— Que gente mais detestável! Falar mal do próprio chefe pelas costas... — Francisco exclamou indignado, mas, fora do campo de visão de Mônica, lançou um olhar discreto para as duas empregadas. — Vocês ainda não estão arrumando as coisas para ir embora? As duas, sem coragem de retrucar, saíram apressadas, quase tropeçando, para empacotar suas coisas. Mônica começou a organizar o balcão e lançou um olhar de desprezo para Francisco. — Sr. Francisco, você deveria parar de escolher as pessoas só pela aparência. Beleza externa não significa nada se a pessoa não tem caráter. — Ei, não fui eu que escolhi! Foi o Eduardo! — Francisco respondeu rapidamente, jogando toda a culpa no amigo. Mônica riu com desdém, sem acreditar nele. — Eu conheço o Sr. Eduardo. Ele jamais faria algo tão idiota. — Isso é confiança cega! — Francisco retrucou, fingindo indignação, mas logo mudou de foco. Ele se aproximou de Emma com uma expressão de falsa tristeza. — Emma, você viu isso? A Mônica está me t
Vendo que não tinha como escapar, Mônica não teve escolha a não ser se virar para encará-lo. Seu sorriso saiu um pouco forçado.— Sr. Rubem, quer comer uma maçã?— Quero.Mônica não esperava uma resposta tão direta, e, sem ter como recuar, pegou uma faca para descascar a fruta. A situação estava insuportavelmente constrangedora. Se soubesse que ficar com Rubem seria tão desconfortável, ela jamais teria concordado em ir até ali com Francisco. A cozinha ficou silenciosa por um tempo, até Rubem romper o clima tenso: — Mônica, você está me evitando por causa do que aconteceu da última vez?Nas últimas semanas, a falta de contato entre os dois havia deixado Rubem incomodado. Ele sentia falta das conversas que tinham, mas, por causa de sua condição, não podia simplesmente ir até a empresa para vê-la. Ao ouvir a pergunta, Mônica imediatamente se lembrou daquele beijo no banheiro. Seu constrangimento só aumentou. — Não é isso. É que a empresa está cheia de coisas para resolver, e, al
— Você deveria sair de vez em quando. Ficar trancado em casa o tempo todo não faz bem. Mônica começou a falar, e quando ela começava, parecia não ter fim. Parecia uma mãe preocupada, mas Rubem não achava irritante. Ele comia a maçã calmamente enquanto ouvia, sentindo um estranho conforto ao ouvir a voz dela. Ele ainda preferia que ela fosse assim, sem evitá-lo. Quando Mônica finalmente terminou sua sequência de conselhos, Rubem falou com naturalidade: — Se você está tão preocupada, por que não se muda para cá? — O quê? — Eu gosto da sua comida. — Não, não! Eu tenho muita coisa para fazer! — Mônica respondeu rapidamente, percebendo o que ele queria dizer. — Eu prometo contratar um chef que cozinha melhor do que qualquer estrela Michelin. Rubem sabia que ela ainda estava evitando sua presença. Ele franziu as sobrancelhas, visivelmente incomodado. — Eu não exijo nada sofisticado. Só me importo com o sabor. Mônica não conseguiu segurar a risada. — Fala que não é exigen
— Sr. Francisco, eu só perguntei, pare de imaginar coisas. — Mônica respondeu, revirando os olhos. — Ah, Srta. Mônica, se você gosta do Gustavo, é só admitir! — Francisco arqueou as sobrancelhas com um tom provocativo. — Gustavo pode ser um pouco mais velho, mas ele não tem nenhum vício, é educado, e ainda por cima é ex-militar. Um homem com um histórico exemplar. — Militar? — Mônica ficou surpresa e, como se tivesse ligado algumas peças soltas, olhou para Francisco em busca de confirmação. — Você está dizendo que o Sr. Gustavo foi militar antes de entrar para o mundo dos negócios? Francisco, vendo a reação dela, ficou intrigado e exibiu um sorriso malicioso. — Nossa, ser militar é algo tão impressionante assim? Não me diga que você tem um tipo... É fascinada por militares? A mente de Mônica ficou confusa. Se Gustavo realmente havia sido militar, isso coincidia com as informações de Gabriel. Será que Gustavo era o pai de Gabriel? Mas, se isso fosse verdade, quem seria a mãe
