Capítulo 05

Mia Evans

Realmente aceitei essa palhaçada de noivado de mentira? 

Sério Mia? 

Logo você que sempre sonhou em um dia conhecer o que é o amor verdadeiro entre duas pessoas.

Mas sabe quando você tem um sonho e que talvez custe alguma coisa realizá-lo? Esse era o meu caso, eu queria muito realizar o sonho de me formar e de poder no futuro ser uma mulher independente e melhorar a situação da minha família, que no caso sou eu e a tia Amélia.

Então pensei a noite inteira sobre essa proposta, e decidi aceitar. O Liam é um homem de uma boa reputação, pelo visto ele não é muito sociável a muitas mulheres já que namorou a vida inteira com Madison, filha de uma modelo francesa aposentada e um empresário bem sucedido da Califórnia, é talvez eu tenha ficado stalkeando a vida deles um pouco na internet enquanto o meu sono não vinha mas nada demais. Descobri também que Liam é filho do senhor Walker, o homem que destruiu o meu sonho, será mesmo só coincidência? Minha vontade era de falar com o pai dele sobre o sonho que ele destruiu, mas do que adiantaria não é mesmo?

Quando eu coloquei os pés no escritório do Liam me encantei, tudo era bem desenvolvido e arrumado no seu lugar, um ambiente que circulava bem o ar entre todos ali, mas as pessoas eram caladas, ninguém falava nada a não ser a Charlotte que me tratou super bem desde que entrei, e quando saí da sala dele ela já veio em minha direção.

— Senhorita Evans, precisa de mais alguma coisa? — Perguntou.

— Não Charlotte, obrigada. — Já estava saindo dali quando resolvi voltar. — Charlotte. — Ela se aproximou mais uma vez. — Você gosta do seu chefe? — Perguntei em tom baixo.

— Sim, quando ele não está de mau humor é um doce de pessoa. — Respondeu empolgada.

— Em quais dias ele está de mau humor?

— Normalmente todos os dias, senhorita Evans. — Concordei fazendo um movimento com a boca.

— Muito esclarecedor o seu comentário Charlotte. — Indaguei e ela me olhou orgulhosa.

Saí dali direto pra universidade, não estava atrasada, bom mais ou menos, o meu carro acabou ficando uma hora e meia enguiçado na estrada, não é porque ele é um Toyota 2015 que ele é necessariamente velho, ele sempre deu conta do recado.

Fiz todas as minhas atividades, até fiz um projeto de uma casa de campo, mas tirando isso eu passei o dia evitando a Betty, talvez eu precise esperar o senhor Lins cumprir com sua parte do acordo logo, ou apenas lembrá-lo da sua parte, será que tô sendo desesperada demais? Sim, talvez eu seja.

Cheguei em casa exausta, mas mudei assim que eu vi a tia Amélia ali na cozinha fazendo biscoitos como ela sempre fazia.

— E aí moça bonita. — Falei sorrindo a ela, que me respondeu com outro.

— Oi querida, que bom que chegou, a torta está quase pronta. — Indagou, pegando a mesma do forno.

— Tia. — Suspirei — Preciso lhe contar uma coisa. — Ela me olha com atenção, enquanto eu tento pensar no melhor jeito de dizer que estou noiva. — Consegui um estágio remunerado em uma empresa de arquitetura e agora não vou mais precisar ficar no bar. — Tia Amélia sorriu e puxou- me para um abraço apertado.

— Sempre sonhei no dia que você sairia daquele bar Mia, não é por nada, mas você sabe como aquela rotina noturna era perigosa. — Exclamou.

— Também estou feliz com essa nova oportunidade, vou conseguir comprar seus remédios. — Sorri fraco, mas a tia Amélia ficou triste.

— Você não merecia passar por isso, eu que deveria sustentá-la para que sua única preocupação fosse seus estudos, eu sinto muito ter falhado com você minha querida sobrinha.

— Por favor não repita isso nunca mais, somos uma família, e família cuida um do outro. — Abraçá-la era minha maior terapia naquele momento, confortá-la ao ponto dela nem que por um breve momento esquecesse dessa m*****a doença. — Eu te amo tia Amélia. — Exclamei e ela me olhou orgulhosa.

— Também lhe amo minha princesa. — Nós jantamos juntas, logo depois a deixei sozinha em casa e fui até o bar pedir demissão ao Charles, e acredito que parte de mim esteja dando pulinhos de alegria por essa atitude.

O bar hoje estava vazio o que foi uma grande ajuda, preciso mesmo falar com a Penny com cautela.

