Corro pela floreta, fazendo o possível para desviar dos troncos de árvores caídos e pedras soltas no caminho, mas está muito difícil de enxergar. Em toda a minha vida, não me lembro de já ter visto uma noite tão escura quanto esta, então, por diversas vezes, caio e preciso forçar-me a levantar, apesar da dor, apesar do cansaço, pois sei que ele precisa de mim.
Aperto o cabo da espada com força e a seguro do lado do corpo, temendo que o sangue que cobre meus dedos a faça escorregar enquanto corro. Apesar de não ter certeza do que uma simples espada será capaz de causar ao meu inimigo, que possui um poder além do que jamais visto, continuo a carregando.
Ouço um grito a minha direita e olho naquela direção, o que acaba se mostrando um erro, pois bato com força contra uma árvore e perco o equilíbrio. Dou um passo para o lado e a sensação de perder o chão sob meus pés faz meu estômago gelar.
Caio de costas e rolo por um barranco, esforçando-me ao máximo para não gritar enquanto galhos e pedregulhos afiados perfuram minha pele, rasgam minhas roupas e agarram-se aos meus cabelos.
A queda não demora muito e então eu bato com força contra o chão da floresta abaixo. Solto um gemido, atordoada e confusa, sentindo uma dor aguda em minha mão direita. Analisando melhor, com a pouca luz que a lua fornece, percebo um corte profundo atravessando a palma de minha mão. Para meu espanto, o sangue que escorre livremente do corte está misturado com lama, suor, grama e outras coisas que nem faço questão de saber no momento.
- Inferno. - Xingo, enquanto me apoio na espada, que graças aos céus não se perdeu durante minha queda, e me forço a levantar.
Ele precisa de mim, ele precisa de mim, ele precisa de mim. Repito mentalmente, enquanto, indo contra todo o meu bom senso e contra todos os ossos e músculos de meu corpo, levanto-me e volto a correr.
Por incrível que pareça, a queda acabou me deixando mais próxima da entrada da caverna. Tropeço para dentro do espaço apertado, rastejando em desespero em direção aos gritos dele.
- Por favor, por favor. - Imploro, tentando rastejar mais rápido e causando-me muitos outros machucados por todo o meu corpo no processo. Ao final do túnel, ponho-me de pé e irrompo no amplo espaço central da caverna úmida e escura. Olho ao redor e o vejo.
Katherine Abaixo minha cabeça e deixo que as lágrimas corram pelo meu rosto. A verdade é que eu não queria que nada de ruim acontecesse, eu só queria cavalgar um pouco fora dos muros do castelo, mas tudo deu errado no momento em que minha égua, Pandora, avistou os lobos. No início eram dois, mas conforme fomos galopando a toda velocidade, tentando retornar para a segurança do interior do castelo, a qual tanto quis deixar, muitos outros foram se juntando aos primeiros. Quando me aproximei dos muros de pedra, foi que o inferno começou. Os guardas de meu pai estavam a postos, me procurando, e imediatamente me cercaram, lutando contra os lobos e tentando impedir que eles se aproximassem de mim. - Freya. – Ouço o grito desesperado de minha mãe. Olho para os portões que se abrem lentamente e a vejo c
Katherine No final do dia, encontro-me parada nos limites da floresta, sentada na beira do túmulo de algum estranho qualquer, junto com Alicia Ferri, minha melhor amiga desde que eu cheguei na cidade. - E o que você disse? - Ali está empoleirada na lápide do tumulo ao meu lado. Não faço ideia de quem está enterrado aqui. Será que a pessoa ficaria irritada por ter duas estranhas sentadas em seu lugar de descanso? - Ela saiu meio que correndo. - Ela me oferece o baseado que está fumando, mas, como tenho planos para a noite, preciso manter minha mente clara, então recuso com um aceno de cabeça e me concentro em uma flor murcha no tumulo ao lado. - Acho que você precisa ser honesta com ela. Diga a Boonie que você a ama, mas apenas como amiga. - Alicia dá mais uma tragada e depois sorri. - Aproveita para deixar claro que você
Katherine Minha avó continua acariciando meu rosto até que meu pai chegue. Ele está brabo, muito brabo, e seus olhos estão frios enquanto ele me olha. O rei avança pelo recinto até que pare em minha frente. Por alguns segundos, temo que ele vá me bater, mas ele apenas cai de joelhos e me pega pelos ombros, olhando-me atentamente em busca de algum machucado. - Onde está a mamãe? - Assumindo a postura de rei, Filipe não diz nada, mas a tristeza evidente em seus olhos quando ele se afasta me faz ter certeza de que nunca mais a verei. As portas de carvalho da sala do trono se abrem novamente, mas desta vez é tio Jonas e tia Celine, irmã gêmea de minha mãe, que entram. Olho para as mãos de minha tia, ela está carregando meu manto de viagem. - Não. - Meu pai se levanta e começa a se afastar, vi
