A Barbie Traficada
A Barbie Traficada
Por: Lili Marques
Prólogo

Magie

— Mãe você tem certeza que é o único jeito? — a questionei olhando seu reflexo no espelho enquanto ela continuava a fazer o penteado no meu cabelo.

Meu coração se afundava em saber o motivo dela estar toda cuidadosa e me enfeitando daquela maneira, minha mãe só estava me arrumando para que eu conhecesse meu futuro marido, o homem que iria pagar as nossas dividas, o homem que ia colocar dinheiro na conta do meu pai para que não perdessemos a mansão e declarassemos falência de vez.

Mas a que custo? Eu estava indo me casar com um homem mais velho do que eu e que eu nunca vi pessoalmente. As únicas vezes que vi Charles foram em fotos de eventos sociais e nada mais.

— Querida, já conversamos sobre isso. — ela nunca usava palavras doces comigo, eu sabia que isso era um teatro, um que ela tinha começado desde o momento que aquele homem demonstrou interesse por mim. — Pare pra pensar na parte boa de tudo isso, você vai ter um marido que vai cuidar de você e te dar tudo o que quiser, um marido muito rico.

Meu estômago se revirou ao pensar que era só com o dinheiro que ela se importava, minha própria mãe não ligava de jogar a filha que acabou de fazer dezoito anos no colo de um homem de quarenta e nove anos. Ele tem idade para ser meu pai com toda certeza, mas isso não o impediu de dizer que me queria em troca de todo o dinheiro que meu pai precisava, logo eu estaria junto dele, as mãos dele estariam passando por meu corpo me tocando, enquanto ele me reivindicava como sua.

Quando eu pensava nisso me dava uma vontade de vomitar, todo meu corpo estremecia só de pensar que minha primeira vez seria com um velho que eu nunca conheci.

— Está na hora, ele chegou! — meu pai anunciou na porta lançando um olhar avaliador para o meu vestido. — Não demorem.

— Vamos querida, não vamos deixar o seu noivo esperando. — a animação na voz dela só fazia meu coração doer ainda mais.

Mas eu tinha aprendido que chorar não era coisa de uma mulher da nossa classe, nós engoliamos os problemas colocamos um sorriso no rosto e vamos em frente.

E foi exatamente o que eu fiz, quando eu alcancei o primeiro andar ele já estava bebendo e sorrindo com meu pai, mas seus olhos me alcançaram rapidamente.

Ele me olhou como se estivesse prestes a tirar minha roupa ali mesmo e eu senti a bile subir em minha garganta.

— Como está linda! — ele segurou minha mão e eu em um impulso tentei puxar de volta, mas ele segurou com força mostrando que não cederia. — Vamos querida, agora você é minha.

— Mas já? Pensei que fosse ficar e jantar...

— O jantar está preparado em casa, vamos direto pra lá porque tenho outros assuntos mais importantes a resolver. — ele desviou os olhos por meu corpo se concentrando no decote extravagante que minha mãe tinha me obrigado a usar.

Antes que eu pudesse discutir meus pais se despediram, praticamente me colocando para fora. Eles nem ao menos se deram o trabalho de olhar em meu rosto enquanto eu era arrastada para o carro daquele homem. Como pais podiam fazer isso com a própria filha e nem se importar?

Charles me empurrou para o banco de trás do carro sem nenhum cuidado e veio logo atrás, suas mãos já segurando minha cintura e me puxando para junto dele, a boca viscosa grudando em meu pescoço e me babando em seu caminho para os meus seios.

Eu não sabia o que era mais forte, minha repulsa ou vontade de chorar. Ele nem ao menos estava me dando tempo de respirar, então coloquei as mãos em seu ombro tentando afasta-lo a todo custo, mas isso foi ainda pior.

— Escute aqui menina, eu comprei você, paguei muito caro para entrar no meio das suas pernas e é isso o que vou fazer! — ele avisou segurando meu queixo com firmeza e me obrigando a encara-lo. — Você pode fazer isso do jeito fácil ou do jeito difícil, mas no final eu vou conseguir o que eu quero.

Engoli em seco sabendo exatamente o que aquelas palavras queriam dizer, eu podia cooperar ou sofrer nas mãos dele. Então eu fiz o melhor que podia fazer por mim naquela situação, segurei seu rosto e o beijei de volta.