— Mia, você está atrasada. — Ela cochichou assim que eu entrei. — Porque não está de uniforme? 

— Preciso falar com você, onde está o Charles agora? — Perguntei.

— No escritório, a barra tá limpa. — Brincou.

— Não posso mais trabalhar aqui, eu estou noiva. — Falei de uma vez e a Penny ficou surpresa.

— Caiu no caminho e bateu com a cabeça? — Questionou.

— Não brinca com isso Penélope, é real. — Afirmei.

— Mia até ontem você não tinha nem namorado e como hoje tá noiva? Arrumou um cupido e eu não tô sabendo? — Ri mas confirmei na minha cabeça o que eu tinha dito ao Liam, nunca conseguiria enganar a Penélope.

— Posso te contar depois? Agora preciso falar com o Charles. — Implorei.

— Fique acordada que quando eu sair daqui vou dormir na sua casa com você, quero saber dessa história maluca.— Assinto indo bater na porta do escritório do Charles.

Assim que eu bati ele gritou alto, para que entrasse.

— Boa noite senhor Charles, queria muito falar com o senhor. — Disse fechando a porta.

— O que você está fazendo aqui? Esse é o seu horário de trabalho, senhorita Evans. — Disse já se alterando.

— E sobre o trabalho que quero falar com o senhor, agradeço a oportunidade mas não poderei mais trabalhar aqui. — Ele olhou-me meio feio.

— Já adivinhava que você não iria aguentar por muito tempo, creio que você gosta de trabalhar nos quartos. — Disse irônico, mas infelizmente eu entendi muito bem o seu propósito.

— Creio que está errado, senhor Charles, não sou nenhuma puta, mas não lhe devo satisfações da minha vida, com licença. — Falei e me virei pra sair da mesma, esse homem é mais insuportável do que eu imaginava.

— Não pise aqui nunca mais sua ingrata. — Ele exclamou com raiva, e eu ri, debochadamente.

— Será um prazer enorme. — Disse saindo dali rápido, sem esperar qualquer reação dele, mas no final eu nem fiquei triste por tal comentário, eu realmente sempre quis fazer isso.

Passei pelo salão do bar e disse a Penny que a esperava em casa, e sair às pressas dali.

Provavelmente devo ter pego o metrô mais cheio dos últimos tempos, mas até que enfim cheguei na minha humilde residência.

Tia Amélia já dormia então não fiz barulho, ou tentei não fazer tanto. Sentei-me no sofá e comecei a ler enquanto esperava a Penny.

Prin prin ... era o som da nossa campainha mas pelo visto a Penélope não sabe o quão barulhenta pode ser uma, desci rápido e abri para ela.

— Achei que estava dormindo. — Disse a cínica e eu fiz movimentos com a boca.

— Até parece que eu não conheço você.

— Você não tem ideia de como o Charles estava rabugento hoje, acredita que ele fez todo mundo ter mais raiva dele ainda?

— Acredito que sim, ele me ofendeu da forma mais baixa possível.

— Queria sair daquele emprego também. — Confessou. — Mas chega de falar disso, me explica o que aconteceu com você pra ficar noiva do dia pra noite, e o mais importante, quem é o noivo? — Questionou curiosa.

— Liam Lins. — Disse simples mas ela arregalou os olhos e abriu a boca tampando a mesma com as mãos.

— Isso é uma pegadinha? Porque se for não tem graça. — Murmurou.

— Não é pegadinha, é verdade.

— Você tá noiva daquele galã que sai toda semana naquela revista chic? Como assim Mia? Onde foi que eu dormi? — Ri enquanto ela parecia uma patinha perdida num lago.

— É um contrato de noivado. — Ela olhou-me muito surpresa.

— Um contrato? Como assim um contrato? Cadê a menina sonhadora que acreditava em amor verdadeiro? — Ralhou Penélope.

— Eu ainda acredito, mas senta, vou te explicar todos detalhes. — Ela se sentou à minha frente e eu comecei a contar tudo, a Penny fazia caras e bocas enquanto me ouvia.

— Então isso tudo só vai durar quatro meses? — Perguntou.

— Isso, porém pode acontecer de terminar antes, depende da tal Madison. — Respondi.

— Mas eu tenho um cunhado certo? — Perguntou sorrindo e eu apenas fiquei sem reação.

— De mentirinha. — Afirmei.

— Mas eu tenho. — Disse confiante. — Mesmo que seja mentirinha. — Nós rimos. — E se ele e você? Bom e se vocês dois? — Disse maliciosa.

