Conversamos por mais alguns minutos, e conforme a ligação vai terminando, sinto um alívio ao saber que minha mãe está tranquila.Depois de desligar o celular, eu me deito na cama, absorta em pensamentos. A conversa com minha mãe foi um bálsamo para minha alma, uma lembrança reconfortante da estabilidade e do calor de casa que sempre conheci.Olho ao redor do quarto, que embora seja confortável, não tem o mesmo calor que uma verdadeira casa familiar. As paredes, adornadas com quadros e móveis elegantes, não têm o mesmo carinho e intimidade de um lar onde cada objeto carrega uma história e cada canto é preenchido com amor.Já Alejandro sua vida é marcada por cicatrizes profundas, mais profundas do que qualquer um consegue perceber à primeira vista. E eu, de alguma forma, fui puxada para dentro desse emaranhado de dor e amargura.Penso na minha própria vida, nas coisas que sempre considerei certas: a segurança de um lar, o carinho da minha mãe, o conforto de saber o que, acontece o que a
— O que aconteceu? — A pergunta vem mais baixa, mais suave do que eu esperava, e a surpresa no rosto dele me atinge. Alejandro nunca pareceu preocupado com o que se passa dentro de mim. Até agora.Eu desvio o olhar, mordendo o lábio, tentando me recompor, mas não adianta. A pressão dentro de mim se rompe.— Meu pai... — começo, mas a palavra sai em um soluço. Respiro fundo e tento novamente, forçando a voz a sair. — Minha mãe ligou... Ele está de cama... a artrose piorou.Alejandro fica em silêncio por um momento, como se não soubesse o que dizer. Vejo seus olhos mudarem, suavizarem, enquanto ele absorve minhas palavras. Ele respira fundo e dá alguns passos até ficar mais próximo, sua expressão agora carregada de algo que não consigo identificar. Preocupação? Empatia?— Eu... sinto muito, Luna — ele diz, a voz baixa, mas cheia de uma sinceridade que me desarma.Eu não esperava isso. Dele, muito menos. Quando levanto o olhar, Alejandro não parece mais o magnata firme e implacável. Ele
Dois dias depois...LunaO sol da manhã se filtra pelas janelas altas do corredor, inundando o casarão com uma luz suave, mas isso não dissipa a tensão que pesa em meus ombros. Sob a claridade do dia, os corredores parecem menos ameaçadores, mas a sensação de inquietação permanece comigo.Depois de arrumar a cama de Enzo, perdida em pensamentos, viro o corredor sem prestar atenção. De repente, meu corpo se choca contra algo firme e sólido. O ar escapa dos meus pulmões com o impacto, e o calor familiar que me envolve logo em seguida me faz reconhecer sua presença antes mesmo de erguer os olhos.Alejandro.Levanto o rosto devagar, encontrando seus olhos como um ímã que me prende. A intensidade em seu olhar é como uma tempestade contida — uma força poderosa, prestes a romper. Ele me encara como se estivesse segurando palavras que jamais serão ditas, mas que pairam pesadas no ar entre nós. O tempo desacelera, nos aprisionando nesse instante, e o calor que emana dele me envolve.O calor en
Ele se aproxima mais, como se cada centímetro que nos separa fosse um obstáculo insuportável. O ar no quarto de hóspedes parece mais pesado, abafado pela tensão sufocante entre nós. Sinto meu corpo se enrijecer, dividido entre a necessidade de resistir e a atração inevitável que ele exerce sobre mim.— Não podemos... — Minha voz sai fraca, quase como um lamento, mas Alejandro já está tão perto que sinto o calor de sua respiração.— Podemos, sim — ele murmura, sua voz baixa, carregada de uma urgência que ecoa dentro de mim. — Ninguém precisa saber. Eu manterei isso em segredo... por nós dois.Suas mãos deslizam lentamente para os meus quadris, puxando-me contra ele com uma firmeza que faz meu coração acelerar ainda mais. Seu toque é possessivo, quase desesperado, e, por um instante, toda a racionalidade parece se dissolver no desejo que lateja entre nós. Eu deveria me afastar, mas o magnetismo entre nós é forte demais, irresistível.— Alejandro... — tentei resistir, mas minha voz saiu
