A voz de Leonardo era suave, mas firme, e estranhamente convincente.Catarina respirou fundo e foi se acalmando aos poucos.— É mesmo… você é o Sr. Cortez, o herdeiro mais influente da cidade J. Nem os desastres naturais ousam te contrariar.Ela nem sabia se estava falando sério ou se ainda estava atordoada, mas conseguiu fazer uma piada no meio do caos.Leonardo lhe entregou uma garrafa d’água, enquanto analisava com olhar sério o ambiente ao redor.— Justamente por eu ser Leonardo Cortez, se eu desaparecer, muita gente vai me procurar. Se eu morrer, vão cavar até me encontrar.— Por isso, enquanto estivermos vivos, vamos ser resgatados.— Pela primeira vez, acho que ser um “Cortez” tem alguma utilidade.— Em momentos como esse, meu nome pode salvar você também.Catarina ficou paralisada.Naquela fala calma, havia um leve tom de desprezo por si mesmo.Ela jamais imaginou que um homem como Leonardo falaria da própria morte com tanta naturalidade.Aquilo não era orgulho, era uma prisão.
Enquanto Catarina falava, não percebeu o olhar de preocupação que passou rapidamente pelos olhos de Leonardo.Eles já haviam caminhado bastante, e o viaduto finalmente estava perto.O caminho à frente, no entanto, passava por uma área tomada por lama.Catarina andava com cuidado, mas não esperava que uma pedra escorregadia cedesse sob seus pés. Ela perdeu o equilíbrio, e, por sorte, Leonardo segurou seu braço a tempo, mas o pé dela torceu.— Me desculpa. Era pra eu ter te avisado. Você se machucou?— Foi distração minha. Acho que torci um pouco o tornozelo. Mas dá pra continuar.O terreno ao redor era especialmente difícil.Ela tentou seguir, apertando os dentes, mas a dor no tornozelo só aumentava e a impedia de pisar com firmeza.Leonardo franziu o cenho e a impediu:— Não force. Por enquanto é só uma torção, mas se insistir pode piorar. Estamos perto. Eu te levo nas costas.Ao ver a hesitação dela, ele sorriu levemente:— Você também quer sair logo daqui, certo?— Tá bom… obrigada.
Ricardo ficou tomado pelo pânico.Imediatamente, avançou com o carro, cortando os outros veículos, tentando retornar pela rodovia em direção ao posto de gasolina.Mas nem conseguiu se aproximar do trecho afetado. A estrada já estava bloqueada, com dezenas de carros parados.Sem alternativa, desceu do carro e correu até onde estavam os policiais e bombeiros.— Senhor, houve um deslizamento. A área está interditada, não é mais possível entrar com veículos.— O carro da minha namorada está naquele trecho! Eu preciso entrar e tirar ela de lá! Deixem eu passar!Os olhos de Ricardo estavam vermelhos, o desespero transbordando. Tentou forçar a entrada, mas foi imediatamente contido.— Senhor, se sua namorada está lá, já estamos cuidando disso. As câmeras detectaram dois veículos presos, e as equipes de resgate estão a caminho. Entrar agora seria perigoso demais.A barreira policial impedia Ricardo de sequer enxergar o trecho onde ela poderia estar.— Foi minha culpa… eu peguei o celular e a c
Catarina sentia-se culpada. Um simples "obrigada" não parecia suficiente para expressar tudo o que estava sentindo.Leonardo sentou-se, e o ferimento na perna tornou-se mais visível.— Vamos direto para um hospital em Cidade J.— Não para Cidade J. Vamos para Cidade T.Ele a olhou nos olhos e explicou:— Já entrei em contato com a organização do leilão. A obra do seu pai não será mais leiloada publicamente. Ainda temos tempo para passar no hotel, você trocar de roupa, e ir buscá-la.— A obra não importa, o senhor está ferido. Precisa tratar isso imediatamente.— Não se preocupe. Enquanto você busca a obra do Sr. Vasconcelos, a equipe médica da minha família já estará cuidando de mim. É só um arranhão.Ela quis insistir, mas Leonardo colocou os fones nela com um leve sorriso, ao mesmo tempo autoritário.O helicóptero sobrevoou a área interditada.Naquele mesmo instante...Catarina não olhou para baixo, com essa altura, não fazia ideia do que estava acontecendo lá embaixo.Mas Ricardo vi
