- Acho que ele está se referindo ao seu noivo. – observou Dereck divertidamente, se jogando para trás na sua confortável cadeira e pousando a cabeça sobre os braços abertos.
Não costumava me acontecer com frequência, mas eu corei. Dereck era tão insistente em me unir de alguma forma a Magnus que aquilo me parecia até uma brincadeira às vezes, para ver como eu reagiria. Magnus não pareceu se preocupar. Só me observou e sorriu sem demonstrar nada, balançando a cabeça. Olhei para os dois guardas parados na porta. Eles não tinham expressão alguma. Será que estavam vivos?
- Isso quer dizer que... Você vai levar em consideração minha proposta? – perguntou o príncipe mais jovem.
- Se é tão importante para você...
- Sim, é importante para mim. – ele confirmou seriamente.
A sala dos príncipes ficava no terceiro andar e não no segundo, como da rainha. Então eu provavelmente trabalharia no andar da realeza. Não entendia o motivo de os escritórios serem em andares diferentes, mas ainda assim não questionei. Dereck não estava lá, como havia dito que estaria. O lugar era amplo, como tudo ali naquele castelo, exceto o dormitório dos empregados. Tinha enormes janelas de vidro, ambas escondidas com enormes cortinas. Um tapete antigo e talvez caro cobria quase todo o chão. Era decorado minimamente, mas com móveis caros e feitos sob medida para o espaço. Havia duas enormes mesas, que eu supus que fosse dos príncipes e duas menores na entrada da sala, próximo da porta. Eu já havia sentado na confortável cadeira da mesa que eu havia escolhido, sem saber exatamente se podia. Trabalhar ali diretamente com eles e longe de Lana seria uma dádiva. Hav
- Kat, seu pai foi capitão da guarda.- Capitão da guarda do castelo de Noriah? – perguntei incrédula.- Sim...- Mas... Por que ele nunca contou absolutamente nada sobre isso?- Mais que o capitão da guarda, ele foi amigo pessoal do meu pai, Alfred Chevalier.Eu fiquei olhando para ele sem saber exatamente o que dizer. Que os dois tinham alguma ligação eu já sabia, pois o próprio rei havia feito a intervenção em meu favor no cargo de dama de companhia.- Seu pai teve a perna ferida quando salvou meu pai.Eu... Não podia acreditar. Meu pai havia salvado a vida do rei de Noriah. E por que ninguém sabia aquilo? Havia sido divulgado em algum lugar? Teria que sair no mínimo na capa do jornal na Zona E. Eu tive tanto orgulho dele. E queria que meu irmão também pudesse ouvir aquilo para poder ter orgulho do nosso pai.- Cont
Magnus me pegou nos braços e me levou dali. Eu sentia muita dor, mas não conseguia entender o que estava acontecendo. Em alguns minutos ele abriu uma porta e entramos numa pequena cabana iluminada com a luz de um lampião. Ele me colocou sobre uma cama confortável, embora pequena.- O que aconteceu? – eu perguntei.- Eu preciso ver o que realmente aconteceu. – ele disse.Magnus rapidamente tirou meu casaco e em seguida a blusa, deixando-me somente de sutiã.- Foi mesmo um tiro... – ele disse passando a mão nervosamente pelos cabelos.- Você me deu um tiro? – perguntei. – Por que você fez isso?Ele olhou nos meus olhos e disse:- Foi sem querer... Eu caço aqui.- Você tem... Uma floresta de caça?- Sim... O que você faz aqui?- Eu... Eu...- Esqueça. Não precisa dizer mais nada. Tente fi
Eu não sei exatamente quanto tempo levou para Magnus voltar com vários guardas, o médico e enfermeiras. Sei que fui colocada com cuidado na maca e tentei fechar meus olhos e relaxar. Senti o tempo todo a presença dele ao meu lado, embora eu não tivesse vendo. Não tenho certeza se dormi ou desmaiei até chegar ao castelo. Quando abri meus olhos, me levavam por um corredor iluminado. Havia tantas pessoas à minha volta. Procurei com o olhar e lá estava ele, e herdeiro da coroa, ainda comigo. Jamais teria certeza se era consciência pesada ou se Magnus realmente se importava comigo.Fui conduzida a uma sala somente com o médico e duas enfermeiras. O ferimento foi limpo e higienizado e o médico garantiu que eu ficaria bem, pois o tiro havia sido de raspão. Elogiou-me pela coragem, pois eu havia sido forte o tempo todo, mesmo com a dor horrível que sentia e havendo perdido sangue.
