Juan Sales MorettiQuando Nero recebeu aquela ligação na Espanha, eu sabia que algo grande estava por vir. Não era a primeira vez que negócios familiares surgiam do nada, mas a forma como ele segurou o telefone, o olhar repentinamente mais pesado, indicava que a notícia não era como as outras. Ele caminhava de um lado para o outro no escritório, cada passo ecoando no chão de madeira polida. A conversa foi breve, mas o impacto, imenso. A neta. Cecilia. Eu nunca tinha ouvido falar dela antes, mas agora, isso parecia mudar tudo.Nero desligou o telefone, ficando em silêncio por um momento, os olhos fixos no chão como se estivesse absorvendo o peso da notícia. Aquela era a única filha da sua filha perdida, e ela estava casada. Não com qualquer um, mas com Steffano McNight, um nome que trazia todo tipo de expectativas e possíveis alianças.— Ela está viva. — Foi tudo o que Nero disse a princípio, olhando para mim como se eu já soubesse o que aquilo significava. — Minha neta, Juan. Casada c
Donna McNightDepois de doze horas exaustivas no hospital, tudo o que eu quero é chegar em casa, tomar um banho e, se conseguisse, apagar por umas boas horas. Mas claro, os planos de relaxamento nunca se aplicam quando você está com a mente fervendo. Além disso, soube, antes de terminar o plantão, que o hospital havia me escolhido para representar nossa equipe em um simpósio em Veneza. Um evento com demonstrações de novos equipamentos cirúrgicos e técnicas inovadoras — o tipo de coisa que, em qualquer outro momento, eu estaria animada, mas naquele momento? Céus… só parecia mais uma coisa para lidar. Por sorte, meu pai tinha mandado o nosso motorista deixar o meu carro no estacionamento para facilitar a minha vida quando o meu plantão acabasse. Então eu podia me dar ao luxo de ir para casa, e depois… pensar sobre tudo isso. — Donna! — Eu escuto assim que eu abro a porta do meu carro, a voz era áspera, familiar e afiada como um espinho. Pietro KuhnSuspiro pesadamente, revirando os o
Juan Sales MorettiEu sabia que as coisas com Pietro eventualmente chegariam a um ponto crítico, mas não esperava que fosse tão rápido e da maneira que aconteceu. Depois da cena no estacionamento do hospital, Donna está visivelmente abalada. E quando ela me pediu para irmos à casa de Bella, entendi que aquilo não seria algo que ela resolveria sozinha. Não com Pietro envolvido — e honestamente, eu até preferia assim mesmo, que ela não tentasse lidar com isso sem apoio.Assim que chegamos à casa dos Kuhn, Donna mal para respirar. Bella, sempre atenta, nota a tensão no ar assim que abre a porta e não há necessidade de explicações longas — Donna pediu para falar com Thomas imediatamente, e Bella, preocupada, apenas assentiu.— Vou chamar ele. Está no escritório — Bella diz, lançando um olhar rápido para mim, antes de desaparecer no corredor, com uma pressa que parecia ser maior que a de Donna.Eu seguro a mão de Donna enquanto esperamos, sentindo a raiva pulsar através de seus dedos. Ela
Donna McNightVeneza sempre teve um ar mágico e ao chegar à cidade com Juan, o encanto era ainda mais evidente, porque assim que chegamos, Juan me ajudou com tudo, desde descer do avião, até com todas as malas, e tudo o que eu precisava resolver, porque de acordo com ele: eu não merecia passar por nenhum estresse naquele momento. E eu admito… isso me fez sentir cuidada, em um nível que eu não sabia que me sentiria com alguém. E claro, cada canal, cada ponte, parecia sair de um sonho. Eu havia estado em Veneza antes, mas nunca assim, nunca com essa expectativa silenciosa de que… eu realmente pudesse ter um momento bom ali com Juan, e ainda mais com algo que eu amava, que era o meu trabalho. Thomas, em um gesto de generosidade — provavelmente mais motivado pela culpa do que qualquer outra coisa —, insistiu que ficássemos em sua casa em Veneza. Eu não sabia muito sobre a casa, mas quando chegamos, foi como entrar em outro mundo. Era uma casa antiga, com uma vista deslumbrante para o G
Pietro Kuhn— Quero saber onde eles estão agora! — exijo uma resposta do meu irmão assim que eu entro em seu escritório, porque não importava aonde eu perguntava, ninguém queria me dizer onde Donna estava, quase como se a localização dela fosse a porcaria de um segredo de estado.— Pietro, se controle — meu irmão diz com a voz baixa, mas ainda assim, autoritária. — Você acha que tudo pode acontecer do jeito e na hora que você quer?— Me controlar? — Eu solto um riso bufado. — Eu quero que alguém me diga de uma vez onde caralhos Donna está!Meu irmão bufa, massageando as próprias têmporas. — Ninguém vai te contar onde Donna está, Pietro! — ele praticamente rosna em dado momento. — Pare com essa merda de uma vez! Deixe Donna em paz, e vai seguir a porra da sua vida!— Ah! Merda! — grito esmurrando a parede de seu escritório. — Por que você só não pode me ajudar, huh?— Eu não vou ajudar um moleque que está se comportando que nem um imbecil! — meu irmão diz, com nítido ódio em sua voz.
