Heitor
A conversa com Luciano e Afonso estava sendo entediante. Mais uma vez eles tentavam me convencer a trabalhar com a agência a qual eles representavam, e novamente eu atribuí aquela responsabilidade para o meu setor de marketing.
— Onde está a Catarina e o Bernardo? — Luciano perguntou repentinamente, olhando em torno da área da piscina — Tenho certeza de que ela pode nos ajudar nesse ponto.
Soltei uma risada contida. Talvez eles tivessem alguma chance com o Bernardo, afinal, ele também estudou conosco. Em reflexão a Catarina, nenhuma chance. Ela jamais iria se meter em algo que não faz parte de suas atribuições na empresa, mas eu não iria acabar com as ilusões do meu amigo de escola, então continuei atento
LizandraApós fazer uma refeição rápida, voltei para a rede na varanda e novamente tentei me entreter com a leitura, mesmo que a todo momento os meus pensamentos me levassem para longe, e eu não estava me referindo aos cenários fantásticos descritos no livro.A casa dos Bragança era enorme, então eu jamais iria ouvir quando todos chegassem do churrasco, mas como ainda não era nem mesmo duas horas da tarde, permaneci deitada tranquilamente, até que ouvi um estrondo muito forte.Bateram a porta? Era a única coisa que eu poderia pensar. Rapidamente eu me levantei da rede e caminhei até a sala a tempo de ver Heitor subindo a escada de dois em dois degraus. É, ele deve estar bem chatea
HeitorApesar da fingida timidez de Lizandra, nossa viagem de volta ao Rio foi surpreendentemente agradável. Confesso que estar com Catarina nunca me trouxe a mesma sensação que a companhia da garota ao meu lado e, até mesmo nos longos silêncios entre um assunto e outro, eu me senti bastante confortável apenas em segurar a sua mão.Esse tempo com Lizandra fez com que um detalhe despertou ainda mais a minha curiosidade sobre ela. Eu percebi que as suas mãos não eram finas e delicadas como as de Heloísa ou Catarina. Elas eram mais grossas. Diria até mesmo que um tanto quanto calejadas, como se ela realmente realizasse trabalhos mais pesados. Ainda assim, mesmo que ela estivesse falando a verdade sobre ter trabalhado por anos como arrumadeira na pousada de sua tia em São Miguel do Gostoso, isso não quer dizer que ela não seja a golpista que eu acredito que seja. Isso pode até mesmo ser o motivo que a levou a procurar uma forma mais fácil de conseguir dinheiro e não precisar mais trabalh
HeitorDeixei Lizandra em seu quarto, ela não desejava ver o meu avô antes que eu conversasse com ele sobre a grande reviravolta que aconteceu em Angra. Então, após me desfazer da minha própria bagagem, fui à procura do vovô e, de maneira nada surpreendente, o encontrei na sala de TV junto ao Jaime e a Cristina assistindo a algum reality show.— Vejo que está tudo bem por aqui.— Já chegou? — vovô perguntou fingindo surpresa, mas estava atento ao aparelho de TV — Pensei que só voltariam amanhã.— Meu menino, sentimos sua falta aqui — Cristina disse, vindo me abraçar como se eu tivesse passado um mês fora, e não apenas dois dias.— Sei que vocês me viram chegar pelas câmeras, não finja surpresa, vovô.Sempre que alguém passa pelos portões da propriedade é emitida uma notificação no celular do meu avô, de maneira que ele sempre sabe quem sai e, principalmente, quem entra na residência e as minhas palavras trouxeram um sorriso ao seu rosto.— A surpresa é sobre você já ter voltado de Ang
LizandraFicar no quarto remoendo tudo o que tinha acontecido nas últimas horas estava me deixando com os nervos à flor da pele. Eu não estava conseguindo ficar parada, só pensando no quanto tudo foi surpreendente e maravilhoso, ao mesmo tempo em que me sentia culpada pelo fim do relacionamento de Catarina e Heitor.O fato de ter tentando olhar as redes sociais e ter visto uma frase que se encaixava perfeitamente com a minha situação atual só contribuiu para me sentir ainda pior sobre tudo o que houve. A frase dizia algo sobre “ninguém ser feliz fazendo a infelicidade de outra pessoa”. Parece um sinal de que estou indo pelo caminho errado e que preciso me afastar do Heitor, o pensamento gritou em minha mente.Antes que pudesse realmente pensar sobre aquilo,
