Lysandra
Eu sempre soube que me casaria com Dimitri Blackfur, o príncipe de Flórida. Aquele tinha sido um acordo entre minha família e o pai do príncipe quando este, há anos atrás, estava deitado sob uma cama nos seus últimos suspiros. Ele fez com que Lucius Moonlight, na altura o alto guerreiro e amigo íntimo do rei, o prometesse que assim que chegasse a idade marital, entregaria a filha mais velha dele, que neste caso sou eu, para se casar com seu filho Dimitri. Naquela noite, o rei da Flórida tinha morrido com aquela promessa, uma promessa que durou anos, até hoje.
Mesmo sabendo que era desse jeito que o nosso mundo lupino funcionava, os reis tinham que arranjar casamentos pros seus filhos, e apesar de eu não pertencer a uma família Real, pertencia a nobreza tendo meu pai como amigo íntimo do antigo rei morto e um guerreiro nato, então acabei sendo arrastada para esse sistema. Tive que passar a vida inteira vivendo a saber que um dia eu me mudaria da minha casa para o castelo Real para servir como esposa do príncipe Dimitri, um cara que eu nunca tinha visto na vida. Então não era como se eu estivesse feliz por isso.
Eu gostava de ser livre, gostava de ser selvagem. Correr por aí pelas florestas em minha forma lupina por dias a fio sem ter que me preocupar com afazeres domésticos e coisas deste tipo, eu definitivamente não era uma mulher apropriada para casar. Cresci dizendo isso ao meu pai, mas ele me olhava tristemente e dizia que não tinha outra opção, a promessa que ele tinha feito para o rei em seu leito de morte era como correntes que me prendiam ao príncipe, via-se em sua expressão que ele estava triste por ter feito aquele acordo sem o meu consentimento, mas na época eu só tinha dois anos de idade, não era como se eu saberia decidir o que era melhor para mim. No fim das contas, meu pai tinha me entregue aos Blackfur em apreço ao seu grande amigo, o rei morto. Quanto a isso, eu só tinha que lamentar por meu destino ser tão infortúnio como aquele.
Estou correndo pelas florestas ao redor do castelo dos Moonlight em minha forma lupina, minha pelugem é de um branco vivo e meus olhos são azuis incandescentes na luz do luar, faz dias que estou meio sumida de casa, mas provavelmente todos sabem por onde estou, eles sabem que não sou uma garota de ser dominada e nem domada. Não é que eu nunca tenha pensando no príncipe Dimetri, desde a morte do rei Duncan, o pai do príncipe, meu pai tinha deixado o castelo Real e se mudado pro sul com a sua família, para uma região pacata onde podia viver com sua esposa e criar suas duas filhas em paz, longe de todo aquele barulho desgastante da sucessão do rei.
Meu pai me contava que tinha havido uma confusão gigante após a morte do rei, Dimitri, o único filho de Duncan, tinha apenas cinco anos de idade, era incapaz de se tornar rei e liderar um reinado. Então seu tio Caius, substituiu o príncipe se tornando assim o rei, porém ele não tinha feito aquilo de uma forma pacífica, meu pai contava que uma guerra quase se tinha formado naquele reino para que Caius pudesse usufruir o trono do irmão, por isso que meu pai tinha preferido ficar longe daquilo tudo e decidido tomar sua família e se mudar.
De vez enquando, recebíamos retratos do príncipe e notícias do castelo Real, me disseram que ele tinha problemas em suas pernas, não se locomovia, por isso que estava sempre sentado. Nos retratos, ele sempre parecia triste e debilitado com um olhar opaco, eu tentava encarar aqueles olhos e tentar entender qual seria o motivo dele sempre parecer triste, afinal um dia ele seria o meu marido, mas eu infelizmente não conseguia desvendar ele, eu não conseguia gostar dele como marido, pra mim ele era apenas uma pessoa normal, mas a grande verdade que um dia eu pertenceria a ele não deixava de ecoar sempre na minha cabeça.
