A volta para casa foi realizada na mesma metade do tempo que André chegou até o hotel. Mesmo com a minha vida num constante perigo, consegui dormir, e fiquei contente quando acordei algum tempo depois de ter amanhecido e me dei conta de que não havia sonhado com Átila. Pelo menos ele havia deixado de ser intrometido e de entrar nos sonhos dos outros.- Quer que eu dirija? - pergunto, sentando direito no banco. André havia passado o restante da noite em claro, sua fisionomia era de que se ele encostasse em qualquer lugar, dormiria em poucos segundos.- E matar nós dois? Reviro os olhos.- Você não vai esquecer, não é?- Não.- Isso acontece mais do que você imagina - Ele me olha com a expressão cansada.- A gente já tá chegando, mesmo assim, obrigado - diz passando a marcha. E ele estava certo, cerca de meia hora depois, estávamos na comunidade, precisamente em frente a casa de Átila, esperando o portão abrir por completo.
Acabei indo para o único lugar que ainda podia ir: a casa de André. Me sentia uma completa arrependida, enquanto esperava Rita abrir a porta e depois o portão. Pelo menos, ela fingiu surpresa ao me ver.- Aconteceu alguma coisa? - pergunta ao sair na calçada.- Mandei o acordo que tinha com o Átila pro inferno. Ela suspira.- A gente já sabia que isso não iria acabar bem, Bruna. Só não sabia como dizer á você. Claro que todo mundo já sabia, menos eu, que pela primeira vez na minha vida, tentei ser otimista o suficiente em relação a alguma coisa. Odiava quando me decepcionava e isso acontecia com mais frequência, pelo fato de eu odiar. Acreditei que Átila era diferente pelo comportamento dele e o modo de se expressar. Acreditei que da mesma forma que estava florescendo sentimentos mais profundos em mim, estaria também nele. Não conhecia muitas pessoas que transavam com outras e não construiam um certo vínculo
As vezes me pegava pensando, o por quê que todo recomeço era difícil? Por que era tão difícil recomeçar? Rodrigo havia alugado um pequeno apartamento longe do centro, cerca de uma hora. O condomínio não chegava perto do que ele estava acostumado, assim como a família dele. Entretanto, era o que cabia no bolso dele. O prédio não tinha elevador e por ter cinco andares, precisávamos subir quatro lances de escada. O apartamento tinha dois quartos, quartos estes menor do que havia na casa de Rita. Em um, só cabia uma cama de casal e um guarda-roupa não muito grande e no outro, duas camas de solteiro e duas cômodas. O banheiro era mais pequeno ainda, igual a cozinha, que com duas pessoas, já ficava difícil a movimentação. Olhando por outro lado, era perfeito para um casal sem filhos ou até mesmo uma pessoa. Até animais de estimação, na minha opinião, não demorariam para ficar estressados. A vista da sala não era lá essas coi
A medida que o dia amanhecia, as pessoas que estavam no interior da boate, íam embora. No final, sempre sobrava meia dúzia, que já estavam na quarta saideira. Quando finalmente o bar fechava, ainda tinha a segunda etapa que era limpar tudo e deixar organizado para a noite. Ao meu lado, Rodrigo contribuía na organização para podermos ir embora o mais rápido possível. Volta e meia, me lançava um olhar e um meio sorriso disfarçado, sem parar o que estava fazendo. Me sentia mais cansada do que o habitual, quando terminamos. Atribuí minha fadiga aos dias que não trabalhei e minha falta de jeito, sentia que havia perdido e que demoraria para reconquistar.- Pronta pra ir? - Rodrigo pergunta, quando deixamos o bar.- Só vou pegar minhas coisas - Entro no banheiro me adiantando em trocar de roupa, sentindo um mal estar repentino. Em menos de dez minutos, troco de roupa e jogo uma água no rosto, tentando fazer com que o mal est
