A Babá e o Juiz
A Babá e o Juiz
Por: Ieda Lemos
Capítulo 1°— O Primeiro Olhar

O plano da minha mãe era perfeito. No começo, eu não entendia muito bem, eu só tinha dezoito anos e ainda era virgem! Diante da situação de falência em que estávamos, com a morte do infeliz do marido dela, casar com o juiz Alex Andradas ainda parecia a melhor solução, mesmo ele sendo mais velho e viúvo!

Eu me entregaria e engravidaria. Ele se sentiria na obrigação de reparar o erro, embora sob ameaça.

Só tinha um problema para mim, foi amor à primeira vista! Vamos voltar um pouco lá trás para contar essa história?

***

Ele chegou cheirando a sedução e trazia consigo a soberba dos Andradas, a família que me comprou.

Sim, ele literalmente me comprou. Um dia eu era uma patricinha e no outro, a babá da filha daquele viúvo frio e incrivelmente sedutor!

Minhas pernas fraquejaram e o meu coração disparou no momento em que ele entrou por aquela sala de estar da mansão dos Andradas.

Ele veio marchando e parou na minha frente.

— Boa tarde, doutor! — Minha voz saiu num fio.

— Senhorita Schmidt, queira me acompanhar, por favor!— ele disse se dirigindo ao cômodo que se denominava biblioteca, ou será que era escritório?

Não sei bem, mas era uma saleta moderna com uma escrivaninha no centro. Atrás dela, tinha uma grande prateleira, onde inúmeros livros e pastas se dispunham.

O homem sentou-se e apontou impaciente para uma cadeira, sinalizando que eu já devia ter me sentado.

Eu ajeitei o vestido justo e composto, me sentando confusamente. Passei as mãos pelos meus cabelos naturalmente loiros, que caiam lisos e sedosos, acima dos ombros.

— É bem mais jovem do que pensei, acho que não vai servir!— ele disse me examinando.

Doutor Alex Andradas, o juíz que acabara de enviuvar, tinha a voz fria e para mim, soava como um trovão

— Deixe-me tentar, senhor! Eu preciso muito desse emprego! De outra forma, não tenho como pagar a dívida da minha família e nós ficaremos sem um teto!

Alexandre desviou o olhar para tela do seu computador e acompanhou uma lista de outras candidatas com a ponta do dedo.

Eu vi os seus olhos castanhos escuro que se confundiam, às vezes pareciam verdes e apertadinhos como agora, eram ainda mais bonitos. O terno impecável lhe dava um ar superior.

Ele afrouxou a gravata soprando o ar nervosamente e disse sem me olhar:

— Aqui não é uma agência de emprego, senhorita! Eu tenho uma criança que precisa de uma babá!

— Por favor, senhor, me dê uma chance! — eu supliquei.

Ele se levantou jogando os cabelos negros para trás e os fios tão finos, voltaram a cair em mechas sedosas, lhe dando um charme ainda maior. Será que fazia de propósito?

Alex andava tão elegante quanto um príncipe! Eu pude ver que suas coxas musculosas marcavam a calça social. A camisa lilás de seda, já mostrava seu suor exagerado.

“ Quem mandou essa moça tão linda para cá? Que ideia! Eu não posso lhe contratar. Eu não sou de ferro!”— era o pensamento dele que o atormentava.”

Ele olhava para a minha boca carnuda e os meus olhos azuis suplicantes, como se visse ali uma tentação provocativa!

Eu me levantei e ele me olhou de cima para baixo.

“ Ainda mais com esse corpo tentador!”— ele pensava virando o rosto aborrecido.

— Senhor Andradas, por favor me escute, pelo amor de Deus!— eu falei já me agachando para segurar o seu tornozelo.

— Levante, garota! Não se humilhe, por favor! — ele disse impaciente, tentando se livrar das minhas mãos.

— Está bem, vou pensar num jeito de ajudá-la! — ele disse, esperando que eu o soltasse.

As minhas mãos perceberam o tecido delicado pela barra das suas calças finas.

Me levantei rapidamente e senti o seu perfume. Ele ergueu o queixo evitando a minha aproximação.

