Yara Voss.Sinto um arrepio subir pela minha espinha. É como se eu estivesse sendo observada. Me viro lentamente, e um pequeno sobressalto toma conta de mim ao ver os três, senhor Kael, senhor Magnus e senhor Damien, parados na entrada da cozinha, me observando em silêncio. A intensidade de seus olhares me faz engolir em seco.— Como você está, querida? — Damien pergunta com uma calma que faz meu coração disparar.A palavra “querida” escapa de seus lábios com tanta suavidade que sinto meu peito apertar, meu coração batendo ainda mais rápido.— Estou... estou bem. — respondo, tentando controlar a voz que sai um pouco trêmula. — Só estou preocupada que Ronan não assine os papéis do divórcio.Kael se aproxima, seus olhos fixos nos meus, e coloca uma mão reconfortante no meu ombro.— Não se preocupe, meu anjo. — Sua voz é suave, mas firme, transmitindo uma segurança que me acalma. — Se ele não assinar, terá que enfrentar um julgamento. Tenho certeza de que ele não vai querer manchar sua p
Ronan Blake. Assim que o maldito advogado sai, minha raiva explode. Pego o vaso de vidro que minha secretária tinha colocado sobre a mesa e o lanço com toda a força contra a parede. O som do vidro se estilhaçando ecoa pela sala, mas é abafado pelos meus gritos:— Desgraçada! Eu vou matar essa vadia! Como ousa me desrespeitar dessa maneira? Como ousa mandar um advogado? E, pior ainda, como ousa pedir o divórcio?Minha respiração está ofegante, o peito subindo e descendo rapidamente enquanto tento controlar o ódio que me consome. Desde sempre, Yara foi minha. Ela me pertence. Não importa que eu nunca tenha amado aquela mulher; o prazer estava no poder, em saber que ela estava sob meu controle, arrumando minha casa, preparando minhas refeições. Ela foi um presente do meu pai, e agora ousa fugir de mim?Saio do escritório furioso, ignorando os olhares assustados dos funcionários. Passo pelo saguão sem olhar para ninguém, saindo da empresa direto para o meu carro. Piso fundo no acelerador
Magnus Darkmore.Cinco dias se passaram desde o divórcio de Yara. A mudança em seu rosto é notável, a alegria que irradia é contagiante. É impressionante ver como ela está mais leve, mais feliz. Cada vez que a vejo assim, meu coração se aquece, e não consigo evitar me aproximar para beijá-la. Desde que o divórcio foi finalizado, todos nós temos feito questão de demonstrar nosso carinho por ela, e a cada dia que passa, a nossa Yara se torna ainda mais parte de nossas vidas.Durante esses cinco dias, temos aproveitado cada oportunidade para estar perto dela. Yara continua trabalhando na nossa casa, algo que ela insiste em fazer. Dissemos que era apenas um capricho dela, e, sinceramente, não nos importamos. Ela parece encontrar conforto e propósito nisso, e respeitamos suas escolhas.Damien, sempre atento, presenteou Yara com um celular novo. No início, ela ficou visivelmente desconfortável. Foi difícil para ela aceitar o presente, e, ao ouvir suas palavras, ficamos um pouco desconcertad
Yara Voss.Dois dias depois.Passaram-se dois dias desde que Magnus me avisou sobre a viagem para Paris, e mal conseguia dormir. A excitação estava me consumindo, misturada com um receio nervoso, já que é a primeira vez que vou sair da minha cidade. A ideia de explorar um lugar novo é empolgante, mas a incerteza também me deixa um pouco assustada.Nos últimos dias, Damien tem sido uma âncora de apoio. Estava um pouco chocada ao descobrir que ele entende de psicologia e tem me ajudado a lidar com meus medos e inseguranças. Sempre que expresso minhas preocupações, ele ouve com paciência e me dá conselhos que realmente me ajudam a me sentir mais segura.Ainda me sinto desconfortável ao receber presentes, como o celular que Damien me deu. Sinto uma necessidade constante de afirmar que não estou com eles por dinheiro, pois temo que eles possam achar que essa é a minha motivação. Fico preocupada em passar a impressão errada. No entanto, eles têm sido muito compreensivos. Magnus e Kael garan
Yara Voss.Depois de algumas horas no ar, o jatinho começa finalmente a descer suavemente. A sensação de aterrissagem é bem mais suave do que esperava, e assim que o jatinho se estabiliza no solo, Magnus se levanta e se aproxima de mim, estendendo a mão.— Vamos, meu anjo. — diz ele com um sorriso.Aceito a mão dele e sigo com cuidado até a saída. Quando finalmente coloco os pés no solo francês, o frescor do ar é revigorante. Magnus me ajuda a descer do jatinho e, ao olhar para fora, fico completamente surpresa ao ver um carro grande e elegante esperando por nós. Um homem bem-vestido se aproxima, oferecendo um sorriso profissional.— Seja bem-vindos, senhores Darkmore. Estou aqui para levá-los ao hotel. — diz ele, em inglês.Fico pasma com a fluência do homem em inglês. Magnus passa o braço em volta da minha cintura, segurando-me com firmeza e proteção.— Muito bem. As malas estão no jatinho. — responde Magnus, com um tom sério.O homem acena e vai até o jatinho para cuidar das malas.
