POV de Alysson O vapor preenchia o banheiro enquanto eu inclinava o chuveirinho para lavar a cabeça de Cris, agora com os cabelos molhados grudados na testa. Ele ria enquanto tentava pegar a espuma que escorria por seus bracinhos rechonchudos, tão inocente e despreocupado que às vezes eu invejava aquela pureza. Ser babá dele tinha começado como uma maneira de manter as contas pagas, mas agora, meses depois, eu o considerava quase como parte de mim. Era impossível não se afeiçoar àquele menino doce. — Allysson? — a voz de Dilan veio da porta, baixa e tranquila, mas suficientemente firme para atravessar o ruído da água. Virei-me um pouco, surpresa. Ele raramente aparecia no meio do banho de Cris, preferindo me deixar lidar com essa rotina. Dilan estava encostado no batente, os braços cruzados sobre o peito. Usava uma camisa azul-clara arregaçada nos cotovelos e calças de alfaiataria, como se tivesse acabado de sair de uma reunião. Mas seus olhos... havia algo diferente neles. Não e
POV de Alysson Eu estou em uma espécie de encantamento, só pode! Mary Jane me ajudou a escolher uma roupa para jantar com o Dilan mais tarde. Fomos às compras e meu pai estava nitidamente desconfortável! Quando voltamos, depois que consegui colocar Cris para a soneca da tarde, Mary Jane levou Robert para a piscina e meu pai veio falar comigo: — Filha, o que você está fazendo? — Não entendi, pai! — Você está estranha, Allysson. Quando viemos pra cá, você odiava o senhor Stain, agora está saindo para jantar com ele? Até semana passada você tinha um namorado que você ia encontrar nas noites de sexta feira. Agora está se produzindo toda para ir jantar sozinha com nosso patrão? Essa não é você, Allysson! — Tá bom, papai. Vamos conversar. Mas é com honestidade? — Do que você está falando? Sempre conversamos com honestidade, filha! — Se vamos conversar abertamente, papai, eu preciso saber, antes de qualquer coisa: porque o senhor foi se encontrar com Sammuel? — Como você sabe disso?
POV de DilanQuando Allysson saiu do quarto, acompanhada de Mary Jane, eu perdi a fala. Até Jhon, o pai dela, ficou admirado da elegância da babá, que sempre prefere roupas confortáveis e tênis. Eu devo estar ficando louco, mas reparei bem no pescoço dela. Está usando uma gargantilha que dei a Melissa no aniversário de 24 anos dela. E puta que pariu, o pescoço dela era alongado, igual o da minha Mel! Devo estar sugestionada pelas jóia, pois eu beijei muitas vezes aquele pescoço e nunca percebi isso. Quando peguei na mão de Jhon para sair do apartamento com a filha dele, como um pretendente deve fazer, tive a certeza de que estava ficando louco sim! Pois eu comparei os olhos de Jhon Allister aos de Melissa também! Enquanto dirigia, pela primeira vez com Allysson ao meu lado no banco da frente, pensava nessa situação toda: Melissa estava presente em minha mente hoje, só pode! Mas porque? Tudo bem, era a primeira vez que saia com outra mulher desde o parto dela, mas era só um jantar!
