COMO SE FOSSE UMA ALMA PURA

Constança se materializou, ao lado de Samael, em uma estradinha de terra cercada por árvores e pessimamente iluminada. Olhou em volta, depois virou a cabeça de lado tentando decifrar onde estava, e claro, por que estava.

-Você vai me matar e me jogar aqui por acaso? - Acendeu um cigarro virando o corpo para olhar em volta mais uma vez.

-As vezes tenho vontade de fazê-la sumir de fato, mas apenas por alguns minutos enquanto você quebra meus itens valiosos. - Ele riu debochado. - Vamos até alguns seguidores de algo que dizem ser eu, mas na verdade é apenas uma forma de justificarem o assassinato e escravidão de meninas e meninos.

-Estão sacrificando virgens em sua honra? Não é irônico, logo você, que adora sexo! - Ela riu desanimada, os humanos sempre surpreendiam, e eram ao mesmo tempo tão óbvios.

-É apenas triste, não irônico, mas realmente, acho a virgindade supervalorizada. - Deu de ombros começando a andar ao lado dela. - Encontraremos algo um pouco pior do que o normal, tome cuidado, talvez utilizem objetos de prata, agem como meus adoradores, mas não possuem muitas informações sobre mim, não são ingênuos, e também não são apenas cínicos. Não se enfie no meio deles, entendeu? podem ferir você.

-Relaxa! A prata não pode me matar, você sabe disso.

-Apenas faça o que eu disser, sem atitudes temerárias, está bem? Connie, eu falo sério. - Ele se virou para ela a olhando no fundo dos olhos.

Ela deu um sorriso de lado, que o fazia pensar bobagens, e o beijou segurando seu rosto.

-Vamos? - Sorriu quando se afastou, poderia ficar muito brava com ele, mas não por muito tempo.

Depois de alguns minutos de caminhada, chegaram não em uma casinha escondida em uma fazenda velha, como normalmente era o esconderijo de seitas, mas em um templo grande e cheio de pompa. Uma cruz invertida imensa foi colocada como um monumento, pouco antes da porta de entrada do templo. Tudo era chamativo, preto e vermelho, Constança fez uma careta.

-Ostentação, tá aí, eles até que sabem do que você gosta mesmo.

-Eu não gosto de ostentar!

-Moramos em um castelo, dentro da cidade Samael. - O olhou já iniciando o sorriso.

Ele revirou os olhos e a puxou até a mata, um sedã de luxo estacionava, e de dentro dele saia um pastor mundialmente conhecido, possuía programas de televisão, com audiência bastante regular, fiéis espalhados por todo o globo. Foi recebido por alguém bem arrumado que saiu de dentro do templo. Eram como velhos amigos, isso sim, era uma surpresa.

-Tem mais do que sacrifícios aí, não é mesmo? Quando adoradores de deus e do diabo se juntam, é porque interesses financeiros são mais fortes do que crenças.

-De fato, eles costumam vender jovens, são traficantes de pessoas, não adoradores. Além disso, o senhor de terno caro que desceu do sedã possui um lucrativo negócio de enganação de fiéis, que doam tudo que tem a ele.

-Eu sei, já ouvi falar dele. Seria um caso para a polícia, mas entendo você, quer acabar com eles pessoalmente. Vamos? - Foi sair e ele a puxou novamente.

-Eu vou, e você me acompanha, sem se transformar dessa vez, por favor. Eles podem mesmo atacar você com a prata quando a virem.

-Tudo bem! - Fez um gesto com a mão, e ele sorriu tirando o terno e a camisa, e abrindo as grandes asas negras, enquanto deixava os olhos vermelhos e as mãos em chamas. - Em grande estilo então? Se soubesse não estaria usando jeans. 

-Eles precisam temer antes de poder reagir, apenas siga minha deixa. - Andaram até o interior do templo, ele escancarou as portas com um gesto de mão, e entrou lentamente, olhando para o grupo de 3 homens que conversava diante de um altar. - Ora ora! Vejam se não são meus adoradores confraternizando com opositores!

Bateu palmas lentas, sorrindo ameaçador, os homens ficaram sem fala, todos eles. Porque a realidade era que não acreditavam em nada que não fosse o dinheiro que lucravam com suas respectivas mentiras. Ele chegou perto com o sorriso mais assustador que possuía, e suspirou como quem se conforma.

-Eu sei, todos vocês, de uma forma ou de outra, me representam. No final do dia, mesmo o pastor fervoroso faz coisas… como é mesmo a expressão? Ah sim! Diabólicas. 

-Quem é você?

