Há coisas que não precisam ser contadas por completo, e a minha verdade é uma delas, principalmente quando se vive rodeada de traficantes. Por conta disso, depois de passarmos boa parte da noite conversando, optamos por não contar a todos a minha verdadeira identidade. De volta a nossa normalidade, os dias têm sido cada vez mais leves ao acordar ao lado do Renan, o que tem sido comum já que moramos oficialmente juntos desde que nos reconciliamos.— Bom dia, princesa. — Renan me beija quando me vê abrindo os olhos, e eu abro o sorriso bobo que me acompanha há algumas semanas.— Bom dia, meu amor. Não vou me cansar disso nunca, sabia? — Nem eu, loirinha. Por mim ficava nessa cama com você o dia inteiro, nos recompensando pelo tempo perdido.— Acho uma boa ideia. Podemos começar agora, que tal? Dá uma folga pro Nanzin hoje, prometo que vai valer a pena.— Tentador, mas tá chegando um pessoal hoje pra reforçar a segurança do morro.— Por quê? — Pergunto surpresa e me sento na cama assim
— Vamos curtir o baile mais tarde, né? — Jéssica diz quando se prepara para ir embora, assim que o Renan chega em casa.— Ué, vai ter baile?— Claro, Lív! Os homens precisam distrair a cabeça e nós também. — Vamos, loirinha? — Não acho uma boa ideia, mas vamos. Não quero o meu chefe disponível por aí. — Saí daí, esse daí tá xonadinho, tem olho pra mais ninguém não. — Jéssica debocha e Renan a encara sério, provocando o nosso riso. — Tô partindo, a gente se vê mais tarde.Jéssica me dá um beijo no rosto e sai, e então eu me levanto do sofá e encaro o Renan. Embora não ache uma boa ideia, me mantenho em silêncio e prefiro não ser a chata que irá reclamar, pois como a Jéssica disse, o baile é uma distração pra eles e se o Renan permitiu acontecer é porque não tem perigo. No início da madrugada terminamos de nos arrumar e vamos rumo ao baile, onde a Jéssica dança animadamente com a Moniquinha e a Júlia. Me junto a elas enquanto o Renan logo pega um copo de whisky e fica com o DG. A te
Esperei ansiosamente a oportunidade de ficar a sós com o Tom durante todo o final de semana, porém ainda que a curiosidade falasse mais alto, preferi esperar a Júlia chegar da escola para não ficar sozinha com ele. Após o almoço, quando ela chegou e se distraiu conversando animadamente com o LC na cozinha, resolvi usar a desculpa de levar uma garrafa de água para chamar o Tom, e poder conversar com ele.— Tom. — O chamo enquanto me sento na cadeira, na varanda, e ele me encara do portão antes de se aproximar. — Trouxe outra água pra vocês, tá calor demais hoje. — Obrigado, Ludmila. — Hoje você parece menos tenso, conseguiu resolver a sua situação?— Tá tão na cara assim? — Tom pergunta e dá um sorriso bobo. — Eu aproveitei que tava de bobeira ontem e fui até o meu morro.— Já vi que consegui resolver então, fico feliz.— Resolver não é bem a palavra, mas consegui matar um pouco da saudade. — Sabe, Tom. — Digo enquanto me apoio nos joelhos, me inclinando na direção dele. — Você real
— Eu tava pensando aqui. — Digo para o Renan quando nos deitamos para dormir. — E se a gente organizasse um churrasco com algumas pessoas lá do morro do Tritão?— Churrasco com os mesmos homens que você queria longe daqui?— Sim, eles devem sentir falta das pessoas que deixaram lá, e é uma forma deles se distraírem dessa tensão toda que estamos vivendo há quase um mês. Eu vou sobreviver com eles por perto, sem dizer que com toda a certeza o meu namorado não me deixará sozinha.— Sem dúvidas, então vamos fazer isso. — Ele diz e me abraça por trás, beijando a minha nuca. - Então quer dizer que eu sou o seu namorado?— Não? — Estamos morando juntos então não acho que somos só namorados.— Você quer realmente dizer isso pra mim? Logo eu que te fiz me pedir em namoro oficialmente? Nada disso, bobinho. Coloque uma aliança no meu dedo e então vou te considerar o meu marido. — Não está mais aqui quem falou. Então posso me guardar para o casamento, né? — Mas nem doido. — Solto uma risada de