CatarinaEra segunda-feira e estávamos voltando de helicóptero para o Rio. Bernardo e eu tínhamos adiado ao máximo aquele momento, principalmente após ter a confirmação de que Heitor tinha chegado bem em sua casa. Eu mesma tinha confirmado essa informação com o senhor Vicente ontem à tarde.Além de tudo o que estava à nossa espera em casa, ainda tínhamos enfrentado um outro problema: Foi realmente complicado explicar para Heloísa o motivo pelo qual Heitor partiu repentinamente de Angra sem revelar o verdadeiro motivo, mas ela acabou se conformando com a desculpa de uma discussão de casal. Por mais que tudo indicasse que Heitor iria expor para todos o verdadeiro motivo da nossa briga, afinal, não ficou nada para a imaginação dele, eu ainda tenho
HeitorComo sempre acontece em dias de reunião da diretoria, meu avô saiu da enorme sala de conferências com o intuito de ir até a sala de alguns colaboradores mais próximos, pessoas as quais ele admira e tem afeição pessoal. Entre elas estão Bernardo e Catarina.Não me incomodou saber disso, muito pelo contrário. Ele iria conversar com Catarina e espero sinceramente que Catarina ouça primeiro o que o vovô tem a dizer e não exponha o que de fato aconteceu ontem na casa dos Mendonça. Sei que é uma atitude covarde da minha parte esperar que outras pessoas façam aquilo que deve ser feito por mim, mas só estou sendo recíproco ao devolver covardia com covardia. Catarina não teve coragem de contar a verdade para mim, o seu namorado há dois
Lizandra Antes mesmo de abrir a porta eu já sabia que se tratava de Heitor. Era intuitivo. Sempre acontece quando ele está por perto, uma palpitação alarmante e uma estranha ansiedade. Então, não me surpreendi ao vê-lo quando abri a porta. Mas meu coração parece estar na garganta— Posso entrar?Olhei em torno do quarto e fiquei em dúvida. — O que acha de conversar na sala? — sugeri incerta — Estou cansada de ficar no quarto.Aquela desculpa deve ter soado muito tola aos ouvidos de Heitor, mas eu não achava uma boa ideia ficar sozinha com ele, ainda mais em um quarto. Ao menos não agora, quando ainda estamos começando algo. Eu não me considero forte o bastante para resistir aquele Heitor encantador e charmoso que ele se tornou agora que decidiu ficar comigo. A noite passada foi um bom indicativo deste fato.— Não será necessário — Ele disse, mas pareceu ficar desconfiado agora — Pensei em sairmos para jantar. — Um jantar? — Eu repeti de maneira boba.— Só você e eu.— Um encontro?
Heitor Após alguns minutos debatendo sobre qual dos filmes que estavam em cartaz nós iríamos ver e muita insistência de Lizandra para que eu decidisse isso por nós dois, eu acabei optando por um filme de terror sobre bruxas que ouvi alguns funcionários comentando no refeitório da empresa alguns dias atrás. Aparentemente, eu tinha errado feio na minha escolha.— Não está gostando? — Perguntei no tom mais baixo e ao mesmo tempo audível que consegui.Lizandra estava quieta e nos primeiros minutos eu cheguei a acreditar que ela estava apenas concentrada no filme. Suas muitas mudanças de postura na cadeira me fizeram pensar o contrário agora.— Estou sim — Ela disse com um sorriso claramente forçado.— Pode falar a verdade… — Shiiii! — Alguém disse ao nosso lado.Foi inevitável não olhar com raiva para o moleque chato ao nosso lado. Recebi o mesmo olhar zangado em resposta. Voltei a olhar para o telão do cinema exatamente no momento do filme em que as duas bruxas apareciam repentinament