Com o meu aniversário se aproximando, sinto um misto de tristeza, pela perda do meu pai, e felicidade em ver o Renan, a Jéssica e a Thainá empolgados ao organizar uma festa para mim, mesmo contra a minha vontade. Débora segue me ignorando completamente, e me bloqueou em tudo, não me dando outra opção senão a de ir atrás dela pessoalmente tentar resolver as coisas.— Oi. — A cumprimento sem graça assim que ela abre a porta.— Oi, Ludmila. Pensei que tivesse deixado claro que não quero falar com você.— Por isso eu vim pessoalmente, Debi. Dá pra parar de me tratar assim, por favor? Eu sei que eu vacilei, mas pode ao menos me deixar entrar e me desculpar?Em silêncio, a Debora sai da frente da porta, me dando passagem para entrar enquanto se senta no sofá. Ela me encara por um breve tempo, mas antes que eu pudesse falar, Débora começa a falar e a demonstrar a sua insatisfação.— Eu realmente não te reconheço mais, Lívia. Eu nunca te dei motivos pra desconfiar de mim, nunca. Só me enfiei
Hoje é o meu aniversário, e, consequentemente, hoje se completa um ano desde que a minha vida mudou completamente. Nem de longe sou a mesma pessoa, mas apesar de tudo, por mais que uma pequena parte de mim ainda me diga que estou errada, me sinto um pouco mais feliz que há um ano.Acordo com o Renan e os seus lindos olhos verdes me olhando ainda mais apaixonado, e com um lindo sorriso empolgado no rosto. E eu permito que os primeiros minutos do meu dia sejam felizes, ao ver o lindo café da manhã americano que ele trouxe para mim.— Feliz aniversário, meu amor. Que seja apenas o primeiro de muitos que vamos passar juntos. — Renan diz após colocar a bandeja no meu colo, e me dá um beijo. — Não garanto que esteja tão bom quanto o café que você faz, então finja pelo menos gostar. — Eu amei, seu bobo. Obrigada pelo esforço. — Por que a carinha triste, não gostou? — Eu amei, já te disse. É só a Débora não deve vir, então isso me desanima. — Disfarço, afinal, não posso contar o real motiv
***Por Renan/Nanzin***Com os meus planos de sair da favela e tentar voltar a normalidade da minha vida de antes, tenho agitado tudo o que consigo pra resolver tudo o quanto antes. DG sempre se mostrou a pessoa ideal pra ficar no meu lugar caso alguma coisa acontecesse, e como não pode ser diferente, foi um dos primeiros a saber da minha decisão em sair daqui.— Tu tá certo, parceiro, sempre te disse que tu não serve pra esse mundo, tu é muito bonzinho. — DG debocha enquanto conversamos sobre a minha saída.— Sai daí, DG. Sou bonzinho porra nenhuma, só deixo o trabalho sujo pra tu porque tu tem mais prática que eu. Mas fala tu, vai ou não vai aceitar?— Considero tu pra caralho, Nanzin. Claro que vou te ajudar a sair daqui, eu faria o mesmo se pudesse.— E tu pode, mano, tu é novo, parceiro. — Novo e todo fichado já, Nanzin. Não nasci com o cu pra lua não, desde cedo fui correria pra ajudar a minha mãe a criar os meus irmãos, e nem estudar direito eu pude. Tu acha que quem vai querer
— Que caralho vocês estavam fazendo que não viram ninguém entrando aqui? — DG pergunta enquanto segura a peça. — Estavam tricotando, porra? — Foi a gente não, DG. Aproveitaram a troca da segurança, porra. Chegamos e essa porra tava assim.— Vão me dizer que foram os gnomos que sumiram com as armas? Caralho, vocês não servem pra porra nenhuma! — Foi mal, Nanzin. — Parecem um bando de cabaço, caralho. Sabe que só pode sair quando o outro chegar. Porra, é difícil de entender? Chama o Lobão e o Conde, já que foi na troca da segurança, os quatro vão ter que dar conta dessa porra e assumir o B.O. Vocês não estão nessa porra pra brincar de casinha não, caralho. Saio de perto deles e vou até onde tudo deveria estar, tentando entender porque essa complicação justamente quando tudo está tão perto de se resolver. Enquanto caminho de um lado pro outro, tentando me acalmar, vejo algo brilhando no canto da parede, e encontro a correntinha da Ludmila jogada no chão. Fecho os meus olhos e tento e