-Ora, como meu adorador principal, você deveria saber, sou aquele que você usa para tirar dinheiro de pessoas crentes no mal, e para você, pastor super famoso, sou aquele que você condena, para tirar dinheiro de crentes no bem. 

-Lúcifer! - O satanista mentiroso sorriu encantado, apesar de um medo pequeno passar por seu semblante, uma coisa era falar sobre o Diabo, outra era recebê-lo de verdade.

-Samael Lux-Férus, mas alguns me chamam assim.

-Diabo! - O pastor ergueu sua cruz de ouro que usava pendurada ao pescoço.

-Que mal educado! - Sorriu e se aproximou ainda mais. - Mesmo? Você vai apelar a seu deus falso, mesmo fazendo tudo que faz? 

-Se você existe, quer dizer que Deus existe! Eu posso pedir perdão, ter uma vida justa e correta, em nome de…

-Ah para com a palhaçada! - Se virou para Constança sorrindo. - Eu conto ou você conta? Tudo bem, eu conto, afinal, é de minha mãe que estão falando. É A Deusa meu caro enganador. E ela não costuma perdoar criaturas como você, que fazem o que você costuma fazer, sabe como é, uma deusa mulher, defende aquelas que são a sua imagem e semelhança. 

-O que você quer? O que quer de nós?

-Minha parte, obviamente! Ou vocês pensaram que usariam meu nome para arrecadar seus lucros, e ficariam impunes?

-As ofertas então, muito bem, podemos fazer isso.

-Não sejam ridículos, as ofertas são nada se comparadas a seus negócios escondidos, não é mesmo?

Os três acenaram em concordância, estavam chocados, completamente atordoados com a visão. Um deles olhou Constança e franziu a testa.

-E essa é quem? Sua mulher Lillith imagino.

Ela olhou divertida para Samael, sorrindo de lado e pensando que ele teria algumas explicações a dar. 

-Essa é uma de minhas associadas, está aqui para carregar minhas ofertas, afinal, imagino que depois de todo esse tempo, existem muitos atrasados para que me repassem. 

-Senhor, os negócios não vão tão bem, mas podemos combinar um dia em futuro próximo, para que possamos iniciar os pagamentos.

-Ou, vocês me passam toda a operação, eu tenho experiência com isso meus caros, posso fazer com que lucrem muito mais do que estão acostumados.

Os homens não queriam perder seu negócio, mas estavam lidando com um ser poderoso demais para eles, ao mesmo tempo, a luz da ganância começou a brilhar em seus olhos, de forma quase visível, e se fosse mesmo um bom negócio entregar tudo ao diabo? Samael sorriu, e piscou um olho para ela, quando eles mandaram que passassem a uma sala nos fundos, onde poderiam mostrar as instalações e falar sobre negócios com mais tranquilidade.

Era uma sala de estar, poltronas confortáveis e móveis de extrema sofisticação, Constança olhou em volta, nada que parecesse religioso ali, de lado algum, aquele era o lugar onde o cinismo não precisava entrar, apenas negócios criminosos. Ela fazia negócios criminosos, sabia como funcionavam, mas verdade seja dita, não do tipo que eles faziam.

Sentaram de forma confortável, ela permaneceu de pé, ameaçadora olhando para eles, agia como uma espécie de segurança, Samael a olhou de forma significativa, quando chegasse a hora, deveriam agir com rapidez e eficiência. Eles mandaram que sua segurança entrasse, a parte que ficava no templo, para mostrar seu poder de fogo. 

Muitos homens cheios de armas e facas, ela ergueu o queixo para eles, seria fácil, depois disso, pegaram tablets e começaram a dar todo serviço, seu arsenal, equipes de segurança, eram inúmeras além daquela. Suas contas fantasma em paraísos fiscais, tudo, menos o “estoque”.

Samael pareceu impressionado, os encarou ainda sério, depois olhou Constança acenando como quem mostra seu ponto. Ainda não era o momento, ela saberia quando ele chegasse.

-Muito bem, e quanto aos produtos?

-Eles ficam em um local protegido senhor, longe da cobiça de concorrentes. - O pastor falou com um sorriso nos lábios, olhando para baixo como se mostrasse algo.

-Um porão? Não é muito criativo.

-Não é um porão senhor, não somos amadores. - Um dos homens daquele templo fez uma expressão esnobe. - Há guardas armados em todos os andares abaixo, são subsolos que se interligam, nossos bens mais preciosos estão, obviamente, muito mais abaixo, eles e elas ficam guardados até que seja hora de cumprirem seus destinos, seja ele qual for.

Samael acenou concordando, olhou Constança e piscou um olho cúmplice, levantou tranquilamente.

