Ecos Do Passado

Capítulo 2: Ecos do Passado

Depois de ler a carta, Laura sentiu uma onda de confusão. As palavras ali, "Eu te amo, Laura. Não importa o que aconteça, você sempre será minha", a atravessaram como um raio. Daniel… esse nome ecoava em sua mente, mas nada mais vinha junto. Não havia um rosto, nem uma lembrança clara de quem ele fosse. Apenas uma sensação de que, de alguma forma, ele deveria ser importante para ela.

Com as mãos ainda tremendo, ela colocou a carta sobre a mesa e se levantou. O apartamento estava em silêncio, apenas o som de seus próprios passos quebrava a quietude do ambiente. Ela se dirigiu até o piano, mas mesmo as teclas brancas e negras, que sempre foram seu refúgio, agora pareciam distantes, quase irreais. Tocar não trouxe consolo, como geralmente acontecia. Algo estava fora do lugar.

Foi então que a ideia de sair daquele lugar, de deixar para trás aquele silêncio ensurdecedor, pareceu ser sua única alternativa. Ela pegou a bolsa, respirou fundo e decidiu que precisava conversar com alguém. Com alguém que pudesse, de alguma forma, ajudá-la a entender tudo isso.

Isabela, sua amiga mais próxima, foi a primeira pessoa em quem pensou. Elas se conheceram após o acidente, quando Laura passou a ter dificuldades com as lembranças e a reconstruir a sua vida. Isabela foi seu apoio constante, uma espécie de farol em meio à escuridão de sua amnésia. Embora nunca soubesse todos os detalhes do que aconteceu com Laura, ela sempre esteve ao lado dela, pronta para ouvir.

Ao chegar ao apartamento de Isabela, Laura foi recebida com um sorriso caloroso, como sempre. A amiga estava sentada no sofá, com um copo de vinho na mão.

— E aí, como você está? — Isabela perguntou, levantando uma sobrancelha ao ver a expressão pensativa no rosto de Laura. — Parece que algo te incomoda...

Laura se sentou ao lado dela, a carta ainda guardada em sua bolsa, e começou a falar com dificuldade:

— Eu encontrei algo hoje... uma carta. — Sua voz falhou por um momento, mas ela continuou. — De um tal de Daniel. Ele dizia que me amava, que eu sempre seria dele, mas… eu não me lembro dele, Isabela. Não faço ideia de quem seja.

Isabela a olhou atentamente, seu rosto com uma expressão de surpresa misturada com preocupação. Ela parecia hesitar antes de responder.

— Daniel? — Isabela repetiu o nome, pensativa. — Não, Laura. Nunca ouvi falar desse nome. E, sinceramente, você nunca mencionou um Daniel para mim antes.

Laura sentiu o peso das palavras. Como Isabela poderia não saber quem ele era? Como ninguém mais soubera de Daniel, se ele, de alguma forma, havia sido importante para ela? Não fazia sentido. Aquela carta parecia autêntica, mas a realidade dela estava se desintegrando aos poucos.

— Mas isso é estranho, não é? — Laura perguntou, sua voz trêmula. — Eu não me lembro dele, e você também não. Como pode ser? Não é possível que alguém que tenha sido tão importante na minha vida... tenha sumido dessa forma.

Isabela permaneceu em silêncio, pensativa. Ela sabia que Laura estava lutando contra algo muito maior que a simples perda de memória. Era uma busca constante por uma verdade que parecia sempre escapar, como areia entre os dedos.

— Eu sei que é difícil, Laura. Mas você precisa entender que sua memória é frágil. Lembra daquelas coisas que você já me contou sobre o acidente? Você teve um grande trauma, e sua mente se protegeu disso. A gente não pode forçar as coisas a virem de uma vez. Às vezes, as lembranças surgem aos poucos, em fragmentos. E quem sabe, talvez esse Daniel seja alguém do seu passado... alguém que você simplesmente não conseguiu lembrar ainda.

Laura olhou para sua amiga, sentindo a dor da incompletude. Como ela podia confiar em si mesma, quando não sabia quem havia sido? Quando nada parecia se encaixar?

— Você acha que eu nunca vou me lembrar de quem ele foi? — Laura perguntou com um leve suspiro.

Isabela tocou sua mão suavemente, tentando transmitir o máximo de conforto possível. Ela sabia que palavras não poderiam apagar a dor de Laura, mas seu apoio ainda era a única coisa sólida que a amiga tinha.

— Não estou dizendo isso, Laura. Eu só sei que você precisa ter paciência. A memória, o passado... eles voltam quando estão prontos para voltar. Talvez esse Daniel seja uma peça chave, mas só o tempo vai te ajudar a entender.

Aquelas palavras de Isabela não eram a solução que Laura procurava, mas a verdade era que ela não sabia onde mais buscar. O passado parecia um lugar distante, e ela, perdida nele, tentava ao máximo manter-se ancorada na realidade.

Laura permaneceu em silêncio por um momento, refletindo sobre tudo o que tinha sido dito. Não sabia se conseguiria viver com as incertezas que a cercavam, mas, ao menos, podia contar com Isabela. Ela não estava sozinha. A sensação de solidão que tantas vezes a acometia parecia um pouco mais leve naquele momento.

Isabela ofereceu-lhe mais vinho, e as duas passaram a noite conversando sobre outras coisas, tentando evitar o tema de Daniel. Mas Laura sabia que o nome continuava rondando sua mente, como uma sombra que ela não conseguia afastar. Algo no fundo de seu coração dizia que Daniel era uma parte crucial de sua história, algo que ela precisava descobrir.

A noite avançou, e Laura se despediu de Isabela com um beijo na bochecha, sentindo-se um pouco mais leve, mas ainda com a sensação de que algo muito importante estava prestes a ser revelado. O que quer que fosse, ela sabia que não poderia continuar a vida sem entender o que realmente havia acontecido entre ela e Daniel.

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