***Por Lívia/Ludmila***Embora eu saiba que toda a segurança do Renan não deixaria que nada acontecesse com ele, a cada operação policial aqui no morro o meu coração aperta. Após ter dormido pessimamente mal devido a preocupação dele ter passado a noite fora de casa, fui acordada por ele para me avisar sobre a operação que aconteceria no início da manhã. Nos despedimos e ele foi se esconder, enquanto eu, mesmo contra a vontade dele, tive que vir para a minha casa colocar em dia o trabalho acumulado. Como a Thainá e a Débora, que antes não queria nem assunto comigo, aproveitaram alguns dias de folga e ficaram boa parte da semana na minha casa, isso me custou algumas reuniões e trabalhos atrasados, pois não quis deixar de dar atenção a elas.Tudo correu perfeitamente bem durante boa parte da manhã, embora o meu coração estivesse preocupado com o Renan, a minha cabeça tentava se concentrar na Cycle of Creativity, até que a minha concentração foi interrompida pelas batidas bruscas no po
Outro suspiro e me sento no sofá, ao lado do Renan, entregando a xícara de café pra ele. As minhas lágrimas voltam a cair antes que ele pudesse provar o café, e o arrependimento toma conta de mim quando ele me abraça novamente para me acalmar. — Não. — Tiro a xícara da mão dele e coloco em cima da mesa de centro. — Isso está errado, eu não vou fazer isso.— Não vai fazer o quê? O que eles fizeram, Ludmila? — Renan diz num tom preocupado, enquanto enxuga as minhas lágrimas. — O que está errado?— Eu não quero mais, Renan. Eu vou embora, sozinha.— Como assim, Lud? Estava tudo certo pra gente ir embora juntos, por que essa mudança de planos? — Porque eu… — Solto um longo suspiro. A hora da verdade chegou. — Eu não sei como te contar, eu estou com medo de você me odiar ao ponto disso custar a minha vida.Renan me encara com o cenho franzido e se levanta do sofá, caminha de um lado pro outro e então pára na minha frente, cruzando os dedos atrás da cabeça. Sua fisionomia muda completame
— Então nem preciso perguntar do seu namorado obsessivo em São Paulo, porque ele nunca existiu, não é? — Não, isso foi apenas uma desculpa pra me enfiar aqui, afinal, como vocês acharam no início, por que uma patricinha se mudaria pra um morro, não é verdade? E depois isso se tornou uma desculpa pra não me envolver com você no início, mas então você começou a usar todas as formas pra conseguir me conquistar, e eu me senti importante pra alguém de novo ao ver a sua dedicação a mim. — Porque você realmente é... Era importante pra mim. — Ele diz com a voz embargada. — Eu confiei em você, confiei que o que você sentia por mim era verdadeiro, e você me enganado? — E é verdadeiro, Renan, eu realmente te amo. — Ama? Ama, mas tenta facilitar pra me matarem? — Eu já te falei que não tive nada a ver com isso, que merda! — Grito em meio aos meus soluços e me levanto. — Eu desisti da minha vingança há muito tempo, desde aquele jantar onde você se apresentou como quem você é de verdade, naque
Passei todo esse tempo tentando me preparar para a reação que o Renan teria, porém confesso que foi pior do que imaginei. Eu não esperava flores, afinal, a própria mãe dele disse que ele não gosta de mentiras, mas a forma como ele me olhou e a sua desconfiança, me machucaram mais que ter uma arma apontada para a minha cabeça. Após arrumar todas as minhas roupas e mais algumas coisas essenciais para levar de imediato, dou uma última volta pela casa e solto um suspiro de alívio e tristeza. Cada parte dessa casa me lembra alguma coisa, as vezes que chorei de saudade da minha antiga, e as vezes que sorri ao ouvir o Renan pulando o meu muro. Enxugo as lágrimas em meu rosto, junto as minhas coisas e saio de casa, deixando de vez a Ludmila trancada lá dentro.Agradeço pela Jéssica estar trabalhando, ao menos não terei que dar uma satisfação a ela agora. Assim que passo pela boca, ouço um dos homens avisar ao Renan que estou saindo, e respiro algumas vezes na tentativa de não chorar no meio