Florence caminha de um lado para o outro, seus saltos ecoando de maneira ritmada contra o mármore impecável do quarto luxuoso onde está. O brilho refinado do ambiente contrasta com o turbilhão de frustração que cresce dentro dela.Sua paciência já se esgotou há muito tempo, e o silêncio do outro lado da linha só faz sua irritação aumentar. Ela pressiona o telefone contra o ouvido com força, os dedos tamborilando impacientemente na lateral do corpo, enquanto sua mandíbula se contrai, refletindo a tensão que pulsa sob sua pele. Cada segundo sem resposta é uma afronta.— Já chega dessa incompetência. — Florence começa, a voz cortante, afiada, carregada de uma irritação fria e contida. — Não me interessa que ela esteja no hospital, Maximilian. — Continua, sua entonação se torna ainda mais rígida, cada palavra carregada de desprezo. — Você me garantiu que tinha o controle da situação, e agora tudo está desmoronando diante dos meus olhos.— Bem, as coisas seriam muito mais fáceis se você nã
O tempo parecia ter adquirido um novo significado para Vivienne e Dominic nos últimos vinte dias. Enquanto os bebês lutavam para crescer e se fortalecer, Vivienne travava sua própria batalha, a de se recuperar.Os primeiros dias haviam sido difíceis. A cicatriz da cesariana ardia a cada movimento, os passos eram lentos, limitados, e a perda de sangue a deixava em um estado de exaustão constante. Havia momentos em que seu corpo parecia não acompanhar a força que sua mente insistia em ter. Mas Dominic estava ali, sempre. A cada instante, ao menor sinal de dor ou cansaço, ele estava presente, atento, cuidando dela como se fosse a coisa mais preciosa do mundo.Com o tempo, seu corpo foi recuperando forças. Já conseguia caminhar pelo hospital sem ajuda, a dor havia diminuído consideravelmente, e os exames indicavam que seus níveis de ferro estavam normalizados. Ainda sentia o corpo mais fraco do que gostaria, mas os médicos estavam satisfeitos com sua evolução. Seus filhos estavam vencend
Dominic e Vivienne observam a filha com os olhos marejados, o coração pulsando de alívio e gratidão. Diana conseguiu. Contra todas as probabilidades, sua pequena guerreira respirava sozinha. Era um momento que eles desejaram, temeram e finalmente estavam vivendo.Vivienne sente o peito se expandir, como se, pela primeira vez em semanas, pudesse respirar sem o peso esmagador da incerteza. Dominic, ao seu lado, mantém o olhar fixo na bebê, e um suspiro carregado de emoção escapa de seus lábios. Mas a sensação de alívio dura pouco. O monitor emite um som diferente, sutil no início, mas suficiente para fazer a tensão se infiltrar no ambiente como uma corrente fria. Vivienne sente o corpo enrijecer, os dedos de Dominic se fecham ao redor da mão dela, e em um instante, o medo que haviam acabado de afastar volta a se instalar com força.— Monitorando. — Informa a enfermeira, a voz baixa, mas firme, enquanto seus olhos permanecem cravados nos monitores.Diana respirava, mas seu pequeno peito
O noticiário continua a exibir a prisão de Maximilian, e, em poucos segundos, Florence compreende o motivo. Ele foi detido pelo abuso e assassinato da jovem que, em um erro fatal, se entregou a ele. Mas uma pergunta começa a martelar em sua mente, uma dúvida que a desconcerta, como a polícia soube disso agora? Seu rosto empalidece lentamente ao ver, em detalhes cruéis, as imagens da autópsia verdadeira sendo projetadas na tela. Cada uma é um lembrete cortante de que sua jogada final está arruinada, uma lâmina afiada que fere sua sanidade, deixando-a em estado de paralisia. Como aquilo foi possível? Como tudo o que parecia tão meticulosamente planejado agora se desfaz diante dela? Por que, depois de tanto tempo, esse caso sombrio vem à tona, revivido com uma ferocidade inesperada? Ela tenta conectar desesperadamente os pontos, mas as respostas continuam a escorregar entre seus dedos, fugindo como fumaça. — Mas que inferno! — Grita, lançando o controle contra a televisão. A tela pisc
