02

Alguns minutos antes...

MANUELA

Estou fiz porque hoje completei dezenove anos, mas como sempre, o único que me parabenizou foi o meu irmão. Tanto eu, como Léo tinha tomado banho e estávamos prontos para dormir, embora o barulho vindo da casa tivesse ultrapassado as paredes e chegado até o cômodo em que estávamos. Leonardo já estava acomodado na velha cama em que dormia, não muito diferente da minha, já que antes era um beliche de madeira que Francesca acabou mandando separar. Embora o colchão esteja num estado caótico nos causado vários tipos de desconforto, agradecemos por não ter que dormir no chão, já que ela sempre diz que o não tem dinheiro.  No entanto, os dois hoje, pelo visto, esqueceram a situação em que vivemos, já que estão dando uma festinha em particular.

— Manu!

Volto a realidade no instante em que ouço a voz do meu irmão.

— Eu estou com fome.

Já estava esquecendo de pegar um copo de leite para ele. Pois era a única coisa que tinha para lhe oferecer. Amanhã pretendo voltar as ruas e trabalhar, pois acabei gastando tudo que tinha nos últimos dias. Num pulo, me levanto e com passos apressados, deixei o ambiente, passando pelo corredor, já dava para ouvir as vozes que vinham da sala e ao chegar nela, além do casal, havia mais dois homens que nunca tinha visto na vida. Os quatros estavam acomodados nas cadeiras ao redor da mesa e estavam jogando o que parecia ser pôquer, passei na velocidade de um raio e no instante seguinte já estava com o copo cheio de leite, saindo da cozinha. Quando passei pela sala novamente, meu olhar foi de encontro ao homem que mantinha seus olhos esverdeados fixos em minha direção, senti como se eu estivesse nua tamanha a intensidade de seu olhar sobre mim, o que me causou uma forte inquietação. Desviei o olhar e tratei de sair o quanto antes dali.

Quando cheguei ao quarto, fechei a porta, embora esta estava tão velha e não tinha chave, mas estava um tanto aliviada por Francesca e Enrico estarem em casa. Depois que Leonardo terminou, acabei me deitando, fiquei divagando em meus pensamentos, meu irmão já estava dormindo e acabei me deixando ser vencida pelo sono.

 

Minutos depois...

Comecei a me remexer inquieta, de repente, senti um calafrio me envolvendo por inteira e um peso esmagador me deixando sem fôlego. Um cheiro forte de álcool invadiu minhas narinas, fazendo-me despertar, e nesse momento, totalmente alerta, o pânico tomou conta de mim e o ruído que escapou da minha boca foi abafado pela mão grande e suada. Com os olhos muito abertos em meio à penumbra, senti minha garganta praticamente se fechando, pois, o nó que havia se formado, estava impedindo até a minha saliva de descer. Eu podia ouvir meu coração batendo forte e meu sangue pulsando freneticamente, comecei a me debater e estremeci de forma violenta ao ouvir a voz do homem que parecia carregada de desejo.

— Fique caladinha. Será tão gostoso que se tornará a minha putinha — grunhiu e arfando como um animal, ele escancarou as minhas pernas com força, deslizando uma de suas mãos pela minha coxa direita.

Sabendo qual seria o destino de sua mão diabólica, eu comecei a espernear, tentando desesperadamente tirá-lo de cima de mim, porém, o brutamonte era muito forte. De repente meu coração errou uma batida quando uma voz fraca ressoou no ambiente.

— Manu!

Silêncio! Medo... Era tudo o que eu sentia naquele momento ao pensar que algo pudesse acontecer com o meu irmão.

 

Elliot

Com a baixa temperatura, ajeito o meu sobretudo colocando o capuz sobre a minha cabeça e sigo em direção a porta.

Comecei a ficar inquieto à medida que ia me aproximando da entrada principal, dei ordens para que os homens que estavam nos dois veículos ficassem em prontidão. Quando paro em frente à casa, ouço um barulho vindo do lado de dentro, uma melodia ecoava no espaço, olhei para a campainha a minha frente e meu dedo foi de encontro ao botão. Se fosse em outra situação, esta porta nesse momento, estaria no chão. Minha memória traz à tona as caçadas que participei, fazendo meu sangue correr veloz pelo meu sistema, trazendo um calor bem-vindo nesse momento. Todavia, as lembranças desaparecem num estalar de dedos, quando a mulher abre a porta e se mostra incrédula. Ela, que até então tinha os olhos arregalados, com o medo brilhando dentro do par de olhos castanhos, exclama:

— Você!