Tive que fazer diversas pausas durante a noite toda, mal conseguia me manter de pé e atender os clientes. Em uma das pausas, não aguentei voltar a trabalhar e acabei ficando no banheiro, com a sensação que morreria a qualquer instante, ao sentir os batimentos do meu coração cada vez mais baixa. O dia amanheceu e aos poucos o vestiário começou a encher, algumas funcionárias trocavam de roupas rapidamente, não querendo perder o coletivo ou uma carona. Sabia que precisava levantar e sair dali, mas não tinha forças.- Vocês viram a Bruna? A barman do bar? - Ouço Nádia perguntar, ouço umas respostas negativas e apenas uma positiva.Nádia se aproxima do reservado em que estava e b**e na porta.- Bruna, está aí dentro? Inspiro profundamente.- Estou.- Nossa, graças a Deus - diz sorrindo - Rodrigo está preocupado com você, já procurou você por toda a boate e ligou inúmeras vezes para seu celular. Me apoio nas paredes para me leva
Duvidei de que fosse verdade, se era mesmo Átila ali. Mesmo com meus olhos fixos nele, acreditei que fosse mais um de meus sonhos, só que dessa vez sem todo o erotismo que a compunha. Pisquei algumas vezes, coçando os olhos, antes de me dar conta aos poucos de que estava muito bem acordada e que realmente era Átila ali.- Isso não é da conta de ninguém - Vocifero, quando processo as informações ditas por ele. E por quê diabos o André ligaria para Átila, com uma suspeita de gravidez?- Sério? - Átila pergunta calmamente. Inspiro profundamente, erguendo meu queixo.- Não sei o que está fazendo aqui, Átila. Mas vai embora - Seguro a maçaneta da porta, me preparando para fechá-la. Ele impede, colocando parte do corpo em frente a porta.- Quero saber se tá grávida mesmo.- Já disse, não é da sua conta! - Altero a voz. Ele respira fundo, tencionando o maxilar.- Só é dizer sim ou não! - diz também no mesmo tom. Qu
Ir para a boate com Rodrigo após tudo que aconteceu, foi complicado. Sentia como se estivesse ao lado de um estranho durante todo o trajeto, que evitava me olhar e dizer alguma coisa. Mesmo não querendo pensar sobre o assunto, me via pegando, levantando questionamentos e me irritando cada vez mais com a atitude do Átila. Como na maioria das noites, aquela não era diferente, Rita me ligou. Duas vezes, deixei ir para a caixa-postal, ressentida com ela, acreditando que não teria que ter mencionado para André minha possível gravidez e evitado a todo custo que ele desconfiasse. Isso teria evitado muita coisa, mas ela não se conteve e a situação virou uma bola de neve.- Não vai atender não? - Rodrigo pergunta, quando a insistência de Rita começa a incomodá-lo. Não me sentia bem o suficiente para falar com ela. Nem naquele momento e nem depois.- Não.- Mas é a Rita - diz reparando no nome dela na tela do celular.- É. Eu sei. Ele sust
Átila conseguiu permanecer em minha mente durante o restante do meu expediente. Acabou que o restante das horas passou que nem percebi e quando me dei conta os clientes começaram a ir embora, diminuindo consideravelmente o fluxo de pessoas. Rodrigo continuou em silêncio, fingindo estar concentrado no que término de seu trabalho. No final do expediente, volto para o vestiário, indo direto para meu armário.- Bruna - diz Nádia ao me notar - Como você está? Melhorou? Paro de abrir meu armário, para prestar atenção na cobra em minha frente.- Estou melhorando.- Já foi no médico? Você precisa ir no médico, não pode ficar dando bobeira não.- Não vai ser necessário, já estou melhorando - Volto a ressaltar, me adiantando em mudar de roupa, mesmo com o olhar de Nádia e outras mulheres ali. Minutos mais tarde saio do banheiro em passos largos com meu destino claro em minha mente: a primeira clínica que aparecesse, que pudesse faze