Eu e Bernardo nos beijávamos ainda ofegantes embaixo da água morna do meu chuveiro, a noite tinha sido tão divertida que chegava a ser um alívio e estávamos encerrando da melhor maneira possível. Vesti um pijama quente e tirei o que restou da maquiagem enquanto Be me aguardava na cama, pelo espelho notei que ele me observava.
– Tudo bem? – Perguntei.
– Estou só te admirando.
– Deve ser uma visão linda, metade do rosto sem maquiagem e a outra metade completamente borrada, o cabelo cheio de frizz pelo vapor do chuveiro…
– Eu nem sei o que é frizz – confessou rindo, – mas de qualquer forma é uma visão maravilhosa.
– Você só diz isso porque está completamente apaixonado por mim – dei de ombros corando um pouco.
A minha determinação em ajudar Bernardo a encontrar qualquer indício sobre a quadrilha que ameaçava o pai dele estava ainda maior. Com o Soares foragido a minha rotina jamais voltaria ao normal dada a necessidade de me proteger, mas olhar em volta e ver todos aqueles seguranças me só me deixava angustiada. Não é assim que quero viver, por isso precisamos achar os responsáveis o quanto antes.Passamos o dia todo assistindo as diversas matérias que pegamos na emissora e pesquisando outras na internet parando apenas para almoçar. Meus pais voltaram mais cedo da viagem e se juntaram a nós nas buscas, mesmo assim não conseguíamos identificar nada significativo. Ao notar que já passavam das dez resolvemos encerrar.– Eu preciso ir, está tarde – Be anunciou.– Não vai dormir aqui? 
Os policiais chegaram na minha casa, seguidos dos meus pais. Rastrearam o último número a me ligar e descobriram se tratar de um telefone público localizado em uma cidadezinha próxima. Havia toda uma equipe da polícia na sala da minha casa buscando a localização de onde partiu o telefonema enquanto se comunicavam com outras viaturas que faziam a busca. Enquanto isso meu pai esbravejava pela sala e minha mãe tentava acalmá-la.Eu estava cansada de tanta movimentação, quanto mais olhava para aquelas pessoas, mais aflita eu me sentia. Passei pela cozinha e vi o bolo de milho que Glorinha fez, cortei dois pedaços servindo em um pratinho e me sentei na entrada da lavanderia. Apenas um dos seguranças fazia uma ronda pelo muro dos fundos, mas não era capaz de me ver. Eu não queria companhia alguma, queria apenas sentir que tinha alguma privacidade.
Uma enfermeira havia acabado de deixar o jantar para Bernardo quando dois policiais chegaram à porta do quarto, resolvi ir até a lanchonete do hospital procurar algo para comer deixando que os três conversassem sozinhos. O segurança que estava em frente a porta me acompanhou até a cantina andando a poucos passos de mim.Estavam servindo um prato feito de arroz, legumes e frango grelhado, o mesmo que levaram para Bernardo, mas eu não tinha fome o suficiente para uma refeição completa. Em uma estufa vi alguns salgados assados e escolhi o que tinha recheio de presunto e queijo, depois que a atendente esquentou no micro-ondas me sentei em uma das mesas disponíveis para comer.De volta ao quarto algo me passou pela cabeça, desviei do meu caminho em direção a recepção, não sem antes informar ao segurança essa alteração na ro
– Como assim um acordo? – Bernardo estava quase se sentando.– Você precisa continuar deitado até o médico dizer que pode se levantar – tentei convence-lo.Passei a noite em claro depois de falar com Soares, assim que Bernardo acordou comecei a contar para ele sobre o telefonema e, obviamente, ele ficou fora de si ao saber que meu sequestrador falou comigo mais uma vez.– Ok, eu fico deitado – Be concordou enquanto eu me sentava na lateral da cama. – Me diz que tipo de acordo esse cara quer fazer?– É simples, ele vai nos contar quem é o responsável pelo meu sequestro e pelo ataque a você, depois disso vamos à polícia e entregamos a pessoa.– E o que ele ganha com isso?– É algum tipo de vingança por não terem cumprido
No dia seguinte saímos de casa cedo, avisei meus pais que acompanharia Bernardo em uma visita para a mãe dele que estava preocupada com o que tinha acontecido. Não era de todo mentira, Guilhermina realmente estava aflita querendo ver o filho, mas também combinamos com Osvaldo de conversarmos a respeito de uma possível nova fonte de investigação, essa parte não informamos aos meus pais.A cidadezinha onde morava a família do Be ficava a mais ou menos 2h de viagem, dois seguranças nos acompanhavam por precaução, mas dessa vez era eu quem dirigia a camionete de Bernardo com ele no banco do carona me guiando pelo caminho já que eu estava indo pela primeira vez e os guarda–costas sentados no banco de trás.Chegamos a um condomínio bem na entrada da cidade, paramos na guarita e Bernardo se identificou para o vigilante de plantão pa
Soares começou a ligação explicando a Bernardo e Osvaldo o porquê de estar nos ajudando, repetiu o motivo que me deu na última ligação: tentaram mata-lo na cadeia e ele queria se livrar da quadrilha. Enquanto ele falava meu celular vibrou dentro do meu bolso, resolvi ignorar por hora e continuei prestando atenção no homem de cabelos descoloridos na tela do celular de Bernardo.– Pois bem – Soares disse após as explicações iniciais. – Eu não sei muita coisa, afinal a maior parte das conversas que tive com os caras foi por telefone, mas posso dizer o que sei se concordarem em me deixarem fora disso.Be e o pai se entreolharam e Osvaldo assentiu.– Tudo bem, a gente repassa as informações para a polícia, mas não entregamos você – Bernardo concordou.An
Yago:Tentei abrir meus olhos, mas a luz ofuscava minha visão tornando uma coisa simples em algo muito difícil, percebi que estava deitado e arrisquei me mexer sentindo um pouco de dor no corpo. Ainda de olhos fechados busquei na memória as últimas coisas das quais conseguia me lembrar: o escritório. Yuri. Pai. Meu carro. Yuri novamente. Acelero. Furo sinal vermelho. Jonas.– Jonas! – Falei abrindo os olhos num impulso.– Yago… – senti mãos quentes sobre mim. – Filho, tenta não se mexer, meu bem.– Mãe?!– Sou eu, to aqui.Minha mãe sorria ao meu lado, ela voltou da Europa para me ver? Os olhos dela estavam avermelhados e notei um terço em suas mãos, ela estava rezando e chorando. Olhei em volt
Bernardo:Antes de anoitecer me despedi da minha família e voltamos para a casa da Cami, no caminho ela falava algo sobre minha mãe e a conversa que tiveram antes do almoço, mas eu não estava realmente prestando atenção. Vez ou outra concordava ou sorria enquanto meus pensamentos vagavam em outra direção. Foram dois anos investigando sem notar que os culpados estavam muito próximos a nós, sabendo agora do envolvimento dos Fernandes tudo parecia tão obvio eu me sentia burro em não ter compreendido antes.– Be? Tá me ouvindo? – Cami perguntou me fazendo olhar para ela.– Não, amor. Me desculpa – confessei. – Pode repetir, por favor?– Eu só perguntei se você quer passar no teu apartamento pegar alguma coisa antes de ir para m