Yara Voss.Dois dias depois.Passaram-se dois dias desde que Magnus me avisou sobre a viagem para Paris, e mal conseguia dormir. A excitação estava me consumindo, misturada com um receio nervoso, já que é a primeira vez que vou sair da minha cidade. A ideia de explorar um lugar novo é empolgante, mas a incerteza também me deixa um pouco assustada.Nos últimos dias, Damien tem sido uma âncora de apoio. Estava um pouco chocada ao descobrir que ele entende de psicologia e tem me ajudado a lidar com meus medos e inseguranças. Sempre que expresso minhas preocupações, ele ouve com paciência e me dá conselhos que realmente me ajudam a me sentir mais segura.Ainda me sinto desconfortável ao receber presentes, como o celular que Damien me deu. Sinto uma necessidade constante de afirmar que não estou com eles por dinheiro, pois temo que eles possam achar que essa é a minha motivação. Fico preocupada em passar a impressão errada. No entanto, eles têm sido muito compreensivos. Magnus e Kael garan
Yara Voss.Depois de algumas horas no ar, o jatinho começa finalmente a descer suavemente. A sensação de aterrissagem é bem mais suave do que esperava, e assim que o jatinho se estabiliza no solo, Magnus se levanta e se aproxima de mim, estendendo a mão.— Vamos, meu anjo. — diz ele com um sorriso.Aceito a mão dele e sigo com cuidado até a saída. Quando finalmente coloco os pés no solo francês, o frescor do ar é revigorante. Magnus me ajuda a descer do jatinho e, ao olhar para fora, fico completamente surpresa ao ver um carro grande e elegante esperando por nós. Um homem bem-vestido se aproxima, oferecendo um sorriso profissional.— Seja bem-vindos, senhores Darkmore. Estou aqui para levá-los ao hotel. — diz ele, em inglês.Fico pasma com a fluência do homem em inglês. Magnus passa o braço em volta da minha cintura, segurando-me com firmeza e proteção.— Muito bem. As malas estão no jatinho. — responde Magnus, com um tom sério.O homem acena e vai até o jatinho para cuidar das malas.
Yara Voss.Estava de pé diante do espelho, ajustando as dobras do vestido de noiva. O tecido suave contra a minha pele era um contraste inquietante com a frieza que sentia por dentro. O vestido, que deveria simbolizar felicidade e promessa, parecia mais uma armadura, uma prisão inevitável.Desde pequena, meus pais decidiram meu destino. O noivo, filho dos amigos deles, foi escolhido antes mesmo de eu entender o significado de "casamento". Nunca tive a chance de escolher ou sonhar com um amor verdadeiro; tudo foi decidido para mim. Agora, estava prestes a cumprir o que foi imposto.Minha mãe entrou no quarto, seu rosto iluminado por um sorriso forçado. Embora radiante, seus olhos carregavam uma preocupação disfarçada.— Querida, você está linda. Estou tão orgulhosa de você. — disse ela, com uma voz suave e encorajadora. — Vai dar tudo certo. Não se preocupe agora. No começo pode parecer difícil, mas com o tempo, você vai aprender a amar seu marido, assim como eu aprendi a amar o seu pa
Yara Blake.12:20 — Casa da Yara. — Eldoria.Sexta-Feira.Estou de pé em frente ao espelho, observando meu reflexo. A imagem do meu vestido de casamento continua fresca em minha mente, um lembrete cruel do dia em que minha vida mudou para sempre. Por um momento, me perco nas lembranças daquele infeliz casamento, acreditando que tudo iria melhorar com o tempo. Pensei que, eventualmente, me apaixonaria por Ronan e ele por mim. Mas não foi isso que aconteceu.Desde o dia em que nos casamos, ele nunca me tocou. Não consumamos nosso casamento na lua de mel. As palavras dele ainda ecoam em minha mente: "Você não serve para mim." Desde então, minha vida se resume a cumprir as obrigações de casa e ser uma boa esposa, do jeito que ele acha que deve ser.Ele constantemente joga na minha cara que só tenho ele na vida, que devo obedecê-lo sem questionar. Quando tentei conversar com minha mãe, na esperança de encontrar algum consolo, ela ficou do lado dele. Disse que devo sempre abaixar a cabeça p
Yara Blake.13:00 — Empresa. — Eldoria.Sexta-Feira.Entro no prédio e, imediatamente, sou envolvida pela grandiosidade do lugar. O hall é vasto, com pisos de mármore brilhante que parecem nunca ter sido pisados. Lustres enormes pendem do teto, espalhando uma luz suave que reflete em todas as superfícies, dando ao ambiente uma sensação de requinte absoluto. As paredes são decoradas com obras de arte modernas, e tudo ao meu redor exala luxo e sofisticação, algo que nunca tinha visto antes.Sinto-me desconfortável. Olho para a minha roupa simples, que, embora esteja limpa e bem arrumada, parece deslocada em meio a tanto luxo. Respiro fundo, tentando afastar o nervosismo que começa a me consumir. Não posso deixar que isso me afete agora. Preciso manter o foco.Caminho até a recepção, onde uma mulher elegante está sentada atrás de um balcão de vidro. Ela sorri de forma profissional ao me ver se aproximar.— Bom dia. Em que posso ajudá-la? — pergunta, com a voz suave e educada.— Bom dia.