Vivienne sente seu peito se apertar, tomada por uma mistura intensa de tristeza, indignação e confusão. Toda a estrutura de sua vida, erguida sobre uma mentira, desmorona diante dela. Tudo o que acreditava sobre sua origem, sobre quem ela realmente era, agora escorre por entre seus dedos, como areia fina, impossível de reter.Dominic a observa atentamente, captando a turbulência de emoções que transbordam de seus olhos. Ele se inclina suavemente, seus gestos carregados de ternura e, com extrema delicadeza, segura seu rosto, seus polegares, apagando as lágrimas que escorrem pela pele dela, como se quisesse apagar, ao menos por um momento, a dor que a consome.— Sempre vivi uma mentira. — Vivienne sussurra, a voz baixa e carregada de um novo entendimento. Ela percebe, com um peso crescente, que não foram somente os últimos anos que a separaram de sua verdade, mas desde o momento em que nasceu, essa mentira a acompanhou. — Meu avô acompanhou cada momento da minha dor, me ofereceu confort
Após as últimas descobertas, Vivienne se permitiu desmoronar. Eram muitas coisas para processar ao mesmo tempo, e ela sabia que podia fraquejar, mas também sabia que Dominic estaria ao seu lado, pronto para lhe oferecer consolo. E foi exatamente isso que ele fez ao longo do dia, com sua presença silenciosa, oferecendo apoio sem pressa, sem palavras, apenas sendo o pilar de que ela tanto precisava.— Toda a dor irá passar, pequena. — Dominic murmura, suavemente, segurando Vivienne nos braços. Mesmo enquanto dorme, ela se debate, como se o peso de tudo ainda a estivesse atormentando, mesmo no descanso.O tempo parecia passar de maneira estranha, rápido em alguns momentos e, ao mesmo tempo, dolorosamente lento em outros. Seus bebês estão completando um mês de vida. Um mês desde que haviam chegado ao mundo antes do tempo, pequenos e frágeis, ligados a fios e monitores que os mantinham vivos. Um mês desde que o medo de os perder se tornou um peso constante no peito de Vivienne e Dominic.
Dominic e Vivienne são orientados a se sentar nas confortáveis poltronas, cuidadosamente preparadas pela equipe da UTI para o primeiro contato prolongado com os bebês. Seus olhos marejados refletem toda a expectativa e emoção daquele momento, enquanto aguardam, cheios de ansiedade e ternura.— Parece um sonho. — Vivienne sussurra, sentindo a suavidade do aperto de mão de Dominic, um gesto silencioso de apoio e carinho.— Desta vez, é real, pequena. — Dominic responde, a voz suave, com os olhos fixos nos pequenos pacotes de vida diante deles, o coração cheio de uma alegria indescritível.A enfermeira trouxe Damon primeiro, entregando-o para Vivienne, que não segura as lágrimas ao sentir seu bebê em seus braços. Seu corpinho agora parece mais forte, os traços mais definidos. A pele que antes era tão fina e delicada agora está mais encorpada, mais corada. Ele ainda parece frágil, mas, para ela, ele é perfeito.— Oi, meu amor. — Murmura, sentindo o pequeno em seu peito. Seu coração se aqu
Dominic se mantém sempre informado sobre cada nova atualização, mas escolhe entregar as notícias a Vivienne gradualmente. Foi assim com a prisão de Maximilian, algo que a abalou profundamente, pois por anos Vivienne acreditou que sua amiga havia se suicidado. Mas agora, ela entende, com uma dor ainda maior, que infelizmente ela foi vítima das mãos daquele monstro.Maximilian negou por dias todas as acusações, mas o legista envolvido no caso efetuou um acordo, oferecendo seu depoimento em troca de sua liberdade. Mesmo contrariados, os pais da vítima resolveram aceitar e, como resultado, o legista recebeu somente uma multa irrisória e cinco anos de serviços comunitários. Contudo, o testemunho do legista foi crucial para garantir que Maximilian permanecesse preso, sem direito à liberdade provisória. E, por se tratar de abusos, ele pagou caro pelos seus atos, sendo espancado e abusado diariamente pelos outros detentos.Florence, por sua vez, continua desaparecida. Sempre que a polícia de