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Ele disse que não é um sonho (II)
Parei, disposta a ficar observando-o por uma, duas, três horas, dias, meses, anos...Dei um passo e ele deu outro. Estávamos a uma curta distância, no meio da rua. Nossos olhos se encontraram e senti uma forte pontada na cabeça, fazendo-me gemer de dor.- O que houve? – Ele diminuiu a distância entre nós – Você está molhada... E... Com cara de dor.- Minha cabeça está doendo muito... – Confessei.- Meu Deus! – Ele me abraçou – Achei que tinha fugido, Clara!O afastei e sorri:- Eu fugi... Me perdoe. Mas nunca mais farei isto, Pedro. Não devia tê-lo deixado para trás, sozinho.- Bem... Me deixou sozinho por 15 minutos – olhou no relógio e sorriu – Me deve a virada do ano.Toquei sua boca levemente inchada, já sem o sangue.- Meu pai... – Fiquei em dúvida do que realmente tinha acontecido, já que minha cabeça doía e eu tinha alguns flashes estranhos com Patrick, a mãe dele, Austrália e Artemis, como se realmente estivesse vivido aquilo, embora imaginasse que foi só um sonho.- Seu pai c
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Eu lhe disse a verdade
POV Patrick“Não, na verdade é agora eu lhe digo que você é um filho da puta protegido pela mãe que não tem voz nem vez. Não sabe tomar decisões e se continuar se escondendo atrás da saia dela será um otário, perdedor a vida inteira. Dinheiro não traz felicidade... E você ama o surf, ama estar sozinho, ama a sua vida rodeada de mulheres, sem compromisso algum.”Fiquei martelando na cabeça as palavras ditas por Clara Versiani, enquanto olhava para o mar, os fogos de artifício ainda colorindo o céu escuro com o mar abaixo dele.Retirei meu calçado e fui andando até encontrar as primeiras ondas. Contei até a sétima e fiquei ali, torcendo para que tivesse um ano cheio de prosperidade e sonhos realizados.Mas qual era o meu sonho? O meu maior sonho era ser reconhecido no surf, o esporte ao qual eu tanto me dedicava.Desde cedo comecei a surfar, inicialmente com a prancha de morey buggy, onde aprendi a remar contra as ondas. Depois meu pai me deu a primeira funboard amarela que adesivei por
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Eu lhe disse a verdade (II)
- Escolha uma que conhece ao menos... Não é preciso escolher uma estranha.- Mãe, eu não casarei.- Não pode abrir mão da nossa herança.- Não era “nossa”, mãe. Era minha. Se tia Dorinha quisesse que você ficasse com o dinheiro, deixaria seu nome no testamento. E talvez até pedisse que a senhora casasse com um desconhecido. Sei que não pensaria duas vezes para pôr a mão na grana. Mas eu não farei.Levantei e fui para o meu quarto. Ela pegou meu braço, apertando-o com força a ponto de machucar. Agora as lágrimas escorriam pelo seu rosto:- Você não vai viver da porra do esporte. Já vai fazer 30 anos. Será que não entende que é velho demais para isso?- Kelly Slater tem 27. E em 1998 chegou ao pentacampeonato. Posso não ser mais tão jovem... Mas também não tão velho. Sou bom no que faço. – Pisquei o olho e puxei com força meu braço que estava em poder dela.Fui para o meu quarto e comecei a botar minhas coisas numa mochila.- Onde pensa que vai? – Ela gritou.- Irei embora.- Embora? Pe
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Eu dei a notícia sem querer
- Ana Carolina – ele respondeu de forma debochada – Nininha... Ana... Aninha... Ou simplesmente Nina, como ela preferia ser chamada.- Você sempre soube quem eu era! – Fiquei pasmo.- Acha que sou idiota, Pedro Moratti? Quantos Moratti você acha que existem em Laranjeiras?- Por que nunca disse nada? – Clara perguntou, atordoada.- Ana? – Josephine balançou a cabeça, com os olhos lacrimejando – A mãe de Pedro era a Ana?- Sim... Tudo leva a crer que meu pai era o amante da mãe de Pedro... E estava ao volante do carro quando houve o acidente. – Clara explicou.Josephine me olhou, com o semblante entristecido, dando para perceber a dor em seus olhos:- Eu sinto muito, Pedro.- Não, não sinta... – falei enquanto soltava Joaquim, que caiu na calçada – Você não tem culpa de nada, Josephine.- Vai fazer o que, moleque? Comer a minha filha para se vingar? – Joaquim continuou provocando.- Você foi o responsável pela morte da minha mãe. – Falei olhando em seus olhos, como desejei a vida intei
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Eu dei a notícia sem querer (II)
POV ClaraAbril de 2002.Eu estava sentada na poltrona ao lado da mesa de telefone, vendo a enorme quantidade de caixas para organizar. Nunca imaginei que fazer uma mudança de casa dava tanto trabalho. Estava cansada e enjoada e decidi dar uma pausa. Minha vida tinha virado literalmente do avesso, em todos os sentidos.Liguei para Renan:- Olá, irmão preferido. Como está?Ouvi o som da risada dele do outro lado da linha:- Ainda achando que você casar aos 22 anos é uma loucura.- Na minha opinião loucura é sair pelo mundo sem voltar por anos, abandonando uma família que o ama.- Vamos voltar este assunto?- Enquanto eu estiver viva, sim. E como a possibilidade de eu morrer nos próximos sete meses é praticamente nula, terá uns bons meses para me convencer a desistir de tentar fazê-lo voltar.- Como assim sete meses? Aconteceu alguma coisa? Você não está bem?- Se eu não estivesse, você voltaria, independente do raio de lugar onde esteja?- Clara, não brinque comigo!Respirei fundo. Não
