Capítulo 03

Mia Evans 

Acordei cedo como de costume, mas hoje estava com um frio na barriga diferente, estava com medo, angústia e tristeza por saber que nem tudo ficaria bem. Mas eu estava ali, de frente ao banheiro vendo ela se arrumar, minha tia diferente de mim nunca demonstrou suas dores, ela sempre estava com um sorriso no rosto mesmo com tudo ao nosso redor desmoronando, quando ela me vê ali, abre-me um sorriso enorme, ela é realmente tudo na minha vida.

— Mia, querida, eu não vi você aí, me ajude a me maquiar por favor? — Sorri vendo o sorriso dela de volta para mim.

— Claro, tia. — Passei nela tudo que eu sabia, bom, eu também não sou uma profissional quando se trata de maquiagem

— Obrigada querida, estaria perdida sem você. — Respondeu se olhando no espelho.

— Eu que estaria perdida sem você. — Disse tentando segurar as lágrimas que estavam criando um nó na minha garganta, mas falhei infelizmente.

– Ah Mia, por favor meu amor, não chore, você sabe que sua tia odeia choros não sabe? — Disse limpando meu rosto.

— Desculpa tia. — Falei entre soluços.

— Tenho certeza que não terá nada demais nesse exame e voltaremos sorrindo pra casa tá bom? — Confirmou tentando me acalmar.

— A senhora tem toda razão. — Sorri fraco tentando confortá-la e terminamos de nos arrumar rápido.

O médico que estávamos indo era o que o convênio cobria, posso ser uma simples garçonete mas o bar onde trabalho sempre oferece consultas médicas e alguns exames para seus funcionários, mas no meu caso eu prefiro usá-los com titia.

Usei a gorjeta de ontem para pagar o táxi até o consultório médico, estava tentando me manter forte para minha tia mas nem tudo são flores.

O médico nos atendeu rápido e de forma educada, pediu todos os exames dela e foi analisando um por um com cautela, confesso que eu já estava roendo todas as minhas unhas com tanta ansiedade no ar, mas minha tia continuava plena e sorridente, queria tanto ser como ela.

— Bom senhora Evans, eu sinto muito em dizer mas foi detectado um nódulo maligno no seu seio, creio que a senhora precisa começar com os devidos tratamentos o mais rápido possível. — O médico disse calmo, como se falar isso já fosse normal.

— Acho que no fundo eu já esperava por isso doutor. — Minha tia responde, e me olha sorrindo fraco. — Vai ficar tudo bem não se preocupe minha filha. — Ela diz se virando pra mim, e por ela eu segurei as lágrimas, chorar não é a solução agora é ela precisa muito de mim nesse momento.

— Vai dar tudo certo, eu tenho certeza. — Falei com toda a confiança que tirei não sei de onde, mas tirei.

— Ainda está no estágio um senhora Evans, creio que as chances de sucesso no começo são sempre maiores. — O médico afirma.

— Obrigada Doutor. — Titia responde.

— Amanhã nos vemos para a nossa primeira quimioterapia e irei lhe passar a lista de remédios, creio que o convênio de vocês não cobrirá todos.

— Ela estará aqui, doutor. — Respondo firme pegando a lista de sua mão, senti o medo percorrer a minha espinha quando vi os nomes daqueles remédios, realmente eram caros e o convênio não cobria nem a metade daquilo, mas sai da sala mantendo a calma.

— Mia. — Tia Amélia, me chama.

— Vai ficar tudo bem, não se preocupe com nada. — Falei e ela se aproximou de mim.

— Você não precisa passar por isso, talvez pudéssemos pedir a ajuda dela. — Ela diz, como em um sussurro.

— Não mesmo, sempre demos um jeito certo? E agora não será diferente. — Questiono.

— Você está certa. — Confirma titia, eu sabia dos riscos, mas a minha avó não é a melhor pessoa para ajudar alguém.

Saímos dali direto pra um restaurante,  estávamos famintas, mas logo depois fomos pra casa, normalmente às tardes eu vou para a minha universidade, pela manhã fico na cafeteria, e a noite enfrento o senhor Charles no bar.

Aqui era o meu melhor lugar do mundo, onde todos os meus sonhos tinham fundamentos de serem realizados um dia, de ser uma ótima arquiteta paisagista.