-Até que enfim! - Ela se transformou arrancando cabeças e cortando jugulares com uma velocidade inacreditável, ele também fez seus movimentos de balé, queimando os surpresos traficantes de pessoas. Houveram tiros, mas apenas munição normal, além de buracos nas poucas roupas que ele usava, e cócegas quentinhas no pelo dela, nada fizeram.

Antes que ela devorasse o último dos guardas, que tremia apontando sua arma para eles e disparando mesmo que estivesse completamente sem munição, Samael o segurou pelo colarinho, aproximando seu rosto do dele.

-Você quer viver, não quer? - Ele acenou em concordância, chorando e balbuciando. - Onde é a entrada para o subsolo, e quantos de vocês existem lá embaixo.

-Cerca de 100, a cada turno, a entrada fica abaixo do celeiro, nos fundos da propriedade.

-Nos leve lá então. - Fez um sinal e Constança rosnou para ele, andando ao seu lado, ameaçadoramente próxima da jugular do soldado.

 Um alçapão com fechadura moderna, por sorte, os soldados que faziam a guarda dos traficantes possuíam suas digitais cadastradas ali, ele abriu e fez um sinal com a cabeça. Samael o olhou profundamente, e sem dizer nada, estalou os dedos fazendo com que se desintegrasse.

Andavam lentamente, depois do que parecia um porão normal, mais escadas levavam a vários pavimentos, cheios de soldados armados, que eram feitos em pedaços por ela, ou queimados por ele, eram bons juntos. Os anos de convivência não serviam apenas para eles como casal, mas trabalhando juntos eram como um único organismo.

Quando chegaram finalmente ao local escuro e úmido onde centenas de crianças viviam amontoadas, Constança matou o último dos soldados e voltou a sua forma, vestiu uma jaqueta de um dos mortos, o mais inteiro deles.

Em pouco tempo, encaminharam as assustadas crianças para a rua, já era quase dia quando ele despachou a última delas, surpreendentemente, as deixando aos cuidados de seu irmão, Gabriel.

-Como é possível? - Gabriel ficou com os olhos cheios de lágrimas, enquanto sua guarda de anjas colocavam as crianças em vãs.

-A humanidade consegue fazer coisas incríveis, como uma sinfonia, um solo de guitarra, um museu ou recriar membros perdidos e consertar corações doentes, e ao mesmo tempo faz esse tipo de coisas, eu também não entendo. - Samael deu de ombros vestindo sua camisa.

-As vezes eu penso que essa história de livre arbítrio que a nossa mãe criou, não é a melhor coisa como alguns pensam.

-A culpa não é do livre arbítrio Gabriel, não fosse por ele, as coisas seriam ainda piores. - Constança fez uma expressão cansada, se afastou parando atrás de uma das vãs, e pegou seu casaco do chão, tirando a jaqueta suja de sangue e o vestindo.

-Você é mesmo um sortudo Samael! - Gabriel sorriu ao ver ela vestir o casaco. - Ela é linda, é forte e poderosa, e ainda por cima é sua. De todos nós, você pode ter ficado com o pior trabalho, mas sempre conquista as melhores mulheres.

-Alguma vantagem eu precisava ter, mas no caso dela, não tenho toda essa sorte. Ainda pensa que sou uma criatura má, ainda não confia tanto em mim, e talvez não me ame como você pensa.

-Samael, repita para você o que acabou de me dizer, e depois tente continuar afirmando ser verdade. - Ele riu fechando os olhos. - Ela não é do tipo que insiste em ficar com alguém em quem não confia, se não amar verdadeiramente esse alguém. Conquiste essa confiança de uma vez, eu sei o quanto você pode ser sorrateiro quando quer! E acredite, não tenho prazer algum em dizer, mas ela ama você. - Colocou uma mão no ombro dele sorrindo de lado, e desapareceu depois de orientar as anjas do destino das crianças. Seriam encaminhadas para a polícia e serviço social.

Constança acenou para Gabriel, e se aproximou de Samael passando uma mão sobre o rosto dele, limpando uma mancha de sangue. Fez uma careta movendo os lábios para o lado, depois pareceu grave em seu tom.

-Agora, Senhor do Submundo, me fale sobre essa história de ter uma esposa chamada Lillith. Devo me preocupar com uma vingança de uma das divindades a quem presto meus respeitos desde meus 16 anos? - O olhou apertando os olhos, e sorrindo de lado.

-Não seja boba, você conhece a fama que ela tem, e sabe que não é verdadeira. E talvez, em um passado remoto, coisas tenham acontecido, mas nada de casamentos ou amores. - Passou uma mão nos cabelos dela e segurou seu rosto. - Onde você quer ir agora?