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Eu passei o sinal vermelho
- E como isso foi acontecer? - Ainda queria entender, incrédulo.- Segundo o médico, o excesso de pílulas do dia seguinte causou alterações no ciclo menstrual, comprometendo a sua eficácia, ou seja, quanto mais se usa, maiores as chances de ela não funcionar e a gestação acontecer.- Eu disse a você que o excesso daquelas pílulas poderiam causar vários efeitos colaterais.- O nosso bebê meio que é um dos efeitos colaterais. – Ri.Pedro me pegou no colo:- O melhor efeito colateral que já aconteceu na minha vida.Enquanto ele me conduzia entre as caixas, tentando encontrar espaço para caminhar, ajeitei seus cabelos negros e perguntei:- Está feliz? Meio que... Você tinha medo de ter um filho.- Sim, realmente tinha... Antes de conhecê-la – me pôs sobre o colchão ainda ensacado num canto do quarto – Agora tudo que quero é realizar todos os nossos sonhos, querida. E neles sempre estiveram inclusas duas crianças.- Acha que vem primeiro o Lucas ou a Laís?- Não importa qual dos dois venha
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Eu passei o sinal vermelho (II)
- Literalmente pode ser pior, pois a vagina alarga do tamanho da cabeça do bebê.- Raramente alguém morre por este “alargamento”. Fará o pré-natal certinho e dará tudo certo. Não tem a mínima possibilidade de dar algo errado, entendeu? E você está proibida de me deixar nervoso com isto.Suspirei:- É que eu li...Pedro tapou minha boca com a sua mão:- Estará proibida de ler nos próximos sete meses.Fiz sinal negativo com a cabeça e tentei falar, ainda impedida por ele. Enquanto ainda tentava me expressar oralmente, ele ria.Retirei sua mão e estreitei os olhos, furiosa:- Não pode me proibir de falar.- Posso, sim. Só vai falar se forem coisas boas.- Ok... Eu estava tentando dizer que não posso ficar proibida de ler nos próximos meses.- Não vou deixá-la fazer pesquisas sobre parto ou possíveis problemas que podem acontecer neles. Só ouviremos o médico.- Mas eu precisarei ler muito e fazer pesquisas. Mas não sobre o bebê ou a gravidez.- Sobre o que pesquisaria? – Ficou curioso.-
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Ele escolheu a nossa música
- Uau! – o médico sorriu – Temos aqui dois embriões. Ou seja, uma gravidez de gêmeos bivitelinos.- O quê? – Clara perguntou, apavorada, sem tirar os olhos da tela.- Os gêmeos bivitelinos são formados por dois ou mais óvulos, que fecundados por dois ou mais espermatozoides, formam indivíduos geneticamente distintos. Dessa forma, a aparência dos gêmeos não será idêntica. Neste caso, temos duas placentas e duas bolsas. – Ele explicou, sem desviar os olhos da tela, parecendo animado.Clara me olhou:- Você pôs “dois” espermatozoides dentro de mim?- Isso foi castigo por termos jogado tantos fora. – Tentei me defender.- Porra, Laís e Lucas vem juntos, de uma vez só? Como vou parir duas crianças ao mesmo tempo, doutor?O médico riu e senti Clara apertar minha mão com força.- A probabilidade de terem um casal é bem grande neste caso. E não se preocupe que é possível parir os dois, embora não ao mesmo tempo... Primeiro um e depois o outro. – Explicou o médico.- Pedro... – Ela me olhou, s
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Ele escolheu a nossa música (II)
- Não acho, tenho certeza. Não estamos perfeitamente bem? Por que não torcer por eles também?- Talvez eu seja um pouco ciumenta com relação a você.- Um pouco?- Vou ser ciumenta com as crianças também. Acho que preciso ler um dos seus livros.- Eu ia mesmo lhe oferecer. – Confessei, rindo.Conforme íamos nos aproximando da recepção, perguntei:- Como daremos a notícia a eles?- Devagar... Para não ficarem em choque.- Ok. – Concordei.Chegamos na recepção e Josephine, Felix e Flora imediatamente levantaram:- E então, tudo certo? – Josephine perguntou.- Já sabem o sexo? – Flora estava ansiosa.- Bem... – Comecei, com tranquilidade, conforme ela havia sugerido.- São dois bebês – Clara disse de forma imediata – Teremos gêmeos.Houve um minuto de silêncio até que todos processassem a informação. Logo começaram a comemorar e nos abraçaram, fazendo mil planos.Observei o semblante de orgulho e felicidade de Clara. Ainda bem que ela sugeriu darmos a notícia devagar. Comecei a rir sozinh
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Ela viu um ponto luminoso
Nossos olhos se encontraram e há metros de distância eu consegui sentir tudo que aquilo significava. Era o momento dele, mas também o meu... O nosso. Porque estivemos juntos em todas as horas, boas e ruins.Pedro esteve ao meu lado nas noites em que os gêmeos choravam. E muitas vezes teve que estudar durante a madrugada porque passávamos mais tempo entre mamadeiras e trocas de fraldas do que qualquer outra coisa.E quando pensávamos que melhoraria, aparecia uma doença. E sempre que um deles tinha algo, o outro também pegava, parecendo combinado.Cheguei a cancelar a faculdade no ano de 2003, porque não dava conta da demanda que era estudar e cuidar das crianças. Em 2004 ele me obrigou a voltar, incentivando-me a não desistir, alegando que as crianças cresceriam e logo a tempestade daria lugar ao sol.Ele sempre segurou a minha mão e me ajudou a passar por todos os obstáculos. Então chegou o tempo que a Clara covarde já não era mais tão fraca. E sabia que dava conta de tudo que aparece
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