O cheiro de café invadiu suas narinas, aos poucos Amélia foi acordando, esticando os braços em busca do homem com quem dividia sua vida. Mas não encontrou ninguém.Se sentou encostada na cabeceira da cama, não parecia ser muito tarde. No criado mudo havia uma caneca de café, e um de seus post-it cor de rosa. Ela costumava usá-los para se lembrar de certas tarefas.Amélia esticou o braço e pegou a caneca, com o pedaço de papel. O líquido ainda estava quente, então não fazia muito tempo que ele trouxe o néctar dos deuses para ela. O bilhetinho era fofo, uma faceta nova dele que ela estava adorando.“Bom dia, minha pequena. Estou louca para te ver maravilhosa hoje a noite. Você é linda, minha incrível noivinha.”Um sorriso bobo cruzou seus lábios, ele era um homem incomparável. A cada dia que passava, se sentia mais apaixonado por ele. Imaginava seus dias, seu futuro ao lado dele. Não havia nada em sua vida que não tivesse a presença de Ícaro.Amélia ouviu seu celular vibrar. Pegou o ap
O dia foi cheio, com muita correria. Depois de tomar café juntos, Ícaro se despediu para ir resolver algumas coisas com Alberto no apartamento dele. Amélia tinha hora marcada no Spa Genevieve, onde iria se arrumar para a festa da Acrópole. O motorista levou e esperou por ela a tarde toda, além de dois seguranças que viraram sua sombra depois do que aconteceu no deque do tríplex.Quando saiu do spa, mal se reconhecia no espelho. A última vez que ficou em um spa de beleza tinha apenas quinze anos, e era seu aniversário.Todo aquele cuidado, massoterapia, banho de imersão em água de papoulas e leite de rosas, máscaras faciais, hidratação intensa; tudo aquilo era tão maravilhoso que se sentiu uma rainha.Ela não podia pagar por todo o pacote que incluía cabelo, manicure e maquiagem. Mas Ícaro fez questão de agendar e pagar para ela como um presente de boas vindas como arquiteta.A caminho de casa já estava sentindo um friozinho na barriga. Esperou muito por esse dia e queria que tu
O escritório estava na penumbra. Acendeu as luzes e caminhou até a mesa de carvalho. Se sentou na cadeira alta e macia, pronta para revisar sua apresentação.Se lembrava de deixar os papeis dentro de uma pasta na primeira gaveta da mesa, mas quando foi pegar a mesma, seu braço esbarrou em uma pasta preta que estava sobre a mesa.Seus olhos pousaram sobre uma pasta escura embaixo de alguns documentos.Alguns papeis saiam para fora dela, e em parte deles era visível um pedaço de uma imagem que parecia de jornal ou revista.O sangue ficou congelado em suas veias. Uma mão masculina, com um anel único, feito sob encomenda. Reconheceria aquele anel mesmo que estivesse com cem anos.O pedaço da imagem era do braço de Fernando, ele usava o anel de família herdado por seu avô. Suas mãos gélidas e trêmulas tocaram a pasta, puxando-a para cima.Amélia fechou os olhos por alguns instantes.“Por favor, por favor, que não seja isso! Tudo menos isso!”Uma dor de cabeça nauseante tomou conta dela, enq
- Olhe, essa nunca foi a minha intensão. – Ícaro passou a mão pelos cabelos irritado. – Eu te queria, porra! Eu te quero como eu nunca quis alguém na minha vida. Mas você parecia querer ver o diabo do que a mim.Amélia baixou os olhos, ela tinha culpa nisso também. Mas o que estava sentindo era tão desesperador que nada do que ele estava dizendo importava. Ele encobriu tudo, enganando facilmente a idiota apaixonada.- Nunca vou permitir que ele se aproxime novamente de você.- Você não pode prometer nada. Não o conhece, não sabe do que ele é capaz. Mesmo que tentasse se concentrar no motivo que levou Ícaro a investigá-la, sentia-se desolada por ter seu passado assim exposto como uma veia pulsante e inflamada à sua frente. Ele abaixou-se e segurou suas mãos, seus olhos eram intensos, injetados de raiva e irritação. Parecia um animal enjaulado.Seria estranho que um homem na posição dele não revirasse a vida da pessoa com quem se envolvia, burrice até para ser sincera.Se fosse qualq