- Alteza... – disse Domênico cumprimentando o príncipe.Magnus, por sua vez, gentilmente ofertou sua mão ao médico, apertando-a educadamente:- Doutor Domênico.Eu fiquei observando-os um pouco tensa. Sabia que não havia nenhuma possibilidade de saber quem realmente era quem naquele lugar. Mas ainda assim meu coração insistia em bater descompassadamente.- Como está, senhorita Lee? – perguntou Magnus.- Muito melhor, Alteza. – respondi.- A senhorita Lee insistiu na sua presença, doutor. Confesso que não entendemos muito bem, pois como deve saber temos um ótimo médico no castelo, de nossa extrema confiança. Ainda assim ela fez questão de ser examinada por você.- Eu... Atendi o irmão na senhorita Lee há algum tempo atrás, no Hospital da E, quando ele foi atropelado. – explicou Dom. &
- Então você ficará. – disse Magnus.Domenico pegou suas coisas e estava decidido a sair. Eu sabia que ele havia ficado bravo comigo. Então disse:- Doutor, poderia vir me ver amanhã? – olhei para Magnus e pedi: - Algum problema de ele retornar para se certificar de que está tudo bem, Alteza?- Por mim sem problemas. – consentiu Magnus.- Senhorita Lee, como não confia no meu diagnóstico, não precisa da minha presença novamente. Lamento o ocorrido aqui hoje. – ele foi saindo e antes de ir definitivamente, lembrou: - Alteza, lembrando que um investigador da polícia precisa apurar os fatos do que houve com a garota. Caso isso não aconteça, tratarei de fazer a denúncia pessoalmente.Dizendo isso ele saiu. Senti meu coração se partir em mil pedaços. Dom era incrivelmente mais forte do que eu imaginava. Ele n&atil
Kim foi embora e eu fiquei ali sozinha com meus próprios pensamentos. Olhei para fora e vi que o dia já estava quase amanhecendo. Havia sido uma noite difícil. E eu estava viva... E bem. E aquilo tinha sim um propósito. O tiro poderia ter pego na minha cabeça ou mesmo no meu coração. Então eu não estaria mais ali. No entanto eu tinha o sangue correndo em minhas veias e continuava dentro do castelo de Noriah, agora com tantas mordomias que nem imaginava ter um dia. Eu tentava assimilar e entender o que havia acontecido nas últimas horas, especialmente entre Dom e Magnus. Mas eu simplesmente não conseguia, pois eu tinha umas mil teorias na minha cabeça. Magnus não teria ciúme de mim com Dom... Ele mal me conhecia. Ainda assim havia tentado me beijar dentro da cabana de caça, quando talvez pensou que eu pudesse morrer. Por que aquele beijo? Qual a intenção dele com aqu
Os próximos dois dias eu passei ainda na enfermaria do castelo, abusando do sorvete de morango que vinha cada vez que eu pedia. E da bondade dos príncipes, que me tratavam quase como uma princesa. Eu sabia que aquilo não duraria para sempre e eu não era exatamente uma pessoa burra a ponto de não me aproveitar da situação. O investigador continuou vindo também nos dois dias seguidos, se certificando de que eu não mudaria em nada meu depoimento.Recebi alta na noite do terceiro dia e fui sozinha para o primeiro andar. Chegar lá, naquele corredor escuro e frio me deu um certo tremor. Eu não gostava daquele lugar. Definitivamente preferia a enfermaria. No entanto aquele era o meu mundo e estava na hora de voltar para ele. Quando entrei no quarto senti o meu cheiro nele. Era familiar e era o que mais me aproximava de um lugar chamado casa. Deixei meus medicamentos dados pelo médico na mesa ao lado