- Como você sabe, fui amante de um homem durante anos. Na verdade, tudo começou quando eu trabalhava na empresa dele, como secretária.
Na época, eu tinha acabo de terminar meu primeiro casamento, estava carente, vulnerável e como trabalhávamos juntos quase dez horas podia, desenvolvemos uma relação de amizade muito grande.
Dessa relação, surgiu o interesse romântico e quando percebi estava apaixonada por ele.
Eva narrava a história com o olhar distante, como se tivesse abrindo um baú cheio de lembranças ruins.
- O problema é que esse homem, meu patrão, o homem com quem eu estava envolvida amorsamente, era casado. Ele e a esposa, na época tinham acabado de perder a filha de três meses.
Quando Eva, mencionou a morte do bebê, não pude deixar de ficar comovida, independente da situação em que eles se encontravam.
- Ele ficou muito abalado e depois disso, pareceu não se importar com muitas coisas. Ele não escondia que saía comigo. Dentro da
As lembranças bombardeavam a minha cabeça desde o dia da exumação de minha avó materna até o presente momento, deixando-me com um embrulho no estômago. As evidências do que Cristiano e sua equipe maléfica, tinham feito em prol de vingança e ambição, me dava ainda mais nojo de todos eles. De certo modo, me sentia culpada, afinal tinha sido meu primo o responsavél por toda a destruição no centro. O meu repúdio a todos eles, deixava-me sem ar, meu corpo queimava de raiva e tentei ao máximo elevar meus pensamentos, mesmo sabendo que o perdão nessa situação era impossível. Nada justificava a ação de vandalismo macabro, assim como tão pouco importava se Eva tinha sido amante de Cristiano ou se Marilene usava o candomblé para fazer seus trabalhos ardilosos. A única preocupação era levantar novamente o centro. Restaurar a nossa casa e o nosso solo sagrado. Voltar com as atividades que ajudavam a tantas e tantas pessoas semanalmente.
Durante o final de semana, precisei dividir meu tempo com os compromissos acadêmicos e evidentemente, com a ajuda para reconstruir o centro. Martim, como sempre eficiente e metódico, convocou os médiuns da casa para colaborarem na arrumação. Muitas coisas precisavam ser feitas e dentre os membros da casa, não faltavam profissionais qualificados Pedreiro, advogado, marceneiro, manicure, professores, cuidadores de cachorro, enfermeiro e muitos mais. Certamente o árduo caminho que tínhamos pela frente exigiria de todo mundo, o nível máximo de dedicação. As paredes precisavam ser pintadas, pois as palavras em vermelho tinham que sumir. As prateleiras onde as bebidas ficavam e que eram usadas nas festas, precisavam ser refeitas. Os vidros das janelas precisavam ser medidos novamente, assim como o altar principal da casa, que estava totalmente destruído. A equipe foi dividida em seis grupos e cada grupo era responsável
Diogo fez questão de buscar-me em casa conforme um cavalheiro.Minha cabeça estava explodindo por causa da pressão do TCC, e ao dizer para minha mãe que sairia para um encontro, sua curiosidade aguçou instantaneamente.Não havia dado detalhes, esperaria para retornar e assim contar como havia sido o encontro.Quando o carro buzinou na porta de casa, corri para o portão e dona Noémia para a janela.Sabia que passar um tempo com minha nova paquera, aliviaria as dores de cabeça causadas pelo stress acadêmico....Dentro do carro, tentava não ser monossilábica, pois ao contrário de mim, Diogo era extremamente comunicativo.- Você não é muito nova para se formar no final do ano? - Ele puxou assunto enquanto dirigia.- Quantos anos acha que tenho? - Contive minha gargalhada.- Você é bem nova. Parece
Após a primeira noite com Diogo, passamos a nos falar quase que diariamente. Ele por sua vez, usava a disponibilidade que tinha de tempo para ajudar mãe Eva e pai Martim no centro, enquanto do outro lado, eu terminava meu tcc que seria apresentado em três semanas. Os meses do ano, haviam passado tão depressa, assim como as mudanças em minha vida que aconteciam rapidamente. A verdade é que mal conseguia assimilar quando dezembro se aproximou sem aviso prévio. No entanto, pai Martim, avisou no grupo online para os médiuns da casa, que a gira de Exu, sessão esperada por todos ansiosamente, finalmente aconteceria. Ela marcaria a abertura e o retorno das atividades do Centro Umbandista Amigos de Fé, logo, uma grande festa para as entidades da malandragem, seria realizada deixando os "filhos" de Martim e Eva, agitados com a notícia, afinal as saias rodadas vermelhas poderiam enfim sair do guarda roupa, assim como os chapéus Panamá.