E depois de deixar minha tia descansando em casa eu corro direto para lá, provavelmente já estava atrasada de novo.

— Mia, espere, preciso falar com você.— Betty, a secretária grita meu nome em meio aos alunos.

— Olá Betty. — Digo assim que ela se aproxima de mim, estava muito ofegante.

— Ai meu Deus, eu te procurei por todo o  campus. — Diz ainda cansada, mas depois olha-me diferente. 

— Acabei me atrasando um pouco, está tudo bem Betty?  

— Mia eu sinto muito, mas acabo de saber que sua bolsa foi cortada, você agora precisará pagar a outra metade também. — Ela diz com um olhar triste, e eu sinto os meus olhos pesarem. — Não chore por favor, eu não pude fazer nada.

— Não foi sua culpa Betty, mas agora o que vou fazer? — Comecei a pensar na tia Amélia, na doença, no dinheiro que mal daria para as contas, imagine para a outra metade da bolsa.

— Sinto muito Mia, mas você só tem uma semana para procurar a ala jurídica. — Completa.

— Como está o valor da minha mensalidade mesmo?  — Pergunto e ela me olha sem graça, então escreve na prancheta e me mostra. — Caramba, pra que tantos zeros? — Ela riu sem graça.

— Eu sinto muito mesmo. — Betty diz.

— Não se preocupe Betty, eu sempre dou um jeito, mas me diga por favor como se chama a empresa que arcava com as bolsas daqui?

— E a Walker Construções, parece que ela achou desnecessários todos os gastos investidos aqui.

— Que pena Betty, vários sonhos estão sendo destruídos com essa atitude maldosa.

— Estarei te esperando Mia, para podermos acertar todo o seu curso. — Ela diz saindo dali, e eu mal consegui prestar atenção na aula.

Tudo aconteceu tão rápido.

Não consegui passar em casa para tomar um banho, acabei saindo mais tarde da aula e decidi mandar uma mensagem para tia Amélia avisando que iria direto pro trabalho hoje, talvez seria melhor que eu estivesse em casa nesse momento, dando apoio a minha tia como ela sempre fez comigo, mas sou fraca e não sei se conseguiria e a última coisa que ela precisa agora é de uma menina correndo pelos cantos da casa chorando sem fazer nada por ela.

Assim cheguei, depois de pegar dois metrôs super hiper mega lotados e ficar praticamente espremida, esse normalmente é o horário que todos vão pra casa descansar do dia puxado, mas comigo sempre é o contrário, mas como dizem por aí, trabalhe enquanto eles dormem. A minha amiga Penny já estava lá limpando a parte do balcão dela, ela sorri quando me vê.

— O que tá fazendo aqui? — Ela diz.

— Tô atrasada aqui também? — Pergunto procurando o celular na minha bolsa para ver as horas.

— Não, mas eu disse ontem que ficaria pra você passar mais tempo com sua tia. — Fala baixinho pra que ninguém nos ouvisse.

— Eu ficar lá não vai curar ela Penny. — Digo triste e ela me olha com pena.

— Eu sinto muito Mia, mas tenho certeza que ela ficará bem em breve. — Sorrio fraco.

— Claro que vai — Confirmo mesmo nem sabendo o que estava por vir.

O bar estava cheio para a alegria de Charles que não parava de andar por todo o salão cumprimentando aqueles homens de ternos chiques, alguns até eram bonitos, outros nem tanto. Mas quando eu o vi tudo parou por um segundo, o homem da noite passada entrando no salão do bar e não era o de terno preto, era o outro de pele branca e cabelo castanho, até parecia ruivo se colocado em um sol escaldante, mas sem sombras de dúvidas ele era o homem mais bonito que eu já havia visto na vida, eu nunca demonstraria isso a absolutamente ninguém e por sorte ou azar ele caminhou até a minha direção e se sentou à minha frente.

— O que posso lhe servir senhor? — Pergunto  olhando em seus olhos, normalmente não faço esse tipo de coisa, o que pudesse evitar de contato eu evitava.

— Prepare-me um Martini. — Diz me observando sem nenhuma expressão facial, mas não ligo para essa besteira e faço seu pedido bem rápido, o servindo logo em seguida.

— Creio que não fomos muito bem apresentados na última vez, o meu amigo estava fora de si e eu bem mal humorado. — Ele responde assim que vê a bebida.

