AlbertoSamanta ainda dormia, praticamente escondida em seu peito. Um sorriso leve cruzou seus lábios. Estar com ela era tão caótico e ao mesmo tempo tão certo e perfeito. Desde que conheceu Sam, seu mundo virou de cabeça para baixo. Ela era tão esfuziante, tão intensa, que Alberto se perguntava como poderia existir alguém assim. Ele cresceu sob a sombra do controle. A disciplina foi imbuída pouco a pouco desde a mais tenra idade, através do esporte e de atividades que exercitavam sua capacidade de foco e concentração. Isso tudo porque seu pai, Otávio, percebeu cedo que ele era diferente dos filhos mais velhos.As palavras específicas do seu velho foram: “Eu sei reconhecer um encrenqueiro quando vejo um. E você, garoto, é um encrenqueiro de marca maior.”Alberto se levantou devagar, com cuidado para não acordar sua mulher. Vestiu o short e caminhou até a cozinha em busca de um café. Encontrou as coisas para fazer a bebida, nos mesmos lugares de sempre.Ele conhecia bem aquela casa,
Sam Depois do café, Alberto e ela lavaram a louça juntos. Sam ainda se perdia nas nuances que ele apresentava para ela. Ele nunca tinha dito EU TE AMO. Ela não fazia ideia que ele cozinhava, e muito bem por sinal. Alberto parecia relaxado e perfeitamente a vontade, diferente de quando estavam no apartamento dele. Lá naquele apartamento extremamente masculino e minimalista, ele parecia inalcançável, frio e distante. Ele também seria diferente quando estivessem lá, daqui em diante?- Por que está tão calada? – ele perguntou, secando as mãos na toalha da cozinha. – Está se sentindo mal?- Não. – Sam sorriu. – Estava pensando em você. - Em que exatamente? – perguntou, pegando os pratos das mãos dela, e guardando no armário. - No seu apartamento, que sempre achei tão impessoal. – Sam encontrou os olhos verdes profundos. – Você fica diferente quando está aqui. É mais relaxado.- Gosto da sua casa. - Mesmo? – ela riu, caminhando para a sala. – Achei que você detestasse meu est
O som abafado das vozes enchia a sala de reuniões da Acrópole, onde Alberto Darius estava sentado à cabeceira da longa mesa de mármore negro. A manhã transcorria em meio a relatórios, números e apresentações, mas sua mente estava a quilômetros dali mais precisamente, no breve momento daquela manhã, quando deixou Samanta na porta do trabalho.Ela sorriu para ele antes de sair do carro, mas havia uma sombra silenciosa em seus olhos que só ele pôde perceber. A lembrança daquela revelação ainda o assombrava.Depois de contar a verdade, de que era fruto de uma traição de sua mãe com um dos sócios de Otávio Darius, Samanta não disse uma palavra. Ela simplesmente o abraçou. Forte. Intensa.Como se pudesse carregar um pedaço do peso que ele suportava há tanto tempo. E ficaram assim, aninhados no sofá da casa dela, em silêncio, enquanto o relógio avançava e o mundo lá fora seguia sem perceber a revolução que acontecia dentro dele.Sam soube entender.Ela soube ler com precisão a dor corrosiva
A sala de reuniões da clínica era fria e estéril, quase impessoal, como se o próprio ambiente soubesse das decisões brutais que seriam tomadas ali. As paredes cinzas refletiam a luz branca, crua, que zumbia acima das suas cabeças. Um aroma discreto de aromatizante pairava no ar, impregnando cada respiração com uma lembrança constante da fragilidade da vida.Alberto ajeitou-se na cadeira, a mandíbula tensa, os nós dos dedos pálidos de tanto apertar o braço do assento. Sua cabeça latejava, como se o mundo inteiro estivesse comprimido dentro do crânio. Quando a porta se abriu, o som pareceu ecoar como um trovão em seus ouvidos.A oncologista entrou, seguida por dois outros médicos, um hepatologista e um obstetra especializado em gestações de alto risco. A mulher sorriu de forma profissional, mas seus olhos denunciavam a gravidade do que estava por vir.— Boa tarde, senhor Darius. — disse ela, estendendo a mão. — Sou a doutora Miriam Torres. Acredito que já tenhamos nos encontrado antes,
