Um mês se passou, estávamos em julho, os meninos entraram de férias da faculdade e foram para o haras.
— Você pode tirar uns dias de folga se quiser, Manu, eu me viro por aqui. — Ofereci.
— Não chefe, prefiro ficar, ir para o haras não é meu tipo de passeio favorito e o clima por lá está muito pesado.
— Pensei que você gostasse.
— Não fede e nem cheira.
Sorri e continuei com os meus afazeres.
— Chefe, quer sair pra fazer algo depois do trabalho? Hoje é sexta, que tal um chopp?
Ergui a cabeça para olhá-la, surpreso. Manuela estava me chamando para sair? Fiquei absolutamente sem reação por um momento
Na semana seguinte, saí com a morena tagarela diversas vezes para ajudar a escolher um carro, rodamos por diversas concessionárias e ela não se decidia, nada a agradava. Já estávamos entrando no mês de agosto, entendi que a ausência dos outros fazia com que Manuela se sentisse sozinha e então buscou em mim um refúgio, uma companhia. Talvez eu não precisasse ser tão ríspido, então tentei ser amigável. — Como pode ser tão indecisa? Estamos a dias procurando um e nada te agrada! — Às vezes b**e um desespero, me pergunto se vou dar conta! — Já disse que vou te ajudar, não disse? — Não, você já ajudou aumentando o meu salário, não precisa mais que isso, até porque sou uma inútil na empresa agora! — Se você fosse i
Quando voltei para a sala, Manuela estava na cozinha, me sentei no sofá esticando minha perna que estava dolorida, sentindo um imenso alívio. Aproveitei para colocar uma almofada sobre o meu corpo, caso o meu amigo resolvesse virar super sayajin novamente. — Manu, tem cerveja na geladeira! — Falei de olhos fechados, buscando pensamentos aleatórios. — Oba! — Ela respondeu empolgada e eu sorri sozinho. Logo Manuela voltou com a pipoca e duas cervejas. — Um brinde ao carro novo, chefe! — Novo é muita bondade sua! — Brinquei. Nós rimos e brindamos, em seguida Manuela escolheu um filme de ação, me surpreendendo, e assistimos em silêncio por um tempo.
Na manhã seguinte, levantei bem cedo como de costume, após passar a noite pensando em tudo que tinha acontecido, eu não sabia exatamente como olharia nos olhos da Manuela, logo vi que havia cometido uma tremenda idiotice, agora o clima entre nós ficaria tenso e eu não sabia até onde seria possível tudo isso não prejudicar o nosso trabalho. Manuela não foi me buscar, passou por cima das minhas ordens e tive que dirigir até a empresa. Eu estava absolutamente estressado com toda a situação, passei o dia sem procurá-la e creio que ela se sentia da mesma forma pois também não apareceu para me alugar como de costume, então decidi que para o nosso bem, deveríamos conversar. — Bom dia, Manuela! — Bom dia. — Respondeu de forma seca. — Em primeiro lugar, gostaria de ente
Amanheci animado para ir ao trabalho, talvez tanta empolgação tivesse um motivo ou um nome, porém eu tinha a intenção de manter os pés no chão, eu precisava pensar, precisava entender o que estava sentindo de fato e não tomar atitudes que pudessem me trazer consequências ruins depois. Por isso eu não faria absolutamente nada antes de ter certeza. Manuela chegou para me buscar como eu havia pedido, entrei no carro cumprimentando-a normalmente, de forma tranquila, tentando não demonstrar minha ansiedade. — Bom dia, chefe, está melhor? A perna parou de doer? — Bom dia, estou sim, só estou evitando esforço, por isso pedi que você viesse. Manuela apenas sorriu e seguimos sem muito assunto, senti que ela ainda estava magoada, mas decidi que daria um tempo
Segui durante todo o caminho com o coração a mil, com medo de estar me iludindo novamente, e não apenas isso, estava preocupado com o que minha família pensaria, afinal, estava indo buscá-la na casa da minha tia e seria um tanto quanto deselegante da minha parte não entrar para cumprimenta-la. Me senti como aquele menino de 15 anos, inseguro e tímido quando parei o carro na frente da casa da tia Anelise. Levei um tempo para descer, imaginando que talvez eu devesse apenas m****r uma mensagem para que Manuela viesse, mas seria bobagem, ela falava pelos cotovelos e com certeza todos já sabiam que íamos nos encontrar. Respirei fundo e toquei o interfone, entrando feito um rato amedrontado. — Não perdeu tempo, em? — Cristiano me recepcionou com um abraço, para minha surpresa. — Digamos que não é do meu feitio!
Acordei sorrindo à toa, logo que peguei o celular me deparei com uma mensagem. Manuela: Bom dia, deus do fogo. Já está vindo? Não me faça esperar muito. Felipe: Bom dia, deusa Afrodite. Já deu tempo de sentir saudade? Manuela: Não deu tempo foi de deixar de sentir. Eu ri do emoticon com expressão envergonhada. Felipe: Já, já eu chego! Mandei um emoticon de coração e prontamente recebi outro. Me peguei sorrindo feito um adolescente bobo, sentindo-me de uma forma que a poucos dias atrás eu renegaria, porém Manuela me fazia sentir seguro, melhor do que isso, eu me sentia correspondido.
Na segunda semana de setembro, meu primo se casou com a Jhenny no civil, o casamento no religioso seria na semana seguinte e os amigos dele resolveram fazer uma despedida de solteiro. Fui convidado, o que não foi surpresa pois já fazia um tempo que eu e meus primos voltamos a andar juntos, saíamos sempre em casais e tínhamos uma relação amigável. Manuela e eu nos afastávamos apenas quando JP estava por perto, o que foi uma opção nossa, pois ele jamais importunou nenhum de nós após saber do namoro, nunca voltou a procurar a Manuela e até onde eu sabia, tinha se entendido com a mãe do seu filho que já havia nascido. Então fomos à tal despedida de solteiro, de cara me surpreendi por se tratar de uma boate striper, meu primo chegou vendado e notei em sua expressão que estava tão desconfortável quanto eu, mas seus amigos instigaram para que ele entrasse sem medo. Foram tempos difíceis, meus tios pareciam zumbis, se arrastavam pelos cantos, sempre tristes, tio Romeu já não trabalhava. Rafael e João Paulo trancaram a faculdade e Jhenny também desistiu, a vi se abater de uma forma jamais vista antes. Demorei a criar coragem para ir ver o meu primo, Manuela me acompanhou, mas só poderíamos entrar um por vez, então subi sozinho. Logo que entrei no quarto me abalei ao vê-lo, eu buscava traços em seu rosto que me fizesse crer que aquele era o Cristiano, seu corpo inteiro estava inchado, os olhos arroxeados ao redor, seus cabelos haviam sido raspados, um tubo entrava através de sua garganta fornecendo-lhe oxigênio. Fiquei um tempo observando-o e as lágrimas preencheram os meus olhos, me lembrei da nossa infância, de todas as brigas, de todas as vezes que ele me fez sentir ódio e da amizade que desenvolvemos depois57. Desconfiança