As luzes da cidade deserta distorcem seus reflexos por entre as águas da chuva que caem torrencialmente em uma noite fria de outono. Próximo ao centro, em uma esquina de construções do século XIX onde um dos prédios com três andares chama a atenção pelo seu estado de deterioração. No terceiro andar, em uma janela que tem a visão da avenida principal, um quarto escuro está iluminado apenas pelos flashes de ferozes relâmpagos e pelo neon do bar Trago Nosso De Cada Dia, dentro do cômodo é possível ver uma corda com nó de forca pendurada acima do batente superior da porta e apenas o vulto de Arthur Flammer sentado à beira da cama olhando pela janela a chuva cair incessante na noite fria com seu rosto paralisado recebendo as cores rosa, verde e branca do neon, um ambiente propício para executar seu último ato, aquele que encerrará o ciclo de sua passagem por estas bandas, uma atitude difícil que o coloca em conflito interno, o temor de estar errado bate de frente com a certeza de que será melhor colocar um ponto final diante de uma situação que se apresenta findada há algum tempo. Na cômoda ao lado da cama um Mini System toca em volume máximo a música de Alice in Chains – Man In The Box, inflamando seus nervos dando a ele o combustível necessário para consumar o ato.
A vida nunca foi e nunca será fácil para ninguém, Arthur sabe bem disso, contudo seus últimos anos tiveram sobre cargas emocionais que o despedaçaram, se tornou retraído se isolado da sociedade, perdeu a esperança no homem e em si mesmo, viu em um pedaço de corda a solução para tudo e para todos, afinal, há um bom seguro de vida em seu nome onde uma cláusula garante o pagamento mediante morte causada por doença psicológica, ele já tinha em suas mãos um atestado de depressão que garantiria o recebimento de cem mil reais com sua morte. Seus beneficiários seriam sua filha Sophia e seu filho Fernando e finalmente parte do que considerava uma falha culposa seria resolvido.
Arthur se levanta e mais um clarão de relâmpago lhe ilumina o rosto cansado de amarguras e indecisões coberto parcialmente por uma extensa barba grisalha desmantelada e pelos igualmente longos cabelos da mesma cor. Caminha lentamente agora ao som de Mad Season – Artificial Red, à medida que vai se aproximando da forca percebe os estrondos mais densos, os trovões mais constantes como se festejassem o que estava por acontecer, subiu em um banquinho de madeira e segurou a corda com as duas mãos, ficou ali por alguns segundos, sentiu algo apertar-lhe a boca do estômago e dar um nó. Um tremor percorreu lhe pelo corpo inteiro finalizando com um calafrio e não conseguiu entender se aquilo tratava-se de uma voz ou apenas a sua mente, ecoando em sua cabeça ouviu as palavras. “_Isso não é para você.”
Naquele momento Arthur desabou em lágrimas sem receio de berrar seu choro como uma criança desesperada, aos poucos foi descendo do banquinho e já no chão, deitou em posição fetal e seguiu chorando por algumas horas uma dor intensa e interna que vinha do fundo de sua alma. Sentia-se mais inútil do que antes, um homem fracassado que se quer tinha a competência de tirar a própria vida. Cansado e desgastado emocionalmente ele fechou os olhos e adormeceu.
Poucas horas depois o dia amanheceu e Baxter, seu gato cinza e barulhento tentou acorda-lo com miados incessantes pedindo por ração, sem sucesso, o pequeno felino e único verdadeiro amigo de Arthur o lambe no rosto e esfrega sua cabeça peluda na mão dele. Lentamente o homem acorda, sente dores por todo o corpo e cada vez que olha encarando o gato recebe um longo miado de volta, como se fosse uma bronca. O homem se levanta gemendo de dor, suas costas e as articulações estralam, a noite estava fria e ele usava apenas uma cueca recebendo toda a friagem da noite, lhe causando pigarro e tosse. Foi se escorando pelas paredes até o banheiro, tomou um remédio para dor muscular que estava dentro do armário embutido do espelho e após se higienizar pegou sua bengala para escorar um joelho fraturado em seguida partiu para a cozinha onde colocou ração para seu amigo esfomeado, o lugar estava escuro pela pouquíssima iluminação natural, as paredes e móveis de todo o apartamento estavam escuros como se estivessem sujos ou engordurados por vários dias, entretanto, esta situação parecia não afetar Arthur, era como se tudo estivesse perfeitamente normal ou talvez ele já estivesse acostumado com tal situação. Em seguida sentou-se na cama com sua toalha de banho caída em seu colo. Com vergonha de si mesmo olhou para o pedaço de corda pendurado no batente da porta, olhou em volta e viu seu celular na cama, desanimadamente pegou o aparelho e deu uma olhada nas notificações, coisa que não fazia há dias e entre os avisos de sms da sua operadora havia uma mensagem de sua netinha Sheila, de dois dias atrás:
“_Vovô! Estou com saudades, te amo muitão.”
