Capítulo 4°—Movido pelo desejo

Eu não era tão inocente assim como Alex pensava, eu só era virgem. Muito virgem, nunca tinha antes beijado na boca. Minha mãe era muito rígida e me maltratava muito. Às vezes eu a compreendia. O meu pai a abandonou grávida e a mãe dela a obrigou a se prostituir. Eu ficava com a minha avó e via ela chegar todos os dias bêbada. Eu sabia que ela não dormiu em casa.

Depois que a minha avó faleceu, minha mãe arrumou um marido rapidamente. Um homem rico que nos levou para morar numa mansão, logo que voltamos do enterro.

Ele batia nela e a chamava de vadia. Eu era pequena e demorei para enteder que o meu patrasto havia tirado ela da prostituição.

Eu chorava muito sem poder defendê-la. Depois eu fui crescendo e toda a raiva que ela sentia dele, descontava em mim.

Eu ouvia sempre o mesmo sermão:

— Tudo é culpa sua, garota! Se eu não tivesse você, eu cabia em qualquer lugar.

Eu comecei a ser agredida logo que entrei na adolescência. Ela dizia que eu me insinuava para o marido dela.

No dia em que o meu padrasto morreu, eu fui comunicada que nossa casa estava em penhora. Estávamos em dívida com os Andradas. Alex era juiz na cidade de Brasília.

Foi um choque, porque eu não precisava chorar pelo defunto, mas a minha vida de patricinha estava com os dias contados. Ainda bem que tinha terminado o ensino médio, mas o meu sonho de fazer faculdade estava bem distante!

Voltamos do cemitério e esse foi o assunto.

— Estou sabendo que o juiz está desesperado por uma babá, desde que a esposa faleceu.

— Mas ele não vai me aceitar porque sou muito jovem e nunca trabalhei— eu argumentei.

— Vou falar com a governanta dele, contar a situação. Ela vai nos ajudar, mesmo porque, de que outra maneira, eu poderia pagar a dívida que o Antony fez?

— Um absurdo ele penhorar a nossa casa!— eu me queixei.

Eu devia saber, ela começou a gritar histérica.

— Do que está se queixando vagabunda? Você tem que trabalhar! Achou que ia ficar na moleza, a vida toda?

Eu respirei fundo e abaixei a cabeça resignada. Eu pensava no meu irmãozinho no colo da minha mãe, ele estava assustado. Graças a Deus, ela nunca tratou mal o garoto. Era só comigo. Eu era o castigo por ela ter engravidado nova e a minha avó tê-la prostituído. Era uma cadeia de sofrimento. Minha avó sempre me tratou com carinho, mas a minha mãe sofreu muito nas mãos dela. Imagino que tenha sido o castigo por um erro da mãe também.

Eu decidi encerrar esse ciclo ali. Eu não teria uma gravidez indesejada e não teria que dar continuidade àquilo!

— Mas mãe, eu não conheço esse homem! Eu não sei cuidar de criança!— eu falava impaciente, no portão dos Andradas.

Minha mãe segurava Felippo com uma mão e me empurrava com a outra, falando:

— Vai logo, menina! Eu já falei com a governanta, está tudo certo! Vai lá que a vaga é sua!

Eu me segurei no portão ficando de costas para ele e disse histérica:

— Eu não vou! Eu não quero cuidar do filho de ninguém!

Eu só senti o puxão nos meus cabelos e minha cabeça se chocou contra o portão de ferro.

Era minha mãe, a agressora enlouquecida!

— Se chegar em casa sem esse emprego, vai levar uma surra! Faz tempo que não te dou um corretivo!

Eu passei a mão na minha cabeça imaginando que sairia um galo, como da última vez em que ela me sacudiu na parede.

Eu não gosto de lembrar dessas coisas que me fazem chorar. Eu sou alegre e bem espevitada, apesar de todo o meu sofrimento.

Eu já pensava em sair de casa, sair andando assim, sem rumo, mas apesar da minha mãe sempre ter tratado bem o meu irmão, eu nunca o deixaria nas mãos dela. Sei lá, ela poderia surtar e querer fazer com ele o que sempre fez comigo!

Filippo era um menino calado, introvertido e vivia sempre abraçado à mãe, apesar de já ter completado seis anos.

***

Eu fiquei suspirando sem conseguir dormir, talvez estivesse estranhando a cama.

Eu ainda tive tempo de pensar no Alex e em como ele era bonito. Meu Deus, era muita beleza para um homem só. Alex era alto, forte, tinha os músculos bem definidos e os olhos penetrantes. Parece que quando olhava para você, o mundo girava só ali.

