— Quem seria? O irmão dela, Marcos? — Francisco perguntou, antes de continuar. — Descobri que o Marcos anda frequentando clubes privados com o vice-presidente do Grupo Pimentel, o Frederico. Com certeza eles estão tramando alguma coisa. Gustavo franziu o cenho e ficou em silêncio por alguns instantes antes de responder com a voz baixa: — O Grupo Pimentel parece calmo na superfície, mas todos nós sabemos o que está acontecendo nos bastidores. E o Rubem também sabe. — Parece que uma tempestade está prestes a chegar. — Eduardo suspirou. — Sem contar os lucros da filial de Nova York, o Grupo Pimentel tem uma avaliação de mercado superior a bilhões. E Rubem, mesmo sendo apenas filho adotivo de Conrado, possui a maior parte das ações. É claro que os três irmãos de Conrado não aceitam isso. — Se quer saber, Rubem deveria ter sido mais duro desde o começo. — Disse Francisco. — Só o que Marcos e Virgínia desviaram de dinheiro do Grupo Pimentel e a venda de informações confidenciais já s
Francisco ficou com um aperto no peito. Ele entendia bem o que Eduardo queria dizer. Lembrava-se perfeitamente de como Rubem era quando se conheceram: fechado, inacessível, talvez até mais difícil de lidar do que o próprio Gustavo. Mas, com o tempo, à medida que conviviam mais, Rubem começou a relaxar, e um ou outro sorriso passou a surgir em seu rosto.Lembrou-se de um episódio específico, no aniversário de 28 anos de Rubem. Francisco, como sempre, aproveitou para provocar: — Rubem, você já tem essa idade e nada de esposa ou filhos? Como vai ser, hein? O que vai fazer com essa fortuna de bilhões? Rubem deu um sorriso de canto e respondeu com a calma de sempre: — Eu nem sei de onde vim. Casar seria apenas um peso para outra pessoa. No dia em que eu me casar, será por interesse, não por amor. Diferente de Rubem, Gustavo, apesar de ser o mais velho do grupo e de ter uma personalidade sombria, tinha a segurança de um sobrenome poderoso. Para ele, casar ou não era irrelevante, um d
O corte no rosto ainda doía um pouco e, sem sono, Mônica decidiu ir até o carro pegar o notebook para continuar resolvendo pendências. Se não fosse por estar substituindo o presidente, ela nunca teria ideia de como essa posição era exaustiva. Relatórios intermináveis, números que precisavam ser analisados, reuniões intermináveis e convites para coquetéis, jantares beneficentes e eventos corporativos... O dia parecia não ter horas suficientes, e a agenda já estava lotada até o próximo ano. Agora ela entendia o quão pesado era o trabalho de Rubem. Depois de responder alguns e-mails, Mônica suspirou profundamente, esfregando o pescoço dolorido com as mãos. Quando desviou o olhar para a cama, viu o homem deitado ali, tão imóvel e silencioso. Um aperto tomou seu peito, e seu nariz começou a arder, como se fosse chorar. Desde o acidente de carro, já havia se passado quase quinze dias. Ela havia resolvido praticamente tudo relacionado ao Grupo Pimentel, mas Rubem ainda não havia acord
Francisco acenou para ele, sorrindo e exibindo os dentes brancos. — Rubem, bem-vindo de volta! Ao ver os dois ali, Rubem logo entendeu a situação. — Não era para ainda não ser o momento? — Após quase quinze dias desacordado, sua voz saiu rouca, mas firme como sempre. — Por que usaram o antídoto agora? — Desculpe, Rubem. Houve uma emergência, eu não tive escolha. — Eduardo respondeu com seriedade. As pernas de Rubem ainda estavam sob o efeito do medicamento, o que deixava os nervos temporariamente paralisados. Eduardo ajustou a cama para que ele ficasse sentado e colocou um travesseiro atrás de suas costas. Quando Rubem levantou o braço, seus dedos roçaram algo macio e levemente áspero. Era cabelo. Olhando para baixo, viu alguém debruçado na beirada da cama. Metade do rosto estava à mostra, com um corte profundo e a carne ainda exposta, deixando um aspecto assustador. — É a Mônica. Ela ficou preocupada com você e decidiu permanecer no hospital. — Eduardo explicou ao notar
