem, gosto assim. Todo obediente, agora vai lavar essa sua bunda fedida que você tá precisando." Ele saiu andando rindo alto de mim, apenas suspirei e tomei o meu caminho.
"Quer que eu o ajude a se trocar e se deitar, meu príncipe?" Gunter, meu mordomo, perguntou singelo. Esse homem sempre esteve comigo até nos piores momentos, sorri pra ele negando com a cabeça.
"Não precisa, você pode se retirar." O homem assentiu e fechou a porta atrás de si após sair do meu quarto. Fiquei lendo aquelas cartas que o rei tinha me ordenado assinar e então peguei em todas cartas e as joguei na lareira ali perto para que queimassem, tudo se tratava de negócios sujos que o rei estava tratando com os reinos vizinhos, negócios esses que prejudicavam ainda mais o reino, ele estava literalmente vendendo Flórida para os outros Estados, por isso que precisavam da minha assinatura, pois eu sou o príncipe legítimo daquele reino. O único príncipe herdeiro.
Li também a carta da mulher que ia ser minha esposa, ela tinha uma letra elegante, estava dizendo que estava a caminho e que chegaria dentro de alguns dias. O nome dela era Lysandra Moonlight, eu nunca a tinha visto, só sabia que ela tinha sido prometida a se casar comigo. Suspirei, me casar agora não estava dentro dos meus planos, então joguei a carta num canto do quarto, eu tinha coisas mais importantes para pensar por agora, como por exemplo pensar em como ia derrotar o rei regente.
Naquela mesma noite enquanto todos dormiam, levantei-me da minha cadeira de rodas e subi escondido até o terraço do castelo onde me transformei em um grande e forte lobo negro, minha pelugem eram tão preta quanto a noite, ninguém nunca me notava enquanto eu corria livre pelo teto do castelo indo até a cidade. A verdade era que eu estava apenas fingindo que era aleijado e sem inutilidade na frente do rei e de todos para que meu tio não me enxergasse como o que verdadeiramente eu era, eu era o maior inimigo dele e em questão de tempo, tomaria o reino das mãos dele.
Lysandra Naquela manhã fiquei a saber com os criados do castelo que Anastasia subiu em sua carruagem e partiu para bem longe de casa, tudo o que eles sabiam era que ela tinha brigado com os nossos pais e tinha decidido ir embora de casa, eu não tinha percebido nada pois assim que tinha voltado pra casa e depois da conversa com ela, acabei dormindo pesadamente na minha cama, fazia dias que eu não dormia direito, então tinha sido fácil cair em um sono profundo. Quanto a Anastasia, bom, ela era uma mulher de 20 anos capaz de sobreviver sozinha, mas eu não achava que ela se sairia bem num mundo que era totalmente dominado por alfas e ela sendo apenas uma humana, esperava que ela se auto descobrisse e voltasse pra casa para segurança dos nossos pais. Depois de um banho, vesti roupas limpas: uma calça de couro por baixo do vestido para me ajudar a montar no cavalo mais tarde pois estava planejando sair pra ir ver alguns amigos no vilarejo, e tinha prendido meu cabelo escuro numa trança lon
Lysandra O mundo todo virava um borrão quando eu estava montando em meu cavalo. Era uma liberdade tal igual eu sentia quando me aventura pela floresta em minha forma lupina, gostava de sentir o animal majestoso por baixo de mim e ouvir suas patas batendo o chão correndo em alta velocidade, corria pela serra da fazenda dos Moonlight até chegar ao outro lado da enseada, um bando de homens estavam aguardando de baixo de uma árvore com seus cavalos, sorri me aproximando deles. "E aí, tudo bom?" Os saudei quando me aproximei. "Olha só quem decidiu aparecer," um deles respondeu assim que me viu. "A moça devia estar ocupada pintando as unhas nos aposentos dela," o outro comentou provocativo tirando risada de todo mundo, levei o meu cavalo contra ele o batendo com o focinho do meu cavalo derrubando o homem no chão, os caras riram alto zombando do rapaz pelo tombo. "Você foi derrubado por uma garota!" Zombaram dele. "Uma garota pode derrubar um homem mesmo tendo as unhas feitas ou não. P
Lysandra Minhas mãos agarram o encoste da cadeira da carruagem, meus olhos estão opacos, quase sem vida. Eu me sinto sem vida. Já tinha passado dois dias que eu estava viajando para Tallahassee, capital de Flórida, estava indo mais praticamente em Leon, a cidade do Rei Lobo. Tinha perdido tudo e todos que eu amava, estava sem casa e sem opções, única coisa que me sobrava agora era me entregar a Dimitri Blackfur, o príncipe de toda Florida. Eu ainda estava em choque, não conseguia dormir e nem comer direito, ainda não conseguia acreditar que meus pais haviam morrido e com isso, destruído toda minha vida e meus sonhos. Eu já tinha chorado tanto, já tinha gritado tanto que agora me sentia completamente drenada e sem forças nem para dar um soluço de choro. Ainda estava completamente em choque, sempre que eu fechava os olhos ainda conseguia ver e ouvir nitidamente os gritos das pessoas queimando e fogo por todo lado. Quando vimos o incêndio no castelo Moonlight e corremos até lá, já era
