“Você me traiu.”Ela conhecia aquele tom. E conhecia aquele olhar também. Seus olhos brilhavam de crueldade. Frios. Implacáveis. Da última vez que ele a olhou assim, ela estava implorando para que ele poupasse Amanda.“Angel, Angel...” Ele balançou a cabeça de uma maneira assustadora. “Estou desapontado. Será que fui ingênuo em pensar que você aprendeu sua lição?” Ele falou, pegando duas luvas de couro de seu casaco preto. Ele as colocou, movendo os dedos longos como se estivesse verificando o ajuste.Sua respiração engasgou em sua garganta. Dog e outros dois homens entraram no camarim. O clique da fechadura sendo girada fez o sangue gelar em seus ossos.“Angelina, o que está acontecendo? Você os conhece?” A confiança tinha desaparecido da voz de Dário. Seu rosto estava pálido como cal, e o aperto em sua cintura desapareceu. “Nikolai... eu posso explicar. Não machuque ele, por favor.” Ela deu um passo para trás, lutando para manter a voz firme. “Ele não fez nada. Eu juro-“ Angeli
Tudo ao redor deles estava úmido e cheirava a mofo. Estava frio. Ela olhava para o garoto deitado em seu colo, passando suavemente os dedos por seus cabelos castanhos claros. Eles eram macios como seda. Ele não tinha mais de quinze anos, mas suas características eram endurecidas como as de um homem mais velho. Seus olhos estavam fechados, como se estivesse dormindo."Você está seguro", sussurrou Angelina, com uma voz infantil. Suas mãos eram pequenas e ligeiramente arredondadas. Ela também era apenas uma criança. Os dois eram, mesmo que ele fosse mais velho. E os dois estavam perdidos."Você está seguro agora”, repetiu ela.O garoto fez uma careta como se estivesse com dor, soltando um suspiro dolorido. E então seus olhos se abriram...x-x-x-x-x-x"Ah!" Um grito agudo escapou de seus lábios. Angelina acordou na cama sobressaltada, todo o seu corpo voltando à vida de uma vez. O teto familiar a encarava de volta.Mais de uma noite ela tinha passado olhando para ele na escuridão, pen
O fogo da lareira lançava um brilho alaranjado por todo o quarto escuro.Lá estava ele, sentado numa poltrona com um copo de uísque quase caindo entre seus dedos longos. Ele o segurava tão frouxamente que poderia cair e derramar a qualquer momento. Seu rosto estava voltado para longe dela. Ela só conseguia ver o emaranhado de seus cabelos grossos e seu braço.O felpudo carpete abafava o som de seus passos. Angelina atravessava silenciosamente o amplo quarto, sua firme determinação agora sumindo sob o peso do crime que estava prestes a cometer.Ele não hesitou ao ordenar a morte de Dário.Ele não hesitou quando Amanda foi espancada e quase estuprada.A violência era tão natural para ele quanto respirar, e ali estava ela, abalada até a alma só em pensar em derramar o sangue dele com suas próprias mãos.O desejo de vomitar e fugir aumentava a cada passo que ela dava. Mas ela não podia. Não depois de tudo o que ele tinha feito a ela... depois de tudo que ele tinha feito a todas aquelas pe
Na TV estava passando uma notícia trágica.Um jovem chamado Dário O’Conner foi encontrado morto perto de um posto de gasolina, brutalmente espancado, a polícia supõe que foram bandidos.Angelina assistia ao noticiário. Eles fizeram um bom trabalho fazendo parecer que ele foi morto por um grupo de ladrões insignificantes. Levaram sua carteira e o abandonaram em um beco para ser devorado por ratos.Alguns ladrões de rua foram presos sob suspeita de sua morte.Se ao menos eles soubessem...Se ao menos ela pudesse contar para alguém por que ele estava morto...A culpa a consumia. Estava fazendo ela desmoronar em pedaços.Amanda abandonou a faculdade, alegando que estava se mudando para Nova York com a família. Ela prometeu não dizer uma palavra do que aconteceu, pela própria segurança dela e de Angelina. E isso estava a matando.A vida se tornou apenas uma existência tediosa dentro das paredes de mármore da mansão de Nikolai.Seu pai tentou ligar algumas vezes, mas acabou desistindo quand