Aquela mensagem mexeu com o emocional de Arthur novamente, e suas lágrimas voltaram a cair, ficou ali olhando pela janela o tempo nublado num cinza triste e pensando que caso tivesse consumado o que pretendia na noite anterior jamais a sua netinha teria a chance de matar essa saudade que estava sentindo.
Decidido, levantou-se com a habitual dificuldade, retornou ao banheiro e ligou o chuveiro, colocou o barbeador no suporte do sabonete e enquanto tomava um banho quente aproveitou para fazer a barba, saiu do banho e vestiu-se, a roupa simples de sempre, calça jeans, uma camiseta amarela clara com o rosto de Jim Morrison estampada e uma jaqueta preta. Foi para a cozinha e fez um café forte, bebeu observando seu amigo Baxter que estava dormindo no assento de uma cadeira. Quando se deu por conta já era quatro e quinze da tarde, ele percebeu o quanto ficara inerte em meio a uma paralisia mental e física que o transformara em uma espécie de morto-vivo. Tomou o último gole do café e retornou ao quarto, pegou seus documentos, sentou-se em sua escrivaninha e rasgou uma folha de um pequeno caderno de anotações, ao lado estava o bilhete de despedida referente ao seu ato não consumado, ele olhou por alguns momentos e como uma flecha pegou o papel amassou e jogou no lixo. Na folha limpa escreveu um novo bilhete, este para sua vizinha e admiradora Sra Vânia, pedindo a ela que cuidasse de Baxter enquanto ele estivesse fora.
Arthur pegou seus documentos e o bilhete, ao passar pela cozinha afagou o felino rajado.
_Ei amigão, logo retornarei. – O gato o encarou e miou alto. _Pare de reclamar caso contrário a Vânia ficará com medo e não virá cuidar de você.
Antes de sair pela porta pegou seu chapéu panamá preto que estava pendurado ao lado do batente, saiu e trancou a porta, colocou a chave embaixo do capacho do lado de fora, pegou o bilhete e colocou embaixo da porta do apartamento de Vânia, antes que entrasse no elevador a porta do apartamento da vizinha se abriu e ela surgiu com o sorriso de sempre, os olhos castanhos estavam perdidos na escuridão do hall, ela se esforçava para tentar enxergar.
_Oi Vânia, preciso me ausentar por alguns dias e pensei se talvez você... – Antes que ele completasse a frase ela foi até a porta de seu apartamento e se agachou, viu o bilhete embaixo do capacho.
“_Querida amiga, estarei ausente nos próximos dias, se não se importar, gostaria que cuidasse do meu companheiro Baxter, a ração está em um pote em cima do armário da cozinha, hoje ele já tem o suficiente,
Muito obrigado, ao retornar lhe aviso imediatamente!”
_Sim, sim, claro, pode deixar que cuidarei do Sr. Baxter. – Comentou guardando o bilhete no bolso de seu shorts e segurando o molho de chaves do apartamento dele, sem olhar para Arthur ela entrou e fechou a porta, no mesmo instante que o elevador apitara avisando sua chegada.
Muito sem jeito, afinal ele não esperava encontra-la naquele momento, ele foi entrando no elevador e pensando.
“_Acho que ela não gostou nenhum pouco do favor que pedi, nem olhou para minha cara.”
De tanto que Vânia escancarava seus sentimentos, aos poucos ele foi deixando um carinho crescer em seu coração e já estava à beira de se render as investidas dela a única coisa que ainda impedia isso de acontecer eram suas lembranças e sentimentos passados que o corroíam lentamente por dentro.
