Diogo fez questão de buscar-me em casa conforme um cavalheiro.
Minha cabeça estava explodindo por causa da pressão do TCC, e ao dizer para minha mãe que sairia para um encontro, sua curiosidade aguçou instantaneamente.
Não havia dado detalhes, esperaria para retornar e assim contar como havia sido o encontro.
Quando o carro buzinou na porta de casa, corri para o portão e dona Noémia para a janela.
Sabia que passar um tempo com minha nova paquera, aliviaria as dores de cabeça causadas pelo stress acadêmico.
...
Dentro do carro, tentava não ser monossilábica, pois ao contrário de mim, Diogo era extremamente comunicativo.
- Você não é muito nova para se formar no final do ano? - Ele puxou assunto enquanto dirigia.
- Quantos anos acha que tenho? - Contive minha gargalhada.
- Você é bem nova. Parece
Após a primeira noite com Diogo, passamos a nos falar quase que diariamente. Ele por sua vez, usava a disponibilidade que tinha de tempo para ajudar mãe Eva e pai Martim no centro, enquanto do outro lado, eu terminava meu tcc que seria apresentado em três semanas. Os meses do ano, haviam passado tão depressa, assim como as mudanças em minha vida que aconteciam rapidamente. A verdade é que mal conseguia assimilar quando dezembro se aproximou sem aviso prévio. No entanto, pai Martim, avisou no grupo online para os médiuns da casa, que a gira de Exu, sessão esperada por todos ansiosamente, finalmente aconteceria. Ela marcaria a abertura e o retorno das atividades do Centro Umbandista Amigos de Fé, logo, uma grande festa para as entidades da malandragem, seria realizada deixando os "filhos" de Martim e Eva, agitados com a notícia, afinal as saias rodadas vermelhas poderiam enfim sair do guarda roupa, assim como os chapéus Panamá.
Finalmente o dia do festival chegou e como previsto, Diogo estava uma pilha de nervos.Não era para menos.Sua noite mal dormida refletiu diretamente na minha, pois assim como ele, também não havia conseguido descansar.Meu namorado, mexia-se para lá e para cá.De hora em hora, levantava para se hidratar e ás vezes, ficava sentado no sofá imerso em pensamentos que para mim, eram desconhecidos.Me indaguei o que poderia fazer para ajudá-lo, no entanto não havia maneiras de acalmá-lo, por isso deixei que ele se concentrasse sem se afudar nas próprias expectativas.Contudo, nos últimos dias, também aguardava inquieta o retorno das atividades do centro, logo sobrava-me tempo para estudar e ler sobre os Exus e consequentemente a gira que aconteceria muito em breve, marcando a reabertura da nossa casa.Pai Martim e mãe Eva, também se pre
Com o troféu nas mãos e o sorriso estampado no rosto, fomos para um dos restaurantes mais badalados da cidade, onde a especialidade era carne vermelha.Eva e Martim que aceitaram o convite de mamãe para nos levar para jantar, me animou bastante.A noite estava composta de pessoas orgulhosas e felicidade por todos os lados.Finalmente, via em meu namorado a confiança que ele havia perdido antes do festival, pois por alguma razão, Diogo acreditou que não ganharia mais um Atabaque de Ouro.O comecinho da noite chegava com muitas conquistas. Cada um com seus respectivos deveres cumpridos.Tudo se encaixava perfeitamente.Mamãe, parecia outra pessoa. Estava mais receptiva, recíproca e participativa das conversas que surgiam a mesa, principalmente relacionadas a reabertura do centro.No entanto, a ideia do jantar, parecia ótima, pois somente assim, mamãe e Diogo poderiam
Ao acordar, vi do meu lado Diogo que dormia tranquilamente.Sem fazer baulho, levantei da cama esticando meus braços e alogando-me.Eu havia passardo a última semana na casa de meu namorado e usávamos o tempo livre para ficarmos juntos.Sabia que a partir do próximo mês, a vida nos cobriria de novas responsabilidades.Precisaria focar após a formatura, no prova da OAB para me tornar oficialmente uma advogada.Isso exigiria de mim, mais tempo, mais estudo, mais dedicação e claro... Menos tempo com Diogo.No entanto, não queria pensar ainda sobre leis, decoreba de artigos ou deixar que a ansiedade me inundasse, mesmo que algo estivesse errado.Minha noite foi inquieta.Pesadelos me assombraram durante horas.Figuras obscuras. Lugares desconhecidos. Mensagens subliminares.Liguei para mamãe, certificando-me que estava tudo bem, afinal, e