— O que? Claro que não! Você já viu como é o Liam? Ele parece o Charles só que em uma versão mais nova.

— E muito mais gato, já viu as fotos daquele homem sem camisa na internet? Meu Deus Mia, você tem sorte de pelo menos admirar aquele corpinho sarado de perto.

— Que tarada. — Joguei uma almofada nela.

— Você vai começar no trabalho novo amanhã? 

— Sim, mas estou muito nervosa, aquela empresa é o sonho de qualquer universitário Penny.

— Você vai arrasar, tenho certeza. 

No dia seguinte acordei, me arrumei com minha melhor roupa e fui com toda a minha coragem para o primeiro dia na Lins Arquitetura.

Se não fosse pelo meu carro enguiçado eu chegaria na hora prevista, mas o que são dez minutos de atraso não é mesmo? Como se alguém fosse morrer por isso. 

Quando adentrei ali todos já estavam em seus devidos lugares fazendo suas respectivas tarefas, ninguém notou a minha presença, aproximei-me mais da mesa da Charlotte e ela sorriu quando me viu.

— Senhorita Evans. — Disse feliz mesmo parecendo bem atarefada.

— Chama-me apenas de Mia, Charlotte e quero me desculpar pela demora, meu carro enguiçou de novo.

— Eu entendo, mas tem alguém ali dentro que não está muito contente hoje. — Disse olhando a sala do Liam.

— Preciso falar com ele. — Disse baixo e ela confirmou, foi em direção a sala dele e eu fui logo atrás.

— Senhor Liam, a senhorita Evans acabou de chegar. — Ele nos olhou e seu olhar parou em mim, me analisou dos pés a cabeça mas eu não conseguia decifrá-lo.

— Um pouco mais e você chegaria na hora do almoço senhorita Evans. — Liam, disse nervoso mas ao mesmo tempo calmo.

— Desculpa, meu carro … — Ele faz um sinal para que eu parasse de falar.

— No meu escritório, desculpas assim não são aceitas então não perca seu tempo. — Disse frio. — Charlotte, a senhorita Evans vai ficar na primeira fileira das mesas. 

— Como quiser senhor Lins. — Disse Charlotte, virei-me para sair com ela, mas ele me chamou pelo nome, me virei e sorri forçado.

— Sim senhor Lins. — Respondi o olhando com cautela.

— Hoje a tarde vamos almoçar com a minha mãe, então aqui está o cartão. — Disse sem me olhar muito.

— Que cartão? — Perguntei-lhe.

— Precisa de um anel de noivado Mia. 

— Ah claro, como fui me esquecer disso. — Disse sorrindo.

— Já pode ir. — Ordenou.

— Agora? Mas eu achei que eu poderia começar o trabalho. — Falei e logo em seguida olhei para todos os funcionários entusiasmada.

— Você começa depois. — Afirmou e eu desfiz a animação.

— Ah claro, tinha esquecido que ainda não faço diferença aqui. — Falei num tom meio esquisito e sair antes de vê o rosto dele.

Charlotte não entendeu muito quando me viu saindo em pleno horário de trabalho mas não deu tempo de inventar qualquer desculpa que fosse. 

Fui procurando lugares onde eu pudesse achar alguma coisa do meu gosto, vi uma joalheria muito bonita e famosa na internet e resolvi entrar, uma moça me atendeu e me mostrou todas as opções de alianças. 

— Eu gostei dessa aqui senhora. — Afirmei mostrando a aliança mais barata de todas, mas que mesmo assim daria pra comprar um carro novo. Por qual motivo gastar tanto numa coisa que não será real? Não entendo a mente dos ricos.

Ela colocou a mesma em um embrulho e me deu depois de pagar, não passei em nenhum outro lugar e voltei para a empresa, a Charlotte me anuncia e eu entro na sala do Liam.

— Aqui está. — Coloco a caixinha preta a sua frente e ele abre-a e depois me olha.

— Está falando sério Mia? — Perguntou, mas quem estava sem entender era eu.

— Não gostou?

— Nem um pouco, o que as pessoas irão pensar quando te verem com uma aliança simples dessa? — Ele me olha como se aquilo fosse a coisa mais importante, levanta da cadeira e pega seu paletó da mesa e o põe. — Vem, vamos comprar um anel de noivado a altura. — Disse seco e eu o segui. — Charlotte cancele todos os meus compromissos até o final do dia. — Disse assim que passamos pela secretária.

— Por que não disse a Charlotte quem sou eu? — Pergunto curiosa enquanto esperamos trazerem seu carro.

