2. Dimitri Blackfur

Dimitri

"Você por acaso está prestando atenção, Dimitri?" O homem mais velho exigiu minha atenção com uma voz ríspida, levei calmamente o meu olhar até ele mantendo um rosto sem nenhuma expressão.

"Sim, meu rei?" Questionei, o homem resmungou impaciente deixando de lado o seu garfo e faca, ambos estávamos na mesa do jantar acompanhados pela esposa do rei, uma velha chata que era tão detestável quanto o marido dela.

"Você deve prestar atenção quando eu estiver falando contigo. Eu sou o rei de todas essas malditas terras e não é só porque você tem meu sangue que poderá me desrespeitar!" Ele exigiu gritando para mim como sempre, eu apenas engoli tudo o que queria falar, eu estava engolindo coisas por muito tempo, mas sabia que esse não era o momento certo para se rebelar contra meu tio.

"Oh, meu rei. Não fique tão bravo com ele. A doença dele deve estar afetando também as capacidades cognitivas dele." Magdalena, a esposa do rei, disse fingindo que estava intercedendo por mim, mas eu sabia o quanto essa mulher podia ser ruim. A velha estava me olhando com certo nojo no rosto como se tivesse medo de pegar minha doença só por estar próxima de mim.

"Bah! Você é mesmo um inútil, imprestável. É perda de tempo tentar falar com você." Meu tio se irritou pegando da sua taça de vinho banhada em ouro e a bebendo.

"Eu… Sinto muito, meu rei… Da próxima terei mais cuidado." Baixei minha cabeça em gesto de respeito e subordinação, o peito do homem até se estufou de tanto que ele se sentia poderoso em ter tamanho controle sobre mim.

"Você só está me dando trabalho. Uma vergonha para a família Real." Ele continuava. "Sabe o que aconteceria com você se você não tivesse o sangue Real correndo em suas veias? Estaria largado nos esgotos dessa cidade definhando em sua própria doença, urinando e defecando em si próprio sem ninguém para te ajudar. Então você sabe que tem muito o que me agradecer." Assenti de cabeça ainda abaixada enquanto o homem esbravejava os mesmos insultos de sempre.

"Eu sou eternamente grato ao senhor, meu tio…" disse eu com a voz trémula demonstrando o quão fraco eu era para ele. O homem se ajeitou em sua própria cadeira orgulhoso e voltou a falar.

"Muito bem, os reinos vizinhos que temos relação de negócio com eles, ainda continuam insistindo que a minha assinatura apenas não basta para fechar o acordo, aquele bando de porcos desprezíveis. Por isso que você tem que assinar também as cartas para eles." 

Meu tio sempre dizia que eu não era importante ali, dizia sempre que eu era um inútil que só estava vivo graças a ele, dizia também que se ainda não tinha me expulsado para fora de casa era porque ele se compadecia da minha situação, mas então se eu era mesmo tão inútil, por que os reinos vizinhos ainda não o consideravam como o legítimo rei? Por que a assinatura dele apenas não bastava? Levantei meu rosto e o encarei, este homem sabia o lugar onde está sentado agora não é dele de verdade, ele sabe que matou meus pais para conseguir aquele lugar, o próprio irmão dele e cunhada, ele os matou para usurpar o lugar do meu pai. E este homem sabe que eu sei de toda verdade, e ele está se agarrando a minha doença para passar minha fama de inútil perante todo o reino, mas ele não perde por esperar…

"Assinarei sim as cartas, meu tio." Respondi finalmente, ele assentiu contente.

"Tem que ser o mais breve possível para que Richard possa ir fazer as entregas pessoalmente. Estamos sem tempo, esse negócio deve ser fechado o mais rápido possível." O rei ordenou.

"Assim será, meu rei." 

"Vocês homens são cansativos demais. Só sabem falar de negócios até na hora do jantar." A mulher asquerosa do meu tio nos repreendeu, logo depois olhou para mim. "Chegou uma correspondência especial para você." Me entregou um envelope que estava selado antes dela ter aberto e lido o conteúdo da carta, eu não tinha nenhuma privacidade nessa casa, olhei pro envelope. "É sobre o sul, sua noiva diz que está a caminho para finalmente vir se unir a você." Senti um gosto amargo em minha boca ouvindo aquelas palavras, a mulher suspirou dramática. "Coitada dessa moça que deverá se casar contigo, terá que cuidar de você o resto da vida dela e ainda por cima, você nem poderá engravidar ela já que nesse estado em que você está, seu corpo é inútil da cintura para baixo." Ela e o marido dela ficaram rindo de mim, peguei o envelope e abaixei a cabeça.