Subi as paredes do castelo tão agilmente como sempre fazia após voltar pra casa quando não queria que ninguém notasse minha presença, o castelo tinha cerca de cinco andares, o meu quarto ficava lá em cima no último andar, porém eu não tinha medo de fazer aquelas manobras pulando da murada até a chaminé, da chaminé até o teto até chegar em minha janela e entrar por ela. Era bem tarde de madrugada quando entrei no meu quarto e voltei a minha forma humana, cambaleei um pouco pelo quarto pois estava cansada e com os membros um tanto dormentes por ter ficado tanto tempo na forma lupina, praguejei baixinho massageando meu pescoço pra espantar uma leve dorzinha que se formou ali.
"Desse jeito acabo morrendo," comentei para mim mesma.
"Pode ter certeza que sim." Dei um pulo de susto quando ouvi uma voz ali no meu quarto, rolei os olhos suspirando, era Anastácia, minha irmã mais nova.
"Tá fazendo o quê aqui no meu quarto?" Perguntei indo até minha cómoda lavando meu rosto com a água posta numa bacia por cima da cómoda, "Estava me esperando, é!? Não consegue ficar muito tempo longe de mim, irmãzinha?" Disse sarcástica, minha irmã e eu nunca nos demos bem e ela estar preocupada comigo seria última coisa coisa que faria em sua vida.
"Você tem uma presença muito forte, é difícil te esquecer," ela respondeu. Dei uma risadinha e limpei o rosto com a toalha.
"Então quer dizer que você fica pensando em mim, Anastácia!?"
"Fico pensando na oportunidade que você está desperdiçando, já se passaram mais de cinco anos que você fez dezoito e você tem empurrado isso pra debaixo de tapete tentando fingir que tudo está bem," disse ela acusadora como sempre.
"Eu até ia conseguir fazer isso se você não estivesse me lembrando disso todos os dias da minha vida, irmãzinha," rebati contraindo os lábios e lavando minhas mãos.
"Eu faço isso pra lembrar a você que você não pertence a esse lugar, você pertence ao príncipe Dimitri. Olha o jeito que você está, olha esse cabelo, Lysandra. Essas unhas desfeitas, pele totalmente ressecada… Você não se cuida de jeito nenhum. Toma jeito na sua vida e vai logo pro castelo Real antes que uma outra mulher tome o seu lugar." Ri daquilo achando muito engraçado ela parecer preocupada comigo, o que não era verdade. Anastasia só estava ali pra encher o meu saco.
"Não precisa se preocupar comigo não, irmã. Assim que o príncipe Dimitri me vir, ele vai se derreter aos meus pés, igual manteiga exposta ao sol, acredite em mim," disse eu com uma certa petulância, ela me olhou de baixo pra cima com um olhar cheio de desprezo.
"Sei que você me acha inferior só porque não tenho uma loba, a filha azarada da casa Moonlight. Sei que você não me acha capaz de fazer grandes coisas, mas haverá um dia que te provarei o contrário, Lysandra." Por um momento, até tive medo daquele olhar, Anastasia parecia tão rancorosa… "E vê se veste uma roupa." Estalou a língua e saiu do quarto me deixando a gargalhar sarcasticamente por trás dela . A culpa não era minha se eu não voltava com minhas roupas quando me tornava humana novamente.
O problema com Anastasia era que ela era totalmente diferente de mim, ela gostava mais dos afazeres da casa enquanto que para mim aquilo tudo era uma perda de tempo, eu gostava de me soltar para o mundo, deixar o meu lobo dominar. Até podia entender ela, pois Anastasia não nasceu com o dom de se transmutar em lobo assim como eu, ela era só uma humana, já eu, podia me transformar e fugir pra onde eu quisesse fugir. Por isso que o castelo do rei não podia me deter de jeito nenhum, se eu quisesse continuar fugindo, eu fugiria.