— Ela irá saber no mesmo momento dos outros. — Respondeu olhando no relógio e logo trouxeram o seu carro, não era qualquer carro e sim uma BMW Z4 preta de tirar o fôlego, fiquei tão impressionada que nem notei que ele já estava dentro da mesma me olhando sem esboço algum.

Ele foi em outra joalheria, dessa vez bem mais chique e logo um homem muito elegante veio nos atender.

— Liam, que prazer tê-lo novamente em nossa loja. — Ele disse com os braços abertos, fico impressionada como esse povo bajula o outro só por ser rico.

— Olá José, o prazer é todo meu. — O Liam me olha enquanto eu olhava toda a loja de um único lugar. — Essa é a minha noiva Mia Evans. — Ele diz sem muitos rodeios e o homem à nossa frente aparenta muito surpreso, então estendo a minha mão de forma simpática e ele a pega.

— E um prazer conhecê-la senhorita Evans, creio que não esperava por sua visita mais fico muito feliz. — Riu forçado me olhando e depois pro Liam. — E como está a senhorita Pierce, ela é uma mulher de alto bom gosto. — Olhou-me com desdém mais uma vez. 

Que magrelo que se acha meu Deus.

— Então José quero ver os anéis de noivado que você tem. — Ele nos leva para uma sala e começa a mostrar vários anéis visivelmente exagerados, e que com certeza valeria mais que eu. 

— Esses modelos são únicos, só existe uma unidade de cada um. — José ralhou.

— Que tal esse Mia? — Perguntou Liam virado para mim, o anel não era feio mas com certeza me machucaria no dia a dia.

— Esse é lindo, mas que tal esse? — Mostro-lhe outro bem bonito também, mas com os adereços menores, ele tinha uma pedra de diamantes com duas borboletas azuis pequenas do lado, ele parecia ter gostado já que pegou minha mão e o pôs.

— Esse está ótimo, e combinou com você. — Disse sereno, pela primeira vez. 

— Obrigada meu noivo. — Exclamei para que José visse e Liam percebeu já que depositou um beijo na minha mão.

Eles foram pro caixa e eu fiquei olhando o restante da loja, sei que não virei aqui tão cedo de novo, Liam me chama e saímos.

Ele estava dirigindo em silêncio e aquilo estava me deixando com muito tédio, olhei pro carro, ele com certeza abria o teto eu só precisava saber onde apertar, já que não terei segunda chance.

— Qual é, tá calor. — Falei quando ele me olhou de cara feia. Liam virou a cabeça de volta sem me dar muita importância, bom, até eu começar a cantar igual uma doida com a música passando no rádio.

— Não vai bagunçar o cabelo no vento? — Perguntou, pela primeira vez desde que entramos no carro.

— E quem liga pra isso? — Respondi sorrindo e ele deu de ombros. 

— Você é realmente diferente. — Disse sem me olhar.

— Espero ser um diferente bom. — Afirmei ele riu, pelo canto da boca.

Não demorou muito para que chegássemos na casa da mãe do Liam, uma casa extremamente linda, o jardim era muito grande que com certeza caberia o meu bairro aqui dentro, fiquei encantada com tudo, era tudo novo pra mim então acabei ficando em transe sem perceber que o Liam me esperava ali em pé, já sem paciência.

— Mia, eu não tenho o dia todo. — Disse seco.

— Ah claro, desculpe-me é que eu amo muito os jardins. — Ele tirou os óculos.

— Antes de entrar deveria saber que minha mãe não é uma mulher fácil. — Disse sincero. — Então seria bom que nós não mentissemos para ela sobre o noivado.

— O que? Quer contar à sua mãe que tem uma noiva falsa? não mesmo. Seria vergonhoso demais e pelo amor de Deus, quem não iria gostar de mim? — Disse o óbvio confiando no meu taco, Liam só levantou as sobrancelhas e me levou pela mão para perto do lago onde tinha uma grande mesa de almoço.

A gente desceu até o lugar e eu fiquei olhando a vista bonita, Liam parecia estar contando os segundos pra que tudo aquilo acabasse logo mas não vou negar que eu estava meio ansiosa.

Uma mulher de vestido vinho aparece caminhando de forma elegante na nossa direção, ela tinha o cabelo castanho para baixo do ombro e usava um batom vermelho, de jeito nenhum era uma velha.

— Liam, meu amor, perdoe a mamãe pela demora. — Ele vai até ela e a beija, depois ela olha-me pela primeira vez.