Donna McNightO passeio que eu estou tendo com Juan está sendo simplesmente perfeito, e céus… eu sentia às vezes que eu estava nas nuvens enquanto eu era guiada por ele. — O que está achando?— Maravilhoso... — confesso.— Vamos navegar em uma das gôndolas, o que acha? — pergunta com um sorriso singelo.— Isso seria perfeito.Juan aborda um gondolier[ Gondolier é a palavra em inglês para designar a pessoa que conduz uma gôndola, utilizando um longo remo para empurrá-la pela água.] que estava parado, ele nos ajuda entrar enquanto Juan fica com o seu corpo bem próximo ao meu, e então começamos o nosso passeio.— Que lugar lindo... — digo enquanto olho em volta. — Como eu nunca andei em uma gôndola antes?— Porque não tinha a companhia certa — ele diz com um tom convencido, o que me faz soltar um breve riso.Juan coloca um dos seus braços ao redor do meu ombro e me puxa para mais perto e ah… o seu perfume amadeirado se faz presente naquele momento, me deixando extasiada. Sem conseguir e
Pietro KuhnDepois de toda aquela bagunça, eu acabei sendo expulso do restaurante, e porra… eu estava tão puto!— Que espanhol maldito! — Chuto a lata de lixo do lado de fora do restaurante. — Filho da puta desgraçado! Se não fosse por ele, Donna nunca teria agido dessa maneira e ainda estaria comigo!— Senhor? — Ouço a voz do Boris enquanto os amaldiçoo.— O que está fazendo aqui? — questionei furioso.— O senhor Thomas pediu para te buscar.— Tinha dito que não era para falar pra ele... — Perco as palavras enquanto penso como meu irmão havia descoberto minha localização. — Foi ele que mandou você me entregar o carro que vim, não foi?— Sim— afirma afrouxando sua gravata.— Hölle! — berro.— Ele está na reunião com os membros da Bratva — avisa.— Tinha me esquecido dessa merda! — esbravejo. — Vamos, me leve pra lá agora! — exijo entrando no carro.— O senhor Thomas disse que está proibido de participar de qualquer reunião até segunda ordem — fala, enquanto assume o banco do motorista
Juan Sales MorettiApós o episódio no restaurante, tentei acalmar Donna, algo que foi fácil até demais. Eu sabia que ela estava usando sua armadura para não deixar transparecer sua fraqueza, e eu respeitei seu momento e dirigi pra casa em silêncio. — Donna... chegamos — aviso assim que paro com carro na frente da casa onde estávamos ficando. Eu desço e abro a porta para ela. — Obrigada... — sussurra com os olhos marejados.Seguro sua mão e quando entramos na casa, a questiono.— Está tudo bem? — Eu sabia que a qualquer momento ela iria desmoronar e precisava ser cauteloso quanto a isso. Os sentimentos de Donna quanto a Pietro Kuhn eram no mínimo, problemáticos.Eu não queria assustá-la, por mais que quisesse acalmá-la e dizer o quanto nada daquilo alterava algo entre nós, eu sabia que tinha que manter o controle.— Está. Está tudo bem. — Donna solta minha mão e caminha na minha frente.— Donna? — a chamo quando está com a mão na maçaneta da porta.Ela se vira lentamente, fazendo com