A caminhada até a rodoviária teve um certo ar de incômodo, ao mesmo tempo que Arthur não queria conversar com ninguém, ele achava estranho ninguém tentar falar com ele ou ao menos acenar-lhe ou quem sabe dar um alô, era como se as pessoas estivessem estagnadas em um universo paralelo afetadas pelo clima triste de um dia acinzentado e chuvoso. Ao final das contas Arthur achou melhor assim, pois caso encontrasse alguém a fim de papo certamente faria perguntas indiscretas começando sobre “como ele estava se sentindo naquela tarde” até “para onde está indo?”, “o que irá fazer lá?”, esta indiscrição comum entre as pessoas o afetavam negativamente, jamais soubera lidar com tal comportamento social e coletivo. Baixou a aba de seu chapéu escondendo seu rosto na esperança de caminhar os seis quarteirões até a rodoviária sem ser reconhecido por ninguém.
Ao chegar no terminal intermunicipal percebeu que o local estava estranhamente vazio, um deserto, as lojinhas fechadas, os guichês de vendas de passagens igualmente com as portas abaixadas e nenhum ônibus. Se aproximou de um dos guichês onde estava um papel afixado no vidro de atendimento, e leu.
“_Devido a pandemia do Covid-19 estaremos fechados ao atendimento público atendendo ao isolamento social imposto pela prefeitura. Acesse nossa página na internet e informe-se como adquirir sua passagem e os horários das viagens.”
Tal informação arrasou com os planos imediatistas de Arthur, há muito tempo não usava o sistema de internet e nem tinha equipamentos para usar redes sociais. Foi até os bancos de espera da plataforma de embarque onde só haviam pombas ciscando pelo pátio de estacionamento dos ônibus, sentou-se em um dos bancos e observou a garoa caindo insistentemente. Quando pensou em se levantar um estrondo lhe chamou a atenção, um motor de ônibus com barulho grosseiro e um escape de ar dos freios que parecia um apito de fábrica, Arthur deu um salto do banco, o veículo que aparentava ser fabricado em 1960 de cor azul e branco parou na plataforma seis, a última do pátio de embarque, com uma freada brusca respingou água para todo lado, imediatamente outro escape de ar e a porta se abriu dando um baque. Arthur pensou que o ônibus iria se desmanchar a qualquer momento, era um modelo da Viação Meteoro e percebeu que no letreiro estava escrito o destino, São Paulo, coincidentemente era seu destino também, após alguns instantes de tensão desceu um jovem com boné preto que levava na parte frontal acima da aba a letra U e o número 2 grandes em vermelho. Esse detalhe logo lhe chamou a atenção pela familiaridade com o adorno, o rapaz também usava uma camiseta branca com um símbolo no peitoral esquerdo, era o símbolo do ômega sublinhado na cor vermelha, e esta camiseta era incrivelmente familiar também. Arthur percebeu imediatamente que aquele jovem rapaz tinha algo de estranho ou fenomenal e para tirar qualquer dúvida ou até mesmo aumentar seu espanto, percorreu rapidamente com olhos pela costura da calça jeans que ele usava e encontrou a etiqueta da marca jeaneration. Ele ficou por alguns momentos estático em uma mistura de choque com surpresa, afinal em tempos passados era exatamente com estas roupas que se vestia, e se lembrava bem por que era uma das vestimentas que mais gostava de usar, a mesma calça com a mesma camiseta da Sea Club e o boné preto que levava o nome de sua banda favorita, o U2. Uma sequência de relâmpagos e trovões esbravejaram por todo o céu chuvoso fazendo com que Arthur em um reflexo fechasse os olhos por alguns instantes e quando fixou novamente o olhar no ônibus já não encontrou mais aquele jovem, olhou assustado no entorno da plataforma e não viu nem vestígios do rapaz, entendeu que definitivamente aquele dia não estava sendo dos mais normais e já começou a se preocupar com o que mais poderia acontecer nas horas seguintes. Uma pisada forte nos degraus do ônibus lhe chamou a atenção tirando-o de seus pensamentos acinzentados. Desta vez surgiu um homem aparentando ter seus trinta anos de idade corpo esguio a ponto de curvar a coluna para poder andar dentro do ônibus, cabelo bem penteado à base de gel formando um topete avantajado, usava uma camiseta lisa preta com um blazer igualmente preto, calça jeans semi-bag e sapatos pretos bem engraxados exalando um brilho que chamou a atenção de Arthur.