— Quero lhe apresentar uma pessoa. — Aproximo-me deles. — Essa é a Mia Evans e também minha noiva, e Mia essa é minha mãe Gretta Walker. — Estendi minha mão com um enorme sorriso, meio exagerado talvez, mas não é desculpa para o olhar de desdém sobre mim.

— Cosa intendi con la tua fidanzata figlio mio, fino a ieri stava con Madison e oggi ne ha preso un'altra? — Disse Gretta, não entendi nada, mas com certeza não eram elogios.

— Mamma, per favore parlare portoghese e non parlare così a Mia, non volevi una nuora? — Respondeu Liam, e eu feito uma patinha no meio dos dois.

—  Olá, senhorita Evans, é um prazer conhecê-la. — Disse com um sorriso, mas eu sabia que era falso.

— O prazer é todo meu, senhora Walker, mas não precisa dessas formalidades, pode chamar-me só de Mia. — Ela olhou-me e prosseguiu.

— Sente-se por favor, e conte-me mais sobre você, afinal não é todos os dias que descobrimos uma surpresa assim. — Disse irônica, como assim surpresa, então ele não a contou que eu viria?

— Bom eu tenho vinte e três anos e estudo arquitetura e paisagismo, moro com minha tia Amélia e juntas temos uma cafeteria no centro da cidade.

— Ah que ótimo, uma rede de cafés. — Disse como se estivesse aliviada, e Liam riu como se dissesse "Eu te avisei" 

— Não senhora walker, e apenas uma cafeteria pequena mas muito charmosa, aliás se quiser ir qualquer dia lá ficaremos felizes em recebê-la. — Olhou-me com indiferença de novo.

— Café? Nossa eu odeio café, minha querida, me dá rugas, por isso eu e Madison sempre tomamos chás juntas.

— Lá também servimos chás, olha que sorte. — Disse com doçura e ela olhou para o filho.

— E então Mia, como você e o meu filho se conheceram? — Perguntou, Gretta. 

— Nós nos conhecemos no bar onde eu trabalhava a noite. — Disse empolgada.

— Liam mio figlio è peggio di quanto pensassi, come puoi portare una puttana come tua sposa. — Disse ela mais uma vez em outra língua, e o Liam pôs as mãos no rosto e eu dessa vez entendi o que ela disse, ela me chamou de prostituta.

— Como assim prostituta. — Gritei, de forma educada é claro. — Olha sinceramente Liam, eu não aceito ser chamada assim. — Lhe olhei brava.

— Mamma non parla così, Mia faceva la barista in un bar in cui sono andato un paio di volte, non trattarla male. — Disse Liam, eu não sabia se ele estava ajudando a xingar ou me defendendo. 

— Quindi mi scuso con la signorina Evans. — Disse Gretta olhando-me.

— Ela está se desculpando Mia. — Afirmou Liam.

— Está tudo bem.

— Mia quando se muda para minha casa? Vou separar um belo quarto para os pombinhos, não sei se o Liam te contou mas eu sou descendente de italiano e gosto de seguir algumas tradições, e os noivos precisam passar alguns dias juntos para a família assim conhecê la   

— A sua mãe tá brincando né? — Ele balançou a cabeça em negação, me fazendo entrar em desespero. — Senhora Walker eu sinto muito lhe informar que eu não sou uma noiva de verdade, é tudo uma farsa para que seu filho volte com a ex dele. — Ela sorriu abertamente.

— Liam, por favor, não faça isso de novo, estava quase tendo um colapso nervoso. — Ela suspirou aliviada.

— A sua honestidade me comove senhora Walker. — Respondi na lata e o Liam riu.

O almoço foi meio tenso, ela ligou para alguém na minha frente e pediu para trazer uma coleção de roupas novas, não entendi muito mas não perguntei nada, o que foi na verdade um verdadeiro caos na minha cabeça. 

A senhora walker também não parava de perguntar tudo sobre a minha família, mas falei sobre mim e tia Amélia e que meus pais não estavam mais aqui então ela não foi mais afundo com isso, fiquei aliviada pelo menos por um segundo.

— Então ele não vem mesmo. — Liam disse com seu semblante fechado de sempre.

— Você sabe como seu pai é, não é culpa dele ter muitos trabalhos na empresa. — Afirmou Gretta.

— Nunca é. — Rebateu Liam. Nós ficamos em silêncio até terminar a sobremesa. — Mãe, por favor, vamos falar sério dessa vez, trouxe a Mia até aqui para que você ajude ela a se vestir melhor. — O olhei desacreditada com o queixo caído.