Dimitri "Você por acaso está prestando atenção, Dimitri?" O homem mais velho exigiu minha atenção com uma voz ríspida, levei calmamente o meu olhar até ele mantendo um rosto sem nenhuma expressão. "Sim, meu rei?" Questionei, o homem resmungou impaciente deixando de lado o seu garfo e faca, ambos estávamos na mesa do jantar acompanhados pela esposa do rei, uma velha chata que era tão detestável quanto o marido dela. "Você deve prestar atenção quando eu estiver falando contigo. Eu sou o rei de todas essas malditas terras e não é só porque você tem meu sangue que poderá me desrespeitar!" Ele exigiu gritando para mim como sempre, eu apenas engoli tudo o que queria falar, eu estava engolindo coisas por muito tempo, mas sabia que esse não era o momento certo para se rebelar contra meu tio. "Oh, meu rei. Não fique tão bravo com ele. A doença dele deve estar afetando também as capacidades cognitivas dele." Magdalena, a esposa do rei, disse fingindo que estava intercedendo por mim, mas eu s
Lysandra Naquela manhã fiquei a saber com os criados do castelo que Anastasia subiu em sua carruagem e partiu para bem longe de casa, tudo o que eles sabiam era que ela tinha brigado com os nossos pais e tinha decidido ir embora de casa, eu não tinha percebido nada pois assim que tinha voltado pra casa e depois da conversa com ela, acabei dormindo pesadamente na minha cama, fazia dias que eu não dormia direito, então tinha sido fácil cair em um sono profundo. Quanto a Anastasia, bom, ela era uma mulher de 20 anos capaz de sobreviver sozinha, mas eu não achava que ela se sairia bem num mundo que era totalmente dominado por alfas e ela sendo apenas uma humana, esperava que ela se auto descobrisse e voltasse pra casa para segurança dos nossos pais. Depois de um banho, vesti roupas limpas: uma calça de couro por baixo do vestido para me ajudar a montar no cavalo mais tarde pois estava planejando sair pra ir ver alguns amigos no vilarejo, e tinha prendido meu cabelo escuro numa trança lon
Lysandra O mundo todo virava um borrão quando eu estava montando em meu cavalo. Era uma liberdade tal igual eu sentia quando me aventura pela floresta em minha forma lupina, gostava de sentir o animal majestoso por baixo de mim e ouvir suas patas batendo o chão correndo em alta velocidade, corria pela serra da fazenda dos Moonlight até chegar ao outro lado da enseada, um bando de homens estavam aguardando de baixo de uma árvore com seus cavalos, sorri me aproximando deles. "E aí, tudo bom?" Os saudei quando me aproximei. "Olha só quem decidiu aparecer," um deles respondeu assim que me viu. "A moça devia estar ocupada pintando as unhas nos aposentos dela," o outro comentou provocativo tirando risada de todo mundo, levei o meu cavalo contra ele o batendo com o focinho do meu cavalo derrubando o homem no chão, os caras riram alto zombando do rapaz pelo tombo. "Você foi derrubado por uma garota!" Zombaram dele. "Uma garota pode derrubar um homem mesmo tendo as unhas feitas ou não. P
Lysandra Minhas mãos agarram o encoste da cadeira da carruagem, meus olhos estão opacos, quase sem vida. Eu me sinto sem vida. Já tinha passado dois dias que eu estava viajando para Tallahassee, capital de Flórida, estava indo mais praticamente em Leon, a cidade do Rei Lobo. Tinha perdido tudo e todos que eu amava, estava sem casa e sem opções, única coisa que me sobrava agora era me entregar a Dimitri Blackfur, o príncipe de toda Florida. Eu ainda estava em choque, não conseguia dormir e nem comer direito, ainda não conseguia acreditar que meus pais haviam morrido e com isso, destruído toda minha vida e meus sonhos. Eu já tinha chorado tanto, já tinha gritado tanto que agora me sentia completamente drenada e sem forças nem para dar um soluço de choro. Ainda estava completamente em choque, sempre que eu fechava os olhos ainda conseguia ver e ouvir nitidamente os gritos das pessoas queimando e fogo por todo lado. Quando vimos o incêndio no castelo Moonlight e corremos até lá, já era