— Fico feliz que a senhorita tenha conseguido realizar seu desejo — Disse Leonardo, com um sorriso gentil.Ele já havia trocado de roupa, e sua perna havia sido tratada pela equipe médica. Mesmo assim, de repente se curvou, apoiando-se no joelho esquerdo, com uma expressão de dor.— Está doendo muito? Deveríamos ir ao hospital, isso é culpa minha por ter feito você esperar. — Disse Catarina, preocupada.Ela própria havia machucado o tornozelo, mas não era nada grave. Com o curativo e andando devagar, já estava bem melhor.Leonardo então viu Ricardo se aproximando rapidamente ao longe.— Nesse caso, pode me acompanhar ao hospital? Está doendo bastante.— Claro.Catarina entrou de volta no carro de Leonardo.Naquele momento, o “ferido” Leonardo fechou a porta com agilidade surpreendente.— Pode ir.— Sim, senhor.O motorista da família Cortez estava extremamente cauteloso. O ferimento do jovem herdeiro não podia ser divulgado, para não afetar a imagem da família.— Senhorita, pode veri
Catarina se sentia ainda mais culpada.— Fico muito feliz por ter vindo. Foi um alívio poder ajudar você. — Disse Leonardo, olhando a com um olhar firme e gentil.— Somos amigos, Catarina. E se eu soubesse que você estava em perigo e não tivesse feito nada, me arrependeria para sempre. Além disso, você está liderando a divulgação do patrimônio cultural de Cidade J e vai esculpir jade para mim... então, para mim, você é mais que uma amiga.— Obrigada. É muito bom ser sua amiga, Sr. Cortez.Ela aceitou com sinceridade, já mais calma.— Você não estava com dor na perna? A estrada ainda é longa até Cidade J... Vai aguentar?— Hm... Na verdade, agora nem dói tanto. Deve ter sido psicológico.Ele foi rápido a reagir e notou que o cabelo dela ainda estava úmido.— Vou aumentar o aquecimento. Você já tomou chuva demais hoje, não pode se resfriar. Ainda temos um trecho pela frente. Tente descansar mais um pouco.— Está bem. O senhor também....De volta à Cidade J.O hospital particular da famí
Catarina franziu a testa. Como não se importaria com aquilo?— O senhor ainda não tem os resultados dos exames. O ferimento foi por minha causa. É meu dever ficar e cuidar do senhor.— Senhorita Catarina, você deveria descansar. Eu posso ficar sozinho no hospital.A atadura na perna esquerda de Leonardo era bem visível.Beatriz, ao lado de Catarina, olhou com desconfiança para Gabriel Nunes e disse:— O Sr. Cortez, sozinho? Ele tem assistente, médicos, enfermeiros... Não precisa da Catarina pra isso.— O Gabriel pode ficar aqui comigo, mas há assuntos na empresa e na mídia que ele precisaria lidar. Se ele ficar, ninguém vai tratar o risco de vazamento.A expressão de Leonardo deixava claro que não queria colocá-la em uma situação difícil. Com um tom leve, ele disse:— Não se preocupe, Srta. Catarina. Já assumi o risco da imprensa. O Gabriel vai ficar. O hospital tem médicos, claro... só que, infelizmente, nem todos me passam confiança.Enquanto falava, lançou um olhar quase imperceptív
Beatriz tentou desmontar a situação.Afinal, os homens também sabem fingir muito bem.— Você tá exagerando. O Sr. Cortez ficou insistindo pra eu ir descansar, eu que quis ficar. — Catarina ainda tentava defender Leonardo.Beatriz suspirou:— Ai, amiga… não sabia que era esse o seu tipo.Uma mulher de coração mole nunca resiste a um homem que sabe fingir bem.— Eu nem sei do que você tá falando. Deve estar com fome. Vai comer algo. — Catarina disse sorrindo. — Meu carro ainda tá no posto, me ajuda a acionar o seguro? Estou sem celular. Meus documentos estão com você. Vai com calma. Te ligo depois.— Se cuida, Catarina. — Beatriz, no fim, só pôde desejar o melhor para ela.Catarina voltou ao quarto do hospital.Leonardo ouviu a conversa do lado de fora. O sorriso nos cantos dos lábios quase escapou, e o olhar seguia perfeitamente inofensivo.— Sério, você não precisa mesmo ficar aqui comigo.— Já decidi. Pare de insistir, Sr. Cortez. Descanse. Se precisar de algo, é só me chamar. — Dessa