O Rabanera era um restaurante que explorava as comidas típicas latinas. Entretanto, não era um lugar elitista; o que fez com que Sam se sentisse mais à vontade nesse ambiente sofisticado, porém descontraído.- Você está realmente maravilhosa hoje. – Gabriel elogiou, assim que o garçom desapareceu com seus pedidos.- Obrigado. – Sam bebericou o malbec de sua taça, desfrutando das notas cítricas e doces. – Me fale de você, Gabriel. Estou curiosa sobre esse homem ousado e interessante.- Oho..- ele sorriu, lhe endereçando uma piscadela. – Se falar comigo assim, vou acabar me apaixonando. – ele buscou a mão dela por sobre a mesa. – Sou um espírito livre e inquieto que nunca se prendeu a convenções. Jamais me casei, não tenho filhos, e a solidão me acompanha com a mesma intensidade com que busco o novo. Ele bebeu um gole de vinho, fazendo uma pausa.- Dizem que sou atrevido e espirituoso, envolto em um véu de mistério que encanta aqueles que se atrevem a se aproximar. – ele riu jocoso. –
A noite transcorria como um encontro agradável e inesperadamente atraente. Sam estava focada em Gabriel, ignorando seu telefone, que havia tocado algumas vezes.Depois do jantar, ele a levou para um passeio, no jardim do lounge no terraço, com vista para a cidade. O lugar como luz aconchegante era bem intimista. Sam se apoiou no parapeito de vidro, observando o movimento intenso do trânsito e das pessoas na avenida lá embaixo.- E então, como você quer ser apresentada na Masmorra? – ele perguntou, próximo demais, às costas dela.Sam podia sentir a respiração dele em seu pescoço, e o calor de seu corpo enviando ondas por sua pele. Era estranho essa proximidade quase íntima com esse homem desconhecido, mas ela não queria desencorajá-lo agora.- Quero algo que não me prenda a ninguém. Uma posição onde eu possa me apresentar, e também escolher o que me agrada. - Isso é interessante. – as mãos dele seguravam sua cintura. Ela olhou para baixo, observando seus dedos apertaram as late
AlbertoDe longe, ele viu Samanta ignorar suas ligações, entre sorrisos e toques descuidados com Gabriel Avelar. Nas sombras da rua da casa dela, observou sua linda odalisca se despedir com um abraço quente, e um beijo no rosto do homem que mal podia esconder o seu desejo.Seus punhos cerraram.A vontade que tinha naquele momento, era de quebrar cada parte do corpo daquele desgraçado do caralho. Mas ele não poderia se aproximar dela agora, não poderia agir mais como se fosse seu dono.Se quisesse que Samanta voltasse para sua vida, tinha que ser estratégico e convincente. E o simples fato de estar seguindo ela durante um encontro, já provava o contrário.O suor frio inundou suas mãos quando o parasita segurou o rosto dela, não tinha jeito. Se ele pensava que poderia provar o sabor dos lábios dela, estava muito enganado.Estava pronto para nocautear o maldit0, quando ela se afastou, com um sorriso que fez seu coração parar no peito. Por que ela está sorrindo assim para esse idiota? O
SamantaO café já tinha esfriado em sua xícara a muito tempo. Ela olhou para as pessoas que transitavam em frente ao café, pareciam tão ocupados com suas rotinas. O feriado se arrastava para Sam. Ela sempre os passou com ele, Alberto.Nos últimos três dias, ela focou na campanha da Silticom, trabalhando até dormir sobre o computador em casa. Gabriel foi muito compreensivo em entender que não poderia sair com ele até o fim de semana. Foi tão atencioso que ligou várias vezes para saber se ela estava precisando de alguma coisa, e também para confirmar a iniciação dela na Masmorra na próxima sexta.Ele também forneceu o contato de uma designer muito conceituada de artigos sensuais. Madame S. era conhecida por sua criatividade e bom gosto. Seu nome era Katrina, mas ela assinava seus modelos como Madame S. A designer ficou entusiasmada com a ideia de figurino que Sam propôs, e confirmou a entrega até a próxima quinta-feira.- Que cara é essa? – A voz de Amélia interrompeu seus pensamentos
