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84 chapters
O ENCONTRO
LEBLANC..."Angelic senta-se ao meu lado, e quando a roda-gigante começa a se mover, ela apoia uma mão em meu joelho e aperta levemente – talvez por medo, ou expectativa. Seu rosto está enfeitado com um leve sorriso e olhos azuis refletindo as luzes da porra da cidade inteira. Simplesmente, e inegavelmente, a coisa mais bonita que eu já vi.- É tão lindo quanto eu me lembrava – ela comenta.Coloco minha mão sobre a sua, entrelaçando nossos dedos. E, da forma mais brega possível, gravo este momento na parte mais sólida de mim, como uma gravura em uma pedra. Quero me lembrar do vestido róseo que ela está usando, do cabelo solto, dos lábios avermelhados...- Obrigada – ela se vira para mim – Obrigada por vir comigo.- De nada.Ela avança, e então seus lábios tocam os meus. Este beijo, a priori inocente, me faz sentir como se fosse meu primeiro beijo. É como se toda minha existência, até aqui, simplesmente deixasse de existir. Tudo que existe é ela, os beijos dela, o toque dela, as palavr
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EU AMO VOCÊ
LEBLANC...As gotas de água caindo no telhado e escorrendo pela parede até o chão; o cheiro de mofo no lado de dentro, e terra molhada no lado de fora; os cantos dos móveis cobertos por teia de aranha e poeira. Eu noto absolutamente tudo, pois meus sentidos se encontram em alerta máximo.Ouço um pequeno burburinho no andar de cima. Eu e Valentino nos encaramos enquanto uma porta é aberta e fechada, sem vozes, apenas o melancólico som da fechadura. Depois, passos fortes clicam o chão de madeira acima de nós, e meu coração segue o ritmo dos passos.Valentino sabe que eu estou apreensivo. Ele sabe que Angelic é importante para mim, do contrário, eu não estaria aqui. A matemática é simples.Valentino desvia os olhos de mim apenas quando volta a comer, como se não estivesse fazendo um inferno do caralho na minha vida. Como se não estivesse acabando com ela. Ele espeta o tomate com o garfo e come, torturantemente e lentamente.Esfrego as mãos em minhas coxas para me livrar do suor frio. Pel
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ÚLTIMO ADEUS
ANGELIC...Casa.Eu devia me sentir em casa.Mas tudo que eu sinto é um vazio no peito, como se eu estivesse fora de mim mesma. Como se até mesmo este corpo não me pertencesse. E eu queria ser qualquer pessoa entre o céu e inferno; menos eu mesma.Eu me sento no chão. Joelhos dobrados, cabeça baixa, ombros curvados. Eu estou destruída de todas as formas que uma pessoa pode estar.A brisa delicada, porém fria o bastante para arrepiar minha pele, leva as folhas amareladas do outono para longe. O sol não fez questão de aparecer hoje, deixando apenas o céu nublado e cinza me receber.Eu respiro fundo. Quando o ar preenche meus pulmões, eu me sinto viva, e odeio isso. Odeio sentir que estou sob essa pele, e que tudo isso é real. Eu solto o ar, repetindo o processo diversas vezes, porque me concentrar na minha respiração, no piscar dos meus olhos, no toque das roupas em meu corpo, no batimento do meu coração, significa que não preciso pensar em outra coisa. Eu só preciso continuar existindo
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A CARTA
ANGELIC...Meus dedos tremem enquanto desdobro o papel, lentamente, com medo do que vou encontrar. Meu lado pessimista não aguenta mais receber notícias ruins, no entanto, a esperança ainda cintila em mim, implorando por algo bom. Qualquer coisa que me faça sentir viva.Então, com o último resquício de energia e coragem que tenho, deslizo os olhos pela letra cursiva."Eu não saberia nomear meus sentimentos por você. Dizer simplesmente que é paixão, ou até mesmo o famigerado amor, seria muito resumido. Seria clichê, porque até mesmo os mais antigos romances já falavam sobre o ato de amar. Portanto, quero lhe trazer uma informação.Quando um ser humano morre, a primeira função a parar de funcionar é a circulação sanguínea. O corpo esfria, e então gradualmente começa a petrificar.Quando alguém morre, a oxigenação para de acontecer e o organismo se desequilibra. Minerais importantes deixam de ser produzidos. Com isso, as células se desestabilizam e passam a digerir o próprio corpo.A mai
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