Capítulo 4

- Você me salvou. Obrigado Emeraldy. - Ao ouvir essas palavras ela sentiu o muro de raiva e orgulho se dissolvendo. Ela trabalhou muito, incansavelmente pelo que ela era, pelo que sabia, só queria reconhecimento. Não queria ainda, ser vista como fraca.

- Você também me salvou. Duas vezes. Então, não tem porquê me agradecer.

- Eu o faria mil vezes, por toda minha vida.

Ela sorriu levemente.

- Eu sei. - Ele continuou a olhar para ela e ela para ele.

- Devido às circunstâncias, seria melhor que você passasse a noite aqui, comigo. - ela arqueou as sobrancelhas. - Eu precisarei de ajuda sabe? Não consigo me mexer muito ainda. E sua mira é perfeita. - ela sentiu seu coração encher de felicidade pelo reconhecimento dele.

- Obrigada. Eu vou buscar meu colchonete então. - Disse ela se levantando. - Acho que cabe aqui do lado.

- Tudo bem. - Ele murmurou.

- Eu volto. - Ela disse e saiu.

Foi até a sua cabana e buscou o que precisava para passar a noite. Colocou uma roupa mais fechada para dormir tranquila e foi para a cabana de Sírius.

Ele continuava com os olhos abertos e focados na entrada quando ela chegou.

- Voltei. Eu vou colocar essas coisas aqui, se não se importar. - ela falou arrumando o colchonete no chão ao lado do dele.

- Pode arrumar do jeito que precisar e ficar confortável para você.

- Pode ter certeza que vou. - Ela disse sorrindo. - Você precisa de algo, antes que eu me deite?

- Não, havia feito todas as minhas necessidades quando voltei e perguntei sobre você para Ambhar. Ela disse que você havia ido tomar banho. Eu fui para perto e Cindy me avisou que você estava lá e que queria privacidade. Eu fiquei nos limites do rio e não no lago. Senti algo estranho passar pela água quando saí e caminhei em sua direção próximo da margem mas encoberto. A vi quando ela pulou em você. Eu não posso nem dimensionar o que senti.

- O meu próximo passo seria desintegrar ela. Eu... posso fazer isso, você sabe.

- Eu sei. Mas não pude me segurar. Desculpe.

- Não precisa se preocupar.

Ela percebeu que ele estava tremendo um pouco.

- O que foi? Está sentindo algo?

- Um pouco de frio.

- Vou lhe cobrir. - Ela levantou do colchonete dela e pegou uma manta em cima de um dos baús e o cobriu. Ficaram conversando e ela notou que já havia se passado no mínimo trinta minutos e nada do tremor de frio dele, passar

- Está com frio ainda?

- Está tudo bem. Não se preocupe.

Ela sentou, estendeu a mão e puxou o cobertor para baixo, tocando o braço dele. Estava frio como granito.

- Deuses Sírius! Está congelando. Onde você tem mais um cobertor?

- Só tenho este.

- Não tem mais nenhum?

- Não, eu costumo ter a pele mais quente que outras raças, assim como os dragões, mas não tanto quanto eles. O problema é que estou em partes paralisado, mesmo você tendo retirado a maior parte do veneno, eu não conseguindo manter a temperatura do meu corpo e não consigo me transformar, que é o que faria meu corpo aquecer completamente.

- Então, terei que deitar junto com você e puxar os dois cobertores, o meu e o seu, sobre nós. - Ela falou e já começou a se cobrir junto com ele, abraçando seu peito e deitando parcialmente em cima dele, como quando ele a aconchegou no corpo um dia antes da chuva sonífera. Ele estava gelado e isso causou arrepios nela.…na verdade não soube se era de frio mesmo ou por ser a pele dele encostada na dela.

Sírius sentiu a pele quente dela, encostando na dele, que estava fria e seu corpo formigou de antecipação.

A perna dela estava em cima da sua coxa e ele fechou os olhos sentindo o peso e os contornos do corpo dela, o calor maravilhoso penetrando em seus músculos. Tentando memorizar a sensação dela abraçada à ele. Os cheiros misturados de sua pele com a dela e os cabelos dela espalhados em parte no travesseiro e em parte no ombro dele. Tinha um toque suave e tentador. Ele tinha que contar a ela o que sentia, o que ela era para ele. Mas não hoje. Um dia, quem sabe?

Ele tinha certeza que ela não iria gostar.

- Está quieto, o que está pensando?

Precisava se desculpar por ter atacado ela.

- Me desculpe por ter te atacado, da forma que fiz… depois que você matou a sereia. - Ela ficou em silêncio por um tempo. Tempo demais. Do jeito que estavam, ele não podia ver o rosto dela. Medir suas expressões, apesar de que ela não demonstrava muito. Era uma das fêmeas mais reservadas que ele já viu. Raramente sabia-se o que ela pensava ou sentia. Mas mesmo assim ele gostaria de olhar em seus olhos. - Emeraldy?

- Sim?

- Aceita minhas desculpas?

- Foi algo que você quis?

- Sim, mas não do jeito que foi e nem pelo motivo que tive.

