— Que estranho, uma simples tradutora ter sido chamada para esta sala de reuniões. — A mulher ao lado de Patrícia comentou, a voz baixa, mas carregada de sarcasmo. — Agora é isso? Qualquer um entra aqui?Mônica ergueu os olhos, sem pressa, e encarou a mulher. Confirmou: era Rebeca Pimentel, prima de Rubem.Mônica também não estava nada satisfeita. Já tinha deixado claro para Rubem que, mesmo que ele trouxesse alguém da filial de Nova York, ela não queria se envolver com aquele problema. Mas, no fim, aqui estava ela, sendo chamada para uma reunião de chefia.— Gerente Rebeca, quanto tempo. — Mônica sorriu ao cumprimentá-la, com aquele tom que misturava leveza e provocação. Não suportava gente que falava com ironia, como se fosse dona do mundo. — Pois é, o departamento de tradução agora tem duas representantes aqui. Eu, sinceramente, achei que não tinha competência para estar em um lugar como este, mas, sabe como é, recebi um e-mail pessoal do chefe. E, sendo uma simples funcionária, não
Phineas fez uma leve reverência para todos na sala: — Conto com a colaboração de vocês a partir de agora. — Sr. Rubem, isso não é apropriado, não acha? — Rebeca finalmente se recuperou do choque e quebrou o silêncio. — A filial Horizonte Oriental é tão diferente do Grupo Pimentel... O senhor traz alguém diretamente de lá sem sequer fazer uma avaliação? — Justamente por conhecer bem a competência dele é que o trouxe direto da Horizonte Oriental. — Rubem respondeu com um sorriso leve, mas o olhar era frio e insondável. — Assim como João reconheceu a sua capacidade. Rebeca entendeu o recado imediatamente. Seu rosto ficou ligeiramente pálido. — Além da questão do novo ministro do departamento de tradução, há outra coisa que preciso informar a todos. — Rubem anunciou, lançando um olhar pela mesa. Por um breve momento, pareceu que seu olhar parou em Mônica antes de continuar. — Atualmente, o Grupo Pimentel conta com apenas um departamento de secretariado, mas o volume de trabalho
O Regulators era praticamente a segunda mão de Rubem, um cargo que representava poder absoluto dentro do Grupo Pimentel. Quem estivesse ali teria acesso irrestrito à empresa e seria a extensão da autoridade dele. E agora, esse lugar era de Mônica? Que absurdo era aquele?Rubem, com a calma de sempre, perguntou: — Você tem alguma objeção à minha decisão? — Chefe Rubem, Mônica não tem caráter! Ela não merece esse cargo! — Patrícia, completamente tomada pela indignação, nem tentou disfarçar. Tirou um pendrive da bolsa e o conectou ao notebook. Em poucos segundos, as imagens começaram a ser projetadas na tela. Era um vídeo de Mônica na noite anterior, em uma sala reservada, jogando cartas com Ronaldo e outros homens. A gravação era nítida, e o rosto de Mônica aparecia claramente. No vídeo, a voz dela era ouvida com clareza: — Sr. Ronaldo, já apostei tudo, inclusive a mim mesma. O que você vai colocar na mesa? Só dinheiro não parece suficiente, não acha? — Sr. Marcelo, que tal v
Patrícia desabou na cadeira, os olhos arregalados, o rosto completamente pálido. Como aquilo era possível? Ela sempre se certificava de ser discreta, cuidadosa, meticulosa... Então, como aquelas imagens foram parar nas mãos de Mônica? De onde ela conseguiu esses vídeos?— Você tem coragem, hein? Se meter nos assuntos das filiais de outras regiões? — Rebeca virou a cabeça e olhou sombriamente para Patrícia. Ela não esperava que essa mulher fosse tão descuidada e estúpida a ponto de ser pega.— Eu... Eu... — Patrícia gaguejou, completamente perdida, incapaz de formular uma frase coerente. — Eu sei que errei, mas... Mas... A voz dela tremia. Tentava desesperadamente encontrar algo para dizer que pudesse amenizar a situação, talvez até salvar seu emprego. Contudo, antes que pudesse continuar, Rebeca, com os olhos estreitos de raiva, ergueu a mão e desferiu um tapa forte no rosto de Patrícia. — Cale a boca! Depois de fazer uma coisa dessas, você ainda tem coragem de abrir a boca? Patr