— O que há de errado com as minhas roupas? — Olhei-me rápido  vendo a minha saia azul e a minha camiseta lisa branca. 

— Acho que tudo, Meia. — Comentou Gretta, irônica, virei os olhos por ela dizer meu nome errado.

— Vou deixar vocês sozinhas pra fazerem isso e depois volto Mia. — Disse, Liam.

— Você vai me deixar aqui? — Sussurrei implorando. — Com ela? — Ele riu.

— É só não fazer muito contato visual, eu avisei né? — Rebateu.

— Não foi tão claro assim. — Afirmei, com ar cético, e ele saiu deixando-me para trás.

— Acho melhor começarmos logo, tenho ioga às cinco. — Disse Gretta e eu concordei, também queria acabar o mais rápido possível. Então nós saímos dali para uma sala coberta no meio do jardim.

— Tom — Gritou Gretta e um homem muito bem vestido apareceu, aparentemente de uns trinta e cinco anos. — Bom Meia esse é o Tom meu mordomo. 

— Olá, senhorita. — Estendeu a mão, bem simpático.

— Essa é a Meia Evans, ela é noiva do meu filho, mas só de fachada, o Liam nunca se interessaria por esse tipo de mulher. — Disse Gretta, tão modesta.

— Pode chamar-me de Mia. — Sussurrei para o Tom e ele sorriu confirmando.

— Bom Mia, eu já trouxe vários looks para você escolher. — Disse trazendo as araras de roupas, a maioria eram formais de trabalho.

— Acho que não é muito o meu estilo senhora Walker. — Comentei.

— Meu anjo, na vida não fazemos tudo que gostamos, principalmente as pessoas de classes menores. — Tom olhou-me sem graça e eu fiquei na minha, agora entendi de onde veio os bons modos do Liam.

— Mia, esse com certeza ficará lindo em você e cairá feito luva nesse corpinho de modelo. — Entregou-me sorrindo e eu fui experimentar de bom grado.

— Aqui está. — Voltei desfilando no meio dos dois.

— Até que não ficou tão ruim assim. — Disse Gretta.

— Ficou linda demais Mia. — Tom exclamou.

— Vou usar muito. — Indaguei.

— Não seja ingênua Meia, mulheres da nossa família não repetem roupas, e embora esse noivado seja uma farsa o meu bebê vai arcar com as despesas não se preocupe. — Disse cultuada.

— Claro, como fui pensar ao contrário. — Comentei. 

— Todas elas ficaram lindas em você Mia, espero que tenha gostado depois de experimentar. — Disse, Tom

— Gostei muito  Tom, de verdade. — Ele sorriu, sincero.

A Senhora Walker passou o resto da tarde ensinando-me coisas de etiqueta, dizendo ela que eu precisava ser pelo menos um por cento parecida com a tal Madison para não envergonhar o Liam, provavelmente isso é a coisa mais difícil que eu já fiz na vida, tentar ser o que eu não sou. 

Apesar de não demonstrar, fiquei chateada com a situação.

A mãe do Liam continuou com o serviço dela apesar que eu não estava mais aguentando todas aquelas regras tão insignificantes, permaneci firme é claro que eu não iria dar para trás agora, quando eu penso em desistir a primeira pessoa que eu penso é na a tia Amélia e é por ela e pelo meu futuro que eu vou chegar até o fim.

Quando Lia chegou eu já estava exausta, entrei no carro com ele sem dizer uma palavra sequer, mas notei de relance ele me olhando, sério como sempre sem dizer nada até que o silêncio é quebrado.

— Porque tá tão quieta Mia? — Perguntou.

— Nada, só estou cansada o dia hoje foi bem cheio. — Suspirei.

— A minha mãe não é fácil, mas com o  tempo ela se acostuma com você. — Comentou.

— Não tem nada para se acostumar. Creio que isso vai acabar logo. — Rebati.

— Você me odeia né. — Perguntou.

— Sim, mas não me leve a mal. — Murmurei.

— Não se preocupe, também quero que isso acabe logo. — Afirmou. — Amanhã você não precisa ir trabalhar já que a noite é o noivado de Madison e nós iremos juntos, então talvez precise tirar o dia para arrumar se com calma.— Concluiu Liam 

— Quem você acha que eu sou? — Respirei fundo e acrescentei. — O bobo da corte?. 

— Como? — Perguntou, desorientado.

— Você diz como se eu precisasse competir com essa tal Madison, primeiro é a sua mãe mudando totalmente tudo que eu gosto e agora isso. — Minha voz saiu embargada. — Não preciso de um dia inteiro para me arrumar. — Gritei, Liam olhou-me sério.