Meus olhos rapidamente fizeram uma varredura pelo ambiente através da mulher, e ao contrário da parte externa, o ambiente tinha uma mobília velha, assim como tudo que está visível aos meus olhos estavam em péssimo estado e pelo dinheiro que vínhamos mandando a anos Manuela, era para estar vivendo feito uma princesa. Olho novamente para a mulher que parecia assustada diante da imagem a sua frente.

— Não vai me convidar a entrar, Francesca? — pergunto de forma irônica e

antes que esta viesse a responder, o som de vários gritos ecoou no espaço.

— Socorro! Ajudem a minha irmã.

O desconforto sentindo instantes atrás se intensificou e feito uma bala prestes a atingir o alvo, passei numa velocidade derrubando a mulher que logo caiu no chão. Seguindo aquele clamor, cheguei ao corredor. Gritos de desespero ecoaram como facas afiadas naquele ambiente.  Saí correndo em direção à porta e assim que cheguei em frente a ela, a abrir bruscamente. A imagem que vi na minha frente fez todo o meu corpo estremecer como se tivesse levado uma descarga elétrica de 220W. Meu sangue esquentou e todo o meu ser ficou em chamas. Pela primeira vez em minha vida, senti um grande vazio dentro de mim.

— Eu irei arrancar todos os órgãos internos desse infeliz com as minhas próprias mãos — proferi sentindo o ódio inflamando dentro de mim.

Ele saiu de cima de Manuela, enquanto eu, me movi em uma velocidade que mais parecia um raio e avancei para cima do maldito, ao mesmo tempo ele levantou sua mão, atingindo o rosto do garoto que caiu no chão a certa distância devido a força do impacto. Uma gama de sensações totalmente desconhecidas pairou sobre mim ao ver o sangue escorrendo pelos cantos de sua boa.

Sou um demônio assumido, sim, porém, uma lei que jamais pode ser violada em nossa organização é nunca, em hipótese alguma, machucar uma criança. O ódio me dominou e naquele momento já não tinha mais domínio sobre o meu corpo. Sem consegui controlar, deixei que a força totalmente sobrenatural se apoderasse do meu ser e da minha alma. Minha mandíbula se contraiu, meus olhos ardiam como se estivessem em chamas ao sentir o infeliz, que num movimento rápido e preciso, conseguiu desferir um golpe certeiro com seu pé em minha barriga. Fechei minha mão em punho e com um soco que vinha de baixo para cima, fiz com que o infeliz desse, dois passos para trás com a força do impacto. Minhas mãos se moviam freneticamente como se ganhassem vida própria deferindo uma sequência de golpes no rosto do desgraçado. Por uma fração de segundo, meus olhos se desviaram e ficaram fixos no garoto que mesmo após um golpe cruel que havia levado, se levantou e foi de encontro a irmã e os dois permaneceram abraçados, e deste modo não dava para ver o rosto dela. Foi nesse exato momento que descobri a minha verdadeira força. O desgraçado aproveitou da minha distração e acertou um golpe no meu tórax com uma força que não achei que fosse capaz. Meu peito chegou a queimar pelo golpe. Nessa hora, fechei novamente minha mão e com um soco pesado e duro como aço, atingi seu peito, o fazendo sair voando contra tudo que estava atrás dele, até que seu corpo bateu na parede e foi de encontro ao chão. Em passos largos, caminhei em direção à cama. Não conseguia entender o que estava acontecendo comigo. Nunca em toda a minha vida havia me sentido dessa forma, porém, quando ela levantou a cabeça, algo dentro de mim era semelhante a um vulcão em erupção. Meus órgãos internos dispararam trabalhando intensamente, meu corpo estava tão quente que parecia uma fornalha, fazendo todos os meus demônios se manifestarem de um jeito que nunca tinha sentido antes. Pareciam estar em festa ao se deparar com a imagem de um anjo em forma humana, um anjo capaz de deixá-los descontrolados e ao mesmo tempo, acalmá-los.

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