Alicia Desde que Lorenzo contou a Katherine que é o herdeiro de Lallybroch, o clima parece ter ficado ainda mais tenso. Kat não confia em vampiros, o que em si já teria feito com que a viagem se tornasse meio que uma guerra fria, mas, após o anúncio de Lorenzo, o clima parece bem pior, motivo pelo qual ninguém falou nada nas horas que se seguiram. Ao anoitecer, depois de horas na estrada, parando apenas para que eu e Kat comecemos alguma coisa e para abastecer o carro, nos estalamos em um pequeno hotel de beira de estrada, sujo e encardido, para passarmos a noite. O humor de Katherine está horrível, percebo, enquanto nós cinco entramos no mesmo quarto. Por algum motivo, os meninos acharam que nos separar seria arriscado, mas, fala sério, eles acharam mesmo que Kat ficaria confortável com a presença frequente deles ao nosso redor? &nb
Alicia Aos poucos, recupero minha consciência e olho para os lados, tentando me orientar. Está escuro e eu estou deitada de lado no chão de uma floresta. Tudo o que eu vejo é um céu estrelado, a lua cheia e as copas das árvores balançando no vento frio. Ele sopra com mais força e me sinto grata por alguém ter colocado um casaco de frio em mim. - Como você está? - Katherine, que está deitada atrás de mim, puxa meu ombro levemente para que eu fique deitada de costas. - Tudo inteiro? - Ela apoia a cabeça na mão e me encara, mais séria do que jamais a vi. - Estou bem. - Suspiro, aliviada quando percebo que ela trocou de roupas e limpou o sangue de seu rosto. - E você? - Ela ri, mas a conheço tempo o suficiente para saber que, por trás da risada, Katherine está sofrendo, e muito, pela morte de Boonie e, talvez, por ter que voltar para Lorien. &n
Katherine - Olhe para mim, Freya. - Minha tia pega meu rosto entre as mãos e limpa minhas lágrimas com a ponta dos dedos. - Vai dar tudo certo, querida. Estou aqui com você. - Ela beija o topo da minha cabeça e me abraça com força. Já faz dois dias que nos mudamos para viver entre os mundanos a mando de meu pai, mas, apesar de todos os esforços de minha tia, não consigo me sentir confortável, esse lugar simplesmente não é meu lugar. Não estou comendo, conversando ou dormindo nesses últimos dias, pois, toda vez que fecho meus olhos, a imagem de minha mãe sendo morta por um lobo volta a minha mente. Minha mãe. Abaixo a cabeça e novas lágrimas escorrem pelo meu rosto. Quando eu tinha pesadelos, ela dormia comigo na torre onde eu estava, me levava para ver as estrelas a noite escondida de meu pai, fazia tranças em meus cabelos e me fazia cócegas quando
Katherine Depois de dormir por algum tempo, acordei com Alicia sacudindo meus ombros e declarando que os guardas do palácio haviam chegado para nos acompanhar pelo restante do caminho. Desde então, não vi mais os herdeiros de Lallybroch. Quando começamos a subir o aclive da montanha onde o castelo de Ravengarden se encontra, ajeito-me na sela do cavalo que estou montada, desconfortável com a longa viajem que fizemos desde a floresta. Ainda estamos rodeados de pinheiros altos e antigos dos dois lados, mas conforme vamos avançando montanha acima, vou vendo o castelo, coberto de neve e em toda a sua glória. Lentamente, o cavalo chega aos portões, que são abertos apressadamente, e passa por eles. Com certa dificuldade, desço do cavalo que estava montada e olho para os lados. Nada mudou, ainda é o mesmo castelo imenso, feito inteiramente de pedra escura e cerc
Katherine Estou terminando de arrumar minha maquiagem quando a porta do quarto abre e Alicia entra, como uma tempestade. Ela está deslumbrante, com uma maquiagem leve, um vestido azul turquesa que vai até os joelhos e um salto agulha da mesma cor. - Nossa, acho que nunca vi você tão arrumada. - Elogio, enquanto dou um passo para trás analiso meu trabalho. Nunca fui boa em fazer um delineado gatinho perfeito, mas esse se superou entre todos os que eu já fiz. - Nossa, obrigada. - Ela entra, fecha a porta e marcha em direção as portas do closet anexo ao quarto. - Uau. - Ela solta um gritinho ao sumir pela porta. - Já escolheu o que vai vestir? - Entro no closet e a vejo parada em frente aos muitos vestidos pendurados. Nego com a cabeça e vou para o lado de Alicia, passando as mãos por um vestido de renda azul. É assustador, não escolhi uma peça s