AnastasiaAntes do incêndio do castelo MoonlightLysandra me afrontava de uma forma que me tirava do sério, aquela teimosia dela e petulância, a forma dela de levar a vida como se não tivesse um amanhã. Ela mal se cuidava embora sendo a futura rainha daquele lugar todo. Rainha, ri comigo mesma em escárnio, ela definitivamente não merece ser a rainha de Flórida, ela não merece ser a escolhida para se casar com o príncipe Dimitri, aquele lugar tinha que pertencer a uma pessoa tão determinada quanto eu, aquele esterco ambulante que era Lysandra não merecia se casar com Dimitri e liderar Flórida.Estou andando pelos corredores do castelo Moonlight, minhas vestes se arrastando pelo chão de pedra polida, acabei de sair do quarto dela e avistei ela entrando em seu quarto pela janela em sua forma lupina e se destransformar sem perceber que eu estava lá a esperando, como sempre ela pouco se importava com o que as pessoas acham dela. As moças da vila a chamam de cachorra em termo pejorativo, ti
Dimitri"Você viu a cara dela? Que desgraçada," minha nova noiva comentou. Eu e ela estávamos compartilhando um vinho e ela não parava de cantar vitória.Quando fiquei sabendo que na verdade foi a irmã da Lysandra quem tinha vindo se casar comigo eu fiquei confuso a princípio, mas Anastasia me explicou tudo e me contou o quanto sua irmã era vil e maltratava seus pais e a ela com o seu egoísmo. "Eu fugi do castelo dos meus pais, meu príncipe," ela tinha me dito aos prantos parecendo debilitada e apavorada quando chegou no castelo, "passei a vida inteira sendo maltratada por Lysandra. Ela sempre foi louca, mas eu continuei demonstrando o meu amor para com ela todos os dias, porém agora ela ficou insuportável, meu príncipe. Ela me ameaçou com fogo, ela disse que vai botar fogo no castelo e matar nossos pais, eu e todos que dependem do castelo Moonlight para sobreviver. Ela está fora do controle, você tem que nos ajudar, meu príncipe. Por favor..!" Ela chorava aos prantos como se estives
DimitriParei o cavalo no estaleiro de uma taberna e entrei junto com Lysandra para o seu interior. Ao contrário de lá fora, lugar estava quente e aconchegante com vários homens e mulheres espalhados pelo lugar, uma música ambiente e cheiro de comida e bebida sendo consumidos no lugar. Pedi comida e bebida e levei a moça até o canto do recinto, foi agradável ver como ela comia e bebia como se realmente estivesse morrendo de fome."Obrigada pela comida," ela disse enquanto comia. Sorri minimamente e sacudi a mão levemente."Não foi nada." Na verdade uma parte da minha culpa tinha se retirado de mim agora pois fui eu quem tinha expulsado ela do palácio do rei sem ter a alimentado primeiro. "Você sabe que em Leon nada é segredo, todo mundo está comentando da noiva do príncipe que assassinou seus pais e foi justamente rejeitada pelo nosso futuro rei," eu disse fazendo ela perceber que eu estava por dentro do assunto. Por um momento ela parou de mastigar e me olhou em alerta e depois limpo
LysandraApós eu ter sido rejeitada tão vergonhosamente pelo príncipe daquele reino, eu estava completamente destruída e sem rumo a tomar. Sem casa, sem família e sem lar. Traída por minha própria irmã e humilhada pelo meu ex futuro marido, me vi totalmente destruída e sem rumo. Até que o estranho mascarado me abordou no meio da noite me oferecendo ajuda.Ele me levou pra aquela taberna e me deu de comer e de beber quando pensei que eu estava no meu limite. Ele era um homem estranho e misterioso que não deixava que eu visse nem mesmo o seu rosto, mas apesar de tudo eu não consegui ler intenções negativas nas suas ações, além do mais, foi como se eu sentisse uma paz dentro de mim quando ele estava perto, era como se minha loba se sentisse segura por perto daquele homem. Embora sendo desconhecido para mim, eu me senti confiante em contar minha história pra ele e era como se ele me entendesse muito bem."Vou pegar uma outra bebida pra você," foi a última coisa que ele disse antes de ir e
LysandraO navio de carga ia a todo vapor pelo mar levando consigo o grupo de jovens que estavam indo servir a causa rebelde. Do convés, eu podia ver claramente que estávamos nos aproximando do porto de Key, um lugar ilhado onde uma nova história estava esperando por mim.Gwindlyn, Thomas e Jacob estavam sempre comigo. Quando descemos, tivemos que viajar pra bem mais no interior da ilha, onde se assentava as instalações do grupo insurgente que se denominava Lobo Negro, eles viviam numa espécie de acampamento no meio da floresta bem no interior da ilha, enquanto nos aproximamos para nos apresentar ao líder deles, homens e mulheres com olhares suspeitos nos fitavam e até lançavam alguns insultos em nossa direção nos chamando de fracos e dizendo que morreriamos rapidamente. Porém eu pude perceber que embora aquelas pessoas parecerem um bando de marrentões, eles eram maltrapilhos, magros demais e esfomeados, e não pareciam organizados o suficiente para derrotar o rei. O líder deles era u