Yara Blake.14:00 — Empresa. — Eldoria.Sexta-Feira.Assim que saio da sala, sigo Amélia pelo longo corredor, tentando processar tudo o que acabou de acontecer. Meus passos continuam hesitantes, como se a qualquer momento alguém fosse me chamar de volta e dizer que tudo isso foi um engano. Mas Amélia mantém um ritmo firme, me guiando até uma sala menor, onde ela finalmente se vira para mim.— Vou te explicar como funcionam as coisas na mansão dos senhores Darkmore. — começa ela, com uma voz clara e profissional. — Assim que você chegar no domingo à noite, a governanta chefe, senhora Thompson, a designará para o trabalho que combinar melhor com suas habilidades. Se você for melhor na cozinha, provavelmente ficará responsável por preparar as refeições. Se tiver mais jeito para a limpeza, será designada para isso.Faço que sim com a cabeça, tentando absorver todas as informações. Amélia continua:— O salário será de quinze mil dólares por mês, com todas as despesas de moradia e alimentaç
Yara Blake.18:10 — Casa da Yara. — Eldoria.Após o banho, me visto rapidamente, colocando uma roupa simples, mas confortável. Desço as escadas com cuidado, sentindo a frieza do chão nos pés descalços. Assim que alcanço o último degrau, a porta da frente se abre com um estalo, revelando Ronan. Ele me lança um olhar frio, e suas primeiras palavras, como de costume, são cheias de impaciência.— O jantar está pronto? — pergunta ele, sem qualquer vestígio de carinho na voz. — Estou faminto.Concordo rapidamente com a cabeça, tentando evitar qualquer tipo de confronto.— S-Sim, está pronto. Fiz mais cedo, mas deve estar frio agora... Por que não toma um banho enquanto eu esquento? — minha voz sai trêmula, e antes que eu perceba, estou desviando o olhar.O olhar dele é cortante, o tipo de olhar que me faz sentir pequena, insignificante. Me encara com desprezo antes de explodir em raiva.— Você sabe que chego a essa hora, e ainda não esquentou a comida? — a voz dele sobe de tom, carregada de
Magnus Darkmore.Estávamos precisando de mais uma empregada na mansão, então ordenei à minha secretária, Amélia, que publicasse um anúncio nos jornais. Como não queria lidar com as entrevistas sozinho, convidei meus irmãos para me acompanharem: Kael, o segundo irmão, um juiz renomado, e Damien, o terceiro irmão, que é médico. Kael tem trinta e seis anos, Damien tem trinta e cinco, e eu sou o mais velho, com trinta e oito.As primeiras candidatas foram um desastre. Pareciam mais interessadas em se jogar em cima de nós do que em mostrar suas qualidades. Kael, com seu jeito bruto e sarcástico, não deixava barato. Sempre fazia questão de humilhar as garotas, algo que divertia profundamente Damien. Concordo que eu também achava a situação divertida. Ver a reação delas às suas provocações e o desconforto que isso causava era um espetáculo à parte.No entanto, o que não esperávamos era que a próxima candidata fosse chamar a nossa atenção. Quando ela entrou no escritório, soubemos imediatamen