— Eu estava na sua faculdade mais cedo, já quitei toda a sua bolsa. — Ele se endireitou e tentou mudar de assunto.

— Obrigada. — Disse seca, ele apenas me olhou e pegou um pedaço de papel do bolso.

— Esse dinheiro já está na sua conta, todo mês receberá esse valor até terminarmos o contrato. — Exclamou e entregou-me o papel, olhei o mesmo e assustei-me com tamanho valor.

— Isso é muito dinheiro Liam. — Disse sincera.

— Foi o que estava escrito no contrato, não irá me fazer falta. — Rebateu em tom de autoridade.

— Claro, tudo está no contrato. — Comentei e ele seguiu caminho para minha casa.

— Amanhã alguém irá trazer todas as suas roupas. — Disse Liam, assim que entrou na minha rua.

— Como sabe onde eu moro sem nem perguntar-me antes? — Falei.

— Eu sei tudo sobre você Mia Evans. — Disse confiante e eu ri, irônica, tadinho.

— Ai meu Deus. — Sussurrei assim que ele estava próximo demais da minha casa. — A minha tia, o que ela faz aqui a essa hora?  — Ele levantou a sobrancelha.

— Porque o espanto? Não disse que ia contar tudo à sua tia? — Debateu.

— Mudei de ideia, ela não pode saber do contrato, de jeito nenhum! — Exclamei, virei-me para o Liam antes dele parar o carro. — Finja que está muito apaixonado por mim. — Implorei, mas ele já tinha parado com o carro bem próximo dela, tia Amélia olhava me curiosa e eu não sabia se o Liam iria compactuar comigo.

— Tia. — Disse sorridente tentando disfarçar o meu nervosismo, aproximo-me dela dando dois beijinhos, Tia Amélia não tirava os olhos de Liam.

— Pêssego, te liguei e você não atendeu, fiquei muito preocupada e já estava a pedir um táxi pra ir a sua procura minha filha, mas creio que estava acompanhada. — Debateu curiosa.

— Ah claro que tolice a minha, esse é o Liam Lins. — Fiz gestos com as mãos apresentando os dois, o Liam estendeu a mão para a tia Amélia e a comprimentou sorrindo gentilmente, pela primeira vez.

— Liam Lins? Aquele das revistas? É um enorme prazer conhecer o senhor Lins, mas se me permite perguntar, qual é a sua aproximação com a minha sobrinha. — Tia Amélia, é muito direta.

— Mia meu amor! Como não contou a sua tia sobre nós? — Exclamou em tom sádico — Senhora Evans, não era assim que planejava fazer isso, mas eu sou o noivo da sua sobrinha. — Disse tão calmo que parecia um algodão.

— O que? NOIVO? Eu ouvi direito?. — Tia Amélia disse, totalmente surpresa.

— Tia por favor, a senhora sabe que eu sempre gostei do amor, e bom, eu e o Liam estamos perdidamente apaixonados. — Eu disse, mas talvez tenha exagerado um pouco, tia Amélia sabe que eu  nunca falo sobre o amor desde que os meus pais se foram.

— Senhora Evans, eu e a sua sobrinha estávamos esperando a hora certa de contar a senhora. — Respondeu Liam com um olhar convincente. 

Ele é bom, muito bom.

— Nossa, como vocês dois se conheceram? — Ela perguntou, e eu ia responder, mas Liam tomou as rédeas.

— Conheci Mia em um bar onde ela trabalhava, foi amor à primeira vista, a gente se encontrou por vários dias e conversamos bastante, namoramos, essa semana pedi a Mia em casamento e ela aceitou. — Tia Amélia me mediu dos pés à cabeça.

— Sim, claro! Amor à primeira vista  — Disse sorrindo, enquanto o Liam continuava sério como alguém acredita nele mesmo com esse humor?

— Que notícia maravilhosa, então por isso a Mia largou o emprego e está nessa nova empresa? — Ela disse.

— Sim senhora Evans, acredito muito no potencial da Mia, por isso a contratei para ser minha assistente e estagiária da Lins Arquitetura.

— Acho que já está na hora de você ir amor, amanhã nos vemos — Falo antes que ela faça uma lista de perguntas para o Liam.

— Está mesmo na hora, Senhora Evans foi um prazer conhecê-la, e se quiser nos fazer uma visita na empresa ficarei muito feliz — Ele disse com seriedade, beijou a mão dela, deu-me um abraço rápido e foi entrando no seu lindo carro preto saindo dali.

