Acabei descendo em um ponto que era mais longe de casa do que eu esperava. A chuva continuava a cair e a rua estava escura e silenciosa, o asfalto molhado brilhando sob a iluminação alaranjada fraca dos postes.
Eu estava encharcada e tremia tanto de frio quanto de nervoso e medo, imaginando que a qualquer momento eu deixaria de estar sozinha naquela rua e que isso não seria uma coisa muito boa. Já eram quase oito horas e Mary devia estar querendo me matar, mas eu só conseguia pensar no que eu havia lido no jornal e escutado daquela bibliotecária esquisita, fora que eu ainda me perguntava como o tempo havia passado tão rápido já que para mim, enquanto estava dentro da biblioteca, apenas alguns minutos haviam se passado.
Aquela mulher da foto, Evelyn Rose... Eu estava mais do
Quando terminei o banho, sequei o cabelo com a toalha o máximo que consegui, então vesti roupas de frio confortáveis e desci com Henri para comer algo – toda aquela coisa não havia me deixado perceber o quanto eu estava com fome, afinal, não comia nada desde que chegara em casa naquela manhã.Henri cozinhou dois pacotes de macarrão instantâneo no micro-ondas e comemos tudo em silêncio. Vez ou outra ele falava algo engraçado, talvez na esperança de me fazer rir, mas eu estava tão tensa e preocupada que conseguia lhe responder apenas com risadas sem graça, coisa que fazia eu me sentir péssima.Ele estava se esforçando para me fazer manter a calma e não pirar enquanto agredia a casa mais uma vez, e eu só conseguia pens
– Eliel – eu disse quase sem fôlego enquanto me sentava no sofá tentando acalmar minha respiração descontrolada.Meu corpo suava apesar de estar gelado e eu sentia meu peito pesar, como se de repente todos os órgãos dentro das minhas costelas tivessem, juntos, muito mais que uma tonelada. Resmunguei com a dor de cabeça que chegou logo a seguir e passei o dorso da mão sobre a testa úmida para secar o suor.Percebi que uma luz pálida entrava pelas janelas e iluminava a casa. Já era de manhã? Eu me sentia muito mais cansada do que na noite passada, era como se eu houvesse passado a noite inteira em claro.Respirando fundo, me espreguicei e afastei as cobertas que se embolavam em volta de meu cor
[Eliel]Um dia antes. ◈◇◈Assim que entrei na casa de Mary, ela me disse para sentar no sofá da sala e ficar à vontade enquanto ela terminava de fazer o almoço, então assim o fiz, correndo os olhos pelo local para ter certeza de que não iria passar a tarde na casa de uma assassina de crianças.Passar tanto tempo com a Lis está realmente afetando minha sanida
O dia parecia mais frio e mórbido do que os outros e eu não sabia ao certo se era pelo céu nublado e pelo vento gelado que fazia meu rosto ficar dormente ou se era pela ausência de Eliel andando ao meu lado.Coloquei as mãos nos bolsos do casaco e abaixei os olhos para o asfalto, mais uma vez tentando plantar em minha cabeça a ideia de que meu irmão estava bem. Idiota, eu sabia que não me convenceria com tanta facilidade.Henri não havia dito uma palavra sequer desde que deixamos a casa, parecia ainda chocado com a informação de que o pai de Abelle matava crianças friamente para transformá-las em meros brinquedos. Eu não sentia um pingo de surpresa, alguma parte minha já esperava por isso – talvez a parte que, há somente
– Ok, não é tão assustador quanto eu pensava – murmurei enquanto eu e Henri andávamos lentamente por entre os túmulos do cemitério da cidade, quase que escondidos sob o gramado alto e malcuidado.– O que? Você estava esperando encontrar vampiros e demônios andando por aí livremente? – Henri perguntou de uma forma nada séria e encolhi os ombros.– É... Eu meio que tinha uma ideia bem errada sobre cemitérios já que nunca tinha estado em um antes – respondi meio envergonhada por este fato, afinal, que tipo de ser humano nunca foi em um enterro de pessoas próximas antes? – Claro que eu tenho alguns parentes mortos e tal, mas minha mãe nunca me deixou ir ao enterro ou velório deles, ela achav
Quando abri os olhos novamente, já não me encontrava mais no cemitério. Estava de pé, encarando uma enorme construção antiga, cheia de rachaduras, onde bem acima da enorme porta de entrada, letras pretas meio apagadas e desbotadas indicavam que ali era o hospital municipal de Winter Hills.Mas eu sabia que algo estava errado. Eu tinha a mesma sensação de quando tivera o sonho onde estava na realidade de Abelle, há quase duzentos anos atrás. E, diferente de quando eu "desmaiara", eu podia sentir o sol de verão queimando minha pele, o dia não estava frio e cinzento.Então, de alguma forma, eu entendi o que era aquilo. Eu havia pedido por uma explicação, por respostas, e bom, ali estavam elas, eu só precisava me esforçar u
Vi tudo ficar claro de repente e me sentei na grama com a mão sobre o peito, sentindo meu coração acelerado bater contra minhas costelas como se quisesse quebrá-las. Minha respiração estava ofegante e meu rosto formigava, parecia que eu havia acabado de sofrer um ataque de pânico.Olhei para o lado e me dei conta de que Henri estava bem ali, parado com uma cara de preocupação enquanto, aparentemente, esperava alguma reação ou fala minha.– Eu entendi – foi tudo o que eu disse com minha voz rouca e falha e o que recebi como resposta foi um olhar ainda mais confuso que o anterior. – Eu finalmente entendi tudo. Precisamos voltar.Levantei me apoiando em Henri e ignorando o fato de que tudo &agrav
Senti o látex sobre minha boca quando me preparei para gritar, impedindo que eu fizesse qualquer som além de resmungos baixos indecifráveis. Cerrei os olhos marejados pela dor quando os dedos de sua outra mão se enroscaram em meus cabelos e puxarem minha cabeça para trás com uma força surreal, me permitindo ouvir meu pescoço estalar e vários fios de cabelo se quebrarem.– Agora você vai ficar quietinha, entendeu, mocinha? – Victor disse com seu sotaque francês horrível e meu estômago se revirou. Eu sentia nojo só de ouvir aquela voz.Instintivamente comecei a me debater na esperança de me soltar, mas era tudo em vão. Para Victor era como se eu não passasse de mais uma boneca, sem peso e sem vida.