-Quero ir até uma sala fechada, onde tiraremos essas roupas sujas de sangue, e faremos amor por algumas horas, mas antes, vamos conversar sobre uma das Alfas poderosas ser minha sobrinha de 16 anos. - Piscou um olho e falou rindo. - Você dormiu mesmo com Lillith? A poderosa Lilith? Cara de sorte!

Ele fez uma careta e desapareceram dali, a conversa seria complicada, mas talvez fosse a hora de terem ela. Foram para casa, a imensa e sofisticada mansão deles, ela chegou e foi tomar um banho, limpar o sangue do corpo, e vestir roupas limpas. Saía do closet passando uma toalha nos cabelos quando o viu sentado próximo a uma janela, no divã de tecido escuro com fios de ouro de seu quarto.

-Você aí, com essa moldura realçando tudo o que deveria, é golpe baixo. - O encarou séria, sentando sobre uma das pernas e pegando seus cigarros.

-Connie, eu sei que você teve a pior primeira impressão a meu respeito, e a teve inteiramente por minha culpa, mas acredite, eu não sou tão mau quanto pareci naquele dia. Pensei que você já tivesse esquecido o que pensou, mesmo que não tenha esquecido porque pensou. - Sorriu de lado, como se lembrasse de suas ações para impressioná-la. - Eu quis impressionar você, porque você tinha todo aquele poder, sem saber que o tinha, sem o utilizar em toda a sua magnitude. Quis que visse que também eu tinha poderes. Talvez tenha sido uma decisão idiota de minha parte, porque no final das contas você é boa, apesar de ser terrivelmente poderosa. - A olhou mais sério agora. - Mas o que você precisa entender, é que eu jamais aliciaria uma criança para trabalhar comigo. 

-Eu sei que você não é o mal encarnado na terra, sei que não é nem o mal do submundo. E entendo, você não fará nada com Lisbeth enquanto ela for uma criança. Mas e depois? E quando você resolver me substituir por um modelo mais novo, talvez mais aberto a obediência, ou talvez menos? Quando você resolver que deve contratar uma jovem Alfa, pois eu estarei ficando velha, porque sabe, eu vou envelhecer, pode demorar mais, mas isso vai acontecer.

Ele a olhava como se não entendesse, como assim substituir ela?

-Você pensa que eu faria isso? Quantas vezes preciso repetir que sou apaixonado por você? Quantas provas mais preciso dar, se todas as que dei não foram suficientes? Eu quero você não como uma parceira de negócios, a quero para mim, quero ser seu!

-Isso não é verdade, você quer ficar comigo porque o sexo é incrível, porque é pratico dormir com a Alfa que trabalha com você, mas você não me ama.

-Como você pode dizer isso? Eu fiz tudo para que você soubesse o quanto a amo, desde viver aqui, nessa cidade, aceitar que seu amor não será meu, mesmo que passemos a eternidade juntos, eu sequer exigi casar como você propôs em nosso acordo! Ele não vale mais, e você sabe disso, o que pedi foi irrisório! Pedi para ter a liberdade de dizer… Connie eu quero ficar com você, somente você!

-Você sabe que eu vou envelhecer e morrer, não me venha com essa de eternidade. Quando eu propus o casamento, você não aceitou porque não quis me obrigar a nada, e agora você não toca mais no assunto, isso significa que temos um prazo de validade juntos. Então sim, eu acho que você quer me substituir no futuro, e isso vai acontecer, provavelmente, com a próxima Alfa furiosa. - Deu de ombros como se estivesse conformada. - Coincidentemente, ela é minha sobrinha, mas poderia não ser, quer dizer, poderia ser qualquer uma.

Ele perdeu a fala, jamais imaginou que ela diria aquilo, sobre casarem, como se fosse uma opção. Não tocava no assunto pois tinha certeza de que ela fugiria se propusesse casamento. 

-Você sequer tem uma resposta. - Riu acenando como se entendesse. - Deixe ela crescer e poder decidir seu destino, estão querendo casá-la com o filho de Damian, e ela está propensa a aceitar. Não faça com que minha sobrinha deixe de ser quem é apenas para se livrar de você, por favor. - Levantou o olhando com seus lindos olhos de duas cores, parecendo mesmo triste. - Eu preciso voltar para lá, temos alguns rituais a fazer. E precisarei dar minha palavra que você não fará nada com ela, para que entenda a confiança que tenho em você, não vou mais pedir que confirme isso, espero que não me decepcione, e espere a menina crescer ao menos.

