Capitulo 3

Sem perder mais tempo e me livrando de tais pensamentos violentos sigo para o bar noturno indicado pelo humano escravizado por sangue. Proprietário de uma transportadora, suas informações não eram muito detalhadas sobre o clã, mas a informação de que o bar era um dos intermediários em suas entregas mensais era o suficiente.

Mestres tinham a lealdade de certos humanos , dispostos em pontos estratégicos , úteis aos seus negócios , os viciavam com seu sangue, assim eles fariam qualquer coisa para ter mais uma dose . Lealdade comprada à força, eu diria , mas resultava, certos assuntos teriam que ser tratados à luz do dia , assim eles eram um meio seguro para serem a mão invisível dos seres da noite .

Bares góticos, um bom disfarce no meio dos humanos , que não tinham nem ideia que os donos e a maioria dos frequentadores eram vampiros procurando dadores dispostos a uma troca de fluidos. Qualquer tipo de fluido, devo acrescentar.

Tinha visitado poucos na minha ainda curta vida , mas sabia como tudo funcionava, apesar de não ser participante desse tipo de eventos , era uma boa observadora. Um sorriso sem graça desponta em meus lábios, lembrar desses tempos alegres com Andreia me deixavam nostálgica . Era tão sem noção do que se passava realmente ao meu redor.

Droga! Me sentia tão estúpida por não ter visto como aquele mundo era realmente.

Ao entrar, a escuridão no lugar ainda vazio fez mudar a cor dos meus olhos , uma Dhamphir se adaptava as condiçoes que à medida iam surgindo, perante o dia e a luz do sol habitualmente meus olhos eram castanhos claros , mas com a visão vampírica se tornavam cinzentos. Imaginava que estariam dessa cor no momento em que olhei ao redor, o que me permitia ver a aura de cada ser, os distinguindo entre os humanos. Algumas luzes psicadélicas iluminavam o local, dando o estilo de sombras em todos os lugares , mesmo assim conseguia perceber o barman humano que freneticamente limpava os copos que seriam usados nessa noite em questão. Robustos sofás, ocultos nas sombras davam privacidade a quem quisesse estar longe dos olhares dos demais, predispostos estrategicamente para troca de sangue entre outras coisas , imaginava. Quatro mesas eram distribuídas aleatoriamente em frente aos instrumentos musicais que provavelmente seriam usados na atracão da noite. Contando com o barman, notava a presença de mais dois humanos, sentados em uma das mesas do centro , sua ansiedade era latente,talvez a primeira vez num lugar assim. Sua indumentaria excessivamente revestida de correntes e um exagerado eyeliner mostrava que tentavam se ambientar, muito cedo na minha opinião. O bar Darkness, era famoso por suas noites de arromba , mas somente mais pela noite dentro , não ao entardecer. Mas meu interesse residia na segunda mesa, um trio ao longe, com postura relaxada sem se importarem com os presentes , conversando animadamente. Podiam até passar despercebidos para os poucos clientes, mas para mim, sua aura era luminosa. Vampiros !

Aproximei-me cautelosa , mas confiante .

__ Oi !- mostro um sorriso amigavel, apesar de forçado. __ Posso vos dar uma palavrinha ?

Como habitual num vampiro , sou detalhadamente analisada dos pés à cabeça como se tentassem ler os meus mais profundos segredos pela linguagem corporal, postura , até pelo olhar. . Podiam sonhar com isso , nunca iria acontecer, conseguia bloquear minha mente , quase imune a todos os seus poderes naturais .

__ Pode perguntar o que quiser doçura! – Um deles rapidamente se recostou na cadeira mostrando seu amplo peito descoberto sob a camisa preta e justa, seu sorriso sensual mostrava a pretensão de me derreter. Podia até achar engraçado se me encontrasse noutra situação que não aquela . Ser seduzida seria impossível nos próximos tempos, minhas cicatrizes eram recentes em relação a homens . Sem mais rodeios , encaro os três , um a um pausadamente .

__ Preciso de asilo. – Olhei ao redor , me certificando que mais ninguém entrara entretanto. Sentia nas minhas entranhas que meu tempo escasseava. __ È urgente! Sei que aqui, de todos os presentes , só vocês tem a informação que preciso, neste caso, a morada, o resto eu posso tratar.

A tensão que se instalou entre os três me envolveu, apesar das trocas de olhares e comunicações secretas , permaneciam em silencio. __ Por favor , não estou brincando, cada segundo que passa , estou em maior perigo!

__ Calma moça! - A mulher finalmente decide intervir, mostrando um sorriso amigável, mesmo assim notava a desconfiança enquanto estudava minha reação. __ Sou Beatriz! Meus amigos aqui... - assinalando cada um deles continuou.__ Olonso e Alleandro.

Na minha humilde opinião achava que não era hora para muitas apresentações , afinal estava em fuga , precisava de ajuda, proteção, mesmo assim, retribuo o cumprimento, suspirando impaciente.

__ Muito prazer. Meu nome é Christine!

__ Noto que não é humana totalmente! O que realmente você è? E mais , como você sabe quem somos?

Beatriz se mostrava firme com as perguntas , apontando para uma cadeira insistiu para que socializasse um pouco. Percebia que não obteria ajuda em meus termos e sim nos dela, assim achava melhor seguir a corrente . Só desejava que a corrente não me levasse para longe num maremoto gigante e fatal. Resignada me sento ao mesmo tempo que Alleandro se levanta, se afastando. Meu olhar segue seus movimentos , levando seu celular ao ouvido me deixou esperançosa. Menos mal, talvez obtivesse uma resposta em breve.

__ Consigo perceber quem são porque sou mestiça.

Declarei como se fosse algo natural, o que não era . Mas o nervosismo tomava conta de mim, clientes começavam a surgir , cada vez mais barulho , mais confusão, isso significava que tinha escurecido o suficiente para que vampiros andassem pelas ruas da cidade, o que indicava que meu tempo tinha terminado .Um assobio rapidamente me tirou de um dos pensamentos mais sombrios, imaginar a reação de Eduardo ao descobrir que me tinha rebelado contra seu poder. Isso me assustava, droga , mais do que tinha imaginado. Olonso me olhava com descrença, o que fez com que o encarasse fixamente. .

__ O quê ?

__ Nada ,não! Só fiquei surpreso. Dhamphirs são raras entre nós.

Seu sorriso mostrava duas presas bem alinhadas e afiadas sob o lábio superior, confirmando que eu estava certa, vampiros puros.

__ Podemos te ajudar! Alleandro está tratando disso nesse momento.

As palavras de Beatriz soaram de imediato na minha mente, me tranquilizando, uma respiração profunda de alivio acompanhou o meu agradecimento mental e verbal .

__ Nicholas respondeu ao meu chamado, em um minuto estará aqui. - Alleandro olhou Beatriz e Olonso antes de me encarar com um meio sorriso. __ Você terá que esperar e falar diretamente com ele.

Mesmo sendo uma boa noticia , não relaxei, esperava que fosse literalmente um minuto, não tinha tanta certeza do tempo que ainda teria, esperar ali como um alvo a ser atacado, não era propriamente uma das minhas ideias iniciais. Eduardo tinha a rapidez própria de um vampiro centenário com poderes extremamente desenvolvidos. Eu, pelo contrario, uma mestiça com poderes sobrenaturais mas ainda por desenvolver, com apenas 23 anos de experiência no mundo vampiro, não me parecia uma rival á altura para o vencer. Estava perdida , sem dúvida alguma.

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