— Você está bem? — Emma perguntou ao ver Francisco balançar a cabeça, indicando que sim. Sem dizer mais nada, ela pegou os vasos e entrou no apartamento. Mônica se aproximou de Francisco e deu dois tapinhas solidários no ombro dele. — Sr. Francisco, você ainda vai encontrar uma garota melhor. Agradeço, em nome do meu irmão, pela sua ajuda. Francisco fez uma careta, com a expressão cheia de frustração. — Eu sou tão bonito, e essa foi a primeira vez que uma garota me rejeitou. — Ah, meus pêsames. — Mônica disse, mas o sorriso malicioso no rosto dela era impossível de esconder. — Tente ser rejeitado mais vezes, assim você vai se acostumar e não ficar tão triste. Francisco ficou sem palavras, olhando para ela com indignação. Quando voltaram ao apartamento, Emma já estava ocupada no terraço, plantando as rosas nos vasos. Depois de terminar, ela pegou o celular para tirar algumas fotos e pesquisar sobre o tipo de fertilizante ideal para as flores. Assim que viu as informações sob
Ao terminar de falar, Mônica sentiu que algo estava errado. Instintivamente, olhou para trás e viu Rubem segurando uma xícara de café quente. Ele a observava com as sobrancelhas levemente arqueadas, sentado na cadeira de rodas, claramente se divertindo com a cena. — Essa... Essa porta... — Mônica começou a se justificar, mas, ao perceber o cartão na própria mão, ficou sem saída. — Tá bom, eu entrei com o cartão. Rubem deu um leve sorriso, sem pressa, e perguntou: — Você não disse que tinha contratado empregados para mim? — Os empregados da agência de limpeza não foram muito bem treinados. Achei que eles não cuidariam de você como deveriam. — Mônica respondeu, enquanto colocava as sacolas de compras e as duas rosas que trouxera na bancada. Ela ergueu um dos vasos com as rosas e, com uma expressão meio embaraçada, acrescentou: — Ah, Sr. Rubem, seu milhão e seiscentos mil... Digo, suas rosas. — Ela corrigiu rapidamente. — O lugar onde moramos é muito pequeno. A Emma pediu para
Rubem virou a cabeça e percebeu que Mônica não tinha nenhuma cerimônia enquanto comia, claramente aproveitando cada mordida com satisfação. Ao vê-la tão à vontade, ele também deixou de lado a sua postura rígida. O caldo, que por si só era simples, ganhou um sabor especial ao ser cozido com os miúdos de porco. Cada colherada quente aquecia o estômago e surpreendia o paladar com um gosto reconfortante e delicioso. — Está bom. — Rubem arqueou as sobrancelhas, surpreso. Era a primeira vez que comia um prato assim, e estava muito melhor do que ele imaginava. Além disso, ele reconheceu que Mônica tinha talento na cozinha. Mônica, ao receber o elogio, abriu um sorriso satisfeito. — É claro que está! Eu treinei... Mas, no meio da frase, ela parou. Pensando bem, para que explicar isso? E se Rubem achasse que ela estava tentando ganhar a compaixão dele? Imediatamente, ela encerrou o assunto e voltou a comer, como se nada tivesse acontecido. Rubem franziu a testa, intrigado. — O quê?
Rubem viu Kelly caminhando em direção à sala de reuniões e empurrou a cadeira de rodas para segui-la, mas não entrou. Através da porta entreaberta, ele conseguiu enxergar Mônica, que estava em pé ao lado da mesa, apontando para a projeção do retroprojetor enquanto explicava algo com firmeza. Ele a observou em silêncio. A silhueta dela parecia ainda mais delicada naquela posição. Mônica usava um vestido de tricô ajustado, de tom bege claro, que destacava sua postura elegante. O cabelo estava preso de forma prática, deixando seu rosto bem definido e realçando seus traços refinados. Ela emanava uma aura fria e imponente, com uma confiança cortante em cada movimento. Era o retrato de uma profissional de sucesso. Rubem não pôde deixar de comparar com a Mônica de meses atrás, tão serena e até um pouco submissa. Agora, ela exalava autoconfiança e orgulho, características que ele mesmo ajudara a cultivar nela. Ao vê-la comandar a reunião com tanta determinação, Rubem sentiu algo raro: um