Bem na hora em que as portas do elevador se abriram, Mônica, que estava encostada nelas, perdeu o equilíbrio e caiu para trás.Rubem estendeu a mão e segurou-a.Os dedos dele estavam frios, mas ele a puxou de volta para dentro do elevador com firmeza, garantindo que ela ficasse de pé. Foi rápido. Em menos de dez segundos, ele já havia retirado a mão de forma educada.Mônica ainda estava atordoada.Rubem apertou o botão do andar e, com a voz calma, disse:— Mônica, considere isso como um favor ao Vitor. Você disse que não acredita que ele morreu por acidente, então lute por justiça por ele.Naquele instante, Mônica soube que seu instinto estava certo. Vitor era cuidadoso demais para morrer de um infarto só porque passou algumas noites sem dormir. Havia algo estranho por trás disso.— Sr. Rubem, o senhor sabe de alguma coisa, não sabe? — Perguntou ela, virando-se para encará-lo.— Saber não significa que eu possa resolver. — Respondeu ele, com um olhar profundo e frio. — A situação do Gr
O escritório era enorme. Dentro dele havia uma copa, um banheiro privativo, uma sala de descanso e outra para a diretoria. A sala do gerente usava vidro inteligente, que ficava embaçado com o apertar de um botão, impedindo que alguém de fora visse o que acontecia lá dentro. A porta também era independente e só abria com cartão de acesso. Além disso, era completamente à prova de som. Enquanto ouvia Kelly explicar tudo isso, Mônica não conseguiu segurar o comentário: — Isso aqui parece uma prisão. Que complicação! — O Departamento de Reguladores cuida de assuntos de todo o Grupo Pimentel. O Sr. Rubem leva isso muito a sério. — Respondeu Kelly, entregando a Mônica um cartão de acesso azul-escuro. — Diretora Mônica, este é o seu cartão. Ele dá acesso a todos os departamentos da empresa, inclusive ao seu escritório particular. Os cartões dos outros funcionários do seu departamento têm permissões limitadas e não abrem a porta do seu escritório. Se precisar ajustar algo, é só me avisar.
— Mas esse negócio é muito complicado! — Disse Emma, ajustando os óculos enquanto analisava. — Esse departamento parece poderoso, podendo fazer o que quiser dentro do Grupo Pimentel, mas a empresa é cheia de disputas internas. Eu estou aqui há menos de dois meses e já sei que existem dois grandes grupos: o do João e o do Breno. Se você realmente for investigar alguma coisa, pode acabar pisando no calo deles. E se algo acontecer com você, o que vai fazer? Emma parecia bastante insatisfeita. — O Sr. Rubem parece um cara decente, mas, no fundo, ele é um manipulador, né? — Por mais difícil que seja, eu preciso fazer. — Respondeu Mônica, sem demonstrar muita preocupação. — De qualquer forma, o Sr. Rubem não vai voltar para a filial de Nova York. Se algo der errado, ele que vai segurar as pontas. — E as entrevistas, como foram? Mônica apertou os lábios antes de responder: — Os currículos são excelentes, e eles têm muita habilidade. Mas, como são todos do Grupo Pimentel, escolhi s
Não por acaso, Mônica deu de cara com Leopoldo na entrada do prédio da empresa.— Mônica. Leopoldo a olhou com um misto de surpresa e hesitação. O terno cinza-claro, feito sob medida, destacava perfeitamente o corpo esguio dela. O cabelo, preso de forma impecável, e as mãos parcialmente nos bolsos davam-lhe um ar sofisticado, quase intimidador. Alta, elegante e imponente, ela parecia outra pessoa. Por um instante, um brilho de admiração passou pelos olhos dele. Fazia pouco mais de um mês que haviam se divorciado, mas, de alguma forma, ela parecia ter se transformado. Mais forte, mais atraente, mais... Inalcançável. — Sr. Leopoldo. — Mônica inclinou levemente a cabeça em um cumprimento contido, mas educado. Casados por apenas um ano, era inegável que havia restado algo entre eles. Embora ela tentasse esconder, o reencontro fazia seu coração apertar de leve, como agulhas finas espetando por dentro. Quando Mônica tentou passar por ele, Leopoldo, quase por reflexo, colocou-se em s