Finalmente o dia do festival chegou e como previsto, Diogo estava uma pilha de nervos.Não era para menos.Sua noite mal dormida refletiu diretamente na minha, pois assim como ele, também não havia conseguido descansar.Meu namorado, mexia-se para lá e para cá.De hora em hora, levantava para se hidratar e ás vezes, ficava sentado no sofá imerso em pensamentos que para mim, eram desconhecidos.Me indaguei o que poderia fazer para ajudá-lo, no entanto não havia maneiras de acalmá-lo, por isso deixei que ele se concentrasse sem se afudar nas próprias expectativas.Contudo, nos últimos dias, também aguardava inquieta o retorno das atividades do centro, logo sobrava-me tempo para estudar e ler sobre os Exus e consequentemente a gira que aconteceria muito em breve, marcando a reabertura da nossa casa.Pai Martim e mãe Eva, também se pre
Com o troféu nas mãos e o sorriso estampado no rosto, fomos para um dos restaurantes mais badalados da cidade, onde a especialidade era carne vermelha.Eva e Martim que aceitaram o convite de mamãe para nos levar para jantar, me animou bastante.A noite estava composta de pessoas orgulhosas e felicidade por todos os lados.Finalmente, via em meu namorado a confiança que ele havia perdido antes do festival, pois por alguma razão, Diogo acreditou que não ganharia mais um Atabaque de Ouro.O comecinho da noite chegava com muitas conquistas. Cada um com seus respectivos deveres cumpridos.Tudo se encaixava perfeitamente.Mamãe, parecia outra pessoa. Estava mais receptiva, recíproca e participativa das conversas que surgiam a mesa, principalmente relacionadas a reabertura do centro.No entanto, a ideia do jantar, parecia ótima, pois somente assim, mamãe e Diogo poderiam
Ao acordar, vi do meu lado Diogo que dormia tranquilamente.Sem fazer baulho, levantei da cama esticando meus braços e alogando-me.Eu havia passardo a última semana na casa de meu namorado e usávamos o tempo livre para ficarmos juntos.Sabia que a partir do próximo mês, a vida nos cobriria de novas responsabilidades.Precisaria focar após a formatura, no prova da OAB para me tornar oficialmente uma advogada.Isso exigiria de mim, mais tempo, mais estudo, mais dedicação e claro... Menos tempo com Diogo.No entanto, não queria pensar ainda sobre leis, decoreba de artigos ou deixar que a ansiedade me inundasse, mesmo que algo estivesse errado.Minha noite foi inquieta.Pesadelos me assombraram durante horas.Figuras obscuras. Lugares desconhecidos. Mensagens subliminares.Liguei para mamãe, certificando-me que estava tudo bem, afinal, e
Entre um intervalo e outro, corria para recuperar o fôlego saindo da gira para beber um copo dágua. A cada pausa, observava o intenso movimento dentro e fora do salão. Procurei por mamãe e a vi sentada acompanhando os trabalhos da casa, enquanto Diogo não cessava no atabaque juntamente com os outros curimbeiros. Fiquei perplexa, ao me deparar com mais ou menos duzentas pessoas que entravam e saíam constantemente da assistência, e que eram atendidas pelos médiuns incorporados. Um fluxo frenético de energia. A escada que dava para o salão, estava abarrotada de pessoas aguardando consulta com a malandragem. Era impressionante como a procura pelo atendimento havia dobrado de número. Com mamãe, não foi diferente. Ela aguardava o número de sua ficha ser chamado por algum cambono. Médiuns que ajudavam dentro do terreiro, auxiliando os comandantes. Eram eles, os verdadeiros responsáveis pela organização durante toda a gira.