Levantei-me, caminhando para fora do restaurante. O vento frio da noite me atingiu enquanto atendi a ligação. – Dilan, sinto muito te incomodar, mas precisamos de você – começou Debby, sem rodeios. – Encontramos os pais de Soraya. O ar pareceu sair dos meus pulmões. – Onde? – perguntei, tentando não antecipar o pior. Houve uma pausa do outro lado da linha, e então veio a resposta que eu temia. – Eles foram encontrados mortos no terreno próximo ao Complexo B. Isso é oficial agora. Fechei os olhos, sentindo a notícia me atingir como um soco. – Estou a caminho – disse, encerrando a ligação. Respirei fundo antes de voltar para dentro do restaurante. Allysson estava me esperando, com os olhos fixos em mim. Ela sabia que algo estava errado. Sentei-me de volta à mesa e olhei para ela. – O que foi? – ela perguntou, com um tom ansioso. Olhei ao redor, verificando se tínhamos privacidade suficiente, e então falei: – Allysson, preciso te contar algo... muito sério. Ela
A porta do quarto estava entreaberta, e eu fiquei parada no corredor por alguns instantes, tentando organizar os pensamentos. Como contar para uma criança de doze anos que seus pais não voltariam mais? Robert estava lá dentro, no enorme apartamento de Dilan, onde ele e eu estávamos morando temporariamente. Dilan tinha insistido que o garoto ficasse ali, dizendo que não confiava em deixá-lo sozinho em um lugar cheio de memórias que, agora, só trariam dor. Eu era a babá de Dilan, mas nunca me senti tão fora da minha profundidade quanto naquele momento. A responsabilidade que eu sentia era esmagadora. Robert não era só um menino; ele era o irmão mais novo de Soraya, minha melhor amiga, que também estava desaparecida. Empurrei a porta suavemente. O quarto estava escuro, iluminado apenas pela luz da rua que entrava pela janela. Robert estava sentado na cama, abraçando os joelhos. Ele nem se virou para me olhar. — Posso entrar? — perguntei, tentando manter a voz tranquila. Ele deu d
Eu estava vivendo tempos muito difíceis. Robert pediu pra não fazer alarde sobre a morte dos pais e disse que não queria se despedir. Depois do desespero, me disse que não era como se eles fossem os pais mais amorosos do mundo, e que ele estava mais preocupado com Soraya. Tentamos seguir nossa rotina, e os dias foram passando e nada de ter notícias dela. Eu decidi que ia viver uma montanha russa de cada vez, então fechei o fato de ser irmã de Melissa em um compartimento em meu cérebro. Tranquei e guardei a chave, e fiz o mesmo com a carta testamento dela escondida em minha mochila. Mary Jane e meu pai estavam fazendo a vontade de Robert: todo mundo fingia que nada tinha acontecido, ninguém falava nos pais dele ou em Soraya. Dilan cuidou do sepultamento discreto, mas não falava mais comigo como nos dias que antecederam ao ocorrido. Na verdade, Dilan Stain mal aparecia em casa depois desse episódio, parecia sempre muito ocupado, sempre muito tenso. E eu percebi que ele estava se esfo
A sala estava mergulhada em penumbra, iluminada apenas pela luz amarelada de uma luminária ao lado do sofá. Debby estava sentada na poltrona em frente a mim, com o habitual caderno de anotações no colo. Ela tinha um ar de cansaço que só alguém como ela, acostumada a lidar com os horrores do mundo, podia esconder bem. Seus olhos me analisavam com a mesma intensidade de sempre, como se cada movimento meu fosse uma peça de um quebra-cabeça que ela tentava decifrar. — Dilan — ela começou, com a voz firme, mas gentil —, você precisa ter paciência. Eu bufei, recostando-me no sofá. O couro rangeu sob meu peso, um som pequeno, mas que parecia ecoar no silêncio da sala. — Você sempre diz isso, Debby. Paciência. Mas como posso ter paciência quando Soraya ainda está desaparecida? Cada segundo importa. E eu... — Minha voz falhou por um momento, e eu olhei para o chão, incapaz de encarar aqueles olhos inquisitivos. — Eu prometi à Allysson que faria tudo para ajudar. — Estamos investigando
POV de DilanDebby me encarava com sua expressão característica, a mistura de urgência e frieza que só uma detetive experiente podia carregar. Ela sabia que eu estava prestes a vacilar. Eu sentia isso em cada fibra do meu corpo.— Ligue para ela, Dilan — disse ela, firme. — Antes que entre na cobertura. Você precisa desviá-la para um lugar neutro. Sugira algo público. Central Park.Eu hesitei, mas o olhar dela era intransigente. Puxei o celular do bolso e disquei o número de Allysson. A cada toque, meu coração parecia bater mais rápido. Quando ela atendeu, a voz do outro lado era suave, mas carregava certa cautela.— Dilan? Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa com o Cris? Engoli em seco, tentando soar mais confiante do que realmente estava.— Allysson, preciso que você venha até o Central Park agora. É urgente.Houve um silêncio breve, e eu soube que ela estava tentando entender o que aquilo significava.— Agora? — perguntou, desconfiada. — Estou a caminho de algo particular, Dilan.