Todos os capítulos do As Crônicas do Lobo e da Feiticeira - Livro 1: Capítulo 11 - Capítulo 19
19 chapters
Pentercimento
A mucama entrou no escritório, silenciosamente, parando em frente à mesa de carvalho sólida.– Mara, por que deixaste Inácio aprontar o cavalo para a sinhazinha?Aprendera a respeitar seu sinhô, conhecia-o muito além das belas feições que o adornava. Via através daqueles olhos âmbares, o passado, o presente e o futuro. Por isso, decidira permanecer ao seu lado enquanto muitos outros o abandonaram logo depois de sua liberdade. Entretanto, aprendera também a não contestar a decisão dos que se foram. Haviam ocorridos muitos sinais de que seria um episódio sinistro, mas o sol raiaria como numa bela manhã de primavera aos que per
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Toque de Magia
 Suas mãos suavam quando apeou da montaria. As pernas ainda não lhe respondiam com firmeza, mas subiu rapidamente as escadas da varanda da casa grande e entrou pela porta, junto com o vento frio da noite, fazendo com que tanto seu pai como Mara a fitassem surpresos. Enquanto a mucama saía da sala, Pedro se erguia da poltrona onde estivera esperando-a em companhia de seu cachimbo.– Estávamos preocupados, Yamê – determinou ele, abrindo os braços em sua direção e acolhendo entre eles o corpo agitado da moça. – De onde tirou a ideia de ir à cachoeira uma hora dessas?Ela fechou os olhos enquanto ouvia aqu
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Marcas Indeléveis
1320 – Igreja de São Patrício – Irlanda – Estás pronta para confessar? A voz foi abafada parcialmente pelo estrondo do trovão contra as paredes da igreja, por onde escorria a chuva intermitente. Os olhos cor de mel observavam a tudo, aterrorizados, sob o capuz escuro, que nada revelava de seu rosto. A jovem tremia, apenas pele e osso contra a parede fria de pedra. Seus pulsos vertiam sangue, que escurecia e formava crostas sob as algemas, em feridas purulentas. E apesar de nua, não havia um viço em sua figura que pudesse despertar algum desejo em um homem. Não parecia haver mais vida ali, exceto pe
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A Professora
A casa estava relativamente silenciosa quando ela percorreu o longo corredor até a sala de jantar, mas não foi impossível estacar de súbito sob o pórtico ao notar que, mesmo com o adiantado da hora de seu desjejum, não estava sozinha. Ele invariavelmente não fez questão de mostrar que notara sua presença e ela, achando que passava despercebida, alisou o vestido, respirou fundo e ergueu o queixo, dirigindo-se altiva à cadeira mais próxima. Distante umas três do seu anfitrião.José lia o jornal, praticamente onipresente do ambiente, enquanto Yamê se preparava para sentar-se ali perto.– Precisamos conversar – a voz dele
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A Fera em Mim
Ele passara a maior parte da noite em claro. Aquela ardência tomando seus músculos e a maldição pinicando sua pele. Sem entrever a lua no céu nublado, seu martírio tangia a insanidade. Era um meio caminho a lugar nenhum. Andou pelo quarto inúmeras vezes, sem o sono lhe ocorrer, e ganhou o corredor, dando vazão a sua inquietação interna. Sua alma sucumbia aos desejos da carne, mesmo que tentasse conter sua fome, o cheiro da presa era o pior veneno para seus anseios. Cada respiração dela era um palpitar mais rápido de seu coração e o sangue corria enfurecido por suas veias, despertando a besta aos poucos. Fechou os olhos, sentand
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Além da Compreensão
Não reconhecia os pés que seus olhos verdes fitavam com tanta curiosidade, mas sentia pelo corpo a vibração das folhas secas sobre eles. Pisava com cuidado, sua pele alvíssima contra o chão de terra. Uma angústia consumindo seu peito, como se toda felicidade tivesse sido arrancada de lá à força. Queria chorar, mas a vontade do corpo que lhe emprestava os sentidos a impedia. Era algo que não lhe era permitido cogitar, não naquele momento. Puxou de suas vestes claras de lã grossa um athame e se agachou junto às folhas desenhando um círculo.O sangue correu rápido em sua veia, sabia que lutava contra o
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O Padre
Não foi fácil dormir aquela noite, mas ao menos, nenhum pesadelo lhe atormentou a alma. Apenas as lembranças do beijo deixavam-na inquieta. Não sabia se admitia para si mesma que ele confessara seu amor, ou se devido as circunstâncias, quisera confortá-la. Não houve momento para perguntas, porque tão rápido e insano quanto a sensação do beijo cobrira sua pele e lhe atordoara os sentidos, a de abandono se instalou, quando José saiu para a cozinha e não mais voltou. Deixou-a aos cuidados das mãos hábeis de Serena e as duas não trocaram palavras. Quando, naquela manhã, sentou-se à mesa do desjejum, não
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Sentimentos Proibidos
A intervenção de Giácomo – teve que admitir, fitando-os do tablado – operou milagres. Era a quarta vez consecutiva que encontrava a sala cheia aquela semana. Passava parte da manhã com as crianças e à tarde com os adultos, só sendo interrompida pelo moreno, quando o anoitecer despontava no horizonte. Identificara as dificuldades dos menores e a falta de conhecimento de mais velhos. Preocupava-se com a proximidade da chegada do padre e como dar conta de tudo. Em meio a todo esse turbilhão, não conseguia fazer seu corpo ou mente relaxarem. Encontrou dificuldade de dormir após o jantar, não sabia se era pela solidão à mesa ou pelo
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De Volta no Tempo
Já passava das quatro da tarde quando tomou o caminho de volta á casa grande, seguindo pela rua principal da vila.– Não quer que um de nós a leve, professora? – indagou um dos homens que fora pegar a esposa na escola.– Não, Armando – agradeceu sob um meio sorriso. – Obrigada, mas quero andar um pouco.Voltou-se para a rua após um aceno de cortesia do homem. Queria muito estar a sós com seus pensamentos e dentro daquela casa não conseguia ordená-los. Desceu a rua sem perceber, em passos largos, ainda imersos em conjecturas. Penetrou instintivamente na
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