Alejandro

Eu estava terminando de arrumar meu figurino quase pronto para subir no palco, a casa estava cheia e eu estava mais do que feliz com isso, quanto mais mulheres mais dinheiro e com um bebê a caminho eu precisaria de muito.

Eu nunca tinha estado tão feliz como agora, nunca imaginei que duas listrinhas em um teste me deixariam querendo soltar fogos.

Gabriela e eu estávamos namorando há dois anos já, mas ainda não era a hora certa de ter um bebê a caminho, porém isso não me impediu de pular de alegria e comemorar, não só eu, minha família inteira estava feliz com a novidade, com o novo integrante da família a caminho.

— Cara, você não tem ideia da loucura que está lá fora essa noite! — Buck exclamou voltando para o camarim, o suor e as marcas vermelhas na pele me diziam que as mulheres estavam enlouquecidas hoje.

— Ale! Anda que você é o próximo! — Bella, nossa chefe gritou.

— Me deseje sorte. — sorri saindo do camarim e andando pelo corredor que ficava atrás do palco.

Os gritos já estavam enlouquecidos e quando as luzes se apagaram e eu subi no palco o silêncio ansioso tomou a plateia. Assim que a a luz forte em tom vermelho se focou em mim o grito feminino explodiu no lugar novamente.

— TEM ALGUMA MULHER PEGANDO FOGO AQUI HOJE? — o DJ gritou enlouquecendo as mulheres ainda mais. — PORQUE O BOMBEIRO ALEJANDRO VEIO AUMENTAR ESSE FOGO!

A música começou a tocar e eu fiz a minha dança, seduzindo com o olhar e movimentos, descendo do palco e indo até as mulheres na plateia me insinuando, deixando que os movimentos sensuais deixassem mexessem com a imaginação e o corpo delas. Voltei para o palco pronto para o final do número, tirando a calça e forjando um sexo contra o chão antes de ligarem as chamas em volta do palco.

Todas as mulheres estavam gritando, ensandecidas quando eu deixei o palco voltando para o camarim. Mas quando entrei lá não haviam os sorrisos e conversas animadas, todos os meus amigos estavam ali com as expressões sérias, preocupadas me encarando.

— Que porra aconteceu? — perguntei de uma vez, já sabe do que não era algo bom.

— Sua mãe ligou, Gabriela foi levada para o hospital as pressas. — Bella foi quem deu a notícia. — O carro está te esperando, Leo vai te levar.

Meu coração se apertou dentro do peito e eu senti como se me faltasse ar, medo me tomou, medo que algo de ruim tivesse acontecido com ela ou com nosso filho.

Buck empurrou minhas roupas em meus braços, me ajudando a raciocinar e eu corri para fora, deixando para trocar as roupas dentro do carro.

Durante todo o caminho até o hospital meus pensamentos iam para todos os lados, mil e um cenários se criavam em minha mente e aquela sensação sufocante não me deixava.

Quando Leo chegou eu corri para fora sem esperar que ele parasse o carro e fui chamando por ela.

Minha mãe e minhas irmãs estavam na recepção, o choro tomando minha família quase fez com que eu desabasse no chão.

— O que aconteceu? Onde está Gabriela? — perguntei desesperado sacudindo minha úncia irmã que não parecia estar se derramando.

— Ela está lá dentro, passando por uma cirurgia. — aquilo me deixou ainda com mais medo, mas Carla não usou um tom terno ou preocupado, ela parecia estar com raiva.

— O que aconteceu... O que aconteceu com ela?

— Gabriela tomou um remédio para tirar a criança, mas as coisas deram errado e ela teve uma hemorragia. — foi Elisa quem respondeu, sentada ao lado da minha mãe com o rosário na mão e rezando.

— Não, não, não. Ela não faria isso. Gabriela não... Não seria capaz disso. — repeti várias vezes sentindo minhas forças se acabarem e as pernas falharem, me fazendo cair no chão.

— Aquela vadia devia morrer não o bebê! — Carla rosnou soltando mais um monte de palavrões.

Mas aquilo não podia ser verdade, não podia. Ela não estava totalmente feliz com a notícia, mas nunca tinha me dito que pensava em tirar, nunca tinha trazido o assunto a tona.