Alberto O barulho da porta de sua sala se abrindo, sem um mísero anúncio o irritou. Mas ele não se importou em olhar para ver quem invadia o seu escritório. Permaneceu sentado na poltrona alta, escura, olhando para o tabuleiro à sua frente, pensando na próxima jogada.Xadrez era uma arte que ele apreciava muito. O jogo de estratégia e lógica o fascinou na mais tenra idade, e até hoje era algo que usava para organizar seus pensamentos quando eles estavam tumultuados, como agora.- Há quanto tempo está dormindo aqui? – a voz Ticiano o surpreendeu por um breve instante.O assistente de Ícaro, Ticiano Dutra, era seu amigo mais próximo. Eles tinham um passado difícil. Somente ele conhecia partes de sua história que nem mesmo seus irmãos conheciam.Ticiano entrou na vida dos Darius quando Alberto tinha somente quatorze anos. Através de Ícaro, o garoto rebelde da periferia que tinha feito uma escolha errada e foi deixado para morrer, teve uma nova chance na vida.Ele foi o primeiro garoto p
Ticiano olhou para ele por um breve instante acenando com a cabeça em um claro sinal de discordância. Mas não insistiu no assunto. - E então, que papo era aquele quando fui te buscar na boate, mais bêbado que um gambá. - Só bebi um pouco a mais. Os homens que você me arrumou são uns escrotos. Me fizeram ir até lá e depois chamaram umas sete putas para a cabine. - Ei, vá com calma. A equipe de segurança do Tiago é um recurso valiosíssimo. Eles nem mesmo estão no mercado. Teve sorte que eu conheço há muito tempo. Só assim para trabalharem para você; um cara sem nenhum humor, e que não participa das pegações deles. - Ele me chamou até lá para me entregar uma nova informação. Deixei claro que não queria nenhuma mulher na cabine. Mas quando cheguei, ele chamou uma tal de Carlinha e sua amiga Vivi e mais não sei quem. Elas acreditam quando ele fala que é o dono da boate, ficam loucas para agradar. - Ainda bem que ele não conta que a boate é sua. – Ticiano derrubou o peão de Alberto,
SamantaO final de semana se aproximava como uma tempestade incerta e inevitável, avassaladora e carregada de uma eletricidade que Samanta sentia pulsar sob sua pele. A ansiedade crescia a cada batida do relógio, a cada ensaio mental, a cada toque de tecido sobre sua pele. Ela ia se apresentar pela primeira vez na Masmorra como Pérola Negra, e mesmo que fosse um pseudônimo, uma fantasia, uma máscara… ela sabia que, no fundo, seria uma revelação íntima de si mesma. Uma metamorfose que aconteceria diante de diversas pessoas, cheias de expectativas e desejos. Na noite anterior, sonhou com a sua estreia, o salão escuro, os olhares atentos, os corpos silenciosos, esperando algo arrebatador. As mãos dos corpos que dividiam o palco com ela, tudo muito real. E então ela, envolvida pelo jogo de luzes tênues e vapor, exibindo a figura da mulher que se tornava sensual, livre e impenetrável. Mas o rosto que mais a inquietava em meio aos rostos desconhecidos, era o dele. Alberto. Ela sabia que
O relógio da parede parecia zombar dela. Os ponteiros avançavam com lentidão excruciante para a noite, enquanto Samanta sentia cada segundo reverberar sob a pele como uma corrente elétrica. Quando o ponteiro bateu às nove horas, ela respirou fundo, estava a poucas horas de nascer como uma nova mulher, em sua estreia na Masmorra Diè, como a Pérola Negra. Lentamente, começou a se maquiar. A base suave, contorno discreto, e, por fim, os olhos. Com um pincel fino, estendeu a sombra preta fosca por toda a área que ficaria exposta entre as fendas da máscara, garantia de mistério absoluto. Olhou seu reflexo, vendo ali a promessa de Pérola Negra, e permitiu-se um breve sorriso nos lábios marcados pelo vinho vibrante que contrastava com seus dentes brancos. Pensou em Alberto e em sua caneca de vaquinha: presente singelo que, paradoxalmente, lhe dera mais coragem do que qualquer joia luxuosa. Ela andava pela casa em silêncio, descalça, sentindo o chão frio sob os pés, o corpo envolto apenas