O peito forte e definido me chamou atenção. Eu era virgem ainda e tinha acabado de fazer dezoito anos.

Alex segurou os meus braços e me afastou delicadamente, voltando a sentar atrás da mesa.

Eu também voltei ao meu lugar e fiquei com os meus olhos fixos naquele homem que podia resolver o meu grande problema. Minha família precisava muito que aquele acordo desse certo.

— Você deve ter uma irmã mais velha, ou até mesmo a sua mãe me serve!— Alex disse se encostando na sua cadeira, como se assim achasse que estava mais longe da tentação que via em mim.

Eu franzi a testa pensando que vim vestida com a roupa da minha mãe, porque precisava parecer mais velha e estava sendo reprovada pela minha idade.

— Minha mãe cuida do meu irmão, ele tem pouco mais de seis anos e depois tem só eu!

— O seu pai deve ter deixado uma pensão para a sua mãe! — ele argumentou.

— Sim, não é muito, ainda assim, preciso trabalhar para pagar a penhora, da qual o senhor se beneficia com a posse da minha casa!

Alex olhou atravessado para mim e ficou um tempo pensativo.

— Isso não vai dar certo! Você é espevitada! — ele disse fazendo uma careta.

Eu dei de ombros ignorando o adjetivo que me foi dado.

— Vá senhorita e leve um recado para sua mãe, diga que não posso ajudá-la contratando você.

— Por que?— eu quis saber, desesperadamente.

Alex chamou em voz alta por Giorgia, uma mulher corpulenta e ofegante que parecia ouvir atrás da porta.

— Pois não, senhor!

— Acompanhe a senhorita Schmidt até a porta, por favor!

— Não! — eu gritei.

Alex se assustou.

— Minha mãe vai me bater!— eu disse quase chorando.

— Venha, minha menina! — Giorgia disse-me conduzindo para fora da sala.

Alex se levantou falando alterado:

— Ela não pode fazer isso com você! Posso mandar prendê-la por violência doméstica!

Eu rapidamente rebati irônica e brava:

— E quem vai cuidar do meu irmão? Vai lhe jogar num abrigo? Ela vai presa e eu fico como?

— Mas ela não é capaz de cuidar do seu irmão, nem de você! — Alex argumentou alterado.

Eu virei o rosto revoltada.

— Eu devia me entregar para o meu namorado e sair de casa, se eu pudesse levar o meu irmão comigo!

— Nem pense nisso! — Alex se aproximou falando.

Ele ficou tão perto que a sua respiração soprava o meu rosto.

Giorgia pigarreou avisando que estava ali e Alex perdeu a paciência.

— Acomode essa garota num dos quartos lá dos fundos, depois eu vejo o que faço!

Eu saí apressada e feliz, puxada pelo braço forte de Giorgia.

Ela abriu a porta que dava para um pequeno cômodo que comportava apenas uma cama de solteiro e um pequeno guarda-roupas de madeira antiga.

Alex passou a mão sobre a calça e se assustou com o volume formado por sua ereção.

— Não foi uma boa ideia manter essa moça aqui! Ela me acordou! — ele desabafou para si mesmo.

Giorgia voltou ao escritório do patrão, assim que me acomodou.

— Ela está feliz parecendo uma criança! — ela disse animada.

— Amanhã vou dispensá-la, Giorgia! Não posso ficar com ela, sinto muito!

— Mas doutor, ela parece uma moça tão doce, tão boa!

Alex ergueu os olhos.

— Sim Giorgia, eu também concordo que ela seja uma boa moça, uma moça boa, sei lá! A questão é que não quero ela aqui!

Giorgia não entendeu nada e murchou. Ela recolheu os braços, que antes gesticulavam eufóricos e se retirou penalizada com a minha situação.

Alex voltou-se para a tela do seu computador e mandou uma mensagem para um homem de sua confiança, um delegado conhecido e pediu que puxasse a ficha da minha mãe, enquanto bufava.

— Vou tirar essa mulher do convívio familiar e devolver a casa para essa família, o infeliz já está morto mesmo!

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