— Cada um faz suas escolhas. Uns querem uma vida tranquila, outros querem brilhar. Mônica é do primeiro tipo. — Eduardo disse, com um tom firme. — Ela acha que o acidente foi culpa dela e, por isso, carrega uma culpa enorme. Então, com tudo isso acontecendo no Grupo Pimentel, ela está se sacrificando para proteger a empresa por você. Rubem, já pensou no que vai acontecer se um dia ela descobrir que tudo isso foi parte do seu plano? Que você a enganou? Como acha que ela vai reagir? As palavras de Eduardo eram afiadas, atingindo Rubem como uma faca. O rosto de Rubem ficou sombrio, como se uma tempestade estivesse se formando dentro dele. Por algum motivo, só de imaginar Mônica descobrindo que tudo aquilo tinha sido calculado por ele, que ela havia sido manipulada, ele sentiu como se algo dentro de si estivesse desmoronando. O peito apertou, a dor era sufocante, como se alguém tivesse agarrado seu coração com força. Ele, que sempre navegou com frieza no mundo dos negócios, manipulan
Desde o acidente, Mônica finalmente conseguiu ter uma boa noite de sono, tranquila e revigorante. A única coisa estranha era que a cama parecia um pouco apertada, como se estivesse dividindo o espaço com alguém. Ao abrir os olhos, a primeira coisa que viu foi o teto branco e sentiu o cheiro característico de desinfetante. Foi então que percebeu que estava deitada na cama do hospital. Ao lado dela, estava Rubem. As cobertas dos dois estavam tão próximas que não havia nem uma fresta entre elas. Mônica ficou completamente atordoada. Como foi parar na cama dele? Nessa proximidade inesperada, ela notou detalhes que não havia reparado antes: a barba por fazer, com pequenos pontos azulados no queixo, o pescoço alongado, o pomo de adão ligeiramente saliente, que parecia estranhamente atraente. Ali, deitado, ele mais parecia um príncipe adormecido, tranquilo e quase perfeito. Sem perceber, Mônica ficou encarando o pomo de adão dele por um bom tempo. Aquilo parecia um botão, pequeno e
Rubem percebeu pela voz dela que algo estava errado. Provavelmente ela estava pensando sobre a condição de suas pernas. Ele soltou um "hm", mas não disse nada. Durante o café da manhã, foi Mônica quem falou praticamente o tempo todo. Ela comentou sobre os assuntos da empresa, sobre como Conrado estava preocupado com ele. Rubem teve que se segurar para não rir. Ele não havia contado a Conrado sobre o acidente, mas conhecia bem a esperteza do pai. Era provável que Conrado já tivesse percebido que tudo fazia parte de um plano. Caso contrário, ele não teria dado suporte a Mônica na empresa, nem permitido que ela assumisse o cargo de presidente interina. — Sr. Rubem? — Mônica chamou sua atenção. Rubem estava perdido em seus pensamentos, mas ela, imaginando que ele havia percebido a falta de sensibilidade nas pernas e estava se sentindo deprimido, apressou-se em dizer. — O médico disse que a falta de sensibilidade é temporária. Suas pernas vão melhorar. Rubem, por um momento, teve vo
— Pode. Mônica queria dizer algo, mas, nesse instante, o telefone tocou. Era Kelly. O Grupo Pimentel tinha muitas questões a resolver, e Kelly sempre lidava com tudo com eficiência. Para estar ligando agora, certamente era algo urgente. Mônica atendeu. — Kelly, o que foi? — É difícil explicar pelo telefone, Presidente. Melhor a senhora vir para a sede o quanto antes. — Certo. Estou a caminho. Era estranho ser chamada de "Presidente" por toda a empresa, já que era apenas interina. Sempre sentia que aquele cargo era grande demais para ela. Ao desligar, lembrou-se de que Rubem já estava acordado. Se havia um problema, ele deveria resolvê-lo. — Sr. Rubem. — Ela olhou para ele no leito, hesitou e então continuou. — Kelly ligou agora. Aconteceu algo na empresa... O senhor quer... — Do jeito que estou, não tem como eu ir. — Rubem já sabia o que ela queria dizer e a interrompeu. — Cuide de tudo. Eu confio em você. Só de imaginar Rubem indo até a empresa em uma cadeira de