Entre um intervalo e outro, corria para recuperar o fôlego saindo da gira para beber um copo dágua. A cada pausa, observava o intenso movimento dentro e fora do salão. Procurei por mamãe e a vi sentada acompanhando os trabalhos da casa, enquanto Diogo não cessava no atabaque juntamente com os outros curimbeiros. Fiquei perplexa, ao me deparar com mais ou menos duzentas pessoas que entravam e saíam constantemente da assistência, e que eram atendidas pelos médiuns incorporados. Um fluxo frenético de energia. A escada que dava para o salão, estava abarrotada de pessoas aguardando consulta com a malandragem. Era impressionante como a procura pelo atendimento havia dobrado de número. Com mamãe, não foi diferente. Ela aguardava o número de sua ficha ser chamado por algum cambono. Médiuns que ajudavam dentro do terreiro, auxiliando os comandantes. Eram eles, os verdadeiros responsáveis pela organização durante toda a gira.
O barulho do tiro fez com que todo mundo instintivamente se abaixasse. O medo avassalador não me permitia pensar. Olhei ao meu redor e vi Diogo atracado com Marilene, segurando sua mão, evitando que mais um tiro fosse disparado. Cristiano em cima dele, tentando tirá-lo de perto da esposa. Pai Martim batendo com sua bengala em Tadeu que não revidava. Marilene gritava e ao meu lado, caída no chão mãe Eva, sangrando. Corri para socorrê-la sem conseguir apartar a briga, que agora se dava entre Cristiano e Diogo. Tadeu e Carlos imediatamente foram levantar Marilene do chão, provavelmente resultado da banda que recebeu de meu namorado. O tio de Cristiano, deu um soco no rosto de Martim que caiu com a sobrancelha sangrando, tranformando sua blusa em um grande mar vermelho. Segurei a mão de Eva, enquanto via a dificuldade que tinha para respirar. Marilene tinha conseguido. Eva fora atingida com uma bala
Sempre gostei de malhar nas primeiras horas da manhã. Quando acordo às cinco e quinze, me preparo para o dia que vem pela frente. O horário que para mim, é propício para fazer exercícios se tornou essencial dentro da minha rotina. O motivo? Às seis e meia, a sala de musculação está mais vazia e não há desfile de corpos ou roupas de ginástica. Nesse horário, realmente só malham, aquelas pessoas que se importam com a saúde e não somente com a aparência física. Meu personal Tiago me proporciona sempre ao fim da aula de musculação, uma maneira de desacelerar o ritmo, alongando e massageando minhas costas, enquanto deitada em cima de um colchonete vou pensando nas próximas tarefas diárias. Por mais que eu saia arrasada da academia, Tiago faz questão de usar a ironia para dizer que na semana seguinte, pegará mais leve nos exercícios, o que de fato nunca acontece. No entanto ao nos despedirmos, peguei meu Iphone e na tela havi
Sentada no sofá aconchegada em meu fiel escudeiro, o gato Athus de doze anos e pêlo branco, eu estudava o caso de Sara Castro. Havia milhões de fotos suas espalhadas por diversos sites na internet, inclusive em sites dos quais o objetivo principal era retratar o sadismo, a crueldade e a malevolência das pessoas. A dificuldade em ver as fotografias do crime que Sara havia cometido, era imensa, embora estivesse acostumada com inúmeros casos de maldade. No entanto Abílio tinha razão. Eu tinha passado por muitas coisas, perdido meu marido, e por algum tempo, minha cabeça estava à venda por cem mil reais no submundo da corrupção, da pedolfia e do tráfico de drogas. Contudo, perder Joaquim há dois anos foi a parte mais difícil. Precisei de um ano sabático, assim como necessitava me afastar de tudo e de todos a minha volta, o que incluía pessoas do trabalho e consequentemente da família. ... Meu marido também era jornalista.