Como combinado na semana seguinte, retornei ao centro na sexta-feira para desfazer o tal trabalho que havia aparecido no jogo de cartas ciganas de Eva.
Trabalho esse, que seria desfeito pela PombaGira de Martim.
Quando cheguei, fui recebida pelo médium Carlos que abriu a porta amigavelmente.
- Bem-vinda irmã.
O cumprimentei com sorriso no rosto.
Era sempre muito bom chegar ao centro e me deparar com médiuns amigáveis.
Não havia sinal de Eva, pois como era o dia de jogar, muito provavelmente, ela estivesse nos fundos do centro, atendendo as pessoas marcadas em sua agenda.
Olhei ao redor, e haviam em torno de cinco pessoas aguardando por Eva e Martim.
Com isso, precisava aguardar a minha vez.
Em uma das mãos segurava firmemente a sacola com todo o material necessário para entregar a PombaGira.
Ainda era incompreensível para a mim, a paz que o lugar me trazia.
Sentada, aguardando que pai Martim me c
Ao ver as mensagens no grupo do Centro que chegavam constantemente no meu celular, o cronograma da semana nos dizia que a festa de São Cosme e Damião aconteceria no próximo sábado, ou seja, a gira seria de entidades mirins. As crianças.Eu não podia acreditar que o tempo havia passado tão rápido.Estava completando mais um mês como médium do centro de Eva e Martim e mesmo que ainda não tivesse a oportunidade de participar ativamente das giras de criança e de Exu, a mais esperada pelos médiuns, me sentia uma verdadeira felizarda.Quantas coisas já tinham acontecido na minha vida desde então...Martim nos comunicou que haveria uma grande festa na casa, onde no dia vinte e sete de setembro, ocorreria a homenagem aos erês.Com o anúncio, foi divulgado também duas listas que separavam os médiuns pela metade. A organiza&ccedi
Passei o final de semana inteiro angustiada com a cena que presenciei no sábado e por mais que tentasse lembrar de onde conhecia aquela mulher que fazia ameças a Eva, simplesmente não conseguia. Eu queria ligar para ela e perguntar o que havia acontecido, no entanto, não podia me meter, afinal, não era da minha conta. Não podia cobrar explicações de algo que eu não estava envolvida, porém quem seria capaz de ir a um centro umbandista, em dia de festa, onde muitas crianças estavam presentes, para ameaçar a comandante do lugar? O fato de desconfiar que a conhecia, assim como o homem que a tirou do salão me deixava intrigada, embora, minha memória me deixasse na mão. Não lembrava-me de maneira nenhuma de onde os conhecia. O incômodo da dúvida não me deixou em paz por um segundo. Contudo, muitas tarefas tomavam o meu tempo. O TCC acadêmico e a carta de posse do concurso que havia prestado, me pressionavam. Na ca
- Como você sabe, fui amante de um homem durante anos. Na verdade, tudo começou quando eu trabalhava na empresa dele, como secretária. Na época, eu tinha acabo de terminar meu primeiro casamento, estava carente, vulnerável e como trabalhávamos juntos quase dez horas podia, desenvolvemos uma relação de amizade muito grande. Dessa relação, surgiu o interesse romântico e quando percebi estava apaixonada por ele. Eva narrava a história com o olhar distante, como se tivesse abrindo um baú cheio de lembranças ruins. - O problema é que esse homem, meu patrão, o homem com quem eu estava envolvida amorsamente, era casado. Ele e a esposa, na época tinham acabado de perder a filha de três meses. Quando Eva, mencionou a morte do bebê, não pude deixar de ficar comovida, independente da situação em que eles se encontravam. - Ele ficou muito abalado e depois disso, pareceu não se importar com muitas coisas. Ele não escondia que saía comigo. Dentro da
As lembranças bombardeavam a minha cabeça desde o dia da exumação de minha avó materna até o presente momento, deixando-me com um embrulho no estômago. As evidências do que Cristiano e sua equipe maléfica, tinham feito em prol de vingança e ambição, me dava ainda mais nojo de todos eles. De certo modo, me sentia culpada, afinal tinha sido meu primo o responsavél por toda a destruição no centro. O meu repúdio a todos eles, deixava-me sem ar, meu corpo queimava de raiva e tentei ao máximo elevar meus pensamentos, mesmo sabendo que o perdão nessa situação era impossível. Nada justificava a ação de vandalismo macabro, assim como tão pouco importava se Eva tinha sido amante de Cristiano ou se Marilene usava o candomblé para fazer seus trabalhos ardilosos. A única preocupação era levantar novamente o centro. Restaurar a nossa casa e o nosso solo sagrado. Voltar com as atividades que ajudavam a tantas e tantas pessoas semanalmente.
