Katherine
- Qual é o seu problema? - Já em frente à porta de meu quarto, viro-me para Lorenzo, irritada com a forma como ele se comportou na cozinha.
Depois de desafiar Gustavo, como se estivesse marcando território e deixando claro que não gosta dele, Lorenzo me pegou pelo braço e praticamente me arrastou pelo castelo até aqui, sem dar maiores explicações durante todo o percurso.
- Gustavo não é de uma boa família, você precisa ficar longe dele. - Ergo uma sobrancelha, perplexa com suas palavras.
Gustavo não é de uma boa família? Como isso poderia ser possível? O pai dele faz parte do concelho de meu pai, o rei de Ravengarden, seu irmão é o chefe dos guardas do castelo e sua mãe morreu quando ele ainda era um bebê, então como podem ser pessoas ruins?
- Você é um idiota mesmo, sabia? - Ele ergue um
Katherine Embora inicialmente eu tenha sido contra a ideia de Alicia, Gustavo e Eduardode vir até o vilarejo durante a noite, visto que sei que é terminantemente proibido que eu saia do castelo, não importando a hora, acabei concordando com eles, levemente animada com a ideia de voltar ao local que visitei apenas uma vez, em companhia de minha mãe e Antônia. Foi durante uma das viagens de meu pai para caçar, quando eu tinha cinco anos, que elas me trouxeram até aqui e foi um dos dias mais felizes da minha vida, embora eu não lembre em detalhes. Comemos, rimos, brincamos e elas me mostraram como era a vida fora dos muros do castelo. Desde então, desejei ardentemente não ser mais a princesa de Ravengarden, queria ser apenas uma daquelas crianças que corriam felizes pelas ruas empoeiradas. Ao contrário do castelo, todo o vilarejo mudou bastante, de tal forma
KatherineTrês dias se passam sem que o ocorrido na boate Egnel seja mencionado e nos quais Lorenzo e Gustavo fazem o possível para me evitar, temendo que eu os questione novamente sobre o desafeto que há entre eles. Desafeto este que, ao que parece estar ligado a Alyae que, talvez, seja intensificado pela minha amizade com Gustavo. Alicia, por outro lado, tem passado mais tempo comigo do que antes de virmos para a ilha, mas sou grata por isso, pois ela me mantém em constante movimento, sempre ocupada e distraída. Hoje, no entanto, há algo maior que Alicia não consegue tirar de minha mente. Hoje é o Baile de Primavera, evento que com certeza está entre os maiores e mais pomposos realizados no castelo de Ravengarden, então terei que ter uma paciência e uma aparência impecáve
KatherineNa porta, vestindo um manto de veludo azul noite com estrelas desenhadas, segurando um cetro de ouro com um enorme rubi na ponta, com uma barba enorme digna de Dumbledore e profundos olhos cinza, está um senhor que eu avaliaria com, digamos, sessenta anos de idade? Um pouco mais, talvez. O senhor parece aqueles vovôs bonzinhos, que distribuem doces para seus netos e os levam para passear no parquinho, mas seu sorriso parece largo demais, brilhante demais, parece falso demais, e o poder que exala dele... Acho que nunca estive perto de uma criatura tão poderosa antes. Algo em mim, ou talvez a mão de Antônia, que aperta mais a cada segundo, grita perigo, e se eu não estivesse presa ao chão como todos ao meu redor, estaria correndo o mais rápido possível para longe desse ser que nos encara, um
BoonieEnquanto Merlin e eu cavalgamos de volta para o castelo de volta ao castelo de clã Mocadem, tentou me manter firme, sem demonstrar nada, mas é praticamente impossível, visto que mesmo com os olhos fechados, tudo o que vem a minha mente é o rosto de Katherine e Alicia. Minha amizade com Alicia sempre foi uma amizade meio estranha. O elo que nos mantinha unidas, a pessoa que nos apresentou e praticamente fez com que nos tornássemos um grupo, foi Katherine. Desde o início, nossa vida girou ao redor dela, ao redor da princesa de Ravengarden, mesmo antes de eu saber que ela era uma princesa. Desde que me tornei uma lobisomem, muitas das minhas lembranças foram embora, como se minha vida antiga não fosse bem vinda em minha nova eu... Merlin disse que, aos poucos, todas voltaram. Algumas delas, como, por
Katherine- Isso é totalmente inaceitável. - O pai de Gustavo, um membro corpulento que aparenta estar próximo dos cinquenta anos, fecha o punho e golpeia a superfície da mesa com força, sobressaltando-me. - Como pôde nos escapar que Merlin ainda vive? Ou melhor: como ele e aquela lobinha sarnenta ultrapassaram nossas defesas e entraram no castelo intactos? - Lobinha sarnenta? Franzo o cenho em sua direção, não gostando nem um pouco da forma como ele se referiu a Boonie, mas não falo nada, pois a última coisa que quero é chamar a atenção deles para mim. - Mas e a rainha de Lallybroch, Antônia? - Questiona o membro sentado ao seu lado. Mais sábio, percebo. - Se a rainha do clã de Lallybroch morrer aqui, nas nossas terras e sob a proteção do nosso clã, e
Katherine O quarto onde Antônia foi colocada é o antigo quarto de minha mãe e, para meu espanto, continua idêntico a como era na última vez em que estive nele. Os mesmos livros nas estantes, os mesmos artesanatos horríveis que fazíamos juntas espalhadas pelas superfícies e pinturas de nós duas cobrindo as paredes de pedra. Mas o cheiro está diferente. Ao contrário do cheiro de flores que enchia o ar quando Celeste vivia aqui, um odor forte e pungente de álcool, sangue e algo que lembra desinfetante permeia o ar, deixando-me tonta assim que entro no cômodo abafado. Como sou a última a entrar, fecho a porta atrás de mim, mas me arrependo quase imediatamente, pois o quarto está sendo iluminado apenas por duas velas que cercam o leito de Antônia, deixando o ambiente meio assustador. - Certo, acho que preciso lhes dar algumas satis
Katherine Assim que todos saem do quarto, sento-me mais perto de Antônia, arrumando as cobertas ao seu redor para que ela fique o mais confortável possível enquanto... Bem, enquanto descansa. Por alguns instantes, ficamos apenas ali, sentadas frente a frente, sorrindo uma para outra. Antônia provavelmente está me encarando, como que tentando ver minha mãe através de mim, ao passo que só consigo pensar no quanto queria ter mais tempo, mais tempo com Antônia, com minha mãe, mais tempo para todos que perdi, mais tempo com a minha Boonie. - Então... - Ajeito-me na cama, passando os dedos pelas marcas de sangue seco que ainda mancham a saia azul de meu vestido, o sangue de Antônia... N]ao, não posso pensar nisso agora. - Você é
Katherine - O que? Você só pode estar ficando louca. - Levanto-me da cama e começo a andar em círculos pelo quarto. - Como assim? Como você falou, não existem mais magos, então... - Pare de andar tão rápido, está me deixando tonta. - Antônia reclama, jogando a cabeça para trás e fechando os olhos novamente. Para não piorar a situação da vampira, empurro as pesadas cortinas de veludo para o lado e saio para a varanda, grata pelo ar gelado que bate em meu rosto e agita minhas roupas e meus cabelos. Respiro fundo e fecho os olhos, tentando clarear a mente e pensar de forma coerente. A vista daqui de cima é linda. Consigo ver um pedaço do labirinto, os portões da frente e a encosta íngreme que é