— Isso não é uma mentira, é uma proteção! — ele rebate, a voz cortante. — Uma proteção para nós dois. Você não entende as implicações de tudo isso!— E o que exatamente você acha que eu não entendo? — desafio, sentindo a adrenalina subir. — Eu entendo muito bem que você está com medo de se envolver, Alejandro! Que está usando essa fachada de dureza como escudo!Ele hesita por um instante, a expressão de dor e raiva se misturando em seu rosto. A luta interna que passa por ele é evidente, e isso me faz sentir uma ponta de culpa, como se eu estivesse pressionando um botão que não deveria.— Não é só medo. — Ele tenta se defender, mas sua voz falha. — É a realidade. Minha vida não é fácil. Estou cercado por pessoas que só querem me usar.— E isso justifica tudo? — retruco, a raiva e a tristeza se entrelaçando dentro de mim. — Justifica nos escondermos como se fôssemos amantes secretos? Como se isso não fosse real?Ele parece lutar contra suas emoções, a intensidade do momento nos envolven
AlejandroQuando ela se vira e me deixa ali, algo dentro de mim se despedaça. O peso das palavras dela reverbera na minha mente como um eco incessante, e as minhas mãos começam a tremer. O aperto no meu peito é quase sufocante, mas eu fico parado, incapaz de fazer qualquer coisa para detê-la. Meu orgulho, esse maldito escudo, me paralisa.O incômodo cresce, espalhando-se por todo o meu corpo, e a dor começa a se enraizar, como se cada palavra dela tivesse cravado uma faca no meu coração. Respiro fundo, tentando afastar a confusão, mas a única coisa que vejo quando fecho os olhos é a imagem dos seus lábios vermelhos e inchados pelo nosso beijo.Oh Dios! Ela está me queimando de dentro para fora, e eu não sei como lidar com isso. Não consigo simplesmente deixar para lá. Essa paixão é uma tempestade, e eu sou o barco à deriva, incapaz de encontrar um porto seguro. A ideia de perdê-la é como um veneno que corrói minhas entranhas, e quanto mais eu a ignoro, mais forte ela se torna.Por que
— Alejandro, você não pode ter controle sobre tudo, inclusive sobre mim. E é exatamente isso que você tenta fazer, mesmo sem perceber. Eu não sou uma peça que você pode mover como quiser. — Ela solta um suspiro longo e cansado, como se estivesse carregando esse peso há muito tempo. — Preciso de mais do que isso. Mais do que apenas momentos roubados. Além disso, você ainda está preso em algo que eu não posso curar.As palavras dela me atingem com força, deixando um vazio doloroso onde antes havia orgulho. Ela está certa, e é isso que me enfurece mais do que qualquer coisa. O que sinto por Luna não pode ser moldado em regras, não pode ser controlado. Mas é isso que me apavora. Eu nunca soube o que fazer com algo que eu não podia comandar.—Podemos ir devagar... — minha voz soa quase desesperada.— Devagar? — ela me interrompe, sua voz cortante, os olhos fixos nos meus, cheios de uma franqueza dolorosa. — Não Alejandro. Não quero ser arrastada para o seu jogo. Porque na verdade você quer
Suspiro, tentando não deixar minha voz tremer enquanto respondo:— Não precisa, Alejandro. Eu sei me virar muito bem.Ele dá um passo à frente, e por um breve momento sinto que todo o mundo ao redor desaparece. O som do meu coração batendo é ensurdecedor, e eu quase posso jurar que ele pode ouvi-lo também. Seus olhos fixos em mim, cheios de algo que me assusta, mas também me chama. A tensão entre nós é palpável, um fio invisível que nos prende de uma forma que eu não consigo entender.— Luna... — ele começa, a voz baixa, mas cheia de um peso que eu conheço bem. — Eu me preocupo com você. Sei que esse lugar... tem sido complicado, mas...—Não é o lugar. Você é complicado.Ele acena um sim e então fica me olhando como se estivesse procurando as palavras certas, mas o que sai de sua boca me surpreende, como sempre acontece quando ele baixa a guarda, mesmo que por segundos.— Eu não sei o que farei se você for e não voltar.As palavras pairam no ar, tão inesperadas quanto dolorosas. Por m