Eu passei as mãos pela lingerie e fiquei imaginando o que ele sentiu ao me ver dentro dela!

As minhas mãos deslizaram pelos meus lábios e eu sorri nervosa.

Agora eu já havia beijado alguém. Ainda sentia o calor daquela boca devorando a minha. Eu me estendi na cama feliz.

No dia seguinte, Alex acordou com a cabeça estourando.

Giorgia lhe servia um chá.

— Não pode beber assim, senhor! Olha só como está mal! Tem audiência hoje!

— Tenho todos os dias Giorgia!— Alex rebateu aborrecido.

Giorgia se assustou.

— Porque está tão irritado?

— Talvez seja a presença dessa moça aqui em casa! Livre-se dela!

Giorgia olhou para o corredor dos quartos e disse impaciente:

— Por que essa moça lhe incomoda tanto, senhor? Ela é uma pobre coitada! Ela não tem pai e aquela mãe dela é uma bruxa!

Alex se remexeu na sua cadeira e jogou o guardanapo para o lado aborrecido.

— Não tente me convencer! Você não sabe o que se passa comigo!

Giorgia ficou impaciente.

— Senhor todos sabem da sua recente viuvez, o senhor não pode reverter a sua situação, mas essa moça sim, ela precisa de ajuda! A mãe colocou nas mãos dela a responsabilidade de reaver o bem penhorado!

Alex segurou na mão de Giorgia que se apoiava na mesa e disse desesperado:

— Se for o caso, eu devolvo o bem, pronto! É só isso?

Giorgia ficou boquiaberta. Ela ia dizer algo, mas Alex se levantou e saiu pisando firme.

— Ele está com medo da menina! — ela disse incrédula.

Eu cheguei ainda sonolenta e Giorgia foi logo me interrogando:

— Menina, fala a verdade, você se deitou com o patrão?

Eu fiquei tão surpresa que curvei o corpo como se o susto atingisse o meu estômago.

— Ei garota, calma! Eu falei sem querer, me desculpe! Ô meu Deus! Estou ficando louca!

Giorgia saiu correndo e voltou com um copo d'água.

— Tome isso, vai se sentir melhor!

Ela me fez sentar à mesa de refeições e eu fui me acalmando.

— Eu quero que me desculpe, por favor! É que o senhor Alex, ele ficou viúvo recentemente, mas a falecida não tinha mais saúde há alguns anos e eu imaginei que ele estivesse encantado por você!

— Por mim?— Eu fiquei incrédula.

Giorgia se desculpou:

— É, me desculpe, acho que exagerei, mas tive a impressão de vê-lo olhando para você.

Aquela revelação mexeu comigo. Quando eu iria imaginar que um homem como o Juiz Alex Andradas, bem conceituado naquela cidade, iria ter olhos para mim? Confesso que me senti orgulhosa, mas Giorgia tratou de jogar um balde de água fria.

— Eu reconheço que o senhor Alex é um homem muito charmoso, de presença, mas não se iluda, ele só está carente, ele jamais olharia para uma menina como você!

Eu murchei e Giorgia continuou:

— Eu trabalho nesta casa desde quando ele ainda nem conhecia a falecida. Bonito daquele jeito, trazia mulheres para cá e os pais dele, colocava para correr logo cedo!

Eu arregalei os olhos. Não conseguia imaginar o juiz pervertido.

— Eu só tenho medo de despertar aquele moleque terrível novamente! Ninguém merece! Agora ele tem uma filha!

Eu assenti concordando com a cabeça e virei de uma só vez o meu copo de água! No final, ainda engasguei!

Giorgia ficou preocupada.

— Calma, menina! Eu não vou deixar ele se aproveitar de você!

— Não Giorgia, mas eu confio no doutor! Pode ficar despreocupada!

Giorgia saiu resmungando:

— Se o pai dele souber que anda aprontando, vem bater aqui, para lhe puxar as orelhas!

Ai meu Deus, o que eu estava fazendo? O homem entrou embriagado no meu quarto a noite e eu o defendendo!

Eu fui atrás de Giorgia falando curiosa:

— Como vai ser? Eu posso ficar? — eu supliquei.

Giorgia voltou-se carinhosa, com olhar de mãe, pelo menos era assim que eu imaginava que fosse.

— Querida, ele está irredutível! Eu vou arriscar o meu pescoço por você. Não pela sua mãe, por você!

Eu fiquei emocionada.

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