Ele acenou concordando, levantou e a deixou na casa da irmã, ainda não conseguia falar, expressar o que sentia depois do que ela disse, foi como se ela criasse um universo, era isso, com a possibilidade de casarem e pertencerem um ao outro eternamente, um universo nasceu.

Quando a deixou em frente a porta de entrada da casa, não queria que se afastasse, parecia estar em uma espécie de ilusão, um sonho, apesar de nunca ter sonhado, porque nunca dormia. Se sentia fraco, e forte, perdido e feliz, e aquilo era inexplicável, segurou sua mão sem sentir, ela o olhou levantando uma sobrancelha, puxando de leve o braço.

-Samael? Tudo bem?

-Sim… quer dizer, claro que sim. - Soltou a mão dela mas antes que se afastasse, a puxou pela cintura lhe dando um beijo demorado.

-Eu sei, também queria continuar, mas tenho compromissos aqui. - Riu debochada, piscou um olho e se afastou. 

Ele a viu entrar na casa e desapareceu, dessa vez na direção do Submundo, precisava pegar algo importante, finalmente usaria aquilo que guardava há tanto tempo.

Constança entrou em casa, passando pelo grande hall de entrada, deixou o casaco e tirou as botas, suspirou desanimada, no final das contas, ele fez com que gostasse muito de ficar a seu lado, mas desistiu de casar com ela, agora que outra alfa poderosa surgia era como se soubesse, no futuro ele a largaria. Além de não querer que a sobrinha fosse obrigada a nada, não queria pensar na possibilidade de viver sem ele. O tempo criou algo, talvez não aquele amor profundo que sentia por Lucius, mas algo forte, que parecia substituir o amor eterno que pensou que sentiria, e que agora parecia muito distante, se comparado a tudo que a fazia triste com a possibilidade de perder Samael.

Suspirou se jogando no sofá, não viu Angelina sentada no escuro, quando a luz do abajur acendeu, ela ainda estava de olhos fechados, os abriu sentindo a claridade e pulou do sofá.

-Caralho Angie! Mas que merda você está fazendo parada no escuro!? - Sacou a arma de trás das calças e apontou para a irmã. - Você enlouqueceu?

-Você pode ser mais poderosa do que eu, mas essas balas não farão diferença em meu corpo Connie. - Sorriu debochada, depois encarou a irmã de forma altiva. - O que ele disse? Por que veio até aqui e o que quer com minha filha?

-Veio me buscar, e disse que não quer nada com ela, não alicia crianças, não vai me substituir por ela. Isso é verdade, em parte, porque no futuro, quando eu estiver velha e carcomida, talvez ele faça uma proposta a Lisbeth. Mas não agora, e acredite, se ele não cumprir com a palavra, eu acabo com ele.

-Você tem certeza de que ele a ama a esse ponto? Que vai esperar você envelhecer, e somente depois que Lisbeth for adulta vai atrás dela? - Foi maldade, e ela se arrependeu assim que falou. - Connie eu sinto…

-Eu sei que sente, não se preocupe, entendo você, também agiria assim se fosse minha filha, na verdade, agi assim mesmo ela não sendo. E não, eu não tenho certeza de que ele me ama, por isso falei, e repito, se ele se meter com ela, eu acabo com ele. A Kat já sabe? A Lis já sabe?

-Sim, elas já sabem de tudo, amanhã conversarão com você. - Angelina pareceu envergonhada por se comportar daquela forma com a irmã. - Connie, eu não quis dizer… você sabe que eu jamais seria uma vaca a esse ponto…

-Está tudo bem Angie, não se preocupa. - Levantou indo até um carrinho de bebidas próximo ao sofá em que ela estava, pegou duas garrafas de vodca e fez um gesto com a mão. - Se me der licença, vou me embebedar, e dormir como se fosse uma alma pura que acabou de derrotar uma quadrilha de tráfico infantil. - Sorriu de forma cínica e subiu as escadas indo para seu antigo quarto, se atirou sobre a cama depois de tirar as roupas que usava, e bebeu direto do bico, até que não houvesse mais nenhuma gota.

O dia seguinte seria agitado, com perguntas, conversas desagradáveis, Angelina com seus arroubos agressivos, que se tornavam cada dia mais belicosos contra Constança. 

Mas também teriam os rituais, tomavam muito tempo, mas eram ótimos e a fariam lembrar de sua própria iniciação, pensou por ainda mais um tempo em quando ela era uma menina jovem e rebelde, muito mais do que a sobrinha, e sorriu com saudades. Dormiu com uma garrafa vazia na mão, e sonhou com seu passado, quando ainda não se culpava pela morte da mãe, e não fazia ideia do que a vida lhe traria...

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