Por ser uma empresa totalmente digital, todos os contratos, reuniões e prestações de serviço pela Cycle Of Creativity são feitos através de vídeo chamada. A parte burocrática e financeira são feitas a parte, através de escritórios que prestam serviços pra mim. Sempre funcionou assim, até hoje. Ainda que não seja a forma como eu trabalho, por conta de um negócio financeiramente ótimo, aceitei uma reunião presencial com um representante de uma multinacional interessada nos serviços da minha empresa. A única pessoa em quem eu confiaria de olhos fechados para fazer isso no meu lugar seria a Débora, que me ajudava na parte jurídica e estava a par de todos os meus negócios, mas pedir isso a ela é fora de cogitação, então não me resta outra alternativa senão a de ir pessoalmente até lá.— Que linda, loirinha. — Renan me elogia assim que chega em casa para almoçar e me encontra arrumada para a reunião. — Que carinha é essa? Nervosa?— Muito! Tá tão na cara assim? Eu acho que vou agir profiss
Acordo com alguém molhando o meu rosto e ao abrir os olhos, me vejo sentada numa cadeira dentro de um quarto poeirento, com as mãos amarradas para trás. — Onde eu tô? — Pergunto enquanto tento soltar, em vão, as minhas mãos, e encaro o homem baixinho, gordinho e com a respiração ofegante, que me acordou. — O que eu tô fazendo aqui? — Falcão, liga pro chefe e avisa que a bela adormecida acordou. O homem ignora os meus apelos e se encosta na mesa próxima a porta, enquanto outro homem, provavelmente o tal Falcão, entra e se aproxima dele, cochichando algo no ouvido dele, e então ele sai. O segundo homem pega o meu celular na bolsa, o leva até as minhas mãos e após algumas tentativas frustradas, consegue desbloquear através da minha digital. — Bora ver se tu vale isso tudo que dizem por aí. — Ele diz enquanto mexe no meu celular, faz uma ligação e coloca no viva voz. — Oi, loirinha, já estava preocupado. Cadê você? Como foi a reunião? — Socorro, Renan!— Shiiiu, quietinha. — O homem
Ele fecha a porta e rapidamente alcanço o basculante, agradecendo mentalmente por não ter grades aqui também. A princípio o tal sub zero permanece sozinho na casa, porém ainda que a minha vontade seja sair o mais rápido possível e me aproveitar disso, tento sair devagar e em silêncio. — Você já tá demorando demais. Bora, vaza daí.Ouço o homem dizer assim que termino de passar pelo minúsculo basculante de vidro, e saio correndo pela rua quando o ouço xingar dentro do banheiro. Na dúvida entre correr pela rua arriscando que eles me encontrem novamente, ou me esconder em algum lugar para esperar amanhecer, opto por entrar em meio aos matos e me manter em silêncio. Xingamentos e gritos são ouvidos de longe, e eu coloco as duas mãos na boca para abafar o meu choro de desespero.Horas se tornaram dias e assim que tudo pareceu calmo, saí em silêncio quando me certifiquei que não havia ninguém pela rua e nenhum carro parado em frente a casa. Andei por bastante tempo até chegar numa rua movi
Falo com o DG, que rapidamente passa o rádio pra avisar a todos. Como se não bastasse a preocupação em saber que a Lívia está nas mãos deles, ainda tenho que aguentar os olhares desconfiados do DG e do TH. Apesar do incômodo não tiro a razão deles por isso, mas tenho a certeza de que a Lívia não está envolvida nisso. As horas se arrastaram, a tensão se fazia presente em todos os movimentos da favela e a madrugada parecia um ano. — Eu cansei de esperar. — Digo me levantando da cadeira, após passar a madrugada inteira esperando notícias da Lívia. — TH, acho que o nerd do seu irmão pode me ajudar, chama ele lá pra mim.— O Bruno tá apagado uma hora dessas, Nanzin, mal clareou o dia.— Eu sei, porra, mas ela sumiu desde ontem e eu não vou ficar aguardando a boa vontade desses fodidos não. Pensei numa parada aqui, talvez o seu irmão consiga rastrear a Lívia pelo celular dela. — Boa, irmão! — DG diz empolgado e se levanta da cadeira. — Vai lá, caralho, anda TH. Bora atrás da Lívia.— Eu v