_Boa noite meu caro! – O homem cumprimentou Arthur sem descer o último degrau, com uma das mãos se segurou no corrimão da escada e com a outra acenou. _Vamos! Suba logo, ou iremos nos atrasar.
Arthur estava completamente perdido, nada fazia sentido.
_Deve estar enganado, eu não tenho passagem... – Antes que terminasse suas explicações o homem o intimou.
_Ora! Deixe de conversa fiada e entre logo. – O anfitrião do transporte estava animado, falava com uma voz rouca e grande sorriso amarelo no rosto. _Você não está indo para a selva de pedra?
_Como? – Por alguns instantes Arthur ficou perdido em sua compreensão do que estava acontecendo.
_A selva de pedra, a grande metrópole, São Paulo!
_ A sim, claro!
_Então não perca tempo, venha logo, este é o último da linha se perder não poderá mais ir resolver seus assuntos. – O homem falou e entrou no ônibus, ainda no topo da escada arqueou-se e olhou pelo para-brisa, acenou para Arthur chamando-o para dentro.
Ainda muito desconfiado Arthur se aproximou e iniciou sua escalada pela escada, o motorista de pele escura estava carrancudo em seu uniforme de camisa branca e quepe de chofer preto, suas sobrancelhas lembravam duas taturanas cabeludas, ele apenas fitou Arthur sem dizer nada ou fazer algum gesto, entrando pelo corredor do ônibus viu o anfitrião sentado no primeiro banco logo atrás do motorista e uma meia dúzia de pessoas espalhadas pelos assentos, o dia cinzento de chuva e a cobertura da plataforma de embarque tornavam o interior do ônibus escuro e sombrio. Arthur respirou fundo e iniciou sua caminhada pelo corredor, mas logo teve a sua atenção solicitada pelo anfitrião que em um gesto pediu que ele se sentasse na poltrona oposta à dele, do outro lado do corredor, muito provavelmente para que pudessem conversar. Sem jeito de negar o convite, Arthur sentou-se e se acomodou colocando sua pequena mala no banco ao lado, olhou pela janela e enquanto observava a chuva pensava no rapaz que era praticamente sua cópia da juventude e no que aquele homem tanto queria.
Após alguns chacoalhões pelas estreitas ruas da cidade o antigo modelo Meteoro finalmente cai na estrada, ele segue a 100km/h cortando uma densa névoa que substitui temporariamente a chuva. Arthur sente as pálpebras pesarem, o cansaço da tensa noite anterior parece ainda estar massacrando seu corpo, sente dores e desconforto muscular principalmente ao redor do pescoço, por vezes se esquece de tudo quando fixa o olhar pela paisagem escura da noite e sua mente segue em viagem para outros lugares e épocas, neste momento de início da jornada seus pensamentos o remetem a uma lembrança ímpar com sua filha. Arthur se vê em um quarto de hospital com sua esposa Claudia, eles eram obviamente mais jovens e pareciam ansiosos, sua esposa sentada no leito ainda com a camisola que tinha o logo do Hospital e maternidade Santa Casa de Misericórdia, o casal conversa sobre um assunto qualquer sem importância
Ele ficou ali estarrecido, confuso e aturdido com tudo que estava presenciando, sentiu o coração bater à boca, um frio na espinha delatava seu medo. Ofegante andava de um lado para outro tentando entender ou encontrar uma resposta razoável sobre tudo que estava acontecendo. virou-se para olhar o ônibus e a lanchonete, viu que seus companheiros de viagem estavam retornando para o veículo em fila indiana. Ele se aproximou e ficou frente à frente com Helvis. _O que está acontecendo? _Ora! Uma viagem para São Paulo. – A resposta foi cínica. _Você sabe que não é a isso que me refiro. _Tudo se trata dessa
O tempo na lanchonete de beira de estrada parecia uma eternidade, o cheiro da gordura de fritura já começara a embrulhar o estômago de Arthur aumentando seu mal-estar psicológico e físico. O atendente se aproximou do balcão, Arthur estava de cabeça baixa, entretanto sentiu a presença do funcionário da lanchonete e antes que este lhe perguntasse o que iria comer ou beber ele se antecipou ao pedido. _Uma dose de Whisky por favor. – Antes que o atendente se afastasse ele completou. _E sem gelo por favor. _Bêbado!A voz rouca e acentuada veio do seu lado esquerdo. Arthur já sabia a quem pertencia aquela voz funesta, ergueu os olhos lentamente para confirmar e constatou o que sua percepção já lhe antecipara, era o Chofer._Me de
