MANUELA

Medo! Pânico! Desespero! Um misto de sensações ruins se fez presentes. Meu coração parecia estar batendo na garganta, e esta parecia estar seca e poderia facilmente ser considerada com uma lixa. Senti um grande alívio quando aquele desconhecido surgiu e nocauteou aquele homem ruim, porém, no momento que levantei a cabeça, meus olhos ficaram cravados no homem a minha frente, no mesmo instante que ele parou de se mover e suas orbitas azuis me encaravam intensamente. Ele tinha uma expressão totalmente indecifrável, seus olhos insondáveis, não piscavam e continuavam a me observar e eu podia sentir a vibração magnética que vinha dele, fazendo todo o meu corpo estremecer e no momento que ele moveu uma de suas mãos e retirou o capuz, meus batimentos cardíacos dispararam terrivelmente, como se meu coração fosse saltar para fora do meu peito. Minha garganta fechou-se como se tivesse um nó gigantesco que me impedia de respirar.

“Por que ele está aqui?”

Dúvidas e mais dúvidas martelavam em minha cabeça. Saí dos meus devaneios quando o meu irmão quebrou o silêncio que pairava ao nosso redor.

— Eu tive tanto medo, Manu.

— Está tudo bem agora, meu amor — tento tranquilizá-lo e parte meu coração ver aquela mancha avermelhada no local onde o homem havia batido e de certo, ficaria com um grande hematoma.

Voltei minha atenção para o homem a minha frente.

— Por que você está aqui? — indago, não que estivesse reclamando, afinal, ele impediu que o pior tivesse acontecido, no entanto, era estranho que o homem que vi meses atrás estivesse dentro do meu quarto.

Quando seus lábios se moveram, fiquei ainda mais perdida.

— Estou aqui por você — sentenciou e vendo meu estado de confusão, ele prosseguiu. — Eu sou Elliot Lancaster, seu noivo.

Se eu acreditava que meus órgãos internos estavam funcionando intensamente devido aos últimos acontecimentos, agora eu tinha certeza de que nunca em toda minha vida, meu coração havia ficado desenfreado como estava. As batidas eram tão intensas que senti um desconforto em meu peito, porém, assim que Francesca e Enrico surgiram no ambiente, toda atenção do homem foi direcionada para os dois e logo em seguida me lançou um olhar gélido, fiquei atônita com o que ouço em seguida.

— Agora eu quero saber por que diabos te vi vendendo doces na rua se durante todo esse tempo enviamos uma boa quantia para que você e seu irmão tivessem uma boa vida? — vocifera furioso.

— Eu posso explicar — Francesca se antecipou e percebi que a mulher tremia como se tivesse levado uma descarrega elétrica. — Mesmo contra minha vontade, ela saia de casa e sabe-se lá o que andava fazendo.

Meu interior agitou-se, fazendo um arrepio desconhecido correr pela minha espinha. Abri e fechei a boca, sem que saísse palavra alguma, pois estava incrédula e me negava a acreditar que ela havia dito aquilo.

— Manuela se tornou incontrolável, não se deixe enganar por esse rostinho angelical, tanto que estava dando em cima dele — Enrico falou firme apontando para o sujeito que está desfalecido no chão, o qual eu nunca tinha visto até o dia de hoje.

Senti a raiva explodir dentro do meu peito e antes que viesse a dizer algo, a voz de Leonardo, num tom que nunca tinha escutado, reverberou no espaço.

— Deixem de mentir. Minha irmã saia para vender os doces ou não teríamos o que comer — lágrimas começaram a descer pelo seu rosto, mas este não se manteve quieto e continuou. — Se não fosse por ela, tínhamos morrido de fome, já que vocês nunca compravam nada.

— Cala sua boca fedelho — esbraveja Francesca e ela ao ver a fúria nos olhos do homem a sua frente, como num piscar de olhos, os dois saíram correndo.

Instantes depois ouvi gritos ecoando no espaço e assim que ele se moveu, tanto eu e meu irmão, o seguiu e ao chegar na sala, os dois que nos condenaram a uma vida sofrida e miserável, assim como o outro homem que estava com eles na sala jogando, estavam lutando para escapar das garras dos brutamontes vestidos de pretos que os seguravam.

Meus pensamentos foram interrompidos quando escutei sua voz.

— Levem-nos. Vocês já sabem o que devem fazer com eles.

— Não! Não! Nãoooo...

Francesca começou   espernear em vão e num simples movimento, eles nocautearam os três e então os levaram para fora da casa, toda a minha atenção se voltou para Elliot e se meus batimentos cardíacos estavam acelerados, ficou ainda pior ao ouvir as palavras proferidas pelo homem que vinha ocupando os meus pensamentos e jamais iria imaginar que este era aquele que fui prometida.

— Peguem tudo que quiserem levar, vocês dois vem comigo.  E, nos casaremos o quanto antes.

 

Elliot

Jamais imaginei que aquela desconhecida era justamente a mulher que o meu pai, num ato que achei insano por ser somente uma criança, decidiu que seria a minha esposa. Vi uma foto de Manuela quando tinha cinco anos, e embora jamais iria contra um acordo firmado, ela seria somente a mãe dos meus filhos. Ao longo dos anos tive várias mulheres, acabei tornando Samantha, que trabalha em minha casa de luxo em Manhattan, minha exclusiva, mas faz alguns meses que esta voltou a ser como todas as outras. Além das atividades ilícitas da nossa organização, tenho meus negócios particulares e acabei construindo um verdadeiro império ao me tornar um dos homens mais ricos do mundo, devido a ser o maior exportador de vinho da Europa. Além da sede da empresa em Florência, temos uma filial em New York, a qual Amber, alguns meses, se tornou a minha secretária, já que Abigail acabou falecendo após ser atingida por uma bala perdida em meio a um tiroteio quando saia de um supermercado.

Deixo os pensamentos de lado e olho novamente para tudo ao meu redor sentindo mais uma vez a raiva crescer dentro do meu peito. Aqueles dois infelizes deveriam cogitar que cedo ou tarde a verdade viria a torna, desde a morte de Matteo, sabendo que eles não tinham meios para se manter, Francesca foi até a nossa casa e ciente que Manuela e Leonardo ficariam sobre sua responsabilidade, ela, além de receber mensalmente uma generosa quantia para as despesas da casa, roupas e tudo que os dois viessem a precisar, havia um valor ainda maior destinado para que eles tivessem uma boa educação, afinal de contas, Manuela Ricci seria futuramente a esposa da máfia e precisava estar bem instruída para ser a dama perfeita perante todos.

Confesso que não me agradou em nada a ideia da mamma em querer antecipar o casamento, mas agora se tratando daquela, a qual não saia da minha cabeça, unirei o útil ao agradável.

Volto minha atenção para os dois que apareceram em minha frente.

— Vamos!

Enquanto deixamos o lugar, dei ordens para que tirassem o maldito que ainda está desacordado dentro do quarto e tivessem o mesmo destino dos outros três. Já do lado de fora, seguimos até o veículo, depois de acomodados, meu olhar foi de encontro a mulher que acariciava os cabelos do irmão que tinha a cabeça deitada sobre suas pernas.

Tinha outros planos para Manuela, mas agora ela será toda minha e para sempre, minha.