— Acredita que eu nem notei senhor? — Falo nítida, e ele sorri pela primeira vez.    

— A propósito sou o Liam Lins. — Ele estende a sua mão em minha direção.

— Sou a Mia, provavelmente já tenha esquecido quando falei ontem. — Falo em tom baixo.

— Mia Evans, estudante de arquitetura e paisagismo, mas também é dona de uma cafeteria e barmaid, mora com sua tia desde pequena. — Ele completa.

— Você normalmente pesquisa sobre todas as pessoas que conhece? — Pergunto curiosa enquanto ele levanta o copo e toma um gole da bebida.

— Não, só das que eu tenho interesse. — Rebate em tom sedutor.

— Provavelmente não esteja à altura de atender um profissional como você, senhor Lins.  

— Então me conhece certo? — Questiona.

— Talvez você seja uma celebridade no mundo arquitetônico, de todos os belos projetos que já desenhou por todo o mundo, e só talvez eu admire o seu trabalho. — Digo simples escondendo o fato de que estava com o celular ligado vendo sua biografia no g****e.

— Pelo que li sobre você Mia, tem um grande talento no paisagismo e terá muitas chances na vida. — Diz sério.

— Acho que isso não será possível, eu sou bolsista mas hoje recebi a notícia que perdi a metade da minha bolsa pela falta de profissionalismo da Walker Construcoes e infelizmente não tenho como bancar o restante. — Falei alfinetando-o, se ele é Liam Lins então também é dono dessa empresa.

— Talvez eu possa te ajudar. — Responde misterioso.

— Impossível senhor Lins. — Respondo limpando o balcão sem o olhar.

— Tenho uma proposta, senhorita Evans. — Ouço com atenção. — Preciso de alguém para fazer ciúme a minha noiva Madison Pierce.

— A noiva que o seu amigo disse na noite passada que o deixou para se casar com outro? — Digo sincera e ele indaga.

— Santiago é sempre muito exagerado, não foi bem assim que tudo aconteceu. — Afirma.

— Não sei se isso será uma boa ideia. — Questiono.

— Você não terá que fazer muita coisa, apenas me acompanhar em eventos e ser minha segunda assistente no escritório.

— Não entendi a parte de ser sua assistente. — Digo.

— A Madison ainda cuida do marketing da minha empresa, então é claro que ela sempre anda por lá, e vê-la trabalhando comigo irá deixá-la com raiva, já que eu nunca permiti que ela trabalhasse diretamente da Lins Arquitetura todos os dias da semana.

— O que eu ganharia com toda essa farsa? — Pergunto curiosa.

— Não está claro? Te darei toda a bolsa de estudos e ainda pagaria pelo seu trabalho na minha empresa para ajudar você e sua tia. — Paro por um segundo e penso, imagine como seria perfeito ter em meu currículo um estágio na grande Lins Arquitetura, com certeza isso me abriria várias portas, sem esquecer o fato de que isso ajudaria nos remédios de titia.

— Aceito o seu acordo, porém quero deixar bem claro que você não pode tocar em mim sem a minha permissão de jeito nenhum. — Ele ri, como se tivesse achando engraçado aquilo que acabo de dizer.

— Não se preocupe com isso, além do mais você não faz o meu tipo. — Rebate irônico, me deixando no chão.

Como assim não sou o tipo dele?

— Ótimo. — Digo seca, e ele sorri e em seguida leva a mão no bolso do paletó e tira um cartão do mesmo  colocando em cima do balcão.

— Aqui está o endereço da empresa, te espero lá amanhã às dez horas. — Diz sério, como se aquilo fosse a coisa mais importante do mundo. 

— Claro, estarei lá. 

— E por favor, não se atrase, senhorita Evans, não quero que conheça o verdadeiro senhor Lins logo no início. — Disse tão frio, que senti o medo percorrer cada parte do meu corpo. Ele arrumou o paletó como se já não estivesse metricamente no seu lugar, se levantou e saiu sem sequer se despedir.

Perco-me encarando aquele cartão na minha mão e o guardo imediatamente quando a Penny se aproxima.

— Quem era aquele galã? — Perguntou Curiosa.

— Não o conheço. — Respondo simples enquanto secava algumas taças.

— Sei. — Disse irônica e volta pro seu lugar

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