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CAPÍTULO 1 - TUDO O QUE SEI É QUE NADA SEI

ASSIM QUE CHEGUEI NA GRÉCIA... – pois a máquina estava programada para esse ser o seu primeiro destino (no ano de 490 a.C), parei em uma das encostas, sem saber onde estava, fui até uma praça e percebi que estava na Grécia.

Acabei chegando a uma pequena praça, onde tinha um senhor muito simpático pregando seus ensinamentos, ele me puxou carinhosamente no colo.

–– Como você se chama pequenina? – Perguntou ele.

–– Sofia...

–– Mas que nome lindo... – ele deu um sorriso encantador – Sofia... significa "saber", muito prazer... me chamo Sócrates, e esse é meu aluno e amigo, Platão – ele apontou para um jovem extraordinariamente belo, com cabelo longos escuros e um rosto angelical – ele é um jovem artista de teatro, está se interessando por filosofia...

–– Você é Sócrates? – Perguntei a ele – Uau! Meu pai sempre me conta histórias sobre você!

–– Quem é seu pai, Sofia? Se ele sabe tanto sobre mim, eu devo conhecê-lo também...

–– Meu pai é um cientista – respondi inocentemente – esse momento era o maior sonho de sua vida – conhecê-lo... – mas ele está muito longe.

Sócrates deu um sorriso acolhedor e pediu para ficar no canto com o filho dele e com a sua esposa, enquanto ele terminava a sua aula.

Fomos para a sua casa logo em seguida.

Perguntei:

–– Você não tem outro filho? – Já que meu pai sempre contou certa vez que ele tinha dois filhos e não apenas um... – ele me respondeu que tinha apenas um filho até onde ele sabia... - e todos riram na sala, até mesmo eu – ele era muito engraçado e tranquilo.

Ele me pediu para ficar com eles – já que o sonho deles era ter uma filha, mas depois de certa idade, eles não podiam mais ter filhos – assim fui adotada por ele – sendo a sua segunda filha – e ensinada por Sócrates e Platão a escrever e a arte do teatro.

PLATÃO ERA MUITO TÍMIDO – a princípio – mas depois que ele pegava intimidade, era muito agradável, era um jovem muito esforçado, anotava tudo quanto Sócrates falava, vi diversas vezes Sócrates o exortar por aquilo, já que ele não gostava que registrassem as suas falas, pois não queria ser como os sofistas que cobravam por seus ensinamentos, na verdade... aquilo era uma verdadeira guerra intelectual.

Sócrates sempre prevalecia contra eles por ensinar de graça ao povo, enquanto os sofistas, apesar de muito inteligentes, ministrava aulas apenas à um pequeno grupo de jovens ricos da Grécia, foi muito boa a minha infância, praticamente eu e Platão crescemos juntos.

FIQUEI OITO ANOS SENDO a filha de Sócrates, aprendi tudo com ele, ler, escrever, ética... ele era um homem que prezava demais pela ética, era muito correto em tudo, vivia nos ensinando que:

"Quem obedece as leis é justo, e quem desobedece é injusto"

Por muito tempo achei aquilo um pouco ridículo, ele falava que "o que é legal é justo" – afinal, jamais concordei com escravidão, o que era algo legal na Grécia –, mas mesmo assim, eram pessoas maravilhosas.

Comíamos verdadeiros banquetes nas casas das pessoas, pois sempre depois de uma aula na praça, nobres da cidade nos convidavam para irmos até seus palacetes para almoçar, é lógico que em outras vezes, almoçávamos em casas humildes, nem sempre era um verdadeiro banquete, mas era muito bom estar ali com pessoas muito acolhedoras.

Quanto mais Sócrates ficava conhecido entre o povo pela sua intelectualidade e seu conhecimento, mais aquilo irava os políticos daquela época, já que, eles sempre vinham querer discutir com Sócrates e eles sempre falava algo que os perturbava...

"Tudo o que sei... é que nada sei..."

Era muito bom ver a cara deles, ele ficava questionando as pessoas, tipo um show de entrevistas, Platão chamava aquilo de maiêutica, que significa ter um parto de ideias, eu realmente não sei de onde eles tiravam uns nomes tão estranhos, mas era engraçado ver aqueles homens saírem bufando de lá com tanta raiva, ele era extraordinário.

Apesar de nunca ter ido lá, ele sempre comentava sobre o oráculo de Delfos, que tinha uma coisa escrita lá que dizia... "conhece-te a ti mesmo", e essa era a sua filosofia, uma filosofia de autoconhecimento, nós aprendíamos mais com a gente mesmo do que com ele, ele apenas nos ensinava a buscar a verdade dentro de nós mesmos, mas de que jeito ele fazia isso... isso nem me pergunte como...

Foi muito triste vê-lo sendo acusado injustamente, e dizendo para gente...

"É preciso que os homens bons cumpram as leis más, para que os homens maus respeitem as leis sábias..."

Talvez se ele tivesse deixado um pouco a teimosia de lado e deixado Platão advogar em seu lugar, já que Platão era muito influente, Sócrates não se misturava muito com política, mas Platão estava sempre no meio deles, mas ele não quis, disse que sabia se defender sozinho. Se ele não pudesse provar a sua inocência, nenhum outro o poderia fazer, talvez tenha sido o único momento de orgulho que o vi fazer, todos sabiam que os juízes tinham sido comprados, mas ele era muito inocente para acreditar que a justiça era cega e corrompida.

Quando ele foi acusado, passou os últimos momentos com a gente, me disse que apesar de ser uma filha adotiva, era uma filha gerada em seu coração.

Ele bebeu a "sicuta" e depois morreu.

NUNCA TINHA CHORADO POR ALGUÉM em minha vida, mas aquele era um momento muito especial para aprender que na vida nem tudo é justo.

Saí correndo, Platão até tentou vir atrás de mim, mas o físico não era muito o seu forte. Falei para ele que nos veríamos em breve, ele acenou se despedindo de mim, com uma mão no joelho e a outra acenando.

Voltei ao barril que o tinha escondido muito bem em uma caverna na praia, ele estava intacto, apenas liguei o relógio e fui parar em Mileto...

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