AnastasiaAntes do incêndio do castelo MoonlightLysandra me afrontava de uma forma que me tirava do sério, aquela teimosia dela e petulância, a forma dela de levar a vida como se não tivesse um amanhã. Ela mal se cuidava embora sendo a futura rainha daquele lugar todo. Rainha, ri comigo mesma em escárnio, ela definitivamente não merece ser a rainha de Flórida, ela não merece ser a escolhida para se casar com o príncipe Dimitri, aquele lugar tinha que pertencer a uma pessoa tão determinada quanto eu, aquele esterco ambulante que era Lysandra não merecia se casar com Dimitri e liderar Flórida.Estou andando pelos corredores do castelo Moonlight, minhas vestes se arrastando pelo chão de pedra polida, acabei de sair do quarto dela e avistei ela entrando em seu quarto pela janela em sua forma lupina e se destransformar sem perceber que eu estava lá a esperando, como sempre ela pouco se importava com o que as pessoas acham dela. As moças da vila a chamam de cachorra em termo pejorativo, ti
Dimitri"Você viu a cara dela? Que desgraçada," minha nova noiva comentou. Eu e ela estávamos compartilhando um vinho e ela não parava de cantar vitória.Quando fiquei sabendo que na verdade foi a irmã da Lysandra quem tinha vindo se casar comigo eu fiquei confuso a princípio, mas Anastasia me explicou tudo e me contou o quanto sua irmã era vil e maltratava seus pais e a ela com o seu egoísmo. "Eu fugi do castelo dos meus pais, meu príncipe," ela tinha me dito aos prantos parecendo debilitada e apavorada quando chegou no castelo, "passei a vida inteira sendo maltratada por Lysandra. Ela sempre foi louca, mas eu continuei demonstrando o meu amor para com ela todos os dias, porém agora ela ficou insuportável, meu príncipe. Ela me ameaçou com fogo, ela disse que vai botar fogo no castelo e matar nossos pais, eu e todos que dependem do castelo Moonlight para sobreviver. Ela está fora do controle, você tem que nos ajudar, meu príncipe. Por favor..!" Ela chorava aos prantos como se estives
DimitriParei o cavalo no estaleiro de uma taberna e entrei junto com Lysandra para o seu interior. Ao contrário de lá fora, lugar estava quente e aconchegante com vários homens e mulheres espalhados pelo lugar, uma música ambiente e cheiro de comida e bebida sendo consumidos no lugar. Pedi comida e bebida e levei a moça até o canto do recinto, foi agradável ver como ela comia e bebia como se realmente estivesse morrendo de fome."Obrigada pela comida," ela disse enquanto comia. Sorri minimamente e sacudi a mão levemente."Não foi nada." Na verdade uma parte da minha culpa tinha se retirado de mim agora pois fui eu quem tinha expulsado ela do palácio do rei sem ter a alimentado primeiro. "Você sabe que em Leon nada é segredo, todo mundo está comentando da noiva do príncipe que assassinou seus pais e foi justamente rejeitada pelo nosso futuro rei," eu disse fazendo ela perceber que eu estava por dentro do assunto. Por um momento ela parou de mastigar e me olhou em alerta e depois limpo
LysandraApós eu ter sido rejeitada tão vergonhosamente pelo príncipe daquele reino, eu estava completamente destruída e sem rumo a tomar. Sem casa, sem família e sem lar. Traída por minha própria irmã e humilhada pelo meu ex futuro marido, me vi totalmente destruída e sem rumo. Até que o estranho mascarado me abordou no meio da noite me oferecendo ajuda.Ele me levou pra aquela taberna e me deu de comer e de beber quando pensei que eu estava no meu limite. Ele era um homem estranho e misterioso que não deixava que eu visse nem mesmo o seu rosto, mas apesar de tudo eu não consegui ler intenções negativas nas suas ações, além do mais, foi como se eu sentisse uma paz dentro de mim quando ele estava perto, era como se minha loba se sentisse segura por perto daquele homem. Embora sendo desconhecido para mim, eu me senti confiante em contar minha história pra ele e era como se ele me entendesse muito bem."Vou pegar uma outra bebida pra você," foi a última coisa que ele disse antes de ir e