Uma forte pontada no frontal de sua cabeça o faz acordar, era a ressaca de uma garrafa de whisky, estava deitado ocupando dois bancos do ônibus, por alguns momentos sentiu-se perdido até que conseguiu sentar-se e erguer a cabeça com sua visão alcançando a estrada pelo para-brisa. Para seu desespero, além daquele sentimento horroroso de ressaca que já não sentia há mais de quinze anos, percebeu que tudo seguia como antes, uma estrada úmida, escura e embrenhada em uma névoa sem fim. _Seja bem-vindo de volta meu caro. Aquela voz rouca parecia rachar seu cérebro ao meio, como quando se engole uma bola de sorvete inteiro de uma só vez. _Não enche.&
Sentindo sua energia se esvair, Arthur está exausto na plataforma de embarque da linha vermelha na estação Praça da Sé do metrô sentido zona leste de São Paulo. Esgotado, sem forças para se mexer, sente mãos rígidas o pegarem pelos dois braços e imediatamente ele percebe seu corpo ser erguido e em seguida é colocado sentado de volta em um dos bancos. Ao abrir os olhos, Arthur vê que se trata de dois seguranças do Metro. _O senhor está bem? – Um deles perguntou de forma simpática e preocupada. Buscando se encontrar nos fatos Arthur deixa escapar um sorriso amarelo. _Não sei dizer, acho que estou sim.&n
Uma semana antes da fatídica viagem de Arthur ao mundo sobrenatural, os dias seguiam insuportáveis, seu tédio e depressão o amarravam no quarto deixando-o isolado do restante do mundo em um profundo poço escuro e sem fundo. A imersão no silêncio caótico é quebrada pelo ruído de arranhões na porta de vidro da sacada, Arthur contrariado se levanta da cama e vai suportando a dor latejante de seu joelho direito atender a um pedido de socorro, se arrasta pelo quarto levando consigo as dores do corpo e a tontura de uma forte ressaca que por vezes o visitara nos últimos dias. Chegando próximo a sacada o som das arranhadas ficam mais intensos e um miado longo deixa claro quem está fazendo aquele alarde, era Baltazar, seu amigo cinza. Arthur abriu a cortina de cor vinho que deixava o ambiente da sala em penumbra, a claridade afetou-lhe os olhos.&n
Uma brisa gélida toca o rosto de Arthur que acorda preguiçosamente, sente as pálpebras pesadas e um sentimento de “ter que abrir os olhos contra a própria vontade”, o cansaço o dominava por completo adicionado a um amargor na garganta e um pontada sequencial na parte anterior da cabeça, metade de sua consciência insistia em despertar e seguir em frente a outra o forçava a fechar os olhos e continuar em sono profundo. A brisa se transformou em um vendaval repentino que assustou Arthur fazendo-o dar um salto e ficar sentado no banco de madeira, ainda sonolento e agora sentindo uma ansia, percebeu que estava em frente a um restaurante de beira de estrada, mais precisamente na saída da cidade de Barueri-SP, era fim de tarde no crepúsculo as nuvens do horizonte estavam pintadas com manchas escarlate, ele ficou ali contemplando aquele raro momento de paz quando um piar de gavião o trouxe para a realida
Fortes solavancos chacoalham os passageiros do Meteoro bruscamente de um lado para outro, o Chofer mantém sua total atenção na estrada com os olhos esbugalhados e o suor escorrendo em seu rosto; a tempestade os alcança e o vento por vezes tenta empurrar o ônibus para fora da rodovia, à frente troncos de árvores caem no meio da pista obrigando o Chofer a mostrar todo seu talento ao volante, suas mãos seguram o volante com firmeza e segurança e alavancado pelos longos braços que correm por cima da direção realiza curvas precisas de um lado a outro com a precisão de motoristas dublês em filmes de ação, desviando de um lado para outro, tirando fina dos obstáculos e do guardrail. Arthur apesar de estar em desespero assim como todos ali, ele fica por um momento paralisado, como se sonhasse acordado olhando para o nada, sua mente viajava por toda a sua linha tempora