ÍcaroO silêncio dentro do carro era sepulcral, o abismo entre eles aumentava a cada segundo. Ela estava encolhida no canto, abraçando o próprio corpo em uma postura defensiva.Ícaro previu esse cenário muitas vezes, mas não imaginava uma reação tão frustrante da parte dela. Pensou que Amélia ia ficar puta de raiva, ia explodir, gritar com ele ou bater em seu peito, acusa-lo de ser um maldito idiota controlador.Mas essas palavras não vieram, e aquilo que ela enterrava era mais perigoso do que o que ela deixava sair. Prova disso foi a mudança de identidade e a constante busca pelo anonimato.Só de olhar para ela tinha vontade de voltar para casa e amarrá-la em sua cama, porque uma coisa era certa; Amélia estava pensando profundamente no que fazer agora que sua verdadeira história foi exposta dessa maneira.Ela não faria nada que deixasse Samanta na situação difícil em que estava. Não se orgulhava disso, mas estava vetando todas as tentativas de Alberto de saldar a dívida daquela mulhe
AméliaNão sabia quem era o homem com quem estava dançando, ele fazia muitas perguntas e se aproximava demais do corpo dela. Absorta em se afastar dele, não percebeu o burburinho que começou no salão.Até que levantou os olhos para encerrar a dança e encontrou aquela figura ameaçadora. Ícaro caminhava a passos largos e firmes na direção dela, seus olhos consumiam o mundo inteiro, ele estava com raiva, com muita raiva.Era como um predador correndo em direção a um pobre antílope que abriu fuga.Amélia sentiu o pânico arrepiar sua pele. Tentou se afastar para sair rápido dali, mas o idiota com quem estava não soltava sua cintura e sua mão.- O que houve? Eu estou te entediando? – ele perguntou com um sorriso estranho.- Eu sinto muito, mas preciso ir.- Mas começamos a dançar a pouco tempo, esperava ficar mais tempo com você. – o homem continuava segurando sua mão.Amélia deu dois passos para trás e um puxão para se libertar.- Eu disse que preciso ir! Se virou rapidamente para correr
Parecia surreal, seu nome sendo chamado ao anunciarem o vencedor, os aplausos acalorados, o cumprimento polido de Ícaro e seu sorriso ensaiado ao entregar a ela a pequena estatueta de cristal.Ela, a garota que lavou banheiros e foi garçonete por anos, se tornou alguém relevante a ponto de ganhar o Prêmio Revelação Arquitetura do ano. Amélia apertou o vidro do podium de apoio, sem saber o que dizer. A diretoria olhava em sua direção com sorrisos de aprovação, várias pessoas tinham curiosidade e surpresa em seus rostos. Buscou em sua mente palavras inspiradoras, mas nada vinha à cabeça. Somente a voz zombeteira de Fernando que soprava o prenúncio do desastre. “Logo todos saberão que você está dormindo com o chefe, e então vão atribuir esse prêmio a sujeira que você representa!”O ar comprimia seus pulmões, o vestido justo no corpete aprisionava seu corpo, ela não conseguia respirar. As pessoas começaram a sussurrar e olhar para ela, enquanto alguns fotografavam sutilmente seu fiasco
ÍcaroObservando sua mulher conversar com uma das diretoras da holding, ele percebeu que ela tinha um talento natural para representar algo que ela estava longe de sentir. Amélia sorriu encantadoramente, uma linda estrela em ascensão. Somente ele sabia a verdade. Ela estava devastada, com medo e arrependida de ter se metido nisso. Procurava maneiras de evitar ser descoberta e se sentia traída por ele. Ícaro sorveu o scoot com gelo de uma vez. Sentiu Vitório se aproximar das suas costas antes que ele pronunciasse uma palavra. - Pega leve, está parecendo um ex obsessivo. – ele comentou, olhando para sua taça de champagne francês. - Hoje não é um bom dia para suas provocações. Vá cuidar da sua mulher, que da minha cuido eu.- Ela é um diamante bruto, mas tenho que admitir que sua lapidação está indo muito bem. – ele comentou, seguindo o olhar de Ícaro. – Se ela fosse uma Darius seria inalcançável. - Não posso fazer isso ainda. – respondeu pegando mais um copo de bebida sobre a mesa