Durante o final de semana, precisei dividir meu tempo com os compromissos acadêmicos e evidentemente, com a ajuda para reconstruir o centro. Martim, como sempre eficiente e metódico, convocou os médiuns da casa para colaborarem na arrumação. Muitas coisas precisavam ser feitas e dentre os membros da casa, não faltavam profissionais qualificados Pedreiro, advogado, marceneiro, manicure, professores, cuidadores de cachorro, enfermeiro e muitos mais. Certamente o árduo caminho que tínhamos pela frente exigiria de todo mundo, o nível máximo de dedicação. As paredes precisavam ser pintadas, pois as palavras em vermelho tinham que sumir. As prateleiras onde as bebidas ficavam e que eram usadas nas festas, precisavam ser refeitas. Os vidros das janelas precisavam ser medidos novamente, assim como o altar principal da casa, que estava totalmente destruído. A equipe foi dividida em seis grupos e cada grupo era responsável
Diogo fez questão de buscar-me em casa conforme um cavalheiro.Minha cabeça estava explodindo por causa da pressão do TCC, e ao dizer para minha mãe que sairia para um encontro, sua curiosidade aguçou instantaneamente.Não havia dado detalhes, esperaria para retornar e assim contar como havia sido o encontro.Quando o carro buzinou na porta de casa, corri para o portão e dona Noémia para a janela.Sabia que passar um tempo com minha nova paquera, aliviaria as dores de cabeça causadas pelo stress acadêmico....Dentro do carro, tentava não ser monossilábica, pois ao contrário de mim, Diogo era extremamente comunicativo.- Você não é muito nova para se formar no final do ano? - Ele puxou assunto enquanto dirigia.- Quantos anos acha que tenho? - Contive minha gargalhada.- Você é bem nova. Parece
Após a primeira noite com Diogo, passamos a nos falar quase que diariamente. Ele por sua vez, usava a disponibilidade que tinha de tempo para ajudar mãe Eva e pai Martim no centro, enquanto do outro lado, eu terminava meu tcc que seria apresentado em três semanas. Os meses do ano, haviam passado tão depressa, assim como as mudanças em minha vida que aconteciam rapidamente. A verdade é que mal conseguia assimilar quando dezembro se aproximou sem aviso prévio. No entanto, pai Martim, avisou no grupo online para os médiuns da casa, que a gira de Exu, sessão esperada por todos ansiosamente, finalmente aconteceria. Ela marcaria a abertura e o retorno das atividades do Centro Umbandista Amigos de Fé, logo, uma grande festa para as entidades da malandragem, seria realizada deixando os "filhos" de Martim e Eva, agitados com a notícia, afinal as saias rodadas vermelhas poderiam enfim sair do guarda roupa, assim como os chapéus Panamá.
Finalmente o dia do festival chegou e como previsto, Diogo estava uma pilha de nervos.Não era para menos.Sua noite mal dormida refletiu diretamente na minha, pois assim como ele, também não havia conseguido descansar.Meu namorado, mexia-se para lá e para cá.De hora em hora, levantava para se hidratar e ás vezes, ficava sentado no sofá imerso em pensamentos que para mim, eram desconhecidos.Me indaguei o que poderia fazer para ajudá-lo, no entanto não havia maneiras de acalmá-lo, por isso deixei que ele se concentrasse sem se afudar nas próprias expectativas.Contudo, nos últimos dias, também aguardava inquieta o retorno das atividades do centro, logo sobrava-me tempo para estudar e ler sobre os Exus e consequentemente a gira que aconteceria muito em breve, marcando a reabertura da nossa casa.Pai Martim e mãe Eva, também se pre