Samanta Samanta Bastos é uma jovem publicitária de vinte e oito anos romântica e sonhadora, que desde criança sonhava com um casamento de princesa, uma família grande cercada de carinho; almoços de domingo recheados de risadas e feriados barulhentos e alegres. No entanto, o silêncio que a recebia nesse momento ao entrar em casa, era a sua triste realidade. Sam depositou as chaves do carro no aparador da sala e rumou para a cozinha em busca de uma garrafa de vinho. No caminho suas roupas sujas de terra ficaram largadas no chão. O barulho da rolha saindo do gargalo da garrafa se propagou pela cozinha silenciosa. Ela levou a garrafa a boca e se sentou no chão somente de calcinha e sutiã. Seus pensamentos bagunçados se alinharam em uma única pergunta. Como foi que chegou a esse ponto? A lembrança ainda queimava dentro dela, tão vívida e cruel como se estivesse acontecendo novamente. Flashback on Com o rosto banhado de lágrimas, Samanta viu Alberto Darius, o homem que durant
AlbertoOs olhos glaciais acompanharam as pessoas se dispersando. Samanta foi embora totalmente descompensada depois do que viu. Ela não devia ter feito aquilo.Seus punhos cerrados eram a prova de que seu auto controle estava por um fio. O esforço que teve que fazer para não agarrar aquela mulher e levá-la para o seu apartamento para lhe ensinar uma boa lição, era simplesmente sobre-humano.Alberto voltou para o anexo, e fechou a porta com uma pancada que reverberou por toda a estrutura de pedra.- Você disse que ela não viria aqui. – Catarina resmungou, virando a cabeça para o lado. – Por que ela tinha que aparecer?!- Isso também é culpa sua! INFERNO! – com movimentos rápidos e ágeis ele a desamarrou, libertando a mulher da plataforma em forma de X.- Fique aqui, o Ticiano deve estar chegando. – reuniu seus pertences, rumando de volta para a porta.- Alberto... eu juro que sinto muito... - Catarina disse baixinho.- Nunca mais! Você entendeu?! – ele advertiu, com um olhar frio.Sai
Estava na hora de acertar as contas Ícaro.Alberto dirigia como um louco, o motor do carro rugindo como sua própria fúria. O sangue pulsava em suas têmporas, a respiração acelerada e o gosto metálico da raiva na boca. Não havia tempo para pensar, para ponderar. Ícaro, o seu irmão precisava pagar pelo que fez.Ele subiu sem avisar, marchando como um predador para o apartamento de Vitório, seu irmão mais velho. A governanta sequer teve tempo de anunciá-lo antes que ele arrombasse a porta do escritório com um estrondo.Vitório e Ícaro se voltaram abruptamente, interrompendo a análise dos novos projetos para Dallas. O queixo de Ícaro sequer teve tempo de registrar a surpresa antes de receber o primeiro soco. O estalo seco do impacto ecoou pela sala, seguido de um grunhido de dor.Ícaro cambaleou, mas reagiu rápido. Com um golpe certeiro no estômago, fez Alberto dobrar o corpo para frente. Mas a fúria de Alberto era descomunal. Ele se lançou sobre o irmão, socando-lhe o rosto, costelas, om
SamantaQuando o despertador tocou de manhã, ela praguejou imprecações e o desligou. Suas pálpebras mal podiam se abrir, o peso da ressaca e da noite mal dormida era uma merda.Um cochilo de mais cinco minutos causou uma situação pior ainda. Sam caiu da cama em cima do vidro quebrado da garrafa de vinho.- Aiiii merda! – gritou, quando sentiu a pele ser cortada pelo vidro.Se levantou e correu para o banheiro quando viu o sangue pingar no chão. Pegou o kit de primeiros socorros e analisou seu rosto.Um fragmento estava cravado em sua testa, e o restante cortou os dois antebraços e pulso. Não era nada grave, então decidiu limpar e evitar uma visita desnecessária ao hospital.Tomou um banho rápido e verificou as horas. Para variar, estava em cima da hora. Vestiu um tubinho preto e um blazer branco, calçou os saltos agulha caramelo e pegou a bolsa de couro que sua prima Amélia lhe deu de presente de aniversário.A maquiagem poderia ser feita no banheiro da agencia, ela só precisava chega