- Que foi pelo veneno. Eu a matei, mas o veneno continuou e a próxima fêmea perto de você era eu. Se não fosse por isso, você nunca me tocaria como tocou.

- Não, não tocaria. Não tenho sua permissão.

- Então não há porque pedir desculpas. Não estava em seu poder se controlar e não me fez mal...- pensou um pouco e sussurrou. - e na verdade eu não teria te parado.

Ele arregalou os olhos.

- Não?

Ela virou a cabeça e arrumou o corpo de forma a olhar nos olhos dele.

- Não.

- Porquê?

- Não sei. - Ela se deitou de novo no peito dele. - Só sei que eu gosto de você e eu gosto dos seus beijos.

- Eu também gosto de você Emeraldy. E eles não falaram mais, apenas dormiram.

Ásgar juntou todos os responsáveis pelas frotas e pela segurança do grupo no meio do acampamento no dia seguinte.

O corpo da sereia peixe em cima de uma das mesas era a coisa mais horripilante que eles haviam visto na vida. A cabeça decepada e os olhos leitoso esbugalhados, a boca escancarada e eternizada em um eterno sorriso macabro.

Muitos a olhavam horrorizados. Tanto por estar morta quanto por ser algo que nem sabiam que era real, pois era mencionada em um conto, como uma lenda.

Sussurros vindos de todos os cantos conjecturavam e imaginavam que todos os contos e lendas poderiam se tratar de seres que eram reais.

- Como podem ver, algo que pensávamos não existir está aqui e atacou a ele mental Emeraldy ontem a noite. - Disse Àsgar.

- O que tem a dizer Emeraldy e rei Sírius? Vocês que a dominaram. - Perguntou Rei Faleey.

- Eu mal à domine, quem o fez foi Emeraldy. Eu apenas a distraí por um momento. Fale Emeraldy. Conte à todos. - Ele olhou para ela e a encorajou a ir a frente. Ela deu apenas dois passos e parou próxima a mesa onde está a sereia peixe.

- Infelizmente, tive que matá-la. Os sons que ouvi, eram produzidos por ela, os ouço há duas noites, sempre que estava sozinha. Nunca quando estava com alguém. Minha irmã também ouviu mas como está acompanhada de Kasphio e Fayne quase todo o tempo, só ouviu apenas uma vez. Eu passei uma noite em claro, meu instinto me dizia que não dormisse e assim o fiz. Acho que ela só não me atacou porque eu estava em uma barraca pequena colada a barraca de meus pais. Ontem fui ao lago me banhar para dormir após todos terem ido e não estava completamente sozinha pois o dragão Cindy estava em seu turno e vigiava. Mas acredito que bastou ela se afastar um pouco para que a sereia me atacasse. Eu estava em guarda mas ela foi tão rápida que me surpreendeu, caï em um arbusto de espinheiro, o que me deixou um pouco ferida nas costas. Isso me deixou parada por alguns segundos. Sírius a viu e pulou nela, derrubando a sereia na encosta da montanha, próximo ao lago e ela o envenenou. Eu apenas atirei contra ela.

Eu sinto muito por ter tirado sua vida. Mas precisava proteger a quem eu prezo.

- Não há por que se desculpar querida Emeraldy. Fez o que foi necessário para se proteger e proteger Sírius. - Disse Tarwin.

- Sim Em, fez bem. - Falou Ambhar a abraçando.

Todos foram falando que ela fez o correto. Que se fossem eles, também teriam feito o mesmo. Emeraldy sentiu-se acolhida, o que não fez com que deixasse de sentir pesar pela morte de um ser raro. Mesmo que ela tivesse os atacado.

Se houvesse alguma chance de entendê-los de alguma maneira.

- O que há? Me conta. - Falou Saphyre olhando para ela. Elas caminharam mais para longe de onde as pessoas se aglomeravam. Sidarta iria realizar a autópsia na sereia peixe, para descobrir a fisiologia dela, e Tarwin pediu que retirassem o corpo para um lugar reservado e preservarem o ser. Elas a olharam uma última vez e suspiraram. - Conheço esse olhar de culpa. De quem acha que poderia ter feito melhor.

- Eu poderia. Deveria ter deixado ela desacordada. Mas, quando a vi se retorcendo debaixo de Sírius... o hipnotizando de alguma forma eu não consegui me segurar. Foi mais forte que eu.

- Então, leve em conta que você fez o que podia no calor do momento e pare de pensar nisso. É o que qualquer um aqui faria.

- Você sabe o quanto me incomoda perder o controle das coisas. - disse Em.

- Eu sei. Mas a vida é assim. Infelizmente o controle que temos é um pouco ilusório. Mas me fala uma coisa, ela não falou, em nenhum momento?

- Não que eu tenha ouvido. Temos que perguntar para Sírius. Isso nem me passou pela cabeça. Ouvi apenas o barulhos de algo raspando o chão e quando virei e ela pulou em mim ouvi um silvo agudo.. Quando ela estava em baixo do corpo de Sírius, ela sorria para ele enquanto injetava o veneno em seu pescoço e ele parou de se movimentar, apenas a olhou e eu percebi que sua atitude, antes agressiva, de ataque, mudou para outra coisa. Encantamento sexual.