— Bom, o que temos para o jantar? — Eu disse empolgada.

— Perguntas. — Respondeu, tia Amélia enquanto abria o pequeno portão.

— Tia, eu estou tão cansada. — Murmurei.

— Não venha com desculpas Mia, como assim está noiva? Até ontem você nunca me disse nada. — Ralhou — Meu amor, eu sei que você é uma ótima menina, mas tem certeza que o Liam Lins é o cara certo? — Indagou sério me olhando.

— Claro, tia, porque não seria? O Liam é muito bonito  — Ela me mediu outra vez e eu encarei os seus olhos cor de avelã para que ela acreditasse em mim.

— Sabe que não devemos olhar somente por fora, não é mesmo? — Disse calma.

— Eu sei, você me ensinou isso muito bem, mas é que — Suspirei fundo — Com a doença não senti que era o momento de dizer. — Tia Amélia abraçou- me forte.

— Essa doença não vai tirar a alegria, e por favor não esconda mais nada da sua tia. — Eu me senti a pior pessoa do mundo, estava mentindo para ela, para a única pessoa no mundo que eu sabia que realmente me amava.

— Amanhã é a sua quimioterapia, irei acompanhá-la tá bom? — Disse mudando de assunto.

— Não quero atrapalhar o seu dia de trabalho. — Falou olhando o anel do meu dedo.

— Não vai atrapalhar, o Liam deu-me o dia de folga amanhã. — Disse pegando os pratos.

— Ah ele deu? — Ironizou.

— A gente tem um jantar bem importante à noite, então ele disse que eu precisava descansar.

— Nossa, que bom moço. — Exclamou, e eu servi a nossa comida. 

— Conheci a mãe dele hoje, é muito simpática — Menti. 

— Quero muito conhecê-la também, quero saber onde a minha sobrinha vai entrar. — Indagou enquanto tomava suco, fiquei quieta porque não sabia o que dizer, eu e essa minha boca grande que só me mete em ciladas.

— Família, cheguei. — Gritou Penny, entrando pela porta da frente. 

— Não devia está trabalhando? — Perguntei.

— O bar teve um vazamento de gás, o Charles nos deu folga hoje, mas então passei pra te chamar pra irmos numa baladinha. — Tia Amélia olhou me enquanto cruzava as mãos.

— A Mia agora é uma mulher comprometida Penny. — Penélope olhou-me com olhar de interrogação, ela ia falar, eu senti.

— Sim claro, estou noiva esqueceu? — Disse olhando séria pra ela.

— Mas não era só.. Ah claro como pude esquecer-me disso, até queria saber se o galã de novela não tem um amigo gato.

— Penny — Ralhei.

— Tá eu sei, não é todo mundo que tem a sua sorte. — Disse fingindo tristeza e nós rimos, ela se serviu e sentou conosco, logo mudei de assunto e demos boa noite a tia Amélia e fomos para meu quarto.

— Você não disse que iria contar a verdade a ela? — Sussurrou baixinho assim que entramos no quarto.

— Você conhece ela, acha que tia Amélia aceitaria isso mesmo eu dizendo que fiz por nós duas? — Disse triste.

— Não mesmo. — Afirmou Penny 

— Vamos dormir, amanhã é um dia longo — Disse à ela que mesmo reclamando, dormiu na minha casa.

Acordei e Penélope nem estava mais, normalmente ela faz academia todas as manhãs, sai da cama e arrumei a mesma e logo depois fui me arrumar também, nada muito exagerado para ir no hospital com Tia Amélia.

Fiz o nosso café da manhã com o melhor que achei na geladeira, ela levantou-se e já desceu arrumada também, a minha tia tem um super poder, o mundo pode desmoronar em volta dela, mas ela nunca deixa de sorrir, eu queria tanto ser como ela.

— Bom dia Pêssego — Esse é o apelido carinhoso que ela me deu.

— Bom dia, moça bonita — Disse devolvendo o sorriso que ela me deu.

— Você está muito linda, vai encontrar o Liam logo cedo? — Perguntou enquanto se servia de café.

— Não, vou acompanhar a senhora no médico — Disse comendo um pão doce.

— Não precisa passar por isso Mia, sei que você tem traumas de hospitais.

— Tá tudo bem, não se preocupe. — Confortei-a 

Saímos de casa logo após, tentei ao máximo conversar sobre coisas aleatórias com ela, para que pelo menos por um breve período ela esquecesse para onde estamos indo.

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