"Se vocês me permitem, gostaria de terminar a refeição no meu quarto." 

"Vai lá, é perturbador ter a sua presença aqui." O rei me afastou com um gesto de mão. "E vê se assine o que lhe ordenei!" Fiz sinal para o meu mordomo e ele se aproximou segurando na minha cadeira de rodas a empurrando em direção a saída da sala. Até o ar parecia mais leve de respirar quando estava longe deles, enquanto eu era empurrado no corredor em direção ao meu quarto, tive o infortúnio de avistar Richard pelo caminho. Assim que me viu, estava sorrindo de deboche se aproximando com olhar altivo, apenas rolei os olhos e tratei de o ignorar, mas parece que ele não desistiria fácil.

"Como vai, irmãozinho?" Ele disse. Richard não era meu irmão, mas sim primo. Ele era filho do meu tio, o rei ladrão. Ele tinha mais ou menos minha Idade e era tão vil e mesquinho quanto os pais dele.

"Eu tive um dia cheio, apenas me deixe ir pro meu quarto em paz," eu disse não querendo entrar num diálogo com ele, dei sinal pro meu mordomo continuar guiando a cadeira de rodas, porém Richard cruzou o meu caminho, ele tinha um olhar presunçoso e um sorriso cínico no rosto.

"Um dia cheio!? Me explique como um homem inútil como você teria um dia cheio? Deve estar cansado de sentar nessa cadeira, né. Que pena," ele tentou zombar de mim.

"Se você não sair da minha frente vou passar por cima." O ameacei.

"Uh, que medinho da sua cadeira de rodas." Ele zombou de mim rindo alto com deboche. "Põe uma coisa na sua cabeça." Estava pressionando minha cabeça com seu dedo indicador. "Você deve ter medo de mim, seu aleijado de merda. Porque para matar você é bem fácil, não acha?" Não o respondi, mais uma vez decidi engolir minhas palavras. "Muito bem, gosto assim. Todo obediente, agora vai lavar essa sua bunda fedida que você tá precisando." Ele saiu andando rindo alto de mim, apenas suspirei e tomei o meu caminho.

"Quer que eu o ajude a se trocar e se deitar, meu príncipe?" Gunter, meu mordomo, perguntou singelo. Esse homem sempre esteve comigo até nos piores momentos, sorri pra ele negando com a cabeça.

"Não precisa, você pode se retirar." O homem assentiu e fechou a porta atrás de si após sair do meu quarto. Fiquei lendo aquelas cartas que o rei tinha me ordenado assinar e então peguei em todas cartas e as joguei na lareira ali perto para que queimassem, tudo se tratava de negócios sujos que o rei estava tratando com os reinos vizinhos, negócios esses que prejudicavam ainda mais o reino, ele estava literalmente vendendo Flórida para os outros Estados, por isso que precisavam da minha assinatura, pois eu sou o príncipe legítimo daquele reino. O único príncipe herdeiro. 

Li também a carta da mulher que ia ser minha esposa, ela tinha uma letra elegante, estava dizendo que estava a caminho e que chegaria dentro de alguns dias. O nome dela era Lysandra Moonlight, eu nunca a tinha visto, só sabia que ela tinha sido prometida a se casar comigo. Suspirei, me casar agora não estava dentro dos meus planos, então joguei a carta num canto do quarto, eu tinha coisas mais importantes para pensar por agora, como por exemplo pensar em como ia derrotar o rei regente.

Naquela mesma noite enquanto todos dormiam, levantei-me da minha cadeira de rodas e subi escondido até o terraço do castelo onde me transformei em um grande e forte lobo negro, minha pelugem eram tão preta quanto a noite, ninguém nunca me notava enquanto eu corria livre pelo teto do castelo indo até a cidade. A verdade era que eu estava apenas fingindo que era aleijado e sem inutilidade na frente do rei e de todos para que meu tio não me enxergasse como o que verdadeiramente eu era, eu era o maior inimigo dele e em questão de tempo, tomaria o reino das mãos dele. 

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo