Naqueles minutos que se passaram, diante de uma fogueira improvisada, Mia acabou descobrindo muito sobre seu chefe. Primeiro que apesar das altas loucuras que ele havia feito quando mais jovem, ele nunca havia feito um acampamento antes. Ele havia viajado, claro, para vários lugares, conhecido de tudo, feito escaladas — o que muito a chocou —, mas nunca havia montado uma barraca em um lugar legal em volta de uma fogueira, e disse — mesmo que as palavras tivessem pulado de sua boca — que aquilo havia sido um erro. Ela havia feito vários acampamentos com a mãe quando mais nova, mas só quando o pai viajava, pois ele era — como diziam — um tanto fresco. Mesmo estando apenas elas duas, era divertido. E achou que as crianças — os filhos de seu chefe — também acharia divertido. E havia acertado em cheiro, porque eles estavam tão entusiasmados que dava gosto de ver. Os pequenos haviam comido uns oito marshmellows e se não fosse pelo pai, que os brecou, eles teriam comido muitos mais. E a ros
— E então? – Insistiu; ambas as crianças esperavam pela resposta. — Er... – Levou um tempo para finalmente conseguir responder. – Bem..., sim, acho que sim. Não que eu pense em me casar algum dia, dá um arrepio só de pensar... –Murmurou as últimas palavras, o que deixou o Kavanagh curioso, por ter escutado. – Mas eu não me importaria. É claro que muito provavelmente não seria nada fácil, e eu compreenderia completamente as crianças, afinal, nenhuma vê madrasta com bons olhos, mas, eu não veria um problema contanto que não fosse um problema para eles. E ambos os pequenos sorriram. — Mas por que a pergunta? — Boa pergunta, estou muito curioso. De onde saiu isso, hein? — Só curiosidade. — Só curiosidade? – Não acreditou nenhum pouco. – Thomas. — Ué, é a verdade, papai. Não é, maninha? — Uhum. Você nunca fala muito de você, Mia. — Ah. – Se surpreendeu. – É por isso? Bom, eu... não sou boa em falar sobre mim, sabe. Mas o que quiserem saber, é só perguntar. — Não devia ter dito es
— Liam. O moreno se surpreendeu ao escutar a voz da rosada, mas ainda assim se aliviou enquanto a fitava; ele não achou que ela começaria uma conversa, principalmente depois do constrangimento que seu filho a fez passar em sua frente. — Eu queria te pedir um favor. — Que seria? — Bem, é... um assunto bem complicado. – Suspirou. – Desde que conheci sua mãe, eu... Bem, eu não tenho dormido bem, para ser sincera. Você acha que poderia marcar um encontro entre mim e ela? Liam ficou extremamente curioso. — Para? Antes que a mulher pudesse responder, ambos puderam escutar as vozes de Thomas e Natalie, indicando que ambos se aproximavam. — Eu explico depois. Ele apenas balançou a cabeça antes de fitar aos gêmeos. — Prontos para dormir? — E minha trança? Mia sorriu. — Vamos para dentro da barraca que eu faço suas tranças, querida. A menina sorriu antes de adentrar a barraca espaçosa, sentando-se. A rosada fez o mesmo, mas atrás dela para poder mexer nos cabelos lisos e negros,
A primeira coisa que Thomas fez após acordar e coçar um dos olhos — coisa que ele fazia quase sempre ao despertar — foi ter a certeza de que tanto seu pai quanto a mulher que ele desejava tanto quanto sua irmãzinha para ser sua mãe, ainda se encontrava na barraca junto deles dois. E sorriu ao perceber que sim, e que eles tinham o braço sobre ele e Natalie, quase tocando uma na outra. Ele jamais imaginou que um dia pensaria que seria bom um momento como aquele ou mesmo que um dia planejaria algo para que seu pai se casasse. Ele pensava que todas as mulheres eram como as que ele encontrou naquela vida; as que só se preocupavam e se importavam com o pai dele e nunca com ele e a irmãzinha dele. Tinha medo. E depois que escutou um amiguinho do parque que sempre era levado por seus tios, avós e pai que o pai dele o abandonou depois de se casar de novo, o sentimento só piorou dentro de si. Não havia só o medo, havia também o desejo de jamais deixar que uma mulher se aproximasse de seu pai.
Enquanto preparava um café-da-manhã caprichado, Mia pensava mais uma vez em sua mãe. Ela não conseguia mais suportar toda aquela curiosidade. Precisava saber mais sobre a juventude de sua mãe. Saber sobre a vida dela. Pensou que ela era feliz, mas na verdade, era uma farsa. Era isso que parecia, após as palavras de Ivy. E para ela, não fazia sentido. Seu pai brigou por ela, lutou por ela — não de forma justa, a seu ver —, se casou com ela por amor. Era por amor, não era? Ele a conquistou, a tirou de alguém que a amava verdadeiramente, se casou com ela. Então por que parecia que sua mãe não era feliz? Se seu pai a amava tanto, por que parecia que sua mãe sempre esteve em um relacionamento abusivo? As palavras da mãe de Liam não saíam de sua mente. Tudo que ela havia dito, lhe fazia ter lembranças da época em que Kiara era viva. Sua amada mãe. Parecia que depois de tudo que escutou, começou a ter lembranças. Ou eram coisas de sua cabeça? Não parecia. Se lembrava das brigas, das dis
— Mia, está chorando? O “quase” casou se virou, surpreendendo ao perceber a presença das crianças. — Por que está chorando? – Natalie insistiu, se aproximando, preocupada; tanto quanto seu irmão, que também havia se aproximado da rosada. — Eu... só me lembrei um pouco... da minha mãe. – Fitou o moreno mais velho por um momento antes de voltar-se para as crianças. – Mas nada para se preocuparem. — De verdade? — Sim, Thomy. – Se virou para os pães em cima da bancada. – Eu vou preparar outros pães assados. — Eu ajudo. – Liam se pôs ao seu lado. Natalie e Thomas trocaram um olhar preocupado; eles não haviam gostado nenhum pouco de ver a babá preferida deles tristonha, menos ainda de vê-la chorando. Era a primeira vez, e gostariam que fosse a última. — Sentem-se, vou colocar um pouco de suco para vocês. Um sorriso nos lábios dela, mas eles perceberam que não havia chegado a seus olhos; e isso os deixou mais preocupados, e um tanto entristecidos. A tristeza dela quase que podia
— Eu soube que... eles não têm mãe. Como a minha filha. — Sua filha pelo menos tem histórias boas sobre a mãe, e sabe que ela sempre a amou. Diferente dos gêmeos. — Eu também soube. Triste saber o que uma mãe é capaz de fazer aos próprios filhos. Mia soltou uma risada anasalada, cheia de deboche. — Eu sei bem o que é isso. Ele franziu o cenho. — Mas da parte do meu pai. – Molhou os lábios. – Mas não vamos falar de coisas ruins, não é mesmo? – Respirou fundo. – Você se mudou a pouco? Ou sempre morou aqui? — Eu me mudei no meio desse ano. Tive alguns... problemas com meus pais e decidi viver minha vida. Apenas eu e minha garotinha. — Entendo. — Precisei, sabe. Eles estavam se metendo muito na minha vida, me separou de uma namorada que eu gostava muito... e que... bem, ela não tinha o mesmo status que nós. — Me desculpe, mas ainda tem isso? Em que séculos estamos? — Eles são retrógrados. – Revirou os olhos. — Não procurou sua namorada? — Ela desapareceu. Nunca mais a v
Um pigarro foi escutado por ambos, que virou a cabeça e encontrou um Thomas nada feliz; ele tinha o olhar sério e os braços cruzados. — Você deve ser Thomas. – Sorriu para o menino. – Meu nome é... — Não quero saber. – O cortou. — Thomas Kavanagh. – Mia o repreendeu. – Peça desculpas. Levou um tempo, mas ele fez como a rosada ordenou. — Não seja grosseiro, querido. Você não é assim. Vai passar para o Mattew, que é um garotinho mal-educado, e você não é. – Fitou o ruivo a sua frente. – Ele está de mau humor. Não sei o motivo, mas posso adivinhar. – Se lembrou das palavras de alguns dias atrás, fitando-o novamente. — Vocês combinaram de se encontrar aqui? — Não. – Responderam juntos. — Eu vim trazer minha filha. Encontrei Mia aqui por acaso. Mia percebeu que ele continuava desconfiado. — Não seja tão ciumento. – O puxou para se sentar em seu colo, abraçando-o. – E desconfiado. Céus! Pensei que isso tinha passado. – Brincou. – Ele é muito desconfiado. De tudo e de todos. De