Um enorme SUV preto blindado estava esperando do lado de fora. Dog segurava a porta aberta, com uma expressão ameaçadora no rosto. Ninguém disse para onde a levariam.Dava para pensar que ela já tinha se acostumado aquele tratamento. Longe disso. Seu coração batia mais alto que o rugido do motor.Talvez ele finalmente tivesse decidido se livrar dela.Afinal, eu tentei matá-lo. Angelina pensou.Sentada no banco de couro, as unhas curtas dela arranhavam nervosamente as coxas, deixando marcas vermelhas.A mansão logo desapareceu de vista. O suspense estava a matando. Não adiantava fazer perguntas. Dog e seus homens só respondiam a Nikolai, e ele não estava ali.Uma hora torturante depois, o carro finalmente parou em frente a uma praia. O ar salgado beijava suas bochechas e o vento chicoteava seu cabelo longo. As ondas selvagens batiam contra a costa rochosa.Ela teria prestado mais atenção à beleza daquele lugar se sua atenção não tivesse sido roubada por uma figura familiar ao longe.Ni
A dor é implacável, capaz de quebrar e despedaçar até os mais fortes e sem sentimentos. Ela queima através do corpo como uma tempestade, varrendo os pensamentos racionais, levando tudo o que é bom e distorcendo contra você.Ela faz você implorar para não sentir.Ela faz você se transformar em outra pessoa.Os olhos se abriram para o teto branco e o brilho distante do fogo. O brilho suave dançava na frente dos seus olhos.Angelina estava vagando entre a consciência e a inconsciência.Na primeira vez que acordou, estava em um carro. Estava deitada no banco de trás, sua cabeça apoiada em um abraço quente e forte.Na segunda vez, tudo estava mais confuso. Havia muitas luzes brancas e vozes misturadas que ela não reconhecia.Estava sendo levada às pressas para algum lugar, que parecia um hospital e ela conseguia se lembrar claramente de um homem de máscara médica observando ela.E a terceira vez foi agora. O pânico e a agitação haviam ido embora. Havia apenas o som distante do fogo da lare
O beijo tirou seu fôlego, profundo e talvez um pouco desajeitado. Ela não se importava. Sua língua explorou sua boca com um vigor cheio de luxúria, e ela não conseguiu impedir que borboletas girassem em seu estômago.Seus pequenos braços envolveram os largos ombros dele, os dedos passando pelos espessos e desalinhados fios de seu cabelo. Eles haviam crescido desde que se conheceram. Ela adorava o visual selvagem dele.Nikolai foi o primeiro a recuar, ofegante."Você está ferida." Ele sussurrou, um calor puro e escaldante dançando em seus olhos.Desejo, vontade, paixão, sedução...Era impossível descrever todas as coisas que ela estava vendo em seus olhos. Entre todas elas, uma profunda preocupação.Esse seria um bom momento para recuar e afirmar que foi um erro, um calor do momento inspirado pelo estado de embriaguez e remédios. Mas ela não fez isso. Em vez disso, "Eu ficarei bem." Ela murmurou.Era toda a permissão que ele precisava. Eles já haviam sido íntimos antes, muitas vezes.
Quando ela abriu os olhos na manhã seguinte, os lençóis ao seu lado estavam frios. O cheiro masculino dele ainda pairava no travesseiro que ela segurava em seu peito. O sol estava alto no céu, seus raios brilhantes iluminando-a através das brechas das cortinas.Com um gemido, Angelina rolou para o outro lado. Seu ombro ainda doía muito, assim como a lembrança de Nikolai entre suas pernas. E o pior, que tinha gostado muito disso.Meu Deus.Ela gemeu de vergonha no travesseiro. Tinha sido um momento de fraqueza. Ele estava vulnerável e, para ser sincera, também bêbado, e também muito bonito.O cabelo bagunçado, a camisa desabotoada, os olhos cinza suaves.Droga, ele conquistou ela completamente.Ele estava sendo tão gentil, nada parecido como o chefe da máfia que ela conheceu na primeira vez.E pelo visto, só isso foi necessário para eu ceder.Ela queria gritar com todas as forças.Em uma única noite, o homem que ela odiava - o cara que tinha arruinado completamente sua vida – tinha a e