— Parentes de Gabriela Cortes! — o médico anunciou e eu me ergui no mesmo instante, desesperado por saber que eles estavam bem, ela e nosso bebê.

— Eu, eu sou o marido dela. — falei mesmo que não fosse a verdade.

— Senhor, conseguimos estabilizar o estado dela, agora a paciente já está fora de perigo. Ela ainda está sedada da anestesia, mas vai acordar em breve.

— E o bebê doutor? Nosso filho, como ele está? — questionei já me sentindo um pouco aliviado por ela estar bem.

O homem olhou em volta, como se procurasse uma forma de me dizer aquilo e eu não pude deixar de odiá-lo por isso, por prolongar minha agonia.

— Eu sinto muito, não conseguimos fazer nada pelo feto. — e novamente eu senti como se tivesse sido atingido por um soco na boca do estômago. — Era uma gravidez muito recente e a quantidade de remédio que ela tomou tornou impossível salvá-lo. A única coisa que podíamos fazer era salvar a mãe e demos o nosso melhor para isso. — eu caí no chão deixando que os sentimentos tomassem o melhor sobre mim. — Queria poder dizer que vocês vão ter outra chance, que ela vai engravidar outra vez, mas infelizmente tivemos que retirar todos os órgãos reprodutores dela, foi o único jeito de parar a hemorragia e estabiliza-la.

Eu ouvi tudo o que ele disse sem conseguir fazer ou falar nada, minha mãe e minhas irmãs discutiam a minha volta, mas eu não prestava atenção em mais nada. Tudo o que eu tinha na cabeça era o desejo de perguntar a Gabriela o porque, porque ela tinha feito isso sem nem me contar. Se esse era o desejo dela eu teria ajudado, pagado um hospital para que ela não corresse nenhum risco, tudo o que eu me importava era com ela. Mas ela não só decidiu tudo sozinha, como quase se matou.

Eu fiquei ali remoendo todos os acontecimentos por tempo de mais, até que fosse chamado para vê-la.

Quando entrei no quarto meu peito se afundou ainda mais, vendo ela cheia de fios e parecendo tão frágil, a pele sempre bronzeado agora estava pálida assim como os lábios.

— Ei linda, como você esta se sentindo? — falei baixo quando cheguei ainda mais perto dela.

— O que está fazendo aqui? — foi a primeira coisa que ela perguntou me chocando.

— Como assim? Você está no hospital e eu estou aqui com você, vou ficar aqui do seu lado.

Gabriela bufou revirando os olhos, como se minha palavras a incomodassem de alguma forma. Mas eu não conseguia entender o motivo, não tínhamos brigado e até eu sair de casa acreditei que tudo estivesse perfeito entre nós. Porque isso agora?

— Você tem que parar de ser assim Ale, de ser tão bom com as pessoas. Não vê que isso está acabando com você? — as palavras dela me deixaram ainda mais confuso. — Não tem um jeito fácil de dizer, então lá vai, eu fiz isso porque não queria um filho com você, não queria ter um filho com uma pessoa pobre.

— O que?

— Nós dois viemos de um lugar pobre, cercado de pessoas do mesmo nível, mas não é o que eu quero pra mim, nunca foi. Só agora me deu conta de que tinha que fazer algo por mim e por um fim nesse ciclo. — Gabriela pegou minha mão, afastando dos seus cabelos, dando dois tapinhas antes de larga-la. — Eu vou embora da cidade, vou atrás dos meus sonhos.

— Do que está falando Gabriela? E nossos planos? Tudo o que sonhamos em fazer desde pequenos?

— Se eu continuar com você e aqui, nunca vou conseguir nada. Está na hora de ser adulto e cair na real Alejandro, aquilo foi coisa de adolescente e já não somos mais. Acabou.

Eu sentia como se estivesse em um maldito pesadelo e que a qualquer momento eu fosse acordar assustado, suado e gritando, mas que ela ia estar do meu lado me acalmando e dizendo que não ia a lugar nenhum.

Mas isso nunca aconteceu, eu tive que crescer como ela disse, mas não deixei meu lado bondoso, nem de acreditar nas pessoas, isso era uma coisa que nunca deixaria e tinha certeza que eu ia encontrar alguém que me amasse assim.

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