- E como você sabe disso? Que era algo sexual!? - Saphyre perguntou intrigada.

Emeraldy olhou para os lados e puxou Saphyre para o mais longe possível.

- Logo que matei a sereia, ele ficou estático olhando a cabeça dela rolar e quando o toquei ele se virou, me olhou e pulou em mim. Me beijando e agarrando. Se o veneno não o fizesse ficar paralisado, acho que teríamos... Você sabe, feito amor, sexo.

Saphyre ergueu as sobrancelhas espantada.

- Ele te forçou? Por causa do veneno!?

- Não! Não forçou. Eu tinha como parar ele. Eu tenho treinado usar o vento, a água e outras coisas que não sei como uso. Teria dado um jeito de pará-lo se eu não quisesse. E na verdade eu aprendi muito sobre ele e sobre como seria a sensação de beijá-lo e tê-lo como amante. Não seria nem um pouco desagradável. Nem um pouquinho mesmo.

Saphyre deu uma risadinha.

- Está apaixonada Em?

- O quê? Não! Apenas interessada e curiosa. Acho que seria interessante perder minha virgindade com ele. Não sei se ele gostaria muito, ele não demonstra muita coisa..

- Como você!

- É diferente.

- Não, não é Em. Você e Sírius são iguais. Não demonstram muitas emoções, sabe que apenas eu e Ambhar conhecemos mais você e nem mesmo nós, as vezes não sabemos o que está pensando. Veja a situação com o inominável. Nunca nos contou, sabíamos que havia algo mas nunca descobrimos o que era.

- Eu sei. Desculpe.

- Não precisa se desculpar. Sabemos que você é assim porque se cobra muito. Você de nós é aprisionada em si mesma, sempre séria e reservada, aprendendo as coisas antes de mim e de Ambhar, eu a esquecida, ainda me perco em mim mesma procurando memórias, sabia? E Ambhar, tão tímida e vergonhosa está vivendo um trisal, se encontrando todos os dias, de um jeito que ela nunca imaginou. Acho que vamos aprendendo uma com a outra e com tudo que estamos vivendo além de uma aventura em um lugar mágico, nosso verdadeiro lar, ainda estamos a procura de algo que nem sabemos que nos pertence ou se é real.

Emeraldy a abraçou.

- Você pode ser esquecida Saphyre mas é a que mais sabe falar as coisas nas horas certas. Obrigada irmã. Te amo.

- Por nada. Eu te amo.

- Ahh tem um abraço duplo aqui, nem me chamaram para um triplo? - Disse Ambhar chegando sorrindo. Emeraldy e Saphyre sorriram e abriram o espaço dela.

- Agora sim. Aqui que eu pertenço, que nós três pertencemos. - as cabeças se juntaram e ela sorriram uma pra outra. Ambhar falou com voz grossa imitando algum personagem de filme bangbang, com armas nas mãos - Agora me passem as novidades ou alguém sairá ferido!

As três riram alto. E óbvio que Saphyre e Emeraldy contaram sobre a conversa das duas para Ambhar.

Faleey estava junto a Sidarta, Tarwin e Kasphio, analisando a sereia. Ele, assim como Sidarta era médico além de cientista, inventor e estudioso de muitas outras artes.

Encontraram duas bolsas de veneno. Uma embaixo da axila dela e que era levado por uma espécie de cânula pelo braço até o pulso, saindo com a contração dela de um dos músculos que a envolviam fazendo sair do pulso como se fosse uma agulha tevoberta de uma espécie de anestesiante.

- Por isto que o Rei Sírius não sentiu nada. - Disse Sidarta. - E achei também uma outra bolsa com gás que ela soltava pela boca, mas bem pequena, acho que era para enfeitiçar primeiro em pouca dose, apenas o suficiente para que ela chegasse perto e injetasse o plasma. Seria bom que não chegassem perto rapazes. - Ela disse.

- Como sabe que são a mesma substância?

- Têm, além do mesmo cheiro e mesma cor, a mesma estrutura molecular. Venham ver, mas primeiro coloque esta máscara. - Deu máscaras aos machos e mostrou as substâncias no microscópio.

- Interessante. A mesma substância em estado gelatinoso e gasoso. Por esta não esperávamos. - Disse Faleey.

- Sim. Um sistema complexo que tritões e sereias comuns não têm. - Mostrou Sidarta.

- E pelo que pudemos ver elas não se transformam quando em terra? - perguntou Tarwin.

- Não, não transformam. Por isto os barulhos de algo se arrastando.

- Vocês acreditam que ela veio para sequestrar ou fazer algo a Emeraldy ou apenas estavam na ilha e queriam copular? - Perguntou Kaeidh

- Pode ser qualquer uma dessas opções, e por outras coisas mais, como proteção de algo ou para se defender. Vocês viram como é o sinal do rastejar delas na areia. Terão que mostrar a todos e que fiquem atentos a esses sinais na areia. - explicou Tarwin.

- Mostraremos - afirmou Kaeidh.

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