Yara Voss.Estava de pé diante do espelho, ajustando as dobras do vestido de noiva. O tecido suave contra a minha pele era um contraste inquietante com a frieza que sentia por dentro. O vestido, que deveria simbolizar felicidade e promessa, parecia mais uma armadura, uma prisão inevitável.Desde pequena, meus pais decidiram meu destino. O noivo, filho dos amigos deles, foi escolhido antes mesmo de eu entender o significado de "casamento". Nunca tive a chance de escolher ou sonhar com um amor verdadeiro; tudo foi decidido para mim. Agora, estava prestes a cumprir o que foi imposto.Minha mãe entrou no quarto, seu rosto iluminado por um sorriso forçado. Embora radiante, seus olhos carregavam uma preocupação disfarçada.— Querida, você está linda. Estou tão orgulhosa de você. — disse ela, com uma voz suave e encorajadora. — Vai dar tudo certo. Não se preocupe agora. No começo pode parecer difícil, mas com o tempo, você vai aprender a amar seu marido, assim como eu aprendi a amar o seu pa
Yara Blake.12:20 — Casa da Yara. — Eldoria.Sexta-Feira.Estou de pé em frente ao espelho, observando meu reflexo. A imagem do meu vestido de casamento continua fresca em minha mente, um lembrete cruel do dia em que minha vida mudou para sempre. Por um momento, me perco nas lembranças daquele infeliz casamento, acreditando que tudo iria melhorar com o tempo. Pensei que, eventualmente, me apaixonaria por Ronan e ele por mim. Mas não foi isso que aconteceu.Desde o dia em que nos casamos, ele nunca me tocou. Não consumamos nosso casamento na lua de mel. As palavras dele ainda ecoam em minha mente: "Você não serve para mim." Desde então, minha vida se resume a cumprir as obrigações de casa e ser uma boa esposa, do jeito que ele acha que deve ser.Ele constantemente joga na minha cara que só tenho ele na vida, que devo obedecê-lo sem questionar. Quando tentei conversar com minha mãe, na esperança de encontrar algum consolo, ela ficou do lado dele. Disse que devo sempre abaixar a cabeça p
Yara Blake.13:00 — Empresa. — Eldoria.Sexta-Feira.Entro no prédio e, imediatamente, sou envolvida pela grandiosidade do lugar. O hall é vasto, com pisos de mármore brilhante que parecem nunca ter sido pisados. Lustres enormes pendem do teto, espalhando uma luz suave que reflete em todas as superfícies, dando ao ambiente uma sensação de requinte absoluto. As paredes são decoradas com obras de arte modernas, e tudo ao meu redor exala luxo e sofisticação, algo que nunca tinha visto antes.Sinto-me desconfortável. Olho para a minha roupa simples, que, embora esteja limpa e bem arrumada, parece deslocada em meio a tanto luxo. Respiro fundo, tentando afastar o nervosismo que começa a me consumir. Não posso deixar que isso me afete agora. Preciso manter o foco.Caminho até a recepção, onde uma mulher elegante está sentada atrás de um balcão de vidro. Ela sorri de forma profissional ao me ver se aproximar.— Bom dia. Em que